A Família Complicada
Família é uma coisa muito complicada... Quer dizer, família é bem fácil quando a gente tem pai, mãe e irmãos, avôs e avós, tios, tias e uns primos chatos que visitam vez ou outra, mas a minha família não é bem assim... Na minha família complicada, a parte de meu pai veio do México, com a minha avó, meu avô e dois irmãos. Ele veio ainda criança e bem, mora num bairro bem normal, dominado por famílias latinas. Meus tios moram aqui em frente – é eu sei, que clichê – e minha avó, bem, depois que o meu avô faleceu, ela vive em uma casa de repouso no outro lado da cidade.
Então, eu estudei toda a minha vida em um colégio normal, pegando o ônibus escolar com meus amigos normais e depois, caminhando até a escola, porque era relativamente perto, até ontem. Meus pais estão separados desde que eu me lembro, para ser mais exata, meus pais se separaram quando eu tinha cinco anos, minha mãe é corretora imobiliária e meu pai, tem uma loja de ferragens bem grande aqui no bairro e olhem só, eu quis morar com o papai. Minha mãe hesitou a princípio, mas acabou cedendo logo que percebeu que eu e o Bud, meu Golden Retriver, não caberíamos em seu apartamento no centro de Los Angeles, nem em seu Audi A3, nem no flat no píer Santa Monica e no Audi já perdi o número: eu não a culpo. Mamãe cresceu na selva de pedra, a família dela era do interior da Geórgia, ela estudou muito e trabalhou muito para conquistar seus bens, e de verdade, nunca soube lidar muito bem com o senso de comunidade da família do papai e do próprio papai. Eles se dão muito bem, de verdade, frequentemente fizemos churrasco, eles bebem cervejas e eu fico me perguntando em porque não estão juntos, mas a verdade é que ninguém cabe na vida do outro, e eu, aparentemente não estou conseguindo me adaptar na vida de ninguém.
Agora vamos aos fatos: meus primos começaram a andar com um pessoal meio “da pesada” e o meu pai obviamente não está gostando, afinal, meus primos ainda eram as minhas referências, sinceramente, meus únicos amigos: Kenny e Michel, os gêmeos, com dezessete anos, filhos do Tio Jordy, ou Jordan para os menos íntimos, e da Tia Amelee e o Jason, filho do Tio Jon, ou Jonas para os menos íntimos e da Tia Sarah, ele tem dezesseis. Meu pai, Douglas, ou Doug para os bem íntimos, foi o único que não teve um final feliz. E lá vamos nós: nomes americanos para rapazes latinos, e meu pai, o único que casou com uma “garota branca”, não teve muita sorte, ao contrário dos meus tios. Minha família é incrível e nossos domingos têm churrascos no quintal, festas na piscina, festas de aniversário, festas de Dia de Los Muertos, festas de Reveillón, Natal, Ação de Graças, Páscoa, Carnaval... Enfim, tudo o que uma família poderia querer usar como desculpa para colocar todo mundo enfiado em uma casa e cozinhar lotes de comida por dias consecutivos. Mas aí está o problema: nunca é na nossa casa. Papai nunca fez uma festa dessas, nem mesmo os meus aniversários, quem prepara e pensa em tudo são minhas tias, e elas são incríveis, mas ele sente esse “vazio” todo, e eu sei que sente.
Bem, por outro lado minha mãe vai super bem: ela namora um cara, eu ainda não conheço, mas almoçamos juntas todos os sábados no centro, vamos ao shopping, fizemos compras, e vamos ao salão de beleza, e as vezes eu sinto como se eu fosse a “melhor amiga” jovem dela, não que ela seja a minha melhor amiga. Ela vive sozinha, ou com seus namorados, minha avó materna é viúva, um tanto neurótica, totalmente pirada e vive no interior da Georgia, com minha tia, mamãe vai para lá nas festas, mas eu, bem, eu nem mesmo me lembro quando estive na Georgia pela última vez...
