CAPÍTULO 5 | "A culpa foi toda minha"

2424 Words
MARINA Já fazia uma semana desde a festa e Marina ainda se sentia m*l pelo que havia acontecido. Ela tinha partido para cima dos amigos cheia de acusações ainda no estacionamento do lado de fora da boate. _ Gente! Que cachaça foi essa? – perguntava Sara – Mas essa doida só bebe Coca-Cola!? _ Você sabe muito bem do que eu estou falando! _Claro que não! Baby, se eu soubesse que bicho te mordeu, comprava uma bola de cristal, me montava belíssima, botava uma banca de cartomante e ia atender: "Sabrina Drag, a Feiticeira". _Pare de palhaçada que você armou das suas para a Carol se pegar com o Thor da Ribeira ali e para o tal do "Menudo GLS" vir todo cheio de assunto pra meu lado.... _O quê!! – todos quiseram saber. _Como é isso? Babado forte! – perguntou Carol. _Thor da Ribeira é s*******m, linda. – reclamou o loiro ainda agarrado na Carol. _Achei "menudo" pior, até porque esse lance de GLS não se usa mais, é outra sigla. – completa Sara, bêbada, porém politicamente correta. _Fofa! SE eu tivesse que "armar" para um desses deuses MARAVILHOSOS pegar alguém seria para ME pegar, chuchu! – e olhando para o crush – Desculpe Mozi – Mari, Mari do meu cuore. Juro pela peruca de Cher em Believe que sou inocente! - quando ela ainda manteve a cara fechada, insistiu - Gata. Deixe de loucura!! Só disse ao bofe que você estava quase tirando a calcinha pela cabeça no show dele, mais nada. – àquela altura já estavam no Uber e ele virou para ela e perguntou – Sério mesmo que um boy escaaaandalo daquele chegou em você e você em vez de tirar essas teias de aranha, deu uma de Fiona com ele! Ai meus sais! Estou ficando até sóbriaa!!! Depois de muita confusão ela finalmente acreditou que não tinha acontecido nenhuma jogada forçada do amigo e aí foi a vez dela se sentir super m*l pelo que havia feito. Para piorar, Gilson chegou um dia no trabalho mega chateado dizendo que por causa dela Ernesto nem falava mais com ele. Seu amigo parecia muito sentido com a situação e ela sentiu uma bosta por ter criado tanta confusão por nada. Ouviu calada as piores acusações dele e das meninas porque não tinha como argumentar. _ Desculpe te dizer amiga, mas além de tudo, você também foi super preconceituosa. – Carol alguns dias depois quando voltaram a falar do assunto. _Tenho que consertar isso... _Amiga, não vejo como. – no final ela pediu a Carol para conseguir o número do tal Ernesto pelo Ricardo, que continuava saindo com sua amiga. Contrariando todas as suas convicções, fez o que nunca tinha feito antes pegou o telefone dele e usou o sistema da empresa para localizar o endereço do cara. Pesquisou na internet e encontrou um doce cubano chamado Torticas de Morón que levava rum e limão tentando montar seu pedido de desculpas. _ Se a vida de der limões... – ela pensou no velho ditado. Por fim os biscoitinhos ficaram prontos, ela escolheu uma embalagem bonita e um cartão. O endereço indicava um local bem conhecido da cidade que ligava o bairro boêmio do Rio Vermelho ao bairro da Federação; como costumavam dizer: "a ladeira que ia dar na Cardeal da Silva". Bem no pé da ladeira o carro parou e o motorista indicou um número nos fundos de um restaurante. Juntou coragem e bateu. Ninguém atendeu. Ficou lá parada alguns minutos. Nervosa, ela lembrou da última vez que tinha pensado em fazer uma surpresa para alguém e no desastre que tinha resultado... – Foco. Marina. Foco. – pensou ajustando a saia de poá gigante e a regata preta de malha. Uma senhora mulata robusta com uma saia rodada e bem florida chegou na porta vizinha enxugando a mão no pano de prato. _Tá procurando quem, fia? _ O Ernesto. _Neto? – ela a examinou com curiosidade – Neto tá lá embaixo. – falou indicando o lado da praia com a cabeça enfeitada com lenço do mesmo tecido da saia - É alguma coisa? _Não. Deixa quieto...Depois eu falo com ele... – respondeu morta de vergonha, de nervoso e já se sentindo arrependida. _Você tá parecendo muito avexada...- disse a mulher parecendo ler sua inquietação como um livro - Se quiser entrar e esperar, daqui a um pouquinho ele chega. – se ofereceu – Acabei de passar um café, daqui a pouco ele tá ai para abrir o restaurante. – informou e Marina olhou para a placa decorada que levava o nome do local : HAVANA. Decidiu entrar, primeiro por que se não fosse hoje, não seria mais dia nenhum e segundo por que não recusava café nem morrendo! Foi entrando acanhada, sentou onde a mulher indicou e deixou suas coisas na mesa; a sacola com seu pedido de "desculpas" sendo tratada com todo cuidado. _Fica à vontade. Aqui todo mundo é família... eu sou a Filomena, mas todo me chama de Filó; ali é a Detinha, minha prima carnal. Aquela ali é a Marizete, minha irmã e aquele menino bonito ali é o Oto, filho da Detinha que já aprendendo a pegar no batente, né meu lindo?! - ela tocou a cabeça do garoto num gesto de carinho. Olhou em volta cumprimentando as pessoas. _Minha filha, isso aqui mais tarde parece um carnaval! - a simpática senhora continuava seu monólogo - É gente que não acaba mais, então a gente pega no batente cedo...