Mel
Nosso passeio foi maravilhoso, a Isabella conseguiu se divertir e teve um aniversário diferente de todos que ela já havia tido, agora nossa vida estava indo no caminho certo, depois de comermos o seu Geraldo nos leva de volta até a pensão, percebi que a Isabella estava com os pensamentos distantes, como se tivesse no mundo da lua, chegamos e faço questão de pagar a nossa corrida, mesmo o seu Geraldo insistindo em não querer receber, entramos e conversamos um pouco com dona Malu e seguimos para o nosso quarto.
Mal entramos e a Isabella já se joga na cama e fica com o olhar perdido.
- Pensando na morte da bezerra Isabella?
- Não só estou cansada.
- Se eu não te conhecesse tão bem, eu diria que seus pensamentos estão direcionados a um certo cara que te segurou no shopping, mas como eu não te conheço bem, vou acreditar que é só o cansaço mesmo.
- Você não tem jeito né Mel.
- Viu como eu te conheço bem.
- Sério Mel, ele mexeu comigo nunca fiquei assim perto de nenhum garoto.
- Pelo jeito ele não é um garoto de sua idade, é?
- Não, ele parecia mais velho, uns vinte e um, vinte e dois no máximo. Deve ter sido isso né? Eu sempre tive contato com garotos da minha idade e mais novo.
- Nós duas estamos com sorte para se encantar por homens que vimos uma única vez.
- Será que um dia vou encontrar ele de novo?
- Bem provável, agora eu nem em sonho encontro o Gabriel mais.
- Quem sabe o destino não faz vocês dois se cruzarem novamente, vai que ele é o seu feliz para sempre, nunca se sabe Mel.
- Tomara que o destino te ouça. Agora vamos organizar nossas compras que amanhã teremos um dia cheio. Sabe o que eu estava pensado, acho que vou esperar um pouco antes de abrir a conta no banco, vai que a megera da Sarah resolve nos rastrear e dados bancários são os primeiros que puxam.
- E a faculdade Mel será que vamos poder fazer?
- Eu acredito que está fora do período das provas para bolsas, mas vamos nos informar na faculdade que você quer fazer, acho que ela não vai imaginar que temos sonhos de nos formar, mas agora vamos focar em você.
- E você não?
- Vamos pensar em você primeiro Isabella, depois que nós estivermos estabilizadas ai eu faço também.
- Mas isso não é justo Mel, você também tem que pensar em você, eu trabalho também para te ajudar.
- Isabella você é menor ainda e outra se você conseguir entrar na faculdade, medicina é o dia inteiro e não quero que trabalhe, tem que se dedicar aos seus estudos.
- Mas eu quero te ajudar de alguma forma.
- E vai, estudando e se formando, sendo uma médica dedicada, sempre pronta a ajudar a todos.
- Enquanto isso você faz tudo sozinha?
- Sim, eu prometi isso a mamãe, eu disse a ela que cuidaria e te protegeria, e é isso que estou fazendo, então nada de querer mudar as coisas, conseguimos sair daquela vida, agora vamos batalhar por uma melhor, por enquanto temos dinheiro para nos suprir por um bom tempo, é só não gastarmos a toa e eu já vou em busca de um emprego assim fica mais fácil, não quero demorar a conseguir o nosso cantinho Isabella, por isso vou me sacrificar agora e depois que conseguirmos vamos ficar mais tranquilas.
_ Tudo bem então, não vou discutir com você sobre isso, mas assim que eu puder eu vou te ajudar tudo bem?
_ Tudo, agora o que acha de irmos tomar um banho e descansar um pouco?
Isabella se levanta e pegamos nossas coisas e seguimos para o banheiro, sempre tomamos banho juntas já que a mamãe me deixava cuidando da Isabella e eu acostumei e ela também, tomamos um banho conversando, mas a Isabella estava tão distraída que não prestou atenção em quase nada do que falei e eu sabia que era por causa do cara do shopping, nunca tinha visto ela desse jeito, muito pelo contrário ela sempre reclamava dos garotos da escola que ficavam dando em cima dela.
_ Vai sair do mundo da lua quando?
_ Desculpa Mel, hoje sou eu que não prestei atenção em nada do que falou. Mas aqueles olhos e aquele toque não sai da minha cabeça Mel, será que um dia eu vou conseguir reencontrá-lo?
_ Provavelmente sim, ele deve morar aqui e uma hora ou outra a gente pode esbarrar com ele. Nunca te vi assim por nenhum garoto.
_ Aí que tá Mel, ele não é nenhum garoto, é um homem que me deixou de pernas bambas e sentindo coisas que nunca senti entende?
_ Agora eu te entendo, você está sentindo o mesmo que eu senti com o Gabriel.
_ A diferença é que você e o Gabriel.... vocês conversaram, se tocaram, se sentiram e você ficou maluquinha nele, eu não foi apenas uma troca de palavras e um aperto de mão, que me deixou assim.
