Uma vez que me lavei, escovei o cabelo e me vesti, estava pronta para sair. Voltei para a sala enquanto minha mãe abria a porta. Meu estômago se contorceu e mordi meus lábios juntos, eu realmente odiava alimentar vampiros.
— Qual é o seu nome? — Ela perguntou.
— Victor — Ele respondeu.
— Por favor, entre, Victor. Eu sou Verity. Estávamos esperando por você — Minha mãe respondeu com um sorriso como se ele estivesse apenas vindo nos visitar.
— Obrigado — Ele se curvou e entrou na casa.
Quando ele entrou na sala, pude vê-lo com mais clareza. Eu estava certa, ele parecia estar nos seus vinte e poucos anos, era um pouco mais baixo que meu pai, então, cerca de um metro e oitenta.
Seu cabelo estava um pouco mais comprido em cima e era tão escuro que parecia preto, mas eu podia ver o brilho acastanhado da luz do teto. Sua pele era pálida, mas não tanto quanto a da maioria dos meus clientes. Isso significava que ele tinha um tom de pele mais escuro antes de morrer. Seus ombros eram largos e sua cintura um pouco estreita. Eu não podia ver seus olhos, porque ele estava usando óculos escuros e isso provavelmente significava que ele estava faminto. Algumas vezes, eu tinha clientes que vinham com óculos, e eles estavam escondendo o tom vermelho de seus olhos que aparecia quando não comiam por um tempo. Quando eles vinham até mim assim, eram sempre mais ásperos e menos propensos a entorpecer a área em que morderiam.
Lutei contra o arrepio de medo. Quando eles eram ásperos, eu tinha que usar camisas de gola alta e mangas compridas. Alimentar um vampiro faminto não era como eu queria passar minha noite. E se ele se descontrolasse?
O senhor Springer disse que ninguém tinha um gosto tão bom quanto o meu e que era difícil se alimentar de qualquer outra pessoa depois de me ver. Tenho certeza de que ele quis dizer isso como um elogio, mas isso só me assustou mais. Ele estava usando óculos nas últimas vezes em que veio e isso estava acontecendo com mais frequência com meus clientes regulares. Eu tinha medo de que alguém me drenasse completamente em uma noite por causa disso. Esse era um dos meus maiores medos.
— Este é meu marido, Thom — Minha mãe apresentou meu pai.
— Prazer em conhecê-lo, Victor — Meu pai sorriu.
— Realmente — Respondeu o vampiro friamente — Onde vou me alimentar, senhora Verity?
Minha mãe não alimentava um vampiro há dez anos. Sempre que eles vinham, geralmente era porque eles queriam me ver e tive que morder meus lábios juntos para não rir da expressão no rosto dela. Se risse, perderia minha chance de jantar amanhã à noite.
— Oh... ah... pensei que você tivesse sido indicado para nós. Não foi? Minha nossa, isso é constrangedor — Minha mãe murmurou.
— O que é constrangedor? Eu não como há um tempo e preciso de alguma coisa. Sair da lista de espera para um tipo raro como você foi um alívio. Agora, onde faremos isso? Seu marido assistirá? — Ele perguntou.
— Não. Ah... a questão é que a maioria das pessoas me contrata, mas depois paga a mais por ela — Minha mãe apontou para mim.
O vampiro se virou e, provavelmente estava olhando para mim, mas sua expressão não mudou em nada. Eu me aproximei deles, m eu pai me puxou pelo braço quando cheguei perto o suficiente e me empurrou para ainda mais perto do vampiro.
— Por que eu iria querer uma criança? — Ele perguntou.
Eu estava quase completando dezoito anos e não era uma criança de muitas maneiras, quase um adulto aos olhos da lei. Isso me ofendia um pouco.
— Ela tem dezessete anos. E é virgem — Disse minha mãe.
— Você realmente acredita no conto das esposas antigas de que preferimos sangue de virgem? — Ele riu.
— Não. Mas ela se assusta facilmente por causa disso e ficaria aterrorizada se você colocasse sua mão sob sua saia enquanto se alimenta. Imagine o sabor do medo dela, seria muito melhor do que o sangue de uma velha — Insistiu minha mãe.
Meu estômago se retorceu com a sugestão dela e o punho dele se fechou por um momento. Eu não pensei que minha mãe ou meu pai tinham visto, não tinha ideia do que estava acontecendo, mas esse homem era difícil de persuadir, nada do que meus pais já tivessem experienciado antes. Geralmente eles paravam de resistir quando eu estava perto o suficiente para sentirem meu cheiro.
Eu estava praticamente pulando de alegria por dentro. Ele não me queria! Eu talvez não precise ser mordida hoje à noite!
