Ayda Liman
Não descansei em nada durante essa noite, mas ainda tenho bastante energia para treinar. A raiva dentro de mim é grande o suficiente para me fazer ficar de pé em plena energia. Ela está me abastecendo. Encaro bem o alvo à minha frente e miro as facas precisamente. Controlo a respiração, estreito os olhos e lanço-a em direção ao alvo.
Atingido com sucesso!
Nessa madrugada de insônia, eu já malhei, treinei socos e chutes, atirei e fiz alguns testes de resistências. Não é brincadeira, eu realmente não me sinto cansada e acho que é a adrenalina que não baixa. Ontem, eu passei o dia em combate pelos ataques inesperados e foram horas de tensão. Mas parece que não fiz nada.
A reunião acabou há horas e ainda parece que estou lá. Ela está se repassando milhares de vezes na minha mente e ali, eu fiquei dominada pela tensão.
Fiquei por horas ainda sentindo aquele aperto no meu queixo causado por Ilir. Até agora, eu ainda posso sentir aquele mesmo cheiro de chuva por mais que o sol prevaleça agora. Fora que, também não esqueço a forma como ele me olhou naquele momento.
— Soube que não dormiu depois de tudo. — É o meu pai que chega. — O que houve?
— Não finja que se importa. — Miro a próxima faca e lanço-a em direção ao alvo. — Já vou cumprir com as minhas obrigações e deveria estar satisfeito. Não era isso que queria?
— Olha como fala comigo. — Ele vem para mais perto. — Largue isso. — Seguro firme a faca e respiro fundo. — Agora, Ayda! — Abro a mão e deixo-a ir ao chão. — Se casará em alguns dias. Por mim, seria hoje, mas reformas precisam ser feitas. A mansão Alban precisa de reparos e assim que finalizar, começaremos.
— É só isso? — Questiono lhe olhando só agora. — Veio apenas para isso?
— Não! — Nisso, ele agarra o meu braço. — Mesmo casada com Ilir, não se esqueça de onde você veio. Quero que seja os meus olhos e ouvidos naquela mansão. Qualquer sinal fora dos eixos, você deverá me alertar e não falhe nas suas obrigações. — Isso só pode ser brincadeira.
— Pensei que já estavam num acordo de paz. — Eu lhe confronto enquanto ele me encara friamente. — Não foi isso que combinaram e não deram a palavra?
— Seria uma tola se pensasse mesmo nisso. Eu não confio neles e nunca vou. — Isso é mais um motivo de minha raiva.
— Mas confiou em me entregar de bandeja. — Puxo o meu braço com força. — Você adora me lembrar de onde eu venho e não tem como esquecer da merdä em que nasci. Você só pensa no poder e na vingança de anos então, não esqueça que, ao me casar com Ilir, eu não responderei mais a você... — Vejo os seus olhos escurecerem aqui. — Eu serei esposa dele e pela lei, a minha lealdade é para ele. Eu posso ser morta se ao menos cogitarem algo que levem a traição. Mas você sabe disso! — Sim, ele sabe e por isso quer me usar.
Antes eu do que ele. É isso que ele pensa!
— Vai se entregar fácil assim? Você é uma Liman! — Sinto vontade de sorrir, mas não o faço.
— Por enquanto, porque em alguns dias serei uma Alban e tudo passará a mudar. — Eu mudo a postura, colocando os ombros para trás e levanto mais a cabeça. — Deveria ficar orgulhoso, afinal, foi você que sempre falou sobre lealdade por aqui. — Dou meia volta e saio de perto dele.
Eu já não tenho mais paciência e nada parecido para suportar olhar para ele. Nunca fui vista como uma filha por ele, apenas uma peça para ser usada no momento certo. Meu irmão Valdrin, pensa como ele e por isso, se casou por negociação, mas não valeu em nada. Meu pai pensou que uma aliança com uma organização estrangeira poderia dar-lhe mais recursos para enfrentar os Alban’s, mas, tudo só foi prolongado.
Desde que me lembro, essa guerra sempre ocorreu. Eu nasci no meio desse confronto e não sei o que é ter paz. Eu não sei como é sair de fato nas ruas sem correr o risco de ser alvejada ou sequestrada. A sorte, é que depois do acordo feito sobre o casamento, todos a essa altura já devem saber da trégua.
Ou seja, as ruas já devem estar mais equilibradas.
A guerra trouxe um preço alto a ser p**o. Diversos bairros e vilas foram atingidas, milhares de pessoas fugiram de forma ilegal e não sei ainda como vão fazer para levantar tudo. Só sei que será trabalhoso.
Entro de volta em casa e me tranco no quarto para um banho. Estou suada, com cheiro forte pelos treinos e começo a me despir enquanto jogo as roupas no canteiro para serem lavadas. Fico embaixo do chuveiro e o que tem é água fria. Não temos muito luxo já que perdemos diversas batalhas. A casa é grande, mas boa parte está afetada. Vivemos uma vida mais simples, já que se foi usado diversos recursos para sustentar a guerra.
Eu não acho rüim, eu só acho que todos esses anos foram uma tolice.
Como Valdrin, já está casado e não surtil efeito na guerra, tudo caiu sobre mim agora.
Termino o meu banho e já vou à procura do que vestir. Como de costume, uso uma calça justa, uma blusa leve de caimento solto e prendo os meus cabelos. É nessa hora que recebo uma mensagem que pensei que não receberia. Depois de ler, volto a me arrumar e borrifo um perfume suave como sempre faço.
Nos pés, eu coloco as minhas botas e ao ficar pronta, a arma fica na cintura.
— Aonde você vai? — Meu pai surge na porta do meu quarto.
— Pegar um ar como faço de costume. — Respondo tentando não me irritar. — Eu já fiz os meus treinos completos de hoje e tenho direito a um descanso.
— E descansar é sinônimo de sair? — Hoje, ele realmente tirou o dia para me irritar.
— O combinado é, treinar, se preparar e depois vem as saídas. — Ele continua de cara fechada. — Olhe as câmeras como quiser. Eu treinei por horas e vou sair. Você não tem nada para resolver? — Dou-lhe as costas e saio em passos largos.
Já vi que terei que ter mais cuidado e vou ter que inventar um caminho para caso ele tente me seguir.
Saio de casa pegado a minha moto e saio em disparada antes que dê tempo tentarem me seguir. Acelero como posso, ultrapassando tudo pela frente e faço caminhos inúteis para gastar tempo. Minutos depois, eu paro atrás de um prédio desconhecido e entro estacionando dentro dele.
Só retiro o meu capacete dentro do prédio e subo alguns degraus indo ao meu destino. Quando chego em frente à porta, faço a batida secreta e ela é aberta por ele.
Finalmente irei descarregar essa tensão sobre o meu corpo e a prova disso, é ser puxada inesperadamente pela cintura enquanto sou beijada por ele.