Ao acordar, fiquei olhando para o teto do porão. Era como estar em uma caixa no chão de novo, de fato era uma caixa no chão, só que com mais caixas em cima. De repente, desejei que Springer estivesse vivo de novo, para que eu pudesse matá-lo um pouco mais devagar. Faltavam pelo menos mais duas horas até que eu pudesse sair quando a porta no topo das escadas se abriu. Franzi os olhos para ver se havia alguma pista de quem era. Então o cheiro dela me atingiu.
— Victor? Você está acordado? — Chamou Echo.
— Sim. Você precisa de alguma coisa? — Perguntei.
— Comprei cortinas blecaute hoje e Drew me ajudou a colocá-las. Você pode subir se quiser. Só não vá além do primeiro andar — Respondeu Echo.
Um sorriso se formou no meu rosto. Não precisaria mais ficar no porão, pelo menos, não esta noite. Fiquei emocionado com o fato de que ela tivesse pensado nisso e subi as escadas. Se eu estivesse pensando, teria me preocupado com uma possível armadilha, mas, graças a Deus ela era tão boa e doce quanto parecia e não acabei carbonizado. Ela estava sorrindo quando saí do porão.
— Você parece tão animado para sair do seu porão quanto eu estava para sair do meu — Echo riu.
— Nenhum de nós deveria ter que viver em um porão de novo — Eu ri.
A segui até a cozinha, onde Drew estava retirando pratos da máquina de lavar louça e colocando nos armários. Echo foi até o balcão e continuou cortando legumes, provavelmente estava trabalhando nisso e decidiu verificar como eu estava.
O sentimento de orgulho que eu tinha por ela era imenso. Ela era atenciosa e inteligente, uma serviçal perfeita. Eu tinha esperança de que ela escolhesse ficar comigo e m*l podia esperar para ver o que ela faria com essa casa.
— Não havia pratos, talheres ou panelas. Eu tive que comprar tudo, incluindo alguns utensílios e eletrodomésticos. Liquidificador, micro-ondas, torradeira, coisas assim — Ela disse enquanto cortava.
— E as cortinas — Eu acrescentei.
— Sim. Ah! Drew me ensinou sobre a diferença nos tipos de lençóis. Eu não sabia que existia uma diferença. Também comprei coisas para limpar a casa. Amanhã, vamos para a loja de móveis e tenho alguém vindo às três da tarde para fazer um orçamento para o vidro das janelas. Ainda pretendo comprar mais cortinas, mas estava pensando que um vidro com um tom extra escuro nas suas janelas seria melhor do que tinta, que pode descascar. Que tamanho de cama você quer no seu quarto? — Ela perguntou.
Eu sorri. Ela estava muito mais comunicativa agora. Drew era bom em fazer as pessoas relaxarem e se abrirem. Ele conseguiu fazer Springer falar sobre algumas coisas antes que eu o matasse e eu sabia que ele era a melhor opção para ajudá-la a relaxar. Echo apenas precisava perceber que estava segura e no controle de sua vida.
— Tamanho king. Gosto de me espalhar — Pisquei quando ela virou para olhar para mim.
— Ok. Vamos comprar um monte de coisas amanhã e você vai se arrepender de me dar esse cartão — Ela gargalhou.
— Eu não acho que vou me arrepender de te dar nada, pequena — Eu sorri.
Drew deixou cair um prato que bateu no chão. Echo parecia aliviada por não ter quebrado e voltou ao seu trabalho. Ele me encarou.
— Você não faz ideia... — Ele sussurrou.
Echo pareceu não ouvir. Não conseguíamos nos comunicar mentalmente, já que ele não era minha serviçal, mas eu conseguia ouvir muito bem. E, dependendo de quanto sangue de vampiro havia no sangue de Echo, ela também conseguiria ouvir.
Balancei a cabeça, pedindo a ele para não dizer mais nada, e ele voltou para os pratos. Eu não tinha ideia do que ele estava prestes a esclarecer, mas eu não queria perturbar Echo. Eu havia lhe dado um trabalho parecido com o que tinha experimentado antes, e ela estava se adaptando bem. O resto teria que esperar.
***
Em dois dias, Rosalynn viria e testaria Echo para ver qual era a sua linhagem e quanto dela era vampiro. Mas todos os fatos já indicavam que ela era pelo menos metade.
A questão era: como? Seu pai era completamente humano. Sua mãe era cerca de um quarto, mas isso era o mínimo para os descendentes de vampiros, nunca cairia abaixo de um quarto, não importava o quanto a linhagem estivesse diluída. Apostava que a irmã e o irmão dela também seriam um quarto.
Era totalmente possível que fosse isso que seus pais queriam dizer quando disseram que ela havia roubado dos outros dois filhos. Provavelmente tinham certeza de que os outros dois seriam pelo menos meio ou mais, mas ela absorveu isso de alguma forma.
Tentamos investigar o nascimento deles depois que conversei com os últimos três vampiros da minha lista. Mas era como se a família tivesse aparecido do nada na cidade, completamente formada, há quase dezesseis anos, com três crianças de dois anos de idade. Isso significava que estavam fugindo. Mas por quê? Se o criador dela viesse buscá-la, eles teriam sido compensados. Ainda mais do que eu os compensei.
Um dos vampiros era velho e experiente o suficiente para saber o que ela era e ofereceu à família setecentos mil dólares por ela. Ela valia exponencialmente mais e a ganância de seus pais foi um benefício para nós.
