P.V. Princesa Kiara
Entro na batalha com tudo que tenho. Vejo, um por um, os inimigos caírem. Então me viro para verificar se todos estão bem. O espanto estava estampado nos seus rostos, todos respirando com dificuldade. Vejo Rolf ajudar Mário a se levantar, enquanto Solomon estava sentado, fazendo um torniquete na perna para estancar um sangramento. Lien estava de costas para mim, e não pude ver a sua expressão.
Quando me preparava para ir embora, vejo um dos inimigos se levantar e correr na direção de Lien. Disparo para frente e me coloco entre eles, recebendo o golpe no seu lugar. Sinto uma dor alucinante quando a espada perfura a minha barriga. Percebo Lien se virar, mas não dou tempo para ele reagir. Seguro o meu punhal e o cravo no coração do homem, torcendo a lâmina. Ele cai morto aos meus pés.
Com cuidado, retiro a espada da minha barriga e a jogo no chão. Pressiono a ferida com as mãos para conter o sangramento.
— Deixe-me ajudá-lo — ouço Lien dizer, mas me afasto cambaleando.
— Você precisa de ajuda! — insiste ele, segurando o meu braço.
Solto-me e dou um chute no seu peito, derrubando-o no chão. Vejo os outros se prepararem para a luta que acham que virá, mas apenas viro as costas para eles sem dizer uma palavra. Subo no meu cavalo e assobio, chamando as outras.
Quando já estávamos a uma certa distância, paro. O sangue escorria abundantemente, e a minha visão estava turva.
— O que foi, Kiara? — pergunta Sofia, aproximando-se.
— Você vai ter que me levar.
— Por quê?
— Fui atingida... ali atrás. Perdi muito sangue — respondo com dificuldade.
— Meu Deus, Kiara! Por que não disse nada? — exclamou ela, vindo até mim para olhar a minha ferida. — Caramba! É muito profunda. Se continuar assim, não vamos conseguir chegar.
— Estamos perto. Me amarre a você. Quando chegar ao portão, entregue isso ao guarda — digo, entregando-lhe um distintivo com o símbolo do príncipe. — Eles vão levá-la até Dylan sem fazer perguntas... Não tenho mais forças.
— Não se preocupe. Vamos correr — disse ela, puxando-me para suas costas. — Me ajuda aqui, Elisa.
— Claro! Segure as mãos dela, que vou amarrá-la a você.
O resto da viagem foi um borrão para mim. Lembro-me apenas da comoção na entrada do castelo de Dylan, mas estava fraca demais para entender o que diziam. Quando me levaram para dentro, lembro do rosto desesperado de Dylan ao me pegar nos braços e levar-me para ser tratada.
P.V. Sofia
Chego ao portão do castelo em desespero. Kiara estava desmaiada nas minhas costas. Já fazia alguns minutos que não sentia qualquer movimento dela.
— Rápido! — gritei para o guarda que me parou no portão. — Preciso ver o príncipe Dylan. A vida de alguém está em risco.
Entreguei o distintivo. Ele ficou assustado ao vê-lo e imediatamente deu ordens para chamar o príncipe enquanto nos deixava entrar.
Quando chegamos à entrada do castelo, Elisa me ajudou a retirar Kiara do cavalo. Nesse momento, o príncipe chegou correndo na nossa direção.
— Kiara! — gritou ele, aproximando-se. — O que aconteceu?
— Uma emboscada aqui perto. Ela foi ajudar e acabou se machucando — expliquei, chorando. Não saberia o que fazer se ela morresse.
— Uma emboscada?
— Sim, alteza. Se puder enviar ajuda, o príncipe Lien e os outros estão feridos. Eles precisam de socorro.
— Calma, vamos ajudar — respondeu ele, pegando Kiara nos braços e levando-a para dentro. — André, envie ajuda para a estrada. Tragam os feridos para o castelo!
O soldado assentiu e saiu correndo, gritando ordens.
Subimos as escadas apressados. O príncipe abriu a porta de um quarto com um chute. Quando entramos, percebi que devia ser seu quarto. Ele colocou Kiara na cama e se afastou para falar com um soldado.
— O curandeiro já está a caminho. Agora preciso que me contem com calma o que aconteceu — disse ele, sentando-se ao lado de Kiara.
— Meu nome é Sofia, alteza, e ela é Elisa — apresentei, apontando para Elisa, que estava parada perto da porta. — Estávamos vindo para cá porque Kiara queria visitá-lo, mas no caminho ouvimos alguém falando sobre uma emboscada.
— É claro que ela faria algo assim... Teimosa e imprudente — comentou o príncipe com um suspiro.
— A emboscada foi contra o príncipe Lien, que está cortejando Kiara. Quando ela soube, saiu correndo atrás deles e acabou se machucando.
— Ela faria qualquer coisa pelas pessoas que ama — disse Dylan, acariciando a mão de Kiara.
— Ninguém pode saber que estamos aqui — adverti, vendo o seu olhar confuso. — Houve um atentado há alguns dias no reino, também contra o príncipe Lien. Não sabemos o que está acontecendo.
— Como o rei Elrick permitiu que ela saísse? É muito perigoso.
— Ela sempre consegue o que quer. Tivemos escolta no caminho, mas ela se feriu porque foi ajudar os outros.
Nesse momento, um homem mais velho entrou correndo no quarto.
— Me chamou, alteza?
— Preciso que cuide dela. É um corte no abdômen — disse Dylan, puxando o curandeiro para perto da cama. — E ninguém pode saber que você a está tratando. Fui claro?
O curandeiro assentiu, embora parecesse assustado.
— Vocês duas ficam aqui até eu decidir o que fazer. Não saiam e fiquem longe das janelas. Não sabemos com quem estamos lidando, então temos que tomar cuidado — ordenou Dylan, voltando-se para nós. — Volto daqui a pouco.
— Obrigada, alteza — agradeci.
— Só mais uma coisa — acrescentou, virando-se novamente para mim. — Pelo que vejo, o príncipe Lien não sabe de nada, certo?
— Não, ele não sabe de nada.
— Entendido. — E saiu disparado pela porta.
O curandeiro começou a tratar da ferida de Kiara. Ela havia perdido muito sangue, e o seu rosto estava pálido e sem vida.
Fui até Elisa, que ainda estava assustada, e segurei as suas mãos. O seu rosto estava banhado em lágrimas, e era visível o nervosismo dela. Juntas, fizemos uma prece silenciosa para que Kiara ficasse bem.