Capítulo Um

1194 Words
“Ela é uma boa menina. Uma ótima mulher. Tem um coração enorme e muito talento. Ela é ótima pra dar conselhos e ela realmente ouve os que você dá a ela. Ela merece muita felicidade.” Shirley MacLaine Nova Iorque — 10:30 am   Droga. Resmunguei mentalmente assim que acordei com o toque irritante do meu celular. Abri os olhos sentindo as mesmos arderem pela luz vinda da janela que tinha esquecido aberta, de novo. Soltei um grunhido me movendo sobre a cama até alcançar o aparelho sobre a mesa de cabeceira. Tentei focar minha visão, que era péssima sem os óculos ou as malditas lentes, e vi o que parecia ser o nome da minha melhor amiga.   — Por favor tenha um bom motivo para me acordar antes do meio-dia em um domingo — resmunguei antes de me jogar de costas contra o colchão macio.   — Essa sua preguiça ainda vai te matar. — Ouvi Shay murmurar. — Levanta esse traseiro da cama e faz o almoço que estou chegando.   Arqueei a sobrancelha fitando o teto branco do meu minúsculo quarto de um apartamento qualquer do Brooklyn. Eu deveria mudar aquela cor.   — Não lembro de ter te convidado para o almoço.   — Não lembro de você sendo tão m*l-humorada pela manhã.   — Touchè — resmunguei fechando os olhos.   — Tô levando a sobremesa. — Foi tudo o que ela disse antes de desligar.   Precisei passar mais alguns minutos olhando o teto antes de levantar e seguir até o banheiro. Olhei o meu rosto no pequeno espelho sobre a pia e fiz uma careta. Olhos castanho-esverdeados me encaravam de volta e meu cabelo estava bagunçado em um emaranhado castanho que mais parecia um ninho de pássaros. Lavei o rosto e escovei os dentes antes de prender os cabelos em um coque m*l feito. Tirei a camiseta larga que usava e vesti um top e um short jeans extremamente curto que deixava parte da minha b***a a mostra, era uma daquelas manhãs quentes de julho. Como não precisava sair desisti de pôr as lentes e peguei meus óculos de armação quadrada.   Sai do quarto tropeçando em uma pilha de roupa suja que deixei no corredor e precisava levar para a lavanderia amanhã cedo. O apartamento não era muito grande; apenas quarto, sala, cozinha e banheiro. Eu morava ali desde que havia me mudado do interior do estado de Utah poucas semanas antes das aulas começarem na New York University. Eu era a típica garota do interior vivendo na cidade grande.   Eu adorava esse lugar, era o maior símbolo da minha independência mesmo que precisasse ouvir todo o barulho vindo da rua e tivesse uma vizinha de gosto extremamente duvidoso para música, moda e homens. Embora eu não pudesse criticar o último já que também não estava em melhor posição, quer dizer, eu já tinha ficado com alguns caras, mas não cheguei a apresentar nenhum deles para os meus pais. Todos eram extremamente fúteis e pareciam mais interessados em carros e cerveja do que em mim, talvez pela minha aparência exageradamente comum.   Segui em direção a cozinha e ignorei a pilha de livros de romance que sobre a mesa de centro, Shay já estava mais que acostumada a minha bagunça já que eu era incapaz de manter poucos metros quadrados organizados por mais de duas horas. Lavei a louça da noite anterior enquanto esperava o café ficar pronto. Depois que a cozinha pareceu finalmente organizada me dediquei a tomar o meu café preto e puro, enquanto pensava se realmente valia a pena fazer o almoço ou se deveria pedir alguma coisa no restaurante italiano da esquina.   Decidi que estava com preguiça demais para fazer algo além de achar o contato na agenda do meu celular e enquanto ligava para lá me joguei no sofá da sala capturando o controle da televisão e logo ela estava em um desses canais de documentários sobre a vida animal. Não passaram meros cinco minutos que eu havia desligado o telefone quando ouvi a voz de Shay do outro lado da porta logo após o toque estridente da campainha.   — Espero que esteja acordada.   Me levantei revirando os olhos enquanto ia em direção a porta e a abria depois de uma leve briga com a maçaneta, precisava achar alguém para consertar aquilo antes que acabasse trancada ali dentro e precisasse recorrer a um vizinho para ser salva. Abri a porta me deparando com a figura loira e esbelta de Shay segurando o que parecia ser uma grande torta de morango.   — Torta — murmurei pegando a embalagem das mãos dela.   — Bom dia para você também, eu estou ótima obrigada por perguntar — ela resmungou enquanto me seguia até a cozinha.   — Certo, desculpe por isso. Uhm, como vão às coisas? E o Nate?   — A faculdade está ótima e eu estou a ponto de mandar o Nate para o inferno — respondeu se jogando no sofá e fazendo uma careta para o conteúdo da televisão.   — O que aconteceu dessa vez?   — Aquela garota da turma dele que vive correndo atrás dele, mas ele diz que é apenas uma paranoia minha e que a Lindsay só quer ajudar a fixar a matéria.   Pelo jeito que Shay havia dito o nome da garota eu sabia que ela não iria sossegar até estar livre daquela “ameaça”. Eu ainda não entendia muito bem o motivo dela estar com o Nate, quer dizer ele era legal, mas não se esforçava nem um pouco para manter aquilo. Não quando a namorada bissexual parecia ser o sonho de consumo de todo o campus da NYU. Shay é bonita e nem se esforça para isso, olhos azuis, cabelos loiros e tipo físico de uma modelo da Victoria's Secret, além de ter uma personalidade única. Ainda me lembro de conhecer ela no primeiro dia de aula a caminho de uma festa de um desses riquinhos do campus, ela estava lá cercada de garotos e garotas parecendo muito feliz e assim que me viu completamente deslocada me chamou para fazer parte do grupo.   — Já pensou que talvez isso seja verdade?   — Laurel, não julgue minha inteligência se baseando na cor do meu cabelo. Conheço muito bem aquele tipo de garota — resmungou revirando os olhos azuis. — Enfim mudando de assunto, tenho uma ótima notícia para você.   O toque da campainha interrompeu, era o entregador do Giovanni’s. Ele me entregou um pacote arqueando a sobrancelha quando me viu e dei uma simples gorjeta antes de voltar para a sala onde Shay me esperava.   — Precisam de secretária para o CEO da Harris Enterprises e você tem uma entrevista marcada com senhor Harris amanhã às dez.   Eu havia começado a caminhar em direção a cozinha, mas parei no mesmo lugar assim que ouvi aquele nome. Qualquer aluno mediano do curso de administração saberia do que se trata.   — Eu o que? Como você conseguiu isso?   — Tenho meus contatos — murmurou com um sorrisinho convencido. — Me agradeça pagando um jantar no Beauty & Essex quando receber seu ótimo salário.   — Ai meu Deus.   — Eu sei, eu sei. Sou uma ótima amiga  
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