Só pode ser brincadeira

913 Words
Letícia sentou-se no sofá ao lado da mãe e a encarou nervosamente. - Diga logo o que você tem pra me dizer, mãe. Estou ficando preocupada. - disse a garota. - Então, filha... O que eu tenho pra te falar seria uma notícia bem ruim... Se eu não tivesse dado meu jeitinho e consertado a situação. - Fala logo! - Bem, você não vai mais poder morar com a sua tia Lurdes. - Como assim?! - perguntou Letícia, chocada. Letícia havia sido aprovada na Universidade de Brasília e já estava se preparando para ir morar com a tia na capital. Por mais que a garota ficasse apreensiva em deixar a mãe e suas duas irmãs menores, a ideia de morar longe de São Paulo a deixava muito animada. Mas agora, diante dessa nova notícia, ela não fazia ideia do que fazer. - Ontem, sua tia me ligou contando que não pode mais te receber na casa dela. Porque, bem... Ela não tem mais casa. - O quê? O que aconteceu? - perguntou Letícia, confusa e preocupada ao mesmo tempo. - O aluguel da casa dela aumentou, ela não pagou e foi despejada. Agora ela está morando com uma amiga dela, junto com mais cinco pessoas em uma casa minúscula. - Isso quer dizer que eu não tenho mais onde ficar - disse a garota, apavorada com a possibilidade de não poder mais se mudar pra Brasília. - É aí que entra a parte boa. Então, eu pensei em um plano B e comecei a ligar pra várias repúblicas, procurar alguém que pudesse dividir um apartamento com você. Mas os custos estavam completamente fora das nossas possibilidades. - Ainda não vi a parte boa, mãe. - Calma, estou chegando lá. Enfim, eu já estava bem desanimada quando encontrei a Verônica. Letícia conhecia Verônica desde sempre, porque ela era a melhor amiga de sua mãe. - Eu comentei com ela do que tinha acontecido, de que você estava sem lugar pra ficar em Brasília. E aí, ela me disse, toda animada, que Daniel também ia morar lá. Ele passou em administração na UnB, sabia? - Eu sabia que ele tinha passado em administração. Mas pensei que fosse em alguma faculdade aqui de São Paulo. - sussurrou Letícia, sem querer acreditar no que estava acontecendo. A garota também conhecia Daniel desde sempre. E, desde sempre, nunca tinha se dado bem com ele. Graças à amizade entre a mãe dela e Verônica, que era mãe do rapaz, Letícia era obrigada semanalmente a visitar a casa dele, desde pequena. As mães deles até se esforçavam para manter a harmonia entre as duas famílias, mas o resultado era sempre o mesmo: a junção de Letícia e Daniel sempre resultava em encrenca. Os dois nunca conseguiam se entender. Letícia acreditava piamente que estava sendo afrontada por algum tipo de perseguição, ou ao menos, um azar gigantesco . Além de ser obrigada pela mãe a visitá-lo sempre, Letícia teve a tremenda sorte de estudar na mesma escola que Daniel durante grande parte do ensino fundamental. E, depois que ele fez o favor de repetir de ano, os dois começaram a estudar na mesma turma. Na mesma turma! Com tantas turmas, com tantas escolas no mundo, eles tinham que estudar justamente na mesma classe. E agora, quando ela achava que finalmente se livraria dele, tinha acabado de descobri que ele tinha sido aprovado na mesma universidade que ela. Só podia ser perseguição. - Eu também fiquei surpresa! Mas, acredite, Daniel vai estudar na mesma universidade que você! E lá vem a melhor parte: eu combinei tudo com a Verônica. Você e o Daniel vão dividir um apartamento. Seu problema foi resolvido, filha. Só podia ser brincadeira, pensou Letícia. Aquilo não estava acontecendo, ela repetiu para si mesma. - Isso é algum tipo de pegadinha? Porque, se for, eu não estou achando graça. - Não é pegadinha nenhuma. A família do Daniel tem um apartamento em Brasília. Ele ia morar sozinho, mas a Verônica insistiu que você fosse morar com ele. - Isso ia ser, tipo... Morar de favor? Com aquele menino? - perguntou Letícia, horrorizada. - Não, filha, não é exatamente morar de favor. Ficou combinado de você dividirem as contas, as despesas gerais. Eu fiz os cálculos e ficou super vantajoso pra gente. Como o apartamento é da família dele, não precisamos nos preocupar com aluguel. - Mãe, eu não acho que você esteja raciocinando muito bem - disse Letícia, tentando acusar a mãe de ter enlouquecido da forma mais educada possível - Deixa eu ver se eu entendi... Você quer que eu divida o apartamento com um cara? O que meu pai teria achado disso, hein? - Infelizmente, seu pai não está mais aqui, filha. Eu tomo as decisões agora. E o que eu decidi é que eu tenho certeza de que você é responsável e madura o suficiente pra dividir o apartamento com ele. Vocês vão dormir em quartos separados, cada um vai ter seu espaço. Não vejo problema nenhum nisso. Você dois se conhecem desde os três anos de idade! Isso era verdade, Letícia o conhecia desde a infância. Mas os dois se evitavam tanto (principalmente depois que entraram no ensino médio), que Letícia tinha a impressão de que ele era um completo estranho. E um estranho muito chato, por sinal. - Mãe. Eu não aguento o Daniel. E o Daniel também não gosta de mim. Coloque nós dois sob o mesmo teto e você vai ter uma terceira guerra mundial. Lúcia riu.  Sempre quis que sua filha e o filho de sua melhor amiga se entendessem. Talvez aquela nova situação faria com que eles finalmente conseguissem.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD