POV EMMA
A demissão injusta martelava em minha cabeça como um pesadelo persistente. Sentada em meu carro, as mãos tremendo no volante, eu lutei para acalmar a fúria que me consumia.
O trajeto para casa parecia eterno, e o rádio tocando músicas alegres na tentativa de me animar só me irritava mais. Quando finalmente estacionei em frente ao nosso modesto apartamento, respirei fundo e me preparei para enfrentar Miranda, minha amiga e companheira de apartamento.
Miranda Stevens era uma modelo que ganhava uma fortuna posando para campanhas de empresas locais. Era estranho que ela ficasse em casa no meio do expediente, mas seu talento e a demanda por seu rosto nas propagandas a permitiam fazer seu próprio horário. Eu sempre a admirei por isso, mas hoje, a ideia de encontrá-la em casa era irritante.
Subi as escadas do prédio e abri a porta de nosso apartamento. O aroma do almoço sendo preparado inundou o ar, e eu soube que Miranda estava na cozinha. Respirei fundo mais uma vez e entrei.
Miranda estava lá, com sua beleza deslumbrante e cabelos dourados caindo sobre os ombros. Ela estava usando uma camiseta e shorts, seu uniforme informal de modelo em casa. Quando ela me viu, seu rosto se iluminou com um sorriso radiante.
"Emma! Você está em casa mais cedo hoje. Que surpresa!"
Eu balancei a cabeça, forçando um sorriso fraco. "É, uma surpresa mesmo."
Ela se aproximou, seu olhar curioso. "Alguma coisa aconteceu? Você parece... brava."
Deixei a caixa com meus pertences no chão e me joguei no sofá, esfregando as têmporas com as mãos. "Fui demitida, Miranda. Benjamin me mandou embora."
A surpresa estampou-se no rosto de Miranda. "O quê? Como assim? Você era a gerente de marketing da Parker Technology!"
Eu acenei com a cabeça, com os olhos cheios de raiva. "Exatamente. E agora estou desempregada, graças a uma decisão i****a do meu chefe."
Eu expliquei a ela a situação na Parker Technology, como eu tinha sido injustamente demitida por causa de uma apresentação em um formato que meu chefe não conseguia abrir. Minha amiga ouvia com atenção, uma expressão de indignação crescendo em seu rosto.
"Isso é um absurdo!" ela exclamou quando terminei. "Como podem fazer isso com você?"
Meu coração se aqueceu com sua compaixão, e eu me senti grata por tê-la como amiga. "Eu sei, é uma loucura. Eu estava tão chocada e furiosa quando isso aconteceu."
Miranda me abraçou, confortando-me. "E o que você vai fazer agora?"
Eu suspirei, pensando nas incertezas que o futuro reservava. "Miranda, eu realmente preciso encontrar um novo emprego o mais rápido possível. Se não, vou ter que voltar para Ismay."
O rosto dela mostrou surpresa. "Ismay? Montana?"
Eu assenti, minha garganta apertando com a ideia. "Sim, Ismay, Montana. É onde meus pais moram. É a última coisa que eu quero, mas sem um emprego, eu não terei escolha. Eu não tenho dinheiro para pagar o aluguel ou as contas agora.”
Ismay era uma pequena cidade no sudoeste de Montana, com uma população de cerca de 19 habitantes. A ideia de voltar para lá era quase como um pesadelo para mim. Eu tinha saído de Ismay assim que terminei o ensino médio, em busca de oportunidades e uma vida diferente. Minha cidade natal era pintada com lembranças de uma vida que eu não queria mais, uma vida que eu tinha deixado para trás com a esperança de encontrar algo melhor.
Miranda olhou para mim com preocupação genuína. "Emma, eu entendo o quanto você não quer voltar para Ismay, mas, se for preciso, tenho certeza de que seus pais ficarão felizes em te receber de volta."
Eu me encolhi com a ideia de voltar para aquela pequena cidade, onde todos conheciam todos e os horizontes eram intermináveis campos de trigo. Balancei a cabeça com tristeza. "Sim, e o pior é que meus pais ficariam felizes em me receber de volta, mas eu não quero ser um fardo para eles. Eles trabalham duro lá na fazenda."
Miranda me abraçou, sua compaixão aquecendo meu coração. "Você não será um fardo, Emma. Eles te amam e vão querer te apoiar."
Eu soltei um suspiro e me aconcheguei em seu abraço. "Obrigada, Miranda. Eu só preciso encontrar um novo emprego o mais rápido possível."