E a questão toda volta para o momento agora: meu pai acabou de dar um surto porque um dos meus primos foi pego fumando maconha na escola. O semestre acabou e ele e mamãe conversaram e ele quer me colocar em um outro colégio. Mamãe pagou minha carta de motorista, mas preciso passar no teste, papai quer que eu passe a semana toda indo e vindo do centro de Los Angeles para poder ajudar ele na loja, como eu normalmente faço, e mamãe quer que eu fique com ela, ainda estamos decidindo o que é melhor. A escola nunca foi um problema para mim, eu sempre fui boa na escola, realmente boa, mas ainda sentia medo de não ser suficiente.
E então, esse é um breve resumo daminha vida, e aqui estou eu, fim da tarde de sexta feira, amanhã de manhã é meu teste de direção e eu estou bem nervosa. Papai entra no meu quarto, batendo levemente na porta antes de dizer:
- Mocinha, tudo bem aí?
- Tudo bem sim – salto da cama, e de deitada, passo a estar sentada em poucos segundos – como foi o dia na loja?
- Teria sido melhor se eu tivesse ajuda, chegou umas caixas de miudezas...
- Sei como é – sorri envergonhada: não fui ajudar o meu pai porque estava ansiosa demais – mas e aí, me conta o que vamos ter para o jantar?
- Pensei em levar você para comer uma pizza no Thed’s – ele parecia animado.
- Nossa, e o que estamos comemorando?
- Sua carta de motorista? - Não dá sorte comemorar antecipadamente...
- Certo – ele ficou nervoso – eu quero que você conheça uma pessoa.
- Uau – fui pega de surpresa, provavelmente não escondi a perplexidade – uma namorada?
- Não é bem assim... - ele parecia envergonhado.
- Vamos lá, quem é a felizarda? - eu não escondia a curiosidade.
- Vou apresentar para você - ele tentou encerrar a conversa.
- Pai, conheço todo mundo no bairro - eu ri - não tente me esconder nada.
- Lorena Sanchez. - ele falou tão rápido que eu somente ouvi por estar super atenta.
- A Delegada Sanchez? – sorri: eu a conhecia, ela voltara para o East Garden depois de alguns anos em New York, era agente federal, da divisão de narcóticos, promovida a Delegada do distrito há pouco mais de dois anos, era uma mulher incrível.
- Sim – ele sorriu – olha que curioso, conheço ela há mil anos...
- Sim – eu sorri, meu pai estava sem jeito, pela primeira vez na minha vida – ela parece ser muito legal, mas, você tem certeza de que quer que eu vá junto com você no seu encontro?
- Não é bem um encontro hoje - ele parecia ainda mais envergonhado.
- Houve um encontro? - e eu ainda mais curiosa.
- Alguns, na cafeteria, e na quarta passada, fomos olhar o jogo juntos... Bem, estamos saindo tem um tempinho.
- Nossa, eu realmente estou por fora... – suspirei: estava distraída demais.
- Não quis te deixar de fora, achamos que era oportuno te contar e bem, ela gostaria que fosse hoje à noite, nós queríamos ter certeza das coisas...
- Então tá – sorri – a que horas?
- Nove horas, Mariah. - Tudo bem, nove horas – sorri e acenei quando ele saiu.
Não deixo de estar feliz pelo meu pai, ele realmente merece ser feliz, encontrar alguém que ame ele pelo que ele é, só espero que a delegada Sanchez seja essa pessoa, apesar de provavelmente ter deixado explícito que eu não gostei de não estar sabendo das coisas, acho que não deu para esconder isso.Tudo bem: analiso o meu closet umas vinte e cinco vezes e realmente acredito que eu preciso fazer uma faxina no meu quarto, tem roupas aqui que eu não uso há uns três ou quatro verões. O mês de agosto traz aquele calor seco e insistente, e tudo o que eu quero é não parecer uma garotinha i****a e perdida.
Escolho um vestido com uma estampa floral em royal e violeta em um fundo delicado azul bebê bem clarinho, fica bonito quando estou bronzeada, o que é o caso, considerando a estação. Fico em dúvida entre salto anabela ou botinhas countries rasteiras, e vou firme na segunda opção, completando o meu look fantástico com um cinto de couro marrom no mesmo tom das botas: aí está um dos meus talentos, sou quase um ícone da moda quando tenho tempo e paciência.