Se ele a tivesse capturado e decidido vendê-la, poderia ter ganhado até um bilhão de dólares. As condições para o cruzamento com um humano são frágeis e precisam ser exatas. Acontece tão raramente que os bebês acabam sendo leiloados em vez de serem criados por suas mães. Embora pudéssemos nos reproduzir com outros seres sobrenaturais, isso era raro. Híbridos eram o produto mais comum dessas uniões. Qualquer um que quisesse ter filhos vampiros precisava ter algum sangue humano ou vampiro. Então, dhampyrs de qualquer nível eram procurados. Apenas aqueles do nível de Echo eram suficientemente requisitados para valer a pena pagar.
Eu não percebi quanto tempo minha mente se dispersou até que o interfone do portão tocou. Drew e Echo estavam encostados no balcão, comendo grandes tigelas de espaguete, que tinha um cheiro incrível. Ao contrário da maioria dos vampiros, eu adorava o cheiro de comidas com alho.
Levantando minha mão, segui em direção ao corredor e eles continuaram a refeição enquanto eu fui atender ao interfone. Na entrada, apertei o botão do interfone do portão.
— Sim? — Eu perguntei.
— Silence me enviou. O código para o dia é “cherry” — Uma voz feminina disse.
— Puxe, vá até a frente da casa e bata na porta. Alguém irá recebê-la — Eu disse a ela e abri o portão.
Echo apareceu na entrada e sorriu.
— Eu vou atender. O sol ainda está lá fora. Eu sei que você odeia os sofás na sala de estar, mas não é tão r**m quanto o resto do mobiliário. Você deve se alimentar lá.
— Você está se saindo muito bem como uma criada diurna, pequena. Eu a aguardarei lá. Obrigado — Eu me curvei.
O sorriso de Echo ficou mais brilhante e ela deu um pulinho ao receber o elogio. Ela raramente recebia elogios no tempo em que Gage a estava observando e eu queria ter certeza de que ela soubesse que era apreciada.
Eu fui para a sala de estar e fiquei perto da lareira. O ambiente cheirava mais limpo, então Echo deve ter limpado antes de começar a fazer o jantar.
Houve uma batida na porta e ouvi Echo atendê-la.
— Qual é o seu nome? — Ela perguntou.
Sua mãe fazia a mesma coisa. Eu percebi que a única vez que Echo deve ter visto alguém atender à porta foi quando sua mãe estava cumprimentando vampiros. A história de precisar ser convidado era verdadeira, nós não podíamos entrar em nenhum lugar onde não fôssemos bem-vindos, mas não saímos voando se o convite fosse retirado. Em vez disso, éramos compelidos a sair, frequentemente sentindo grande dor. Isso não funcionaria com um humano.
— Meu nome é Helen. Estou aqui para alimentar seu mestre — A mulher respondeu.
— Eu sou Echo. Bem-vinda à nossa casa. Meu mestre está na sala de estar. Por favor, siga-me e desculpe pelos móveis, são temporários — Ela respondeu graciosamente. Alguns momentos depois, eles entraram na sala. Pude sentir o cheiro da mulher junto com baunilha. Não era a baunilha criada quimicamente pelos perfumes, era extrato de baunilha. Ela estava fazendo isso há um tempo. Nós odiávamos perfume, ele arruinava o sabor do sangue quando o extraíamos do pescoço.
— Mestre, esta é a Helen, sua doadora hoje à noite. Você vai precisar de mim ou posso retornar à cozinha? — Echo disse.
Eu me virei. Echo estava ligeiramente curvada e a mulher parecia um pouco irritada. A maioria dos humanos tinha problemas com criados humanos. Ela assumiu o papel perfeitamente e eu estava impressionado.
— Volte para a sua refeição, Echo — Eu disse — Helen, obrigado por vir.
— Não há problema, senhor — Helen sorriu.
Echo se virou e saiu da sala. Eu fui até Helen e peguei sua mão, guiando-a até o sofá. Ela tinha 1,68 m de altura, cabelos loiros curtos que enquadravam seu rosto. Com traços de fada, grandes olhos azuis e uma figura esbelta. Ela se sentou e o móvel instantaneamente a deixou menos atraente, como eu odiava aquele horrível mobiliário cinza. Eu me juntei a ela e me aproximei para me alimentar.
Silence estava me enviando doadores gratuitamente em agradecimento por lidar com o problema dela e como p*******o por repreender alguns doadores e compradores que estavam se aproveitando de suas regras brandas sobre extras. Ela estava me enviando principalmente doadores RH negativos, que eram meus favoritos, e eu apreciava a consideração.
Eu não precisava de tanto sangue quanto um vampiro mais jovem, ter mais de oitocentos anos tem muitas vantagens. Minha refeição foi feita relativamente rápido.
Ao me afastar, Echo entrou na sala com uma bandeja, que ela colocou na mesa de centro feita de compensado. Na bandeja havia uma variedade de carne, queijo, frutas e biscoitos, com três garrafas de sucos diferentes. Ela se ajoelhou em frente à mesa e sorriu para Helen.
— Por favor, pegue algo para se reabastecer antes de sair — Echo disse suavemente.
Helen riu.
— Ninguém nunca me trouxe um lanche depois. Normalmente eu tenho coisas para comer no meu carro. Obrigada.
— Eu me lembro como era depois da alimentação, e olha que eu não precisava dirigir. Mestre, Drew gostaria de falar com você em seu escritório. Eu vou cuidar da senhora Helen até que ela possa sair com segurança — Echo respondeu.
Eu me levantei e me curvei para Helen.
— Obrigado pela sua doação, foi adorável. Por favor, tenha uma boa noite.
— Claro. Você pode me solicitar a qualquer momento. Tenha uma boa noite — Ela disse, mas seus olhos estavam fixos na comida na bandeja.