estraguei a nossa amizade

1809 Words
Naquele dia, enquanto seguia para a casa de Heitor em um ônibus, Júlia pensava em como seria difícil seguir sozinha, sem o apoio financeiro de Heitor e sem a presença de sua irmã, mas ia ser forte, ia dar um jeito, nem que para isso tivesse que arrumar dois empregos. Ao chegar a casa de Heitor, Júlia caminhou até a porta de entrada, ao passar pela mesma, avistou Heitor e Lúcio, seu advogado, que logo se levantou para cumprimentá-la. — Júlia, como está? — ele questionou sorridente, havia conhecido Júlia a uns dias atrás, quando Heitor passou para ele sobre o caso da agressão. — olá Lúcio, estou bem. — disse ela se aproximando, então se cumprimentaram com um beijo na bochecha, enquanto ele delicadamente tocava o braço dela. — que bom, foi uma situação difícil, mas sei que ficará bem, tem meu apoio, como advogado e amigo também. — ela sorriu de forma singela, Heitor vendo a cena, travou o maxilar, não havia gostado nada de ver Lúcio tão próximo de Júlia. — é uma pena, você acabou de chegar Júlia, mas eu já tenho que ir, tenho umas urgências para resolver, qualquer coisa pode me ligar ou mandar mensagem, estarei sempre a disposição pra você. — Júlia apenas assentiu com a cabeça e Heitor ergueu a sobrancelha. — até mais Heitor. — até. — respondeu ele de forma fria, e enquanto Lúcio seguia em direção a porta, Heitor o olhava com certa curiosidades, será que havia um interesse em Júlia por parte de Lúcio? ele ainda era um homem bem jovem, trinta e dois anos, no auge de sua carreira na advocacia, trabalhando no escritório que havia herdado de seu pai, um homem bonito e solteiro, sem dúvidas um bom partido. — você tem o número dele? — Heitor questionou assim que Lúcio sumiu da visão dos dois. — sim. — ela respondeu de forma simples. — por que? — ele pediu meu número uns dias atrás e me mandou mensagem, disse que se eu tivesse alguma duvida, poderia entrar em contato com ele. — não precisa, é só falar comigo que pergunto pra ele. — disse Heitor em um tom sério, Júlia cruzou os braços e o olhou. — não é muito mais fácil que eu mesma pergunte? — talvez, se quiser acabar na cama dele.— disse Heitor deixando o ciúme falar por si. — que...você deve me achar uma grande p**a mesmo. — disse ela, então rapidamente deu as costas seguindo em direção a escada. — Júlia, não foi isso que eu quis dizer... — disse ele, mas ela já não lhe deu ouvidos, subiu a escada quase correndo e ele pode escutar os passos rápidos dela pelo corredor. — que droga, o que tá acontecendo comigo? Ao entrar em seu quarto, Júlia se atirou na cama e abafou o rosto contra o travesseiro, deixando as lágrimas caírem, m*l podia acreditar no que havia acabado de ouvir de Heitor, logo ele, a quem ela achava tão sucinto e respeitador, havia desrespeitado sua índole e caráter. — mas também, o que ele pensaria depois de ter mostrado os p****s a ele e me atirado em seu colo feito uma v***a? — ela questionou a si mesma, não estava pensando direito, como poderia ser uma v***a se havia se entregado a apenas dois homens em toda sua vida, e com seu ex, havia feito apenas por pressão e medo, com Heitor, havia se entregado por amor e lhe doia que ele mesmo sabendo, não valorizasse isso. A semana foi seguindo seu rumo, Júlia se distanciou ainda mais de Heitor, não aguentava estar nem no mesmo espaço que ele, vê-lo e lembrar das palavras dele era como receber facadas em seu peito, mas com sua introspecção, não se afastou somente dele, mas também de Jade que, sem entender o que estava havendo, pensava que sua amiga não havia lhe perdoado por conta da mentira, e isso estava machucando. Era quinta feira, Júlia levantou-se mais animada, havia sido chamada para uma entrevista de emprego, na loja a qual havia deixado seu currículo, a que oferecia um salário ótimo, então ela se arrumou devidamente e antes que Heitor e Jade saíssem de seus quartos, ela saiu de casa. Sentada em uma cadeira, na sala com as outras três candidatas, eram todas mulheres mais velhas e olhavam para Júlia com desdém, o que em certo ponto a incomodou, mas ela seguiu ali, até que por fim, a chamaram, Júlia entrou no escritório do gerente, era um homem de boa aparência e que exalava classe, em sua bonita camisa de grife. — bom dia, moça bonita, como se chama? — bom dia, me chamo Júlia. — ela respondeu, então sentiu os olhos dele lhe percorrerem todo seu corpo. — um belo nome, só não tão belo como a dona. — disse ele, Júlia sentiu-se um pouco envergonhada, ainda sim, seguiu com a entrevista, por todo tempo desconfortável com as falas daquele homem, que lhe parecia estar a assediando e realmente estava. — gosto de boas funcionárias, que colaborem comigo sabe. — disse ele em um tom s****l, era notável que não falava apenas de trabalho, Júlia apenas balançou a cabeça e em sua cabeça só conseguia pensar se estava fadada a conviver com homens escrotos por toda a vida. — bem, já tomei uma decisão, você é doce, interessante, educada, muito bonita, a vaga é sua, espero que tenhamos