Papai entra em meu quarto há tempo de me ajudar a trançar o cabelo: ele faz isso desde que eu me lembro, mantenho meu cabelo castanho escuro super longo, e sempre que eu peço, ele me ajuda com as tranças. Finalmente pronta, me despeço do nosso Bud e saímos direto em direção aos Thed’s, que é uma outra coisa muito, mas muito família para nós. Theodore, o dono dessa pizzaria super badalada no centro de Los Angeles era muito amigo do meu avô, então é como se o Sr. Theodore Devitta, um simpático vovô com descendência italiana, fosse parte da família também, ele ficou viúvo muito cedo e criou praticamente sozinho seus dois filhos: Jeremy e Donna, que era minha madrinha, junto com o marido Jonathan, todos trabalhavam no Thed’s. O movimento do lugar era sempre grande, mas o ambiente era super aconchegante. Donna havia assumido a parte administrativa, Sr. Thed, Jeremy e Jonathan estavam na cozinha. Assim que chegamos Papai avistou a delegada Sanchez em uma das mesas, fiquei para trás, para dar um abraço em Donna.
- Como está a princesa da dinda? – ela sorria, Donna era uma mulher linda: pela muito clara, olhos castanhos brilhantes, um sorriso lindo. Os cabelos curtinhos e um milhão de tatuagens.
- Eu estou bem – sorri de volta – e todo o pessoal?
- Ah, na correria, você sabe, mas logo eles vão lá dar um alô para vocês – ela se debruça no balcão – sua mãe esteve aqui anteontem com o namorado dela - ela adorava contar as novidades.
- Ainda não conheci - respondi curiosa.
- Brandon McLaughly – ela sorriu – divorciado, dois filhos, a ex mulher é meio doida, e o filho é um gato.
- Nossa – franzi a testa – provavelmente vou ver eles com frequência... Soube da minha mudança? – revirei os olhos.
- Ah, sim, o seu pai comentou quando pegou pizza semana passada, ele estava bem preocupado com o que os gêmeos estavam aprontando.
- Eles vão ficar bem – revirei os olhos e ri – imagine o que o Tio Jordy não fez com eles.
- Não quero nem pensar – ela riu – e o seu Pai?
- Aparentemente está namorando a Delegada Sanchez - fiz cara de desentendida.
- Nossa – ela mostrou surpresa – nunca imaginei eles juntos, eles se conhecem desde sempre...
- Então, eu estou tão surpresa quanto você – indiquei que iria para a mesa – acho que preciso ir agora.
- Com certeza, e eu adorei esse seu look - Donna deu uma piscadinha e eu sai super confiante, uma das minhas referências femininas havia aprovado meu look.
- E ai – anunciei quando cheguei até a mesa
- Oi querida – Sanchez levantou-se para me dar um abraço e um beijo na bochecha – você está tão linda, como cresceu...
- Obrigada – respondi sem jeito – e então? Esse cheiro de pizza está me deixando com mais fome do que o normal.
- Então sou obrigado a fazer o pedido – meu pai anunciou sorrindo – duas mulheres famintas devem ser um poço profundo de raiva.
- Que exagero – eu debochei, e logo escolhemos os sabores para fazer nosso pedido.
Passamos uma boa noite: comida boa, companhia boa. Sanchez era muito engraçada e realmente parecia gostar do papai, os olhos dela brilhavam enquanto ela o observava contando as histórias dele, no fim da noite Donna ainda juntou-se a nós para colocar as fofocas em dia com meu pai, e eu voltei para casa feliz, feliz demais por ele.
Acordei as 06:00 no sábado. Meu exame era as 09:00, então coloquei shorts, top, camiseta e tênis e fui correr para aliviar a tensão. Corria sempre, algo em torno de 5km, aquele dia estiquei um pouquinho e fui até os 3,5 para totalizar 7km com a volta. Correr me fazia sentir bem. Eu não era uma atleta, não era magra, não poderia ser líder de torcida... Nos meus dezesseis anos tinha quase 1,70 de altura, manequim 40 devido há minha herança latina de quadris avantajados, s***s bem formados, tinha uma pele clara que bronzeava fácil, olhos arredondados de um verde profundo e um cabelo castanho escuro levemente ondulado e muito longo. A franja caia em meu rosto enquanto eu corria, estava começando meu percurso de volta, quando eu reparei em alguém corria na direção oposta a minha, um cara, alto, forte, cabelos castanhos claros, olhos azuis, devia ter 1,9 de altura.