Ela me olhou com determinação. "Nós vamos procurar juntas, Emma. Vou te ajudar a revisar seu currículo, buscar vagas e vou até olhar entre meus contatos. Você não está sozinha nessa. Você vai ver daqui a pouco aquele telefone irá tocar."
E então, como se tivesse ouvido as palavras de Miranda, o telefone tocou, quebrando o silêncio tenso do apartamento. Levantei-me rapidamente e fui atender, com o coração acelerado e a expectativa de uma notícia que pudesse mudar minha vida.
"Alô?" minha voz soou trêmula do outro lado da linha.
"Emma Williams?" Uma voz feminina e profissional respondeu do outro lado. "Aqui é Olivia Parks dos Recursos Humanos da Parker Technology."
Meu coração deu um salto em meu peito. O que eles queriam agora, depois de me demitirem de forma tão injusta? "O que você quer?"
Ela parecia um pouco desconfortável ao responder. "Emma, tivemos uma reavaliação da situação e, bem, decidimos que cometemos um erro ao te demitir. Queremos te oferecer seu cargo de volta. Pode voltar para a empresa amanhã."
A notícia me pegou de surpresa. Por um momento, eu fiquei em silêncio, tentando processar o que estava ouvindo. Então, um turbilhão de pensamentos invadiu minha mente. A sensação de reviravolta era avassaladora.
Olhando para Miranda, que esperava ansiosa por minha resposta, senti uma torrente de emoções contraditórias. Por um lado, o retorno à Parker Technology significaria a volta à minha carreira, à minha independência financeira e ao mundo dinâmico do Vale do Silício. Mas por outro lado, eu não conseguia esquecer o tratamento injusto que havia sofrido, a sensação de ter sido descartada com facilidade.
"Emma? Você está aí?" A voz de Olivia quebrou meu devaneio.
Respirei fundo e tomei uma decisão que surpreendeu a todos, inclusive a mim mesma. "Olivia, agradeço pela oferta, mas eu vou recusar."
Silêncio se seguiu do outro lado da linha, e eu podia imaginar a surpresa no rosto de Olivia.
"Recusar?" Ela repetiu, como se não pudesse acreditar no que estava ouvindo. "Emma, você tem certeza disso? É uma ótima oportunidade."
Eu assenti, mesmo que ela não pudesse me ver. "Eu sei, mas prefiro não voltar para a Parker Technology. Há outros caminhos que eu quero explorar."
Miranda, que estava observando a conversa com interesse, ficou chocada com minha decisão. Ela abriu os olhos, surpresa, e balançou a cabeça, como se quisesse que eu reconsiderasse.
Olivia tentou argumentar, explicando que a empresa valorizava minha contribuição e que eles estavam dispostos a fazer concessões para me trazer de volta. Mas minha mente estava tomada.
"Olivia, eu aprecio a oferta, de verdade", comecei, "mas a experiência na Parker Technology me mostrou que não é o lugar onde eu quero estar. Eu quero começar de novo, recomeçar em algum lugar onde meu trabalho seja verdadeiramente valorizado."
Houve um silêncio do outro lado da linha enquanto Olivia processava minhas palavras. Finalmente, ela suspirou e disse: "Entendo, Emma. Se é isso que você quer, nós respeitamos sua decisão. Se mudar de ideia, saiba que as portas da Parker Technology estarão sempre abertas para você."
Quando desliguei o telefone, me virei para Miranda, que me olhava com perplexidade. "Você recusou, Emma? Por quê?"
Eu senti que precisava explicar minha decisão, não apenas para Miranda, mas também para mim mesma. "Miranda, a Parker Technology me tratou de forma injusta e descartável. Eu não quero mais fazer parte de uma empresa que não valoriza seus funcionários. Prefiro recomeçar em outro lugar, ou até mesmo voltar para Ismay, do que aceitar uma oferta que não vem com dignidade."
Miranda parecia ainda mais surpresa, mas seus olhos se encheram de respeito. "Emma, você é incrível. Tenho certeza de que encontrará um caminho melhor para sua carreira."
Eu sorri para minha amiga, grata por seu apoio incondicional. "Obrigada, Miranda. Eu não vou desistir. Vou encontrar um lugar onde meu trabalho seja valorizado."
Naquela noite, enquanto eu me deitava na cama, eu sabia que havia tomado a decisão certa. A Parker Technology não era mais o meu caminho. Eu estava pronta para enfrentar o futuro, mesmo que ele me levasse de volta para Ismay. Eu precisava recomeçar minha vida e buscar algo mais significativo do que um simples emprego.