A Princesa do Norte

Capítulo 28

P.V. Princesa Kiara

A claridade machucava os meus olhos, e a minha boca estava seca. Uma dor aguda atravessava o meu corpo, como se milhões de pequenas agulhas estivessem cravadas na minha pele. Quando a minha visão começou a melhorar, percebi que estava num quarto. Ao longe, vi Elisa dormindo em uma cadeira, claramente desconfortável na posição em que estava.

Tentei me mover, mas algo me impedia. Quando olhei para baixo, vi Dylan dormindo ao meu lado, sentado em uma cadeira. A sua mão segurava a minha com firmeza. Esse pequeno gesto aqueceu o meu coração. Ele era um amigo maravilhoso. Vi-o começar a despertar e, quando levantou a cabeça, os seus olhos encontraram os meus com surpresa.

— Oi — disse baixinho, com a voz rouca por não falar há algum tempo.

— Finalmente você acordou! — exclamou ele, apertando a minha mão. — Você me deixou muito preocupado, Kiara.

— Desculpa — respondi, virando o rosto, envergonhada de encará-lo.

— Sei que você estava tentando ajudar, mas sabe que foi uma burrice — disse ele, arqueando as sobrancelhas.

— Eu precisava — retruquei, encarando-o com firmeza. — Ele precisava de mim.

Vi um sorriso surgir nos lábios de Dylan. Ele era um homem bonito, alto e esguio, com cabelos pretos lisos, pele clara e lábios finos. O que mais me encantava nele eram seus olhos castanhos, tão expressivos.

— Vivi para ver você se apaixonar — brincou ele, ainda sorrindo. — Devo dar os pêsames a ele?

Tentei dar um tapa na sua cabeça, mas ele segurou a minha mão antes que eu conseguisse.

— Pelo visto, você já está bem. Já quer até me bater! Devia estar me agradecendo, não acha?

— Vou chutar o seu traseiro assim que conseguir ficar de pé.

— Não duvido que tente. Conseguir é outra história — respondeu ele, com ar convencido.

Levantei a mão e toquei a sua bochecha.

— Obrigada, Dylan. Estou em dívida com você.

Ele segurou a minha mão, levou-a aos lábios e a beijou.

— Não existe dívida entre amigos, Kiara. E sei que faria o mesmo por mim.

— Sem pensar duas vezes.

— Kiara! Você acordou! — ouvi Elisa chamar, enquanto corria na minha direção.

— Oi, Elisa. Estou bem.

— Vou chamar a Sofia! — disse ela, saindo correndo do quarto. Olhei para Dylan, preocupada.

— Há quanto tempo estou dormindo?

— Quatro dias — respondeu ele.

Os meus olhos se arregalaram.

— Tudo isso?

— Sim. Você estava muito ferida. Foi um milagre chegar aqui com vida.

Não havia muito o que dizer. Fiz o que achava certo. Jamais me perdoaria se algo tivesse acontecido a Lien.

— Lien! — exclamei, sentando-me de repente.

A tontura me invadiu, e só não caí de volta nos travesseiros porque Dylan me segurou.

— Por que fez isso? Você ainda não está recuperada — disse ele, deitando-me novamente.

— Lien, preciso saber se ele está bem! — respondi, massageando os olhos.

— Calma, vou te contar tudo.

A porta do quarto se abriu, e Sofia entrou como um furacão, jogando-se sobre mim, chorando.

— Kiara! — exclamou, abraçando-me. — Quero bater em você por me deixar tão preocupada!

Acaricio o seu rosto, limpando as lágrimas que escorriam por suas bochechas.

— Sei que te preocupei, mas está tudo bem agora — disse, olhando nos seus olhos. Ela me abraçou novamente enquanto chorava.

— Vai machucar ela, Sofia — alertou Elisa. — As feridas dela ainda não sararam!

Ao ouvir isso, Sofia rapidamente me soltou e sentou-se ao meu lado.

— Desculpa! Não te machuquei, né?

— Não — respondi, sorrindo. — Estou bem. Agora me conta, Dylan, o que aconteceu?

— Certo. Assim que você chegou e fiquei sabendo o que ocorreu, mandei alguns soldados para ajudar a comitiva do príncipe. Trouxemos eles para cá e tratamos os seus ferimentos. O príncipe Lien não teve nenhum ferimento sério, apenas cortes superficiais. Mário quebrou o braço, e Solomon teve um corte na perna, mas não era profundo. Os outros estavam bem.

— Não sabe como fico aliviada em saber disso.

— Eles ficaram aqui dois dias e partiram. Recebi uma mensagem dizendo que chegaram em segurança.

— Eles sabem que estou aqui?

— Não. O único que sabe é Solomon, mas ele prometeu não contar a ninguém.

Assenti. Sabia que Solomon jamais me entregaria.

— Ele quase teve um treco quando te viu — comentou Sofia. — Foi preciso muito esforço para ele não contar ao príncipe, mas Dylan o convenceu.

— Apesar de não ser mais meu general, ainda temos um bom relacionamento. Solomon é um amigo para mim.

— Meu pai... Ele sabe?

— Sim. Não tinha como esconder algo assim dele. Mandei uma mensagem garantindo que você estava bem — explicou Dylan, coçando a cabeça. — Ele me ameaçou. Você acredita nisso?

Ri. Era bem a cara do meu pai.

— Não leve a m*l. Ele só queria te incentivar! — brinquei, sarcástica.

— Meu pai conversou com ele. Achamos melhor ele não vir aqui. Afinal, você ainda não está completamente segura. Precisamos investigar tudo isso.

— As pessoas que atacaram o príncipe Lien não sabem que foi você quem o salvou, Kiara — disse Sofia. — Já temos uma vantagem. Ninguém acreditaria se disséssemos que você luta.

— Ela tem razão — concordou Dylan. — Precisamos manter isso em segredo.

Notei Elisa inquieta atrás de Dylan. Observei-a com atenção.

— Elisa? — chamei. Vi-a se assustar. — Está tudo bem?

— Sim, alteza. Só estou preocupada com a sua saúde.

O comportamento dela parecia estranho, mas resolvi não insistir.

— Já disse que estou bem. Elisa, ninguém pode saber o que conversamos aqui. Entendeu?

— Sim, alteza. Não revelarei nada.

— Espero que cumpra isso. Não podemos deixar vazar informações agora.

Estabelecemos uma rotina no castelo Mandrack. Todos os dias, o curandeiro me examinava e, aos poucos, eu melhorava. Ninguém tinha permissão para entrar no quarto do príncipe, exceto o curandeiro e uma serva. Fazíamos o possível para que a minha identidade permanecesse em segredo.

No dia em que saí do quarto pela primeira vez, foi maravilhoso. Dylan providenciou roupas masculinas e um lenço para cobrir o meu rosto. Assim, pude dar uma volta com ele. O castelo era protegido por guardas vinte e quatro horas por dia, e Dylan não permitiu que eu mudasse de quarto, alegando que o dele era mais seguro.

Lentamente, fui-me recuperando. Um mês depois, era hora de retornar para casa.