_ Não vou negar que fiquei mesmo, na verdade ele conseguiu me fazer sentir o que eu queria ter sentido na minha primeira vez, mas quem sabe você consegue encontrar ele de novo e aí vocês podem se conhecer.
_ Bom vamos deixar nossos amores platônicos de lado e vamos a nossa realidade, amanhã vamos na faculdade primeiro e depois?
_ Depois eu preciso ir comprar um jornal e procurar um emprego né, tenho que ver se acho algum que não precisa de experiência, porque para quem nunca trabalhou é difícil né.
_ Mas vamos conseguir, e se eu não entrar logo na faculdade eu também quero te ajudar.
_ Já disse que você vai se dedicar aos seus estudos Isabella, nem inventa que não vou deixar você trabalhar, eu vou ver se acho alguma coisa na área da gastronomia eu gosto muito de cozinhar, quem sabe eu não acho algum restaurante que pegue uma auxiliar de cozinha.
_ É uma boa ideia e como você cozinha bem e sabe algumas coisas acho que não vai ser difícil.
Terminamos o nosso banho, nos vestimos e saímos um pouco do quarto fomos a um pequeno jardim que tem no fundo da pensão e ficamos conversando e fazendo nossos planos para a nova etapa de nossa vida.
O horário do jantar chegou e mesmo não estando com muita fome, fomos para sala de jantar e comemos, tinha poucos hóspedes então a sala não estava muito cheia, ficamos ali até a dona Margarida vir sentar conosco e ficar conversando por um bom tempo, contei a ela um pouco da nossa história, mas omitindo a parte de onde morávamos e o que eu fazia. Depois de uma hora de conversa, seguimos para o nosso quarto e depois de nossa higiene e nos trocar fomos dormir, o dia de amanhã será o nosso inicio.
***
Acordo primeiro que a Isabella e me levanto, vou arrumando a minha cama quando ela desperta.
_ Hum...Não estou atrasada né?
_ Não dorminhoca, está cedo ainda.
_ Então posso dormir mais um pouco?
_ Não, temos que levantar, arrumar o quarto, tomar café e descobrir como chegar na faculdade.
_ Tá bom, eu levanto então. Já tomou banho?
_ Não, mas já estava indo.
_ Me espera que eu vou também.
Seguimos para o banho com a Isabella ainda sonolenta, nem contei a ela sobre seus devaneios a noite, chamando pelo olhos cinzas. Tomamos um banho bem demorado, nos arrumamos e fomos tomar café, aproveitamos e conversamos com dona Malu para nos ajudar a pegar o ônibus para a faculdade e para andar no centro já que eu tinha que começar a batalhar por um emprego e ainda temos que trocar nosso celular, já que assim que chegamos aqui desligamos para a Sarah não nos rastrear.
Tudo organizado seguimos para o ponto de ônibus que não é muito longe da pensão e fomos primeiro na faculdade para ver como a Isabella pode já ingressar, espero que ela consiga o mais rápido possível, graças a Deus ela sempre foi ótima aluna e tirou boas notas, espero que isso conte como ponto positivo.
Nossa viagem foi bem tranquila e fomos admirando a cidade, bem diferente de Detroit, bem diferente da vida que tínhamos lá, logo vi o ponto que tínhamos que descer, paramos e seguimos para a faculdade que era muito grande e bonita, a Isabella ficou encantada.
_ Meu Deus Mel, aqui é muito grande, já imaginou se eu conseguir entrar para estudar aqui?
_ Você vai conseguir Isabella, agora vamos na secretária acadêmica e ver como é todo o processo para o ingresso na faculdade.
Seguimos para nos informar na secretaria academica as formas de ingresso e a documentação necessária, ainda bem que a Isabella já havia finalizado o ensino médio e já está com seu certificado em mãos, assim não vamos ter problemas. Entramos e depois de andar bastante achamos a secretaria e eu fui me informar de tudo, ainda bem que encontrei uma moça bem atenciosa e fez questão de nos mostrar todos os meios e a melhor parte é que está aberto uma seleção para a próxima turma de medicina, ela nos passou todos os formulários que tinham que ser preenchidos para concorrer a bolsa, a única coisa mais complicada é que a concorrência é grande, mas ela disse que eles sempre abrem algumas vagas a mais quando tem alunos que se destaca.
Depois de preencher tudo entregamos a ela e daqui há duas semanas será a prova, agora é colocar a Isabella para estudar bastante para conseguir. Aproveitamos e fomos dá uma olhada no campus, andamos por algumas alas e chega em determinado ponto a Isabella para e fica igual a uma estátua.
_ Isabella o que foi?
_ É ele Mel. É ele.
_ Ele quem?
_ O cara do shopping, o que esbarrou em mim.
_ Onde?
_ Ali perto daquelas plantas.
_ Uaul... Ele é um gato, tem razão de você ficar toda caidinha. Mas eu ainda prefiro o Gabriel.
_ Será que ele estuda aqui?
_ Com certeza, ele está de jaleco, provavelmente sim. Vamos lá como quem não quer nada, a gente passa e faz de conta que está perdida e pede uma informação a ele.