uma boa interação neste ambiente de trabalho. — mas assim...tão rápido? pensei que levariam um tempo para escolher a candidata, até por que tem outras mulheres lá fora esperando pra fazer a entrevista. — ela disse um tanto sem graça. — sou eu que escolho, e gostei exatamente de você, não creio que vá surgir uma candidata melhor e então, aceita o emprego? se achar que o salário está baixo, posso até lhe conseguir um aumento, só tem que ser uma boa e focada funcionária, se é que me entende. — eu...eu não sei. — Júlia disse sem graça. — não se preocupe, te dou dois dias para que pense. — disse ele, então retirou de seu bolso um cartão com seu número pessoal e entregou a ela. — qualquer coisa me liga, linda. Júlia saiu daquela loja completamente desconcertada, m*l podia acreditar que havia passado por aquilo, ainda sim, estava pensativa, o salário era ótimo, conseguiria se manter bem com ele, mas a que custo? ela não sabia o que fazer, mas estava tentada a aceitar, o assedio que havia sofrido nem de longe era tão doloroso quanto o desprezo de Heitor. Ao chegar a casa de Heitor, sua mente que estava dispersa voltou a aquele ambiente, seu coração se apertou e ela desejou não encontrar com Heitor, ele por sua vez, estava se fazendo bem presente em casa, trabalhando de seu escritório, ou ao menos tentando, não conseguia se concentrar, só pensava em Júlia, na noite que havia tido com ela, mas também nas palavras que havia dito, se questionava constantemente se ela estaria bem, mas sabia que não, ainda sim, tinha medo de procurá-la. Júlia passou pela porta de entrada, na sala encontrou com sua amiga Jade, que se animou assim que a viu. — Júlia, você foi procurar emprego, encontrou? — ela questionou interessada e esperançosa queria o melhor para sua amiga. — bem fui a uma entrevista hoje. — disse ela, naquele mesmo instante, Heitor estava para sair de seu escritório, a porta dava para a sala, lentamente ele abriu a porta, nos últimos dias se sentia vivendo em câmera lenta, assim que a porta foi aberta, ele escutou a doce mas entristecida voz de Júlia, então optou por ficar ali e escutar o que ela iria conversar com sua filha. — e então, como foi? — o gerente da loja disse que a vaga é minha, mas não sei... — ela disse com sua mente voltando a entrevista a deixando distante. — por que? o trabalho é tão r**m assim? — o trabalho não, é uma loja de roupa intima bem chique, o salário oferecido é ótimo. — mas então, qual o problema? — Jade questionou sem entender. — a entrevista foi com o gerente e ele me assediou por toda a entrevista, dizendo coisas como "gosto de boas funcionárias, que colaborem comigo, sabe?" e também disse "posso até lhe conseguir um aumento, só tem que seu uma boa e focada funcionária, se é que me entende" e dentre várias outras coisas. — contou Júlia deixando Jade chocada, atrás da porta, Heitor apertou os punhos, se aquele homem surgisse a sua frente naquele instante o socaria até perder a consciência. — aí que horror amiga...você não vai aceitar isso, não é? — Jade questionou, mas Júlia estava tentada a aceitar, só queria sair daquela casa o mais rápido possível. — é...não, não vou. — disse ela apenas para tranquilizar Jade. — eu e Benicio vamos ao cinema agora, você quer vir com a gente? — Jade questionou animada, queria estar próxima de sua amiga de novo, coisa que naquela semana não havia acontecido, Júlia andava a evitando, não por que estivesse chateada, mas sim por que tinha medo de que sua amiga percebesse sua enorme tristeza, ou que se desse conta de seu plano de ir embora dali o mais rápido possível e tentasse a impedir. — não, eu prefiro ir para o quarto descansar, mas de toda forma, obrigada. — disse Júlia, em seguia saiu caminhando em direção a seu quarto, Jade suspirou sentindo-se culpada, pensava ter estragado a amizade das duas, quando na verdade, não era nada disso, lágrimas tomaram os olhos dela, sensível por conta da situação, acabou chorando, seu pai vendo aquilo, saiu do escritório e foi ao amparo de sua filha. — querida, está tudo bem? — ele questionou enquanto sentava ao lado dela. — não pai, eu estraguei minha amizade com a Júlia por conta daquela mentira i****a. — querida, por que acha isso? — ela está a semana toda me evitando, m*l conversa comigo. — não fique assim filha, Júlia adora você como se fosse sua irmã, ela só...só está passando por um momento difícil. — disse ele, tinha noção que em partes, aquilo era sua culpa. — não sei pai... — eu vou conversar com ela tá, não se preocupe, agora melhora essa carinha e vá se divertir com seu namorado, vocês vão ao cinema, não é? — ele questionou e Jade balançou a cabeça afirmando. —por que não dorme no apartamento dele hoje? sempre que dorme por lá volta toda feliz. — você sabe por que volto feliz, não é pai? — Heitor balançou a cabeça em negação, em seguida riu. — eu sei, já fui jovem um dia. — ainda é jovem pai, e eu adoro ter um pai moderno. — disse ela o abraçando.
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