Ele reduziu a velocidade quando se aproximou olhando fixamente para mim, pude olhar dentro dos olhos dele e ele abriu um sorriso lindo de morrer quando passou por mim, dizendo um “bom dia” logo na sequência. Eu estava estupefata, extasiada, fora os garotos da escola que eram um bando de babacas, dificilmente alguém olhava para mim, ainda mais daquele jeito... Respondi o “bom dia” mas demorei tanto que o moço provavelmente nem mesmo escutou...
E assim que eu cheguei em casa fiz uma das coisas que eu mais gostava no mundo: desenhei aquele rosto e contei essa mesma história, a corrida, o olhar, o sorriso... Guardava em meus diários coisas como essas, esses pequenos momentos que faziam nossas vidas especiais, eu me senti especial naquele momento e quis guardar. Eu desenhava muito bem, então coloquei no papel cada traço, deixando para colorir tudo depois.
Aí estava outro talento: eu desenhava e era muito detalhista. Meus gostos peculiares incluíam desenhar em papel vegetal para colorir depois e colar dentro do meu diário – que era em formato bullet journal. Tomei um banho rápido, vesti jeans, calcei all stars surrados e enfiei uma camiseta de banda qualquer. Amarrei meus cabelos em um coque despencado e coloquei meus óculos de grau: precisava estar enxergando bem e totalmente focada. Quando desci as escadas, papai estava me esperando com meu café da manhã favorito: misto quente, café passado e bolo de cenoura com calda de chocolate, opa, perai...
- Bolo de Cenoura? – anunciei quando vi, sem nem mesmo dar bom dia.
- Bom dia – papai sorriu – Lorena trouxe agora há pouco, ontem você disse que gostava.
- Nossa, quanta gentileza – sorri, aproximando-me do prato com bolo sobre a bancada, havia um bilhetinho: “Vai lá e arrasa, garota! Beijo, Lorena”. Sorri novamente, sentindo-me especial – papai, eu realmente gostei da Lorena, e nem é pelo bolo, que está incrível – papai olha para mim me repreendendo por falar de boca cheia - mas o bilhetinho, foi fantástico, agradeça à ela por mim.
- Com certeza – ele sorriu – estou orgulhoso, sei que você é muito capaz e que logo eu vou precisar esconder a Dodge de você.
- Eu não gosto da Dodge, papai – sorri – meu sonho era reformar o Impala vermelho do vovô.
- Eu sei disso – ele sorriu – sua mãe deve chegar logo, se apressa.
- Com certeza – dei um gole no café, meu pai faz o melhor café do mundo.
Assim que ouvi a buzina saltei da cadeira, despedindo-me de papai e encontrando minha mãe com alguém no banco do carona: um homem de uns quase cinquenta anos, bonito, com porte atlético, com certeza era Brandon McLaughly.
- Bom dia princesa – minha mãe era um pouco exagerada, me esperava do lado de fora do Audi – tudo certo?
- Bom dia mãe – dei um beijo no rosto dela: vestia terninho preto, saltos muito altos e o outifit mais impecável que vocês podem imaginar – nossa, queria ter essa disposição toda de manhã para se arrumar.
- Um dia você var ter – ela sorriu, aproximando-se do homem que já estava fora do carro – então, esse é o meu namorado, Brandon.
- É um prazer conhecer você, Brandon – sorri, realmente era, ele parecia legal. - Então, logo vamos ter uma mocinha a mais dirigindo por Los Angeles.
- Se Deus quiser – sorri sem jeito.
- E logo vamos ter outra mocinha em casa, também – não entendi e isso ficou explícito – Cristhine e eu estamos morando juntos, logo, esperamos você para o ano letivo...
