A garota sob os meus cuidados. Não acredito que disse isso, bem, que pensei nisso.
— Diga. Eu respondo seriamente.
— Evan, eu estou te ligando para dizer que vou ficar na casa de um amigo esta noite e...
— Amigo? O que dissemos sobre ir ficar na casa de outras pessoas? A minha reprovação chega a ser irritante.
Amigo?
Ela vai fo*der?
Era por isso que ela estava se tocando outro dia?
Ela já está com vontade...?
— Eu sei, mas também quero uma pausa e...
— Uma folga de mim? Pergunto num sussurro. Não pode ser.
— Eu sou tão ru*im assim?
— Não, nada disso, Evan...
— Natália...
— Não me chame assim, você nunca chama.
— Ok, pequena, vamos fazer isso. Respiro fundo e falo. — Você pode ficar amanhã, hoje preciso falar com você.
— Ok.
Ela cede facilmente, mas em vez de se perguntar por que eu simplesmente sorrio.
— Vejo você em casa.
Desligo e aperto o botão que chama o elevador.
Talvez não seja tão difícil.
Caminhar à noite é algo completamente prazeroso, ninguém te observa julgando a sua roupa, ninguém tropeça em você e melhor ainda, ninguém faz barulho.
O silêncio total é algo tão tranquilo e agradável que a ideia de ficar assim o resto da noite parece-me muito atraente, porém, algo rapidamente exige-me então entro na minha casa sorrindo, pronto para chamar por Natalia, mas antes de eu posso gritar o nome dela. Vejo-a sentada em frente à porta, embora, ao contrário de mim, ela está séria, até indiferente.
— O que está acontecendo? Pergunto preocupado.
— Fui acusada de plágio na escola, nunca irei para uma boa universidade então não vejo um bom motivo para ficar aqui.
— Como assim, aqui?
— Eu quero ir morar com a minha tia.
— Que tia?
— A irmã da minha mãe entrou em contato comigo esta manhã e depois de contar tudo, ela sugeriu que eu fosse ficar com ela...
— Pequena...
— Lá eu poderia trabalhar e até ir para uma universidade pública mais barata, mas também serviria para obter um diploma, eu pagaria e você...
— Natalina, ouça! Grito me incomodando, ela pula assustada e mantém os lábios fechados, me dando a minha vez. — Você vai ficar e amanhã eu falo com o diretor, você quer ir para a universidade? Eu pergunto e ela assente. — Você vai. Porque eu vou consertar tudo. Agora vai dormir.
Ela balança a cabeça e sobe as escadas lentamente, talvez ela esteja processando tudo, mas quem se sente pior provavelmente sou eu. Agora não só terei que falar com o diretor, mas também não poderei mandá-la para Aurora e terei que ficar ao lado da Natália por pelo menos três meses, tendo pensamentos anormais sobre ela.
Eu preciso de uma cerveja.
Vou até a cozinha com a mente turva, abro a geladeira e pego uma cerveja, abrindo no processo. Não sei o que farei. O meu celular vibra então atendo a ligação sem ver o nome.
— Achei que você não atenderia a minha ligação...
Íris. Olho para a tela.
— Eu não teria feito isso se soubesse que era você. Respondo secamente.
— Desculpe, não consigo parar de pensar em você...
— Íris, eu tenho uma responsabilidade e é a Natália, não você, então por favor não me ligue novamente.
— Você a ama mais do que a mim?
— Sim. Respondo obviamente.
— Você a ama como uma filha?
A pergunta me pega de surpresa e fico processando silenciosamente, por que simplesmente não respondo sim?
Por que é tão difícil?
— Entendo.
Ela desliga e eu coloco o celular no bar, atordoado. Quando me viro encontro os olhos azuis mais lindos do mundo me olhando com uma expressão que não entendo completamente.
Decepção?
Surpresa?
— Pequena...
Antes que eu possa dizer qualquer coisaela sobe as escadas e depois posso ouvir o som da porta se fechando.
O que aconteceu? Não...
É impossível. Ela não pode ter escutado o que a Íris estava dizendo. Então, o que aconteceu?
Natália.
Algumas horas antes...
Subo as escadas lentamente processando o que aconteceu, mas não entendo por que Evan falaria assim comigo e ainda mais. Por que iria doer tanto para ele se eu fosse com tia Heidi? Ligo para o número da minha tia e deito na cama esperando.
