Minha mãe fica em silêncio por um momento, seu olhar pesado sobre mim, como se tentasse entender a dor que estou sentindo. Ela sempre soube, mais do que ninguém, que eu carregava a culpa e a raiva que vinham com a perda de Jake. E sabia também que a dor de ter Jason de volta a esse lugar, depois de tudo, seria um peso quase impossível de carregar.
Ela dá um passo à frente e, com um suspiro profundo, coloca a mão sobre a minha. Eu a encaro, tentando manter a firmeza, mas meu coração bate forte demais, como se estivesse prestes a escapar do meu peito.
— Jéssica, eu sei o quanto isso está sendo difícil para você. — A voz dela é suave, mas firme, cheia de uma paciência que, às vezes, me irrita. — Mas você sabe o que estamos enfrentando. O dinheiro que vamos receber com esse aluguel é crucial. Eu sei que você entende isso.
Eu quero gritar, quero dizer a ela que não me importa o dinheiro, que não me importa nada, que o que me dói é ver Jason aqui, ocupando o lugar de Jake. Mas a verdade é que eu sei que ela tem razão. Eu sei que precisamos disso, que o chalé precisa estar alugado, que a conta não vai se pagar sozinha, que o custo da casa e da manutenção é alto demais para ignorarmos. O que minha mãe está dizendo é a verdade, e isso só aumenta a frustração dentro de mim. Ela me conhece, sabe como sou, sabe que, no fundo, não há muita escolha.
Olho para ela, tentando esconder o que estou sentindo, tentando lidar com a raiva que ferve dentro de mim. Minha mãe sempre foi pragmática, sempre buscou uma solução. Eu a admiro por isso, mas, neste momento, tudo o que consigo ver é a falta de compreensão que ela tem sobre o que realmente estou vivendo. Ela não sabe o que é ver aquele rosto, aquelas feições, e sentir como se uma parte de mim estivesse sendo arrancada novamente. Ela não sabe o quanto vai ser difícil, como cada gesto de Jason será um lembrete c***l do que perdi.
— Eu sei que precisamos do dinheiro, mãe. — Respondo, tentando manter a voz controlada, mas, mesmo assim, a raiva escapa pelas minhas palavras. — Eu sei disso, mas isso não muda o que estou sentindo. Não muda o fato de que vou ter que conviver com ele aqui, lembrando-me de Jake a cada momento.
Ela aperta minha mão, sua expressão agora mais suave, mas ainda firme. Ela me olha com aquela calma de quem já lidou com tantas adversidades, como se soubesse que, no fim, isso também vai passar, que eu vou superar. Mas ela não entende. Não entende o que isso vai significar para mim.
— Eu sei que isso não é fácil. — Ela fala baixinho, quase como se estivesse tentando acalmar um pouco a tempestade dentro de mim. — Mas o que podemos fazer? O que paga nossas contas é o aluguel do chalé.
Eu suspiro profundamente, tentando afastar as lágrimas que ameaçam descer. Minha mãe me observa, e, por um momento, o silêncio entre nós é denso, pesado. Ela sabe que estou lutando contra algo muito maior do que o simples aluguel de um chalé. Ela sabe que estou lutando contra as lembranças de Jake, contra o que Jason representa. Mas, em algum lugar dentro de mim, sei que ela está certa. Eu sei que, apesar de tudo, precisamos do dinheiro. O chalé precisa ser alugado. E, apesar de toda a raiva e a dor, não há outra escolha.
— Eu sei, mãe. — Minha voz está mais fraca agora, e a raiva parece ter se transformado em uma tristeza mais profunda. — Eu só... eu só não sei como vou aguentar vê-lo aqui. Como vou olhar para ele e não lembrar de tudo o que aconteceu. Além dele ser a cópia do homem que eu amei, ele matou Jake quando o levou para longe de mim, para aquela maldita festa.
Minha mãe respira fundo, enxugando as mãos no avental, e se aproxima ainda mais de mim. Seus olhos, agora mais suaves, estão cheios de uma compreensão silenciosa, como se soubesse que as palavras não podem realmente curar o que eu estou sentindo. Mas ela tenta, com cada gesto, com cada palavra, aliviar um pouco o peso da minha dor.
— Jéssica, o acidente foi uma fatalidade. Não foi culpa dele. Jake escolheu ir naquela noite, assim como Jason escolheu seguir em frente. Talvez ele esteja buscando as mesmas respostas que você. Talvez vocês dois tenham mais em comum do que imagina. Filha você precisa seguir em frente. Abandonar o passado de vez, e quem sabe conviver com Jason talvez te ajude nisso.
Eu olho para ela, sentindo o desconforto apertar ainda mais meu peito. Eu sei que ela quer que eu acredite nisso. Que com o tempo eu consiga lidar com a dor, com a saudade. Mas, no fundo, sei que nada vai apagar o que aconteceu, nada vai fazer com que eu aceite Jason novamente. Ainda assim, a lógica de minha mãe, a necessidade de seguir em frente, de fazer as coisas funcionarem, me alcança. E, talvez, no fundo, eu saiba que, mais cedo ou mais tarde, terei que enfrentar isso. Por mais que a dor me queime por dentro, por mais que eu não queira.
— Vou tentar, mãe. — Respondo, a voz embargada, mas resoluta, porque sei que, no fim das contas, é isso o que vou ter que fazer.