— Lá está ela. Echo, este é o Victor. Eu percebi que vocês dois não foram oficialmente apresentados. Agora, seja boa para ele. Eu estarei na sala com sua mãe — Disse o pai.
— Sim, senhor — Respondi suavemente e ele fechou a porta.
Engoli em seco e olhei para cima para o vampiro. Eu só tinha 1,62 m de altura, então ele era muito mais alto. Ele olhou para baixo, para mim, e seus lábios se apertaram em uma linha fina.
— Você estava chorando? — Ele perguntou gentilmente — Não tenha medo, pequena. Eu não vou te machucar.
— Obrigada. Onde você gostaria de se alimentar, senhor? — Perguntei.
Ele suspirou e tirou os óculos escuros. Eu não tinha percebido até então que eu estava tremendo, não ficava com tanto medo assim desde a primeira vez, quando eu tinha sete anos.
— Você não vai me alimentar. Eu já comi antes — Ele disse.
— Desculpe — Respirei fundo para acalmar minha voz — Fiz algo errado? Você mudou de ideia por minha causa? Como posso consertar? Por favor — Implorei.
— O que vai acontecer se eu não te comprar? — Ele questionou.
A pergunta me gelou. Eu trabalhei para controlar o tremor que piorou quando ele perguntou. Se não fosse ele, seria algum outro vampiro e, pelo menos esse estava oferecendo muito. Tinha que ser ele. Ninguém mais pagaria tanto e meus irmãos precisavam disso.
Minha mãe sempre me disse para não deixar os vampiros saberem que eu tinha uma irmã e um irmão, disse que seria perigoso. Eles poderiam decidir levar Harmony ou Val e eu não conseguia imaginar eles alimentando vampiros. Eu odiava a ideia deles assustados e potencialmente machucados. Esse dinheiro garantiria que eles nunca precisassem vender seu sangue.
— Eles vão ficar bravos comigo, me trancar e continuar aceitando ofertas até o meu aniversário, suponho. Então vão me vender para o maior lance, mesmo que não seja tão alto quanto você ofereceu. Sua oferta foi muito alta — Respondi, quietamente.
— Eu preciso fazer uma ligação telefônica. Sente-se no sofá e fique quieta — Ele ordenou.
Sentei e esperei. Com sorte, ele me levaria e eu poderia cuidar da minha família pela última vez. Se ele não me quisesse... não gostava nem de pensar em qual dos meus outros clientes fez essa oferta de setecentos mil. Alguns deles eram realmente assustadores.
— Rosalynn. Eu tenho a garota. Preciso que o Conselho me reembolse dois milhões. Os pais estão tentando me vender a menina e, se eu não comprar, alguém vai. Não.... Provavelmente.... Eu vou torná-la minha serva diurna por enquanto. Eu não acho que ela estará segura em qualquer outro lugar. Ela é quase tão pálida quanto eu e não tem cicatrizes nela nem na mãe.... Eu sei.... Eu senti o cheiro quando ela se aproximou.... Exatamente o que pensei. Te vejo na terça-feira — Ele fechou os olhos brevemente ao desligar o telefone.
— Você vem comigo. Quero que vá arrumar suas coisas — Ele disse se virando para mim.
— Sim, senhor — Eu disse, me levantando — Mas, se eu sair sem uma marca de mordida, eles vão saber que você não se alimentou de mim.
— Eu vou dizer a eles que mordi sua coxa. Eles não veriam isso à primeira vista. Não tenha mais medo, vou te manter segura. Você terá muito mais liberdade e nunca mais precisará alimentar ninguém se não quiser — Ele sorriu.
— Mesmo? Nunca mais? — Eu não conseguia evitar o alívio em minha voz.
— Mesmo, nunca mais. Agora vá. Não quero passar mais tempo aqui e precisamos conversar sobre algumas coisas antes de chegarmos à minha casa — Ele acenou para a porta.
Saí apressada, passando por meus pais e indo para a cozinha pegar algumas sacolas de supermercado para colocar as minhas coisas. Eu poderia ser uma serva, eu já era uma, mas nunca mais precisaria alimentar um vampiro novamente e estar segura. Aquilo era o que eu realmente queria.
Eu talvez não pudesse ver minha irmã e meu irmão novamente, mas sabia que eles estariam bem. Esperava que isso não fosse um truque para me deixar mais ansiosa para ir embora. Mas, ele nunca me mordeu e, mesmo sendo um vampiro, eu sentia que podia confiar nele. Era o suficiente para ter esperança.
*
Dez minutos depois, minhas coisas estavam arrumadas e eu escrevi uma nota de despedida com um marcador preto na parte de trás da minha porta. Harmony provavelmente veria na segunda-feira depois da escola. Ela faria questão de tentar me ver assim que chegasse em casa, logo antes de se trocar para o emprego depois da aula, afinal, eles nunca me viam no domingo e eu sempre estava na cama quando eles voltavam para casa no sábado à noite.
Eu não contei a ela que iria embora com um vampiro, apenas disse que eu a amava e ao Val e que os veria de novo algum dia. Eu não queria que ela se preocupasse muito comigo, mas também não queria que ela me procurasse. Meu mestre poderia ser legal comigo, mas não tinha como saber o que faria se descobrisse sobre meus irmãos.
Subi correndo as escadas, entrei na sala de estar, esperando não ter demorado muito. Meus pais estavam sorrindo e apertando a mão do vampiro... do meu mestre. Fui e fiquei ao lado dele, esperando com a cabeça baixa.
— Bom, sigam bem as instruções, senhor e senhora Gale. Sua aceitação daquele dinheiro foi um acordo. Essa garota agora me pertence e vocês não têm mais direitos sobre ela. Essa parte do nosso encontro, no entanto, é um aviso. O Conselho dos Vampiros está ciente de que vocês estavam envolvidos com o comércio de sangue infantil, de que vocês planejavam vender sua filha e também está ciente de que vocês têm mais dois filhos. Se pegarmos o cheiro de vocês fazendo algo assim novamente, isso terá consequências graves e letais. A mesma consequência que seus clientes vampiros já sofreram — Ele rosnou. Meus pais ficaram quase tão pálidos quanto eu. Foi bom vê-los com medo pela primeira vez, eles seguraram as mãos um do outro e acenaram rapidamente.
— Venha, Echo. Temos muito o que fazer — Meu mestre disse e se virou para a porta.
Eu gostaria de ter dito algo, mas eu queria sair desse lugar tanto quanto ele. Eu o segui para fora da porta e até um carro estacionado na rua. Era um carro bonito de cor escura, não sei qual o tipo, eu não entendo de carros.
— Três sacolas de supermercado — Ele resmungou — Isso é tudo o que você tinha?
— Sim, senhor — Respondi.
— Me chame de Victor. Jogue-as no banco de trás. Você vai sentar na frente comigo. Você tem aula na segunda-feira? — Ele perguntou enquanto entrávamos no carro.
— Não, Victor. Eu não vou para a escola. Eu tinha um certificado de ensino doméstico, mas minha mãe pegou e não o vi desde então — Respondi.
— Vou pedir para Drew te matricular. Podemos falsificar alguns registros. Só preciso que ele faça uma avaliação para que possamos colocá-la nas aulas certas. Há uma faculdade comunitária aqui e quero que você pense no que gostaria de estudar depois do ensino médio. Quando você não estiver na escola, trabalhará para mim. Tenho muitas coisas em casa que precisam ser feitas. Mudaremos seu nome para Echo Nightshade e nenhum vampiro vai te machucar uma vez que você carregar meu sobrenome — Victor me disse — Gostaria que você considerasse continuar comigo depois de completar dezoito anos. Você merece ser cuidada. Depois do que soube que você passou, deve haver um momento em que você possa aproveitar a vida como pessoa. Um servo humano geralmente é livre para viver suas vidas como desejam, só precisam atender às necessidades de seu mestre primeiro — Ele disse.
— Obrigada. Vou pensar sobre isso — Eu disse e observei a paisagem passar.
— Você comeu? A pessoa que nós tínhamos vigiando você disse que quase nunca te via comer — Ele disse suavemente.
— Eu posso comer mais aos sábados — Respondi — Você tinha alguém me vigiando?
— Tivemos um relato de alguém vendendo sangue de uma criança, então investigamos. Eu ficarei aqui indefinidamente para garantir que isso não aconteça novamente — Ele respondeu.
— Então você sabia sobre minha irmã e meu irmão. Meus pais nunca os obrigariam a fazer isso. Eu sei que não o fariam. Fui eu... — Eu parei a mim mesma.
— O que? — Victor perguntou.
— Eu era a má. Eles é que deveriam ser cuidados. Eu que roubava deles — Eu disse a ele.
Foi como se o carro inteiro ficasse frio. No reflexo da janela, eu pude ver suas mãos segurando o volante com força. Mamãe sempre dizia que os vampiros gostavam mais de mim porque eu era má, mas ele não parecia gostar disso.
— Nunca mais diga que você é má — Ele disse rigidamente.
Eu acenei com a cabeça e seguimos o resto do caminho em silêncio. Eu estava preocupada por tê-lo deixado bravo e realmente esperava não ser punida por isso.