— Alô? Como foi? Ela pergunta alegremente.
— Ele quer que eu fique. Solto sem mais delongas, mesmo sem entender.
— Mas seria mais fácil se você...
— Eu sei, expliquei para ele, mas ele não me entendeu, apenas me disse que me faria ir para a universidade e pronto...
— Querida, se você quiser vir aqui não precisa esperar...
— Eu quero ficar com ele. Não sei de onde veio isso, mas eu realmente o amo muito e não quero me afastar.
— Ok.
— Obrigado, tia.
— Estarei esperando por você.
— Eu irei depois de entrar na universidade. Rio feliz.
— Ok, beijo, querida. Ela diz num tom estranho.
Mando um beijo e desligo com um sorriso ainda maior, desço as escadas lentamente torcendo para que Evan não me ouça já que espero surpreendê-lo com um grande abraço. Agradeço tudo que ele faz por mim, amo-o muito mesmo que doí ter que amarrá-lo a mim por mais três meses. Eu quero muito que ele seja feliz.
— Eu não teria feito isso se soubesse. Ouço Evan dizer.
O que ele não teria feito?
— Íris... Ele está falando com a mulher do outro dia? — Eu tenho uma responsabilidade e é a Natália, não você, então por favor não me ligue novamente.
Ah não, o que eu fiz?
Ele não queria deixá-la, ela fez isso por mim?
— Sim. Mer*da, quero saber o que ela perguntou, mas o que mais me intriga é porque ele permaneceu em silêncio.
Ele olha para o celular entorpecido e o deixa sobre a mesa com uma expressão que não consigo ler, nesse momento ele se vira percebendo a minha presença. Não consigo parar de pensar em como ele abandonou a mulher por minha causa, ele não pode fazer isso. Arruinei a sua tentativa de seguir em frente novamente.
— Pequena...
Eu preciso deixá-lo. Isso não pode continuar assim.
Subo rapidamente as escadas e tranco-me no quarto pelo resto da noite. Eu não queria que isso acontecesse, quero a sua felicidade mais que tudo neste mundo. Ele é o melhor homem do mundo e merece estar com uma mulher que o ama, ser feliz.
A luz da manhã me pega de surpresa, não percebi quando amanheceu porque fiquei horas pensando na mesma coisa. Tenho que conversar com ele, ele não pode ficar fazendo tudo por mim, adiando para sempre o seu bem-estar.
Destranco a minha porta e a abro. Vou tomar um banho e depois falo com ele. Enquanto a água corre pela minha pele corro as mãos por todo o lado limpando o sabonete que ainda fica em mim, porém a porta se abre um pouco, acho que pode ter sido o ar, mas lembro bem de tê-la fechado, sem trancar.
O meu coração dispara e não sei o que fazer, sei que é Evan atrás da porta, mas não consigo falar por algum motivo. Continuo passando as mãos pelo corpo, mas não limpo mais nada, apenas mantenho um ritmo até os meus lábios se separarem, a mesma sensação daquele dia. Na primeira e única vez que me toquei de uma forma que não conhecia, o nervosismo consome-me e não sei o que fazer. Lembro-me da sensação agradável daquele dia, do prazer acumulado no meu centro, das minhas pernas tensas preparadas para o êxtase, do meu coração acelerado, de tudo.
— Evan? Eu nem reconheço a minha voz, é praticamente um suspiro.
— Eu falo com você quando você sair. Ele diz secamente, fechando a porta com muita força.
Saio rapidamente do banho e enrolo uma toalha no corpo, e vou atrás dele.
— Evan! Eu grito, mas ele cr*uelmente me ignora. — O que dia*bos está acontecendo?
Eu chamo de novo e de novo desesperadamente, mas quando ele fala eu fico parada no meu lugar, magoada.
— Primeiro vista-se decentemente e depois me procure.
Bem, está claro que tem alguma coisa errada. Vou para o meu quarto e pego o meu uniforme, enquanto me visto, os meus pensamentos vagam entre perguntas como por que Evan está tão chateado e por que ele foi ao banheiro e ficou lá?
Quando terminei de me vestir, desci as escadas, tomando cuidado para não chamar a atenção, e saí rapidamente, corri para a esquina e, tendo uma distância segura, parei, respirando pesadamente. O meu padrasto não deveria me dar sentimentos como os que estou experimentando.
O QUE DIA*BOS HÁ DE ERRADO COMIGO?