- Ah, claro – eu sorri, havia sido pega de surpresa, achei que minha mãe ainda morasse sozinha – vamos ver como vai funcionar tudo, ainda preciso pensar em como vai ficar as coisas, dependendo dos horários...
- Com certeza – minha mãe interpôs – vamos, vamos. Não podemos nos atrasar. Eu vou buscar você depois do exame, querida, vamos almoçar juntos no píer e colocar os assuntos em dia.
O caminho até a delegacia de trânsito foi silencioso. Brandon enviava mensagens no celular compulsivamente, mamãe estava concentrada na direção.
- Boa sorte, querida – Brandon desejou-me assim que sai do carro – é só manter a calma.
- Você vai tirar de letra – mamãe me abraçou – me liga assim que sair, vou deixar Brandon no escritório e aí estou livre para você.
- Tudo bem – respirei fundo e sai andando em direção a um importante passo no caminho da vida adulta: tirar a carta de motorista.
Não lembro do meu teste. Não lembro de nada, na verdade, depois que assinei os papéis na entrada. Três goles de água e logo estava dentro do carro, perdi a noção do tempo e estava de volta ao pátio com o examinador dizendo “parabéns” e entregando o meu documento provisório: imaginem a sensação de dever cumprido e liberdade que um pedaço de plástico com sua foto impressa pode trazer... Mas eu não liguei para a mamãe, e sim para o meu pai, ele nitidamente chorou no telefone, pedi que ele avisasse a Delegada Sanchez e ele disse que tinha um surpresa para mim. Liguei para a mamãe logo depois, o que eu não precisava ter feito se eu tivesse olhado para o outro lado da rua: ela estava me esperando.
- Sabia que ia dar tudo certo – ela me abraçou.
- Não lembro de nada - disse rindo .
- Bem normal – ela sorriu – vamos caminhar na praia?
- Mãe, você está de terninho... - Eu tiro os saltos, prometo.
Aquele era um momento nosso. Eu carregava meus tênis, minha mãe seus saltos altos e caminhávamos com as calças enroladas pela areia molhada, ela era linda, magérrima, parecia uma boneca. Eu com certeza tinha muito dela, mas em uma estrutura óssea mais latina.
- Ligaram da Highland Hall – ela parecia ansiosa – e você foi aceita. Estou muito, muito feliz – sim, e isso ela não conseguia esconder.
- Nossa, que bom – não sabia se estava feliz ou triste com isso – estou morrendo de medo da escola.
- Não precisa ter medo, você vai se dar muito bem lá, é tão inteligente...
- As pessoas, elas são muito diferentes, mamãe e eu não estou acostumada à isso.
- Daremos um jeito e você com toda a certeza vai se adaptar – ela sorriu - o high school pode ser um pouco c***l, mas tenha certeza que na Highland Hall você vai ter muitas oportunidades, querida. Você tem notas ótimas, a tutora McMillan acredita que com um pouco de dedicação, você consegue entrar em qualquer Universidade da Yve League.
- Bem, então eu realmente preciso manter as minhas notas, esse é o foco – não quis dizer que eu nem mesmo sabia que curso que eu queria fazer – vai dar certo.
- Essa é a atitude – mamãe riu.
Passamos um dia super tranquilo na praia, e quando eu digo isso, digo de verdade. Brandon juntou-se a nós na hora do almoço, eles comentaram sobre uma casa que estava negociando ali mesmo no Pier Santa Mônica.
- É bem simples – Brandon disse – um chalé grande de madeira, mas está em bom estado e tem uma das melhores localizações possíveis.
- Uma jóia por um preço incrível – mamãe completou – e achamos que com três adolescentes em casa ela vai ser super bem utilizada.
- Com certeza – Brandon disse – tenho certeza de que todos vão gostar. Acho que na semana que vem estaremos com o negócio fechado – ele sorriu para mim – e aí, mocinha, vamos ter um almoço de domingo na praia e você vai conhecer meus filhos.
- Nossa, vai ser incrível – disse sorrindo, mas por dentro eu estava desesperada.
Brandon nos deixou após o almoço, alguma coisa sobre “jogar tênis” e mamãe revirando os olhos. Ele parecia realmente ser um cara bem legal.