- foram conversando amenidades e quando deu por si, Marina já tinha um avental na cintura é já estava cortando pilha de temperos para fazer uma salada "vinagrete". Quando um senhor gordo entrou seguido de Ernesto e de outro rapaz, ela quase já tinha esquecido o que tinha ido fazer ali. Parou olhando para ele tomada de surpresa e ele também. Os dois ficaram se olhando sem dizer nada; ela sem graça e envergonhada e ele primeiro surpreso, depois contrariado. Foi Filomena quem quebrou o silencio constrangedor. _Netinho, essa moça bonita bateu em casa e falei com ela para te esperar. Ela me disse que veio te pedir desculpas. Não sei o que ela fez, mas uma morena bonita dessa, com uma saia de bola linda dessa e que ainda parou pra ajudar sua mãe preta, já tá desculpada, né? _O que você quer? – perguntou contrariado ignorando o que Filó falava. _Olha... – ela começou. _Como foi que chegou aqui? – ele cortou ríspido – Foi o Gilson quem te deu meu endereço? – ela meio se assustou com o tom, mas ele estava na razão dele em estar puto. _ Não foi o Gilson - respirou fundo - Na verdade, pedi a Carol para roubar seu número no celular do Ricardo, usei indevidamente o sistema do meu trabalho para achar seu endereço e estou aqui. – disse tudo de uma vez parecendo querer se ver livre logo daquilo – Sei que fui uma c****a azeda naquele dia, te ofendi, magoei o Gi, sai brigando com todo mundo feito uma doida...Vim aqui para te pedir desculpas e pedir para você voltar a falar com o Gil. – vendo que ele permanecia em silêncio prosseguiu - Você tá na sua razão de me botar pra fora e nem me dar um bom dia, mas quero que saiba que eu me senti muito m*l mesmo... – nova pausa para pegar a sacola e estender para ele – Você pode pegar e até atirar na minha cara, dar pros cachorros...- deu de ombros – Foi só meu jeito de dizer que sinto muito. _O que é isso? Quem me garante que não é uma bomba? _Filho! – o velho senhor gordo reclamou. – Não se esqueça que esta falando com uma dama. Olhe o seu tom. – ao que parecia aquele era o "pai" dele e baixou a cabeça constrangido com a reprimenda. _Tá. Eu mereço. – falou na direção do velho defendendo-o; falei coisas muito ruins para ele da última vez que nos vimos. - ela explicou pegando a sacola para retirar de lá a caixinha decorada e, com cuidado, abriu a tampa mostrando o conteúdo. – Procurei a receita na internet. – explicou estendendo o braço na direção dele – São uma espécie de biscoitos... _Torticas de Morón!! – o homem mais velho reconheceu, então não devia estar tão r**m assim... _Você que fez? - Ele colocou as das mãos na cintura sentindo o cheiro que vinha da caixa, desconfiado e ela se lembrou automaticamente do "incidente" do drink. Em resposta à pergunta dele, ela apenas fez sim com a cabeça. Jesus! Estava se sentindo nervosa como se estivesse passando por alguma espécie de prova. - o velho tomou a caixa da mão dela e foi provando logo – Madre Dios!! Mui bueno, hija!! Mui bueno!! - Ele olhou para o "pai" e para ela. O mais velho saiu oferecendo os biscoitos para os que estavam perto e todos pareceram gostar; em seguida se voltou para Ernesto olhando para ele como se os dois estivessem falando uma língua secreta. Filomena tomou a caixa da mão do senhor mais velho e deu a Ernesto que, dessa vez, aceitou. _Vá. Ande. Deixe de teimosia! – ralhou Filomena – Suba com a moça e ofereça pelo menos um café já que ela veio até aqui com a merenda. – sugeriu piscando para Marina - A situação era toda tão surreal que ela m*l acreditou quando ele simplesmente acatou a sugestão da mulher mais velha e pediu que ela o seguisse. _Você realmente pediu a Carol para roubar meu número? – ele quis saber achando graça da situação. Quando ela novamente fez sinal afirmativo com a cabeça ele deixou os biscoitos em cima da mesa -Espera um pouco, vou botar café no fogo e jogar uma água no corpo... Deixada sozinha, ela esperou por ele ainda sem saber direito o que fazer, seguiu até a varanda e ficou lá olhando o movimento na rua. – quando ele retornou ainda terminando de vestir a camisa, pode ver de relance o peitoral sarado dele. – Jesus Amado! - em plena luz do dia com o sol iluminando a casa ele era ainda mais incrivelmente lindo; mas não aquele tipo de beleza enjoada, padronizada que parecia na moda agora – pensou - ele esbanjava masculinidade, charme...tinha aquele jeito de homem, de macho... _Você procurou mesmo uma receita de doce cubano e preparou só para mim? Para se desculpar? - ela balançou a cