Anna
Eu tinha 13 anos quando vi meus pais serem executados na minha frente. Eles eram traidores da mafia italiana e o Capo não perdoava traição. Fiquei até meus 21 anos trancada dentro de um convento sob a responsabilidade da mafia italiana até que em um dia ensolarado me foi dado a notícia que me casaria com um homem temido. Quase um fantasma. De início aceitei, sabia que meu destino desde sempre era esse mas o que eu não imaginava era que esse homem com quem casaria era o mesmo que puxou o gatilho executando meus progenitores.
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Ouvi uma batida na porta. Era ele, ele sempre fazia isso antes de sair em alguma missão longa. Eu era agraciada por poder ficar dias e mais dias longe dele. Eu não suportava olhar naquele rosto e lembrar daquela cena que por muitos anos foi motivo de pesadelos e lágrimas. Durante muitas noites após o casamento pensei em tirar minha própria vida, por mais que ele nunca tenha tentado me tocar ou me forçar a qualquer coisa me sinto a mulher mais infeliz do mundo.
Quando nos casamos eu vim pra cá totalmente em pânico, imaginando como seria a noite de núpcias, mas no fim tudo que ele fez foi me entregar uma chave. Chave esta que é do quarto onde estou. Não contive minha alegria em saber que eu poderia ficar longe do toque dele e esbocei um enorme sorriso. Ele ficou me olhando fixamente e eu pensei que seria estragulada ou algo pior. Me tranquei por dias no quarto, três vezes ao dia ele batia na porta e logo saia. Quando eu ia abrir sempre tinha uma bandeija com alimento, ele sabia que eu não sairia da minha reclusão enquanto ele estivesse presente. Algumas vezes ele bateu e disse '' vou para uma missão longa. Não tenho previsão de retorno.'' Esses momentos eram os mais felizes possiveis. Eu contava as horas pra ouvir a porta de saída batendo. Me jogava no sofá, explorava o apartamento que não é muito grande, fazia as tarefas de casa somente por fazer mesmo, Collin é um homem organizado e higienico.
Certo dia ele fez a mesma coisa, disse que iria para uma missão de alguns dias e saiu. Eu fiquei extremamente feliz, fazia tempo que ele não viajava.
Ele ficou uns cinco dias fora, eu estava na cozinha devorando a geladeira, eu não engordava em hipotese alguma e nunca descobri o motivo, quando ouvi um barulho de passos. Quando olhei pra trás lá estava ele, enorme como da ultima vez que o vi, sua camiseta branca estava manchada de sangue, sangue esse que vertia do seu rosto. Foi uma imagem terrivel e me fez lembrar daquela noite de execução.
Ele me olhou e virou o rosto imediatamente.
_ Não queria assustar você!
_ O que houve com seu olho ?
Eu nunca havia conversado com ele, eu sentia saudade de falar com alguém que não fosse os ursos de pelúcia que decoravam meu quarto.
_ Uma mulher arrancou.
_ Nossa, essa mulher era perigosa.
_ Um pouco. Vou me retirar, pode ficar a vontade.
Ele virou as costas e foi para o quarto, era obvio que ele estava com dor. Estamos casados a quase dois anos e eu nunca havia conversado com ele e apesar de tudo o que aconteceu no passado ele cuida de mim e eu me sinto na obrigação de retribuir o respeito e privacidade que ele me fornece.
Lembrei que tem um kit de primeiros socorros no meu quarto. Corri e peguei. Bati na porta dele alguns minutos após ouvir o chuveiro desligar.
_ Entre.
Ele estava deitado, a cama dele era enorme mas com o corpo dele ali.. parecia minúscula!
_ Vim ajudar você com o curativo..
Não sei de onde tirei toda a coragem, mas ferido daquela forma ele parecia extremamente vulnerável, senti como se pudesse lutar contra ele se necessário.
_ Não sente nojo ?
_ Não.. acho que não.
Coloquei a maleta ao lado da cama e olhei bem o rosto dele, estava bem machucado mas a sutura estava intacta. Aprendi algumas coisas maratonando séries de médicos e hospitais. Limpei ao redor para retirar o restante do sangue seco e enfaixei bem pra proteger de sujeiras ou qualquer coisa que poderia levar a uma infecção. Ele gemeu de dor e fiquei com muita pena, tinha certeza que ele teria febre. Peguei alguns analgésicos da mala e um termometro, ele tomou e eu vi que ele apagou. Me escorei na cama pra esperar até o antitermico fazer efeito mas acabei pegando no sono. As noites que ele estava fora eu praticamente fazia festa sozinha então dormia muito pouco, o sono me pegou de jeito.