- Gostei dele – disse de repente, quando chegamos ao Shopping.
- Sério? – minha mãe estava séria.
- Sim, ele parece ser bem legal – e parecia mesmo – eu gosto do jeito que ele olha para você e dá atenção quando você fala...
- Você é tão romântica – ela riu – presta atenção em tantos detalhes.
- Nunca reparou nisso? - eu parecia perplexa.
- Não – ela arregalou os olhos, surpresa – eu estou sempre correndo, e ele também, mas eu gosto dele, porque ele deixa o meu dia bem mais leve as vezes.
- Ah, bem, você encontrou motivos...
- Com certeza – ela sorriu – às vezes é só um bilhete colado no espelho do meu carro, ou um café que ele pega no drive thru ou ainda, quando eu cancelo um almoço com ele ou digo que vai ser bem corrido, ele manda entregar meu prato favorito no escritório, sem eu pedir...
- Definitivamente, isso deixa os dias bem mais leves.
Passamos o fim da tarde no Shopping. Fizemos algumas compras: lingeries novas, pijamas, alguns cosméticos e maquiagens. Mamãe era muito clássica no vestir, eu era totalmente o oposto.
- Então, para a escola, você vai ter uniformes, sexta-feira é o dia sem uniforme, sempre – ela sorriu – aí é um imenso desfile de moda, eu encomendei calças, saias, camisas e blazer, além das meias, gravatas e lenços. Para as atividades esportivas, calças legging e camisetas, e uns shorts com saia, que são lindos, e um abrigo...
- Exagerada – eu ri.
- Ah, mas você vai ver que tem dias que vai trocar de roupa duas vezes...
- Verdade – pensei nos horários que ela tinha me mostrado mais cedo.
Mamãe me deixou em casa no fim do dia, a camionete do papai estava na frente de casa, o que era um milagre. A delegada Sanchez estava lá também. Assim que chegamos, o papai gritou que a mamãe “tinha que descer para ver isso” e ela sorriu e me acompanhou. Cumprimentou Sanchez e o papai, que estava visivelmente ansioso.
- Então, mocinha – ele pegou uma das minhas mãos – fecha os olhos e vem comigo, vou mostrar a sua surpresa.
- Tudo bem – fechei os meus olhos e deixei que ele me conduzisse, percebi que estávamos indo para a garagem.
- Agora pode abrir – meu pai disse.
E quando eu abri os meus olhos quase não acreditei: o Impala conversível vermelho escarlate do vovô Martinez estava ali, totalmente restaurado, na garagem do meu pai.
- Ai meu Deus do céu – gritei e saltei abraçando o meu pai – você reformou o Impala?!
- Bem, sim - ele estava emocionado. Na verdade, eu e os seus tios... – ele sorria – a vovó disse que se era para você, deveríamos fazer, ela jamais daria o carro do vovô para qualquer um, e você sempre amou ele...
- Eu estou tão feliz – e realmente estava, eu ria e chorava ao mesmo tempo, aquilo era o ápice da minha vida adolescente: meu primeiro carro.
Ficamos na garagem namorando o carro, papai me deu as chaves e eu sai para dar uma volta no bairro. East Los Angeles era um bairro grande, e eu vivia em um cantinho chamado East Garden, com suas casas grandes e jardins bem cuidados, acredito que por ser sábado, haviam muitas pessoas transitando por ali, passei pela minha antiga escola, dei a volta e passei em frente à loja do papai, à casa de Henry, meu antigo crush, e voltei para casa.
Agosto passava vagarosamente, um calor insuportável tomava conta de tudo. Visitei vovó na casa de repouso duas vezes, encaixotei todas as coisas que eu julgava precisar durante a semana. Por uma questão lógica, eu ficaria a maior parte do tempo durante a semana em Hidden Hills, onde mamãe e Brandon haviam comprado uma casa, e isso de viver com minha "outra família" me pouparia quase uma hora e meia de trânsito, mas em dias mais tranquilos, eu acabaria indo ver meu pai, e eu sabia disso, porque eu simplesmente não sabia ficar longe.