_ Não Mel.
_ Sim ,vamos.
Eu nem espero ela falar nada e arrasto ela comigo e vamos em direção ao crush da Isabella, ela vai resmungando o caminho e tentando se soltar da minha mão, mas não deixo e seguimos.
_ Mel vamos voltar vai.
_ Não senhora, tivemos a oportunidade de encontrar seu gato, agora vamos lá descobrir o nome, se estuda aqui e vai que ele é livre...
Termino de falar e já estávamos bem próximas, ele estava meio distraído, me aproximo com a Isabella e falo com ele.
_ Oi bom dia.
_ Ah...Oi.
_ Será que você poderia nos ajudar?
_ Claro. Espera aí, eu conheço você de algum lugar?
_ Nos esbarramos ontem no shopping, lembra?
_ Ah foi, a menina que o garoto quase derruba, me lembrei agora. Nem nos apresentamos ontem, prazer Arthur Grimmes.
_ Prazer Isabella .
Eles apertam as mãos e vejo o brilho no olhar dos dois e a pressa de soltar as mãos, parece que levaram um choque.
_ Prazer eu sou a Melissa irmã da Isabella.
_ O prazer é meu Melissa. Vocês estudam aqui?
_ Não, estou tentando a bolsa, nos mudamos para cá agora.
_ Tomara que consiga. Mas do que precisam?
_ Eu e a Isabella, acabamos nos perdendo será que você pode nos ajudar a encontrar a saída?
_ Claro. Vamos que eu mostro a vocês.
Fomos o caminho conversando, mas ele me ignorou literalmente e seu papo foi todo com a Isabella e os dois pareciam que já se conheciam a tempo, então inventei uma desculpa de deixei os dois irem na frente, nunca tinha visto a Isabella com um sorriso tão lindo e nem tão solto como ela está. Não demora chegamos a saída.
_ Bom chegamos. Foi um prazer conhecer vocês.
_ O prazer foi nosso Arthur, obrigado por nos ajudar.
_ Não precisa agradecer, foi muito bom conversar com vocês.
Ele vai se despedir de nós e comigo ele da um aperto de mão leve e com a Isabella ele vai todo para frente, aperta a mão e dá dois beijinhos no rosto, nunca vi minha irmãzinha ficar tão vermelha e sem jeito, saímos e ele ficou olhando para nós duas até sairmos de vez.
_ O que foi aquilo?
_ Aquilo o que?
_ Com você dois beijinhos, eu apenas aperto de mão.
_ Ele me deu o cartão dele.
_ Ele o que?
_ Isso que você ouviu, ele me deu o cartão dele, disse que trabalha no hospital universitário de Chicago, está terminando a residencia em ginecologia, estava aqui hoje para assistir uma palestra com um professor.
_ Meu Deus e vocês conversaram isso tudo e eu não prestei atenção?
_ Você parou e nos deixou ir na frente né? Fez isso de propósito.
_ Estava te dando uma mãozinha maninha, e ele parece que ficou interessado em você viu.
_ Ele só estava sendo educado, agora vamos que ainda temos algumas coisas para resolver.
Andamos um pouco até o ponto e vejo do outro lado da rua uma banca de jornal e chamo a Isabella para ir lá comprar um, ver quem sabe hoje estamos com sorte e eu acho alguma vaga de emprego, atravessamos a rua e paramos na banca, compramos o jornal e fomos na sessão de emprego e vou olhando o que pode encaixar no meu perfil, minhas expectativas vão se indo quando todas as vagas pedem experiência, fecho a parte que estou e já fico imaginando que não vai ser tão fácil quanto eu imaginava, ser jovem, mas ter tido a juventude roubada me faz ver que vai me custar um pouco caro, mas não vou desistir vou lutar até conseguir alguma coisa para poder me manter e manter a Isabella, mas para a minha antiga vida eu não volto mais. Ainda estou perdida em meus pensamentos quando sinto a Isabella me cutucar.
_ Tava em marte Mel.
_ Não, só pensando mesmo. Diga.
_ Olha essa vaga aqui, acho que você se encaixa. Não pede experiência e está dentro da sua faiza etária.
_ Deixa eu ver.
Pego o jornal da mão dela e olho o anúncio: "Contrata-se auxiliar de cozinha, faixa etária entre vinte a vinte oito anos, não necessita de experiência, mas tem que ter disponibilidade de horário, interessados procurar a gerência do Le Second Ristorant."
_ E aí, podíamos ir lá né?
_ Vamos sim, quem sabe. Eu já estava perdendo as esperanças depois que todas as vagas que vi pedia experiência, essa agora não pede acho que pode ser a minha chance. Vamos pegar um táxi que é mais rápido.
Vou com a Isabella pegar o táxi para tentar essa vaga, espero que não tenha sido preenchida ainda, espero que a sorte esteja ao nosso lado e esse emprego venha para nos garantir uma vida melhor para nós duas.