Casamentos são cerimônias que costumam emocionar todo mundo, principalmente mulheres como eu. Bom, para que você possa saber o que precisamente significa o termo "mulheres como eu", preciso lhe dizer quem exatamente sou.
Meu nome é Clara, tenho 27 anos, nasci e moro em Brasília, mas não sei por quanto tempo vou conseguir suportar a falta de mar. Todavia, existe um ditado muito famoso por aqui que diz: "se não tem mar, vamos para o bar".
Sou a filha caçula de três irmãs.
A mais velha, Juliana, é uma hippie assumida, mãe do Iuri. Ela foi mãe solteira bem nova. Nos dias de hoje não passa de uma grande besteira ter um filho sem pai, mas tente fazer isso sendo filha da nossa mãe!
Juliana é aquela com quem a família pode contar na hora de organizar as coisas, fazer festa surpresa ou de ter um ombro amigo. O problema é que ela está sempre com os pensamentos distantes e os olhos vermelhos por conta das diversas substâncias entorpecentes que enfia no corpo.
A do meio é a Raquel, uma perua assumidíssima! Tem dois filhos gêmeos e absurdamente bonitos, e um marido irritantemente lindo. Sua família parece viver em um comercial de margarina. O casal frequenta academia, só come coisas saudáveis e sempre fez tudo certinho. A melhor amiga da Raquel é nossa prima Giovanna, chata do mesmo jeito. As duas são boas pessoas, mas mesmo assim, não foi fácil (e ainda não é) ser irmã dela e prima da Giovanna a vida toda.
Uma de minhas características mais marcantes é que tenho medo de barata. Não é um medo assim, que nem todo mundo tem. Passa longe de um faniquito de mulheres frescas, quando vêem uma barata e saem gritando para os seus maridos e namorados que elas estão se tremendo de tanta angústia (e geralmente, eles também). É um medo de verdade, bem sentido, que me faz perder o sono. Só Deus sabe o tanto de pesadelo que já tive com esses pequenos monstrinhos. Tudo isso porque quando eu tinha 10 anos, e estava dormindo na casa da minha melhor amiga, uma barata passou em cima da minha boca.
ECAAAAAAAAAAAA!!!! Toda vez que me lembro me dá vontade de vomitar. Trauma de infância. Ok,ok. Não foi por isso que iniciamos o nosso papo. Vamos deixar essa conversa de baratas de lado.
Sou professora de português no colégio "Valores Elementares". Sinceramente, acredito que o único "valor elementar" que tem o Sr. Afonso, dono do colégio, é o amor ao dinheiro. Aliás, nunca entendi porque ele deu esse nome ao colégio. "Valores Elementares"... Como assim? Que valores? Elementares para quem? De qualquer forma dou aula lá, mesmo achando este nome completamente e******o.
Amo o que faço, muito embora seja pessimamente remunerada para isso.
Não tô a fim de entrar naquele discurso de que no Brasil os professores ganham muito m*l, mas, sinceramente, putaqueopariu!!!!
Dou aula das 8:00 às 12:00. Hora de almoço. Volto às 14:00 e sigo até as 18:00. Entro numa turma e saio direto para outra, o dia todo, todo dia! Vou para casa, tenho que preparar as aulas do dia seguinte. Levo ainda um monte de redações para corrigir, além de provas e testes que tenho que elaborar. O pior é que tenho amigos que ainda conseguem dar aula à noite. Já me convidaram, mas eu acho humanamente impossível. E tudo isso para no final do mês receber um salário de miséria. Com ele tento me sustentar.
Como resolvi ser muito sincera neste meu relato, sou obrigada a confessar que me acho linda! Tenho longos cabelos castanhos na altura dos ombros, com cachos generosos. Altura de 1,60, (bem que eu gostaria de ir à Coréia, fazer aquela cirurgia que faz crescer, mas sabe como é...) com 52 kg bem distribuídos.
Como a maioria das brasileiras, possuo um popozão de respeito, o que é, aliás, a parte do meu corpo que mais gosto, uma vez que, graças a ele, consegui muitas coisas na minha vida. Antes que pense que fui ou sou g****************a, vou explicar: em blitz, por exemplo, desço do carro, e deixo algo cair no chão. Os guardas sempre me liberam.
Meus p****s é que poderiam ser um pouquinho maiores. Não que eles sejam pequenos. São do tamanho comum, e eu até poderia colocar um silicone, mas tenho muito medo desses procedimentos estéticos. Dizem que não se mexe em time que está ganhando. Já pensou: você entra em um centro cirúrgico só para aumentar os p****s e, de repente, sai de lá toda deformada??? Acho muito perigoso.
