Assim que chegaram ao restaurante, Sofia ficou admirada com o lugar. Ele exalava riqueza por todos os lados. Yuri lhe ofereceu o braço, e ela aceitou, mas tentou manter uma certa distância dele, deixando claro o seu posicionamento. Sofia ainda não sabia bem o que pensar de tudo aquilo e estava ansiosa para esclarecer a situação com o irmão pessoalmente.
Assim que entraram, foram levados imediatamente para uma mesa privada, mais afastada das outras, para que tivessem mais privacidade. Yuri puxou a cadeira para Sofia e pegou o seu casaco antes que ela se sentasse, entregando-o ao maître.
— Confesso que nunca vim a este lugar — disse ela, observando o ambiente.
— Sei disso. Ao que parece, você gosta mais da lanchonete perto da sua faculdade. — Sofia ficou surpresa com as palavras dele.
— Como sabe disso? — perguntou.
— Vi você lá uma vez, quando estava de passagem — disse ele, dando de ombros. Sofia suspirou aliviada; por um momento, pensou que Yuri estivesse a vigiando.
— Eles têm um sanduíche muito bom, e, às vezes, estou com pressa — disse ela.
— Mas tem que se cuidar. A sua saúde deve estar em primeiro lugar, Sofia — respondeu ele, em tom de repreensão.
— Isso não vai durar muito. Tenho apenas mais um mês de curso antes de terminar, e então posso começar a faculdade — disse ela, sorrindo. Aquilo chamou a atenção de Yuri.
— Por que decidiu fazer linguagens, Sofia? — perguntou ele.
— Eu queria fazer faculdade em outro lugar, mas queria aprender o idioma antes. Por isso, resolvi estudar linguagens — disse ela, sorrindo. — Agora sou fluente em inglês, francês, italiano e russo.
As palavras dela acenderam uma centelha de esperança no peito de Yuri. Talvez, apenas talvez, ela estivesse pensando nele ao aprender o idioma dele.
— Isso é muito bom. Já decidiu para onde quer ir? — perguntou ele.
— Ainda estou pensando, mas há um lugar que sempre me atrai mais do que os outros — respondeu ela, sorrindo.
— Posso saber qual? — perguntou ele, tentando conter a empolgação.
— É uma faculdade na Rússia, Yuri — disse ela, um pouco sem graça. — Eles têm uma ótima grade de administração de empresas e comércio internacional.
Yuri quase não cabia em si de alegria com as palavras dela. A sua vontade era dar um pulo no meio do salão, mas se conteve, sorrindo de forma cordial.
— É uma boa escolha. Acho que estudei nessa faculdade anos atrás — disse ele. Sofia ficou surpresa com as palavras dele. Nunca imaginara Yuri como uma pessoa culta, que frequentaria uma faculdade como qualquer outro.
— Não imaginava isso — disse ela, balançando a cabeça.
— Posso ver isso nos seus olhos. Mas até mesmo nós — disse ele, de forma sugestiva — precisamos de conhecimento. Afinal, conhecimento é poder. Quanto mais você sabe, menos é manipulado.
O Yuri sentado à frente de Sofia não era o homem taciturno a que ela estava acostumada, mas alguém completamente diferente, mais leve. E Sofia estava descobrindo que gostava da companhia dele. Yuri escolheu os pratos no cardápio e pediu um vinho quando o maître retornou minutos depois. Eles estavam tão perdidos na conversa que nem haviam se lembrado de fazer o pedido. O maître, percebendo isso, manteve distância por um tempo, dando-lhes privacidade. Ele já havia sido alertado com antecedência de que Yuri não queria ser perturbado.
Os pedidos chegaram rapidamente, e Sofia ficou surpresa ao ver o prato à sua frente: uma paella de frutos do mar acompanhada de vinho branco.
— Sei que você não gosta dessas comidas esquisitas que eles servem, e nem eu, para ser sincero — disse ele, sorrindo. — Então pedi que o chef preparasse essa paella. Sei que você gosta.
Sofia ficou encantada com o gesto. Yuri podia ser um verdadeiro cavalheiro quando queria.
— Obrigada por isso. Amo frutos do mar — disse ela, olhando para o prato que Yuri colocava à sua frente com carinho.
— Não me agradeça por isso — disse ele, servindo o vinho na sua taça.
— Parece uma delícia — disse ela, pegando um pouco e levando à boca. Os seus olhos brilharam ao sentir o gosto da comida. — Hmmm, que delícia!
Tudo em que Yuri conseguia pensar era na forma como os lábios de Sofia tocavam o talher. Ele se sentia como um padre sendo tentado antes de fazer os votos. E o mais impressionante era que ela parecia alheia ao olhar dele. Mas Yuri sentia o seu corpo reagir ao imaginar aqueles lábios em outro lugar do seu corpo.
— Yuri? Yuri? — chamou ela, passando a mão na frente do rosto dele. — Está tudo bem?
Yuri praguejou internamente ao perceber que havia se perdido nos seus pensamentos bem na frente dela.
— Desculpe. O que dizia?
— Não vai experimentar? Está divino — disse ela, sorrindo.
— Claro. Agora me deixou curioso — respondeu ele, enquanto se servia de uma porção.
O jantar seguiu tranquilo, e Yuri estava se divertindo com a companhia de Sofia. Ela era daquelas pessoas que não sentiam necessidade de preencher todos os espaços de tempo falando, e ele se sentia confortável ao lado dela. Riu de algumas histórias que ela contou sobre quando estava aprendendo outros idiomas e percebeu o quanto ela se esforçara para concluir o seu curso rapidamente.
— Gostariam de uma sobremesa? — perguntou o maître, aproximando-se quando eles terminaram.
— Não, obrigada. Estava tudo divino. Agradeça ao chef por esse prato incrível — disse Sofia, sorrindo de forma brilhante para o maître. Yuri viu o homem vacilar ao olhar para ela, e seus olhos escureceram imediatamente.
— Não vamos querer. Pode trazer a conta — disse Yuri, de forma firme, encarando o homem. O maître tremeu diante do olhar dele e abaixou a cabeça rapidamente.
— Claro, senhor Ivanov — respondeu, retirando-se.
— Está tudo bem? — perguntou Sofia, estranhando o comportamento de Yuri.
— Vai ficar, mas não gostei da forma como ele estava olhando para você. Ricardo não iria gostar disso — respondeu ele, emburrado. Sofia riu da cara chateada dele.
— Pelo que vejo, está pegando as manias do meu irmão. Ele estava apenas sendo gentil — disse ela, dando de ombros.
— Não, querida. Sou homem e sei reconhecer o olhar de outro homem quando o vejo — respondeu ele, deixando Sofia surpresa.
— E que olhar seria esse, Yuri? — perguntou ela, apoiando a mão sobre a mesa.
— Um olhar de desejo, Sofia — disse ele, com os olhos presos aos dela. A sua voz ficou mais baixa e suave. — Aquele olhar que seria capaz de despir você sem fazer nada, que você sente na pele como um toque suave.
Sofia olhava para ele, hipnotizada, como se pudesse sentir exatamente o que ele estava dizendo. A sua pele se arrepiou diante do olhar intenso de Yuri.