Um choque de reconhecimento atravessa meu corpo, roubando meu fôlego.

1287 Words
Jéssica Jéssica Paro, segurando a porta de correr, incapaz de dar mais um passo. Meus dedos apertam a moldura com tanta força que sinto o frio do metal atravessar minha pele. Ali, de costas para mim, está um homem cuja silhueta não deveria existir. Por um momento, sinto como se o chão sob meus pés tivesse desaparecido, e um abismo se abrisse à minha frente. Jake está morto, lembro a mim mesma, repetindo as palavras como um mantra desesperado. Mas a visão à minha frente parece zombar dessa certeza, como um eco c***l que insiste em desafiar a lógica. Um arrepio percorre minha espinha, frio como o vazio que ele deixou. Meu corpo se recusa a aceitar o que meus olhos estão vendo. Respiro fundo, tentando sufocar a onda de emoções que ameaça me engolir inteira. Minhas mãos tremem quando ajeito uma mecha de cabelo que insiste em cair sobre minha testa. Ele ainda não me viu, e, por um instante, permito-me ficar ali, parada, observando de longe. Há algo quase c***l na forma como ele se move, como aquele corpo masculino, com as costas largas e a postura confiante, traz à tona memórias que deveriam estar enterradas. Memórias que ainda doem. Então ele se vira. O impacto é imediato. Seus olhos encontram os meus, e sinto como se todo o ar fosse sugado dos meus pulmões. Um choque de reconhecimento atravessa meu corpo como um raio, roubando meu fôlego e me deixando paralisada. Meu rosto fica lívido, enquanto meu coração se debate entre a lógica e a memória. Jason. É Jason. Não Jake. Repito isso em minha mente, mas meu coração, traidor, não ouve. Jason tira os óculos escuros lentamente, um gesto tão simples, mas que parece carregar o peso de todo o meu passado. Seus olhos... tão parecidos com os de Jake, tão devastadores quanto. Eles me atingem com a força de uma maré violenta, mas há algo diferente. Há uma tristeza neles, um vazio que Jake nunca carregou. Jason é uma versão quebrada do homem que amei — os mesmos traços marcantes, mas envolvidos por uma melancolia que parece sussurrar segredos de uma dor antiga, um sofrimento que eu não compreendo. A razão tenta se impor, me lembrando que ele sobreviveu ao acidente, que a tragédia o moldou de formas que eu nunca poderei entender. Mas enquanto o encaro, é como se minha mente fosse invadida pelo passado, enquanto meu coração se recusa a soltar o que já foi. Jason dá um passo em minha direção, depois outro. Seus movimentos são decididos, mas cada passo dele me faz querer recuar, fugir. Meu corpo trava. Tento manter uma expressão neutra, mas dentro de mim há um caos que se recusa a ser contido. Meu coração bate rápido demais, dolorosamente, e minhas pernas ameaçam ceder. Ele para bem perto, tão perto que sinto sua presença me envolver. O perfume dele, fresco e amadeirado, atinge meus sentidos, trazendo de volta lembranças que eu preferia esquecer. Sinto o calor de seu olhar, intenso, fixo no meu, e um arrepio me percorre a espinha. Então, ele sorri. É um sorriso lento, hesitante, carregado de algo que não sei nomear. Não é apenas um gesto — é um reflexo de quem ele é agora. Uma mistura dolorosa de quem foi e do que o sofrimento o tornou. Tento desviar o olhar, mas, antes disso, noto o colarinho aberto de sua camisa. Um vislumbre dos pelos escuros em seu peito me faz lembrar de toques, de calor, de momentos que agora pertencem apenas às sombras do passado. Meu rosto queima, o peso da memória esmagando o presente. Meu corpo luta contra a lógica, dançando cruelmente entre o que foi e o que é. Forço-me a erguer o olhar, a encará-lo, mesmo quando tudo dentro de mim quer fugir. E ali está ele, parado, tão parecido com Jake e, ao mesmo tempo, tão diferente. Jason. Jason Quando a vejo, o tempo parece c******r. É como se o mundo ao meu redor perdesse a cor, o som, e tudo que restasse fosse ela. Lá está Jéssica, parada na varanda, tão familiar e, ao mesmo tempo, tão distante. Meu corpo reage antes mesmo de minha mente processar o que estou vendo. O ar parece mais pesado, denso, como se cada respiração exigisse esforço. Ela é exatamente como me lembro — ou será que é minha mente me pregando peças, tentando unir as lembranças nebulosas que guardo com a realidade? Seus cabelos castanho-claros caem em ondas suaves, emoldurando o rosto delicado que, de alguma forma, nunca consegui esquecer. O vestido branco abraça suas curvas com uma elegância natural, quase despreocupada, mas que me deixa sem palavras. Por um instante, fico imóvel. Não consigo fazer mais nada além de absorver cada detalhe dela. É como se eu precisasse gravar essa imagem, como se temesse que ela desaparecesse de repente, como um sonho que escapa ao despertar. Então, antes que perceba, meus pés se movem sozinhos. Um passo. Depois outro. Estou indo na direção dela, incapaz de parar. Meu coração dispara com uma força que chega a ser dolorosa. É uma emoção crua, intensa, algo que eu não sentia há anos, talvez nunca. A cada passo, uma onda de sensações me invade — nostalgia, desejo, perda. É como se as memórias de Jake, dela, de tudo que não vivi e talvez nunca vá viver, se misturassem em um turbilhão que me arrasta. Quando estou perto o suficiente para sentir o perfume suave de rosas que ela usa, um nó se forma em minha garganta. É um aroma doce, familiar, que traz lembranças que não deveriam ser minhas. Algo dentro de mim se agita, uma mistura de dor e um desejo quase irracional de ser visto. Não como o irmão que ela perdeu, mas como o homem que estou tentando ser. Não Jake. Jason. Ela desvia o olhar, e eu percebo o leve rubor que sobe por suas bochechas. É um detalhe pequeno, quase imperceptível, mas que me atinge como um golpe. É como se, por um momento, ela também estivesse lutando contra algo que não entende. Sinto um sorriso surgir no meu rosto, um reflexo involuntário, como se sua reação fosse uma centelha de vida que eu não sabia que ainda carregava. — Olá, Jéssica. Quanto tempo. A última vez foi no hospital. Minha voz sai mais rouca do que eu esperava, carregada de uma intensidade que não consigo disfarçar. Ela ergue o rosto para mim, surpresa. Por um instante, algo brilha nos olhos dela — choque, confusão, talvez uma sombra de tristeza. O que quer que seja, me atinge com força. Estendo minha mão, sem saber ao certo o que espero, e quando seus dedos tocam os meus, é como se uma corrente elétrica percorresse meu corpo. O calor do contato é avassalador, tão intenso que, por um momento, tudo o que existe no mundo é ela. — Sim, é verdade. Se passaram seis anos, Jason. As palavras dela pairam no ar entre nós, pesadas e carregadas de significado. Nenhum de nós se move. Nossos dedos permanecem tocando, uma conexão que parece ter vida própria, como se nossos corpos se lembrassem de algo que nossas mentes insistem em esquecer. Finalmente, com um esforço que não imaginei precisar, solto sua mão. A perda do contato é quase dolorosa. Suspiro, sentindo o peso do momento sobre mim, e meu sorriso hesitante se desfaz, dando lugar a algo mais sombrio. Uma tristeza antiga e persistente que sempre me acompanha. Seus olhos permanecem em mim, cheios de perguntas que ela não consegue, ou talvez não queira, formular. E ali, naquele instante, me dou conta de que, por mais que queira ser apenas Jason, ela vê muito mais do que isso.
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