— E você acha que vale a pena eu pagar mais do que já paguei por você? Por que você se registrou em uma agência de sangue se não queria vender o seu, senhora Verity? — Ele perguntou.
— Todos os meus clientes estavam mais interessados nela, dizem que ela é doce e viciante. Já recebemos três ofertas para comprá-la quando ela fizer dezoito anos — Minha mãe disse a ele.
Meus olhos se arregalaram e me virei para encarar meus pais, que nem mesmo pareciam envergonhados, pareciam satisfeitos, como se isso o convencesse. Eu esperava que eles estivessem mentindo, mas não podia dizer nada. Não era permitido falar a menos que me dissessem.
Como eles poderiam me vender, me vender mesmo, não apenas o meu sangue? Claro, eles diziam que eu era má, então esse provavelmente sempre foi o plano deles. É por isso que nunca falaram comigo sobre para onde eu iria. Depois que Valor e Harmony forem para a universidade, Echo desapareceria.
— Quanto eles estavam oferecendo? — Ele perguntou, me tirando da minha festa de autopiedade.
— A oferta atual mais alta é de um milhão e meio. Se você quiser tentar superar, poderíamos ser persuadidos a lhe dar o primeiro gole dela de graça — Minha mãe respondeu.
— Dois milhões, se ela for tudo o que você diz que ela é, e eu a levo hoje à noite — Declarou o vampiro.
— Concordo. Thom, por favor, mostre a ele o escritório. Preciso conversar com Echo — Disse minha mãe diretamente.
— Sim, querida. Por aqui mesmo — Disse o pai, virando-se para guiar o vampiro pelo corredor.
Minha mãe se colocou na minha frente e segurou-me com força pelos ombros. Eu queria implorar para ela não me vender, mas sabia que ela apenas me bateria e me venderia de qualquer jeito. Não importava o que eu dissesse ou fizesse, eu seria vendida até completar dezoito anos. Agora que eu sabia do plano deles, provavelmente me trancariam à noite para que eu não pudesse fugir.
Não que importasse, mas eu sabia para onde isso estava indo. Ele provaria o meu sangue e saberia o que os outros fizeram. Ele me compraria e eu nunca mais veria minha irmã e meu irmão.
— Esse dinheiro vai ajudar Harmony e Valor. Cada um vai receber quinhentos mil para cobrir qualquer estudo extra que queiram fazer e começar suas vidas quando terminarem. Se você realmente os ama, como diz que ama, fará isso. Não acho que alguém pagará tanto. Eu menti para ele. O maior valor que ofereceram por você foi setecentos mil — Ela cuspiu para mim.
Eu estava paralisada. Amanhã, minha mãe faria o meu jantar dominical favorito. No próximo mês seria o baile de formatura e Harmony precisaria de ajuda com o cabelo e a maquiagem. Val queria que eu o ajudasse com matemática. Nossos aniversários eram em maio. Eles sempre guardavam um pouco de bolo para mim e me davam um pequeno presente. Eu não podia partir.
Lágrimas começaram a encher meus olhos e eu sentia que não conseguia respirar. Harmony disse que eu não era má como a mãe e o pai insistiam que eu era. Ela disse que eu era melhor que todos na casa e não me queria longe. Eu a fazia bonita.
— Não tente me enganar com seus olhos lacrimejantes, jovem senhorita. Tudo o que você fez, desde o momento em que nasceu, foi tomar deles! Tomar de nós! Agora você tem a chance de dar e vai ser egoísta de novo!? Pelo visto, uma garota má como você acha que tem o direito de continuar vivendo às nossas custas. Ou você acha que, de alguma forma, vale mais do que ele ofereceu? Me responda! — A mãe rosnou.
Ela estava certa. Eu não valia tanto assim. Eu só tomava.
Passamos os primeiros meses de nossas vidas na UTI neonatal por minha causa. O corpo da mamãe não podia nos carregar pelo tempo que todos nós precisávamos. Os médicos disseram que ela teria conseguido levar Harmony e Valor por mais tempo se eu não estivesse lá. Harmony quase morreu por minha causa.
— Estava pensando apenas no quanto sentirei falta de todos, senhora. Sei que não valho quase tanto quanto ele ofereceu. Vou alimentá-lo agora — Murmurei.
— Ótimo. Suma da minha vista — Ela escarneceu, e eu me virei para o corredor.
Conforme me aproximava do escritório, sentia como se fosse vomitar. Ele me esgotaria. Esse vampiro iria me comprar e me esgotar antes de eu completar dezoito anos. Ninguém estava esperando me ver novamente e ele não precisaria deixar nada para trás para eles. Minha vida estava acabando hoje à noite. Eu podia sentir isso.