• 2 • O encontro proibido

1288 Words
Os dias haviam se passado, quase quatro semanas e nada da aparição do homem de presença forte entre a plateia desde aquele dia. Axel chegando a deduzir que era somente "mais um" dentre muitos com palavras bonitas e apenas isso. Talvez tivesse se equivocado ao pensar que ele fosse diferente, que as palavras lhe soassem diferentes naqueles lábios. Mas a questão era: "Por que estou me importando com isso?" Era apenas um de muitos pensamentos que sondavam a cabeça do bailarino. Ele já havia deixado bem claro que não saía com patrocinadores, era um limite a qual ele mesmo não queria ultrapassar. Então, porquê? Axel estava no palco, seu corpo moldado pelo movimento da dança, suas pernas e braços descrevendo formas perfeitas no ar. Mesmo rodeado de pensamentos ele se entregava com intensidade à coreografia, seus músculos tensos e, ao mesmo tempo, fluidos, como se ele fosse uma extensão da música. Cada salto, cada giro, cada gesto parecia ser parte de um único organismo, onde ele e a música se fundiam em uma dança única, indivisível. Mas, como sempre, ao final da apresentação, ao cair das cortinas, ele sentia uma espécie de vazio. Não era falta de aplausos — esses, ele sempre recebia, com ou sem o brilho da paixão que ele sentia por sua arte. Era uma solidão que só quem vive para o palco conhece. Enquanto a plateia se levantava em aplausos, ele se retirava rapidamente para os bastidores. O suor ainda escorria pela sua testa, mas ele já sabia o que precisava fazer: se desfazer da máscara de bailarino e voltar à sua vida comum. Os camarins estavam vazios, exceto por algumas colegas que falavam sobre as próximas apresentações. Mas Axel não conseguia se concentrar no burburinho. Seu olhar estava distante, perdido em pensamentos que ele não queria ter. Foi então que ele ouviu uma voz familiar. ── Axel, você foi... impressionante, não esperava menos de alguém tão excepcional como você. Ele se virou, surpreso ao ver Vinvent, o CEO da gigante de tecnologia, parado à sua frente. Ele estava vestido de maneira impecável, com um terno escuro que destacava seus ombros largos e sua postura imponente. Mas o que mais impressionava em Vincent não era a sua aparência, mas o fato de ele estar ali, mesmo depois de tantos dias sem dar as caras, bem ali — no bastidor de uma companhia de balé, onde certamente não pertencia. ── Senhor Moretti? ── Axel respondeu, tentando esconder a surpresa em sua voz. Ele não imaginaria que ele pudesse retornar, ainda mais com seu mundo de negócios e tecnologia, talvez se interessar por algo tão distante quanto o balé fosse absurdo de mais de se acreditar. Vincent deu um sorriso leve, quase imperceptível, mas que carregava algo de genuíno. ── Por favor, me chame de Vincent. Vim cobrar nosso café... espero não ter chegado em má hora. Axel ficou sem palavras. Ele não sabia como reagir, como lidar com a presença daquele homem que parecia tão distante de seu universo, mas, ao mesmo tempo, tão cativante. Seu olhar atravessava-o de maneira quase dolorosa, como se estivesse penetrando em sua alma. Por um momento hesitou, o silêncio quase se tornando tortuoso ali entre ambos. Contudo, não havia razão para recusar, certo? Afinal, Vincent Moretti era uma figura de respeito no mundo corporativo, alguém que parecia estar fazendo um esforço genuíno para se aproximar dele. Mas, ao mesmo tempo, havia algo em seu olhar que o deixava inquieto. Era como se Vincent estivesse vendo mais do que ele queria que vissem. ── Eu... Claro, eu posso... digo, podemos sim. Só preciso de uma ducha rápida, pego minhas coisas e vamos, tudo bem? ── respondeu Axel, embora sua mente estivesse em conflito. Ele não sabia o que o atraiu mais: o interesse de Vincent pela sua arte ou o magnetismo que aquele homem exercia sobre ele. Algo em sua postura, em sua maneira de falar, parecia desafiá-lo de uma maneira que ele não sabia explicar. O homem de terno apenas sorriu ladino anuindo com um simples gesto de cabeça enquanto que Axel desajeitadamente seguia caminho contrário. [•••] Alguns minutos depois, eles estavam caminhando pelas ruas tranquilas de uma área próxima ao teatro. O vento fresco da noite fazia as árvores balançarem suavemente, e as luzes da cidade lançavam sombras nas calçadas. Vincent caminhava ao lado de Axel, seu passo firme, mas sem pressa, como se quisesse aproveitar aquele momento. ── Eu tenho que admitir que não esperava que você fosse tão... único, ── disse Vincent, quebrando o silêncio. ── No palco, você é como... uma força da natureza. Mas, fora dele, você parece tão introspectivo, quase como se estivesse em conflito consigo mesmo. Axel riu baixo, um pouco desconfortável. ── Eu... não sei o que você quer dizer com isso. Acho que sou apenas um homem que dança. ── Não, você é muito mais do que isso. ── Vincent parou e se virou para ele, seus olhos azuis brilhando sob a luz suave das lâmpadas da rua. ── Você parece carregar o peso de algo. Não é só a dança, é algo que você guarda dentro de si, algo que você não revela. Axel sentiu seu coração bater mais rápido. A maneira como Vincent o observava, tão intensamente, fazia com que ele se sentisse exposto, como se estivesse sendo analisado de dentro para fora. Ele queria se afastar, mas ao mesmo tempo não queria. Algo na presença de Vincent o hipnotizava, como uma chama à qual ele se sentia irresistivelmente atraído. ── Talvez eu tenha minhas questões pessoais... ── Axel disse, com a voz baixa. ── Mas isso não tem a ver com você, Vincent. Vincent deu um passo à frente, mais perto de Axel, e o momento parecia suspenso no ar. ── Não me interprete m*l, Axel. Não quero invadir sua privacidade. Mas o que eu vejo no palco... o que vejo em você é algo raro. E raro é o que mais me atrai. Axel não sabia como responder. A tensão no ar era palpável, e ele sentia um calor crescente entre eles, como se algo estivesse prestes a acontecer, mas ele não sabia o que. Ele sabia que o desejo estava ali, entre eles, uma força invisível, mas que estava crescendo. ── Eu... não sei o que você quer de mim, Vincent. ── disse Axel, sua voz mais baixa do que o normal. Vincent sorriu, mas dessa vez havia algo mais suave em seu sorriso, algo mais vulnerável. ── Eu só quero entender você, Axel. E talvez... talvez eu esteja começando a entender o que mais me atrai em você. ── Axel se viu parado, uma espécie de hipnose a qual seus olhos não conseguiam se desvencilhar dos dele, e então, engoliu em seco, o coração no peito mais uma vez errando o compasso. Vincent apenas manteve o sorriso nos lábios e então ofereceu-lhe o braço ── Vamos? Ou já desistiu de tomar café comigo? O olhar de Axel desceu até aquele braço, como se sopesando as alternativas que tinha a frente e como se estivesse prestes a tomar a maior decisão de sua vida. E então... ── Vamos... E com essas palavras, o destino de ambos foi selado. A atração proibida entre eles começava a se intensificar, e, com ela, surgia a necessidade de enfrentar o que significava amar alguém que não fazia parte do seu mundo... e, quem sabe, redescobrir o que significava viver para algo além do que o destino lhes havia imposto. O caminho à frente seria cheio de desafios, mas naquele momento, com a noite fria envolvendo-os, o que importava era a presença um do outro. E a dança, a mais perigosa de todas, estava apenas começando.
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