P. V. Princesa Kiara
Luna era linda e encantadora. A sua presença era leve e agradável.
— Espero não ter causado problemas para vocês nos dias em que fiquei lá.
— Imagina, princesa, não houve nenhum problema.
— Mesmo assim, preciso pedir desculpas. Dylan não me deixou ficar em outro lugar, então me perdoe se dei a entender outra coisa.
— Ela ficou com ciúmes — diz Dylan, sorrindo.
— Dylan!
— Não se preocupe, eu também fiquei — diz Lien, sorrindo. — Quase que ele perdeu uns dentes.
Caímos na risada.
— Quem ia perder os dentes? — pergunta Solomon, aproximando-se com Sofia.
— Segundo o Lien, eu. O que duvido — responde Dylan.
— Essa eu gostaria de ver, mas o cara é como um pitbull raivoso. Aí você chega e fala que dormiu com a Kiara todas as noites. Estava pedindo — comenta Solomon.
— Eu tinha que saber se as intenções dele eram boas.
— Era só perguntar — diz Lien.
— Eu odiaria que esse rosto lindo fosse arruinado — diz Sofia, balançando a cabeça.
— Sofia! Quer que eu te tranque pelo resto da vida? — retruca Solomon, bravo. Ela se aproxima dele, passa a mão no seu peito, provocando-o.
— Quero ver você tentar — sussurra ela em seu ouvido.
— Mas é claro, comigo junto — responde ele.
Não conseguimos conter a risada diante da resposta de Solomon.
— O que aconteceu com o meu temível general? — pergunta Dylan, rindo.
— Foi domado — responde Lien.
— Vocês estão acabando com a minha reputação — reclama Solomon.
— Acho que é o contrário — digo a ele.
— Vocês são sempre assim? — pergunta Luna, curiosa.
— Você não viu nada — diz Sofia. — Quando marcarmos o próximo encontro dos amigos, avisamos vocês. Aí você vai ver o que é aprontar.
— Ainda lembro-me do Solomon bêbado — digo, rindo. — Ele implorando para Sofia casar com ele.
Rimos novamente, enquanto Solomon nos observava, bicudo.
— Isso foi golpe baixo, e você sabe — diz ele, apontando o dedo para mim.
— Aqui se faz, aqui se paga, Sol.
— Essa criatura é vingativa. Não confiem nela.
O sentimento de amizade entre nós era tão forte. Saber que no futuro não seríamos apenas governantes, mas também amigos de verdade, era reconfortante. Éramos a próxima geração de líderes e, juntos, faríamos um bom trabalho.
A nossa conversa se estendeu ao longo da noite, até que restamos apenas Lien e eu. O jardim do palácio era um velho conhecido nosso. Agora, o banco que ficava lá era "nosso" banco. Caminhamos em silêncio até ele, sentamo-nos e observamos a lua.
— Hoje foi perfeito — digo, admirando o luar.
— Sim, realmente foi.
Viro-me para Lien e noto um sorriso discreto nos seus lábios. A luz da lua iluminava a sua pele, conferindo-lhe um brilho especial. Comecei a notar detalhes que antes não percebia, como uma pequena pinta acima da sua sobrancelha e uma cicatriz na orelha direita. O seu cabelo geralmente tampava esses detalhes, e agora estava mais longo, algo que eu adorava. Passo a minha mão por seus cabelos, maravilhada com a sua textura sedosa.
— Quer que eu corte? — pergunta ele.
— Não, gosto dele assim.
— Fico feliz com isso.
— Claro! Se você cortar, não terei onde puxar — digo, piscando para ele.
— Então minha futura esposa está mostrando as garras.
Aproximo-me e dou um beijo na ponta do seu nariz.
— Eu nunca as escondi.
Ele me puxa para seus braços e me abraça com carinho.
— Eu te amo tanto, Kiara. O tempo que fiquei fora foi horrível. Por mais que estivesse cercado de pessoas, eu me sentia sozinho, porque a única pessoa com quem me importo não estava lá. Até mesmo as coisas que eu comia me lembravam você: como os seus lábios se fecham ao morder uma maçã ou como o seu sorriso ilumina as manhãs. Você transformou a minha vida monótona num mundo feliz, e espero poder retribuir toda a felicidade que você me dá.
Quando ele termina de falar, os meus olhos já estão marejados. Nunca pensei que ele me observava com tanto cuidado.
— Será que ainda posso te amar mais do que já amo? — digo, olhando nos seus olhos.
— Amor não tem limite, Kiara. E pretendo cativar você a cada dia mais — diz ele, dando-me um selinho.
***
Das Sombras
Alguém nos observava das sombras, com ódio nos olhos. Sentia que estava sendo roubado. Os seus pensamentos nebulosos ganhavam forma, e não era algo bom. Aquela pessoa só tinha olhos para a vingança.
— Por que você tinha que aceitá-lo? Mas não se preocupe, querida. Vou fazer você perceber que o único homem na sua vida sou eu.
Os seus punhos estavam cerrados a ponto dos nós dos dedos ficarem brancos. Um sorriso assassino surgiu no seu rosto, e seus olhos, injetados de ódio, estavam vermelhos.
— Precisamos ir, mestre — diz alguém ao seu lado.
Lentamente, eles desapareceram nas sombras do jardim, deixando para trás a promessa de uma terrível vingança.
P. V. Princesa Kiara
Retornamos ao castelo felizes. O nosso noivado havia sido lindo, e ter os nossos amigos presentes tornara tudo ainda mais especial.
Acordei no dia seguinte, renovada e pronta para mais um dia. Estava me arrumando para ir ao campo de treino quando ouvi uma batida na porta do meu quarto.
— Entre!
— Bom dia, Kiara — diz a rainha Esmeralda, mãe de Lien, ao entrar.
— Bom dia, majestade — digo, fazendo uma reverência.
— Não há necessidade disso, querida — diz ela, sorrindo. — Seremos família. Podemos esquecer essas formalidades.
— Tudo bem. Como posso ajudá-la?
— Não é nada demais. Apenas vim conversar um pouco com você. Ainda não tivemos tempo para isso — diz ela, sentando-se na minha cama.
— Verdade. Desculpe-me por isso.
— Está tudo bem. O dia de ontem foi corrido. Vim vê-la porque amanhã já estaremos voltando. Temos apenas hoje para conversar um pouco.
O reino do Sul ficava longe, e como os governantes estavam ausentes, aquilo representava perigo para o povo. Eu entendia a urgência em retornar.
— Pode perguntar o que quiser, Esmeralda. Responderei com a maior sinceridade possível.
Ela sorri para mim.
— Não esperava outra coisa de você, querida.