Meu rosto é bastante comum. Nem f**o, nem bonito. Apenas comum. Mas gosto disso. Não gostaria nem um pouco, por exemplo, de ter um rosto cheio de sardas. Nada contra, mas o seu campo de ação numa paquera fica bastante restrito, uma vez que só vão querer se envolver com você os caras que gostam de mulheres de sardas, entende? Então, uma vez tendo um rosto comum, todo mundo gosta de mim! Bom, essa foi sempre a lógica que usei, e tem dado certo.
Moro sozinha em uma kitinete minúscula, mas linda! Lembro exatamente do dia em que pus meus olhinhos pretos, como as asas da graúna, nela.
Ainda morava na casa dos meus pais, e já não aguentava mais isso. Tudo bem que eles são uma gracinha (minha mãe, às vezes, não é tããããão gracinha assim, mas vamos dar um desconto, afinal de contas, mãe a gente só tem uma) e fazem de tudo para me ver feliz; mas, aos 22 anos, empregada, e com um fusca velho, era muito chato ter que dar satisfações de onde eu vinha e para onde eu ia.
Puxa, me deixava um bocado aborrecida o fato de em pleno sábado, 3:40 da madrugada, ter que passar uma mensagem pelo celular para minha mãe, dizendo que eu não ia dormir em casa.
Está certo que não precisava dizer que ia passar a noite na casa de um cara de 1,90, sarado, e provavelmente muito gostoso, mas aquilo me irritava (principalmente quando o cara tinha 1,60, era gordo, mandava muito m*l, o que não era muito frequente, mas dependia muito do teor alcoólico do meu sangue).
Então, comecei a procurar nos classificados do jornal Correio Braziliense, um apartamento para alugar. Tinha acabado de me formar, dava poucas aulas em um colégio pequeno e meu salário era razoável. Não tinha planos de trocar meu fusca (presente dos meus pais) tão cedo, então resolvi: era hora de morar sozinha.
A busca foi dolorosa. Vi tudo quanto é tipo de cubículo que se possa imaginar. Um quadrado 5x5 sem janela, outro com mofo do teto ao chão, e um que ficava em cima de um puteiro; são apenas os que chamavam mais atenção. Mas, após exatos 23 dias de procura, um anúncio me saltou aos olhos:
Kitinete, na 404 norte, parece casinha de boneca.
Aluguel direto com o proprietário.
Ligar para 3333–3333
Puxa, fiquei curiosa. Se o anúncio dizia que parecia uma casinha de boneca, é porque devia ser pelo menos bonitinho. Isso já era uma vitória perto das cacas que as imobiliárias estavam me mostrando.
Liguei para o proprietário, peguei o endereço e fui no meu fusca turbinado. Foi amor à primeira vista. A kit é bem pequenininha, o quarto/sala tem 2,5x3,5, com as paredes pintadas de rosa clarinho, dois lustres bonitos, próprios para um quarto de adolescente. A cozinha tem apenas uma pia e o local para um fogão bem pequeno; o banheiro com azulejos cor-de-rosa e desenhos de orquídeas, onde m*l cabe uma pessoa.
Achei-a linda!
Aluguei-a no dia seguinte!
Minha mãe não gostou nem um pouco desse papo. Disse que não tinha necessidade de sair de casa, já que ela me dava a liberdade que eu queria, e que, ao invés de pagar aluguel, deveria juntar dinheiro para comprar um apartamento. Na verdade, o sonho dela era que todas as filhas se casassem, mas continuassem na sua casa, para que (nas palavras da mamãe) pudesse consertar com os netos toda a criação errada que deu para as filhas. Aliás, o que ela fala de mim e de minhas irmãs daria um capítulo à parte. Meu pai, como sempre, só concordava, sinalizando a cabeça, com tudo o que mamãe falava. Sempre me perguntei se ele alguma vez na vida teve opinião própria.
Eu estava decidida. Fui às Casas Bahia e fiz crediário de um fogão e uma geladeira (na verdade, não é um fogão e uma geladeira, e sim um fogareiro e um frigobar). Cama, TV, DVD e som eu já tinha, e na kit não cabia um sofá. Assim eu comecei a ser gente grande e viver sozinha, sem ajuda de papai e mamãe, ou pelo menos eu esperava que assim o fosse (não a parte de viver sem o papai e a mamãe, mas sim a parte de ser gente grande).
Acho que essa sou eu. Então, vamos voltar àquele papo de casamento, citado inicialmente. Era a minha melhor amiga, Laura, a noiva em questão, e fui convidada para ser a madrinha. É importante explicar como nos conhecemos.