Não tinha outra casa disponível?

808 Words
Eleonora Quando escuto o nome Willians, uma sensação de desconforto me percorre, e olho fixamente para Ricardo, tentando captar se ele já sabia do peso dessa história. Volto a encarar Jason, que agora está recostado no sofá, o olhar distante, visivelmente perdido em seus próprios pensamentos. M@l sabe ele o que está prestes a ouvir. — Ricardo, você sabia que a casa que você alugou para o Jason... Ela pertence à Jéssica, a ex-noiva de Jake? Ester Williams é a mãe dela. — Minha voz sai quase em um sussurro, como se a revelação fosse mais pesada do que qualquer um de nós poderia suportar. Ricardo leva alguns segundos para processar o que ouviu. Olho para ele, observando a expressão surpresa e confusa. — Meu Deus, eu não sabia. E a senhora Williams nunca mencionou isso — responde ele, com o rosto agora mais sério. Com Adam ainda em meus braços, eu me sento ao lado de Ricardo, sentindo a tensão crescer. Tento entender como isso passou despercebido. Jason perdeu a memória, mas Ricardo também deveria ter conhecido mais sobre o passado dele. — Como você não sabia? — pergunto, com uma ponta de incredulidade, tentando manter a calma. — Quando nos conhecemos, você sabia que Jason estava completamente desconectado do passado… e ninguém mencionou nada sobre a Jéssica. Ricardo se cala, absorvendo o peso das minhas palavras. Sei que ele não teve intenção de causar essa situação, mas a realidade agora é complicada. — Precisamos avisar o Jason — digo, sentindo minha voz tremer. — Ele não pode ficar lá, ou essa história vai ressurgir, e não tenho certeza de que ele está pronto para enfrentar isso. Ricardo suspira, pensativo. — Ela sabe que ele não lembra de nada sobre o passado? — pergunta ele, com uma seriedade incomum. Meneio a cabeça, sentindo uma angústia crescer dentro de mim. — Não. Jason nunca compartilhou isso com ninguém, pelo menos não com a Jéssica. E a dor dela ao se deparar com ele será imensa, um choque. Sabemos disso, e é por isso que tenho que avisá-lo agora. Ricardo balança a cabeça em compreensão, mas vejo a frustração em seu rosto. — Ele deveria ter contado sobre essa condição para todos — comenta, em um tom de desagrado. Entendo o ponto dele, mas conheço Jason e sua necessidade de parecer forte. Respiro fundo, lembrando como ele odiava ser visto como alguém vulnerável. — E parecer um lunático? — rebato, quase em defesa de meu irmão. — Era isso que ele temia. Não sei se ele mudará de ideia agora… mas, caso decida ficar no chalé, tudo pode ficar muito mais complicado. Ricardo permanece em silêncio, ponderando sobre tudo o que foi dito. É óbvio que ele também não queria que isso acontecesse, mas agora a situação está fora de controle. Jason O efeito do remédio começa a acalmar minha arritmia, e, com os olhos fechados, aproveito o momento de paz que finalmente sinto no peito. A tensão dos últimos dias parece se dissolver por um instante, como uma brisa suave após uma tempestade. É estranho como, depois de tantos anos, voltar à cidade onde cresci me traz uma mistura de alívio e inquietação. Essa busca incessante por tranquilidade tornou-se quase uma obsessão; espero encontrá-la aqui, perto da família e talvez até entre as memórias que restaram. Abro os olhos ao ouvir minha irmã e Ricardo cochichando. As palavras são abafadas, mas o tom de urgência é inconfundível. Eles parecem preocupados, trocando olhares nervosos. Tento não sorrir, mas a verdade é que Eleonora e Ricardo sempre foram muito protetores comigo. Eleonora agora me olha com uma expressão tensa, e percebo que há algo que ela reluta em me dizer. — Tudo bem, o que foi? — pergunto, tentando quebrar o clima estranho. — Vocês estão com essas caras... Eleonora desvia o olhar por um segundo, como se estivesse escolhendo bem as palavras antes de responder. — Jason, sobre a casa que o Ricardo alugou para você… — Sua voz soa hesitante, e ela desvia o olhar, os lábios levemente franzidos. — A casa pertence à Jéssica Williams... a noiva de Jake. Meu corpo se enrijece instantaneamente, e sinto meu coração disparar ao ouvir o nome. Jéssica. As memórias são nebulosas, mas vejo a imagem de uma mulher de olhos verdes, o rosto suavemente familiar. Sim, ela me visitou no hospital. Mas não consigo me lembrar de nada específico. Mesmo assim, a menção dela traz à tona uma inquietação, uma sensação de perda, talvez pela lembrança de Jake, o homem que ela amava. Eleonora percebe a mudança em minha expressão e coloca a mão sobre a minha, como se quisesse me acalmar, mas também me preparar para o que está por vir. — Não tinha outra casa disponível? — pergunto, tentando processar a situação, mas a angústia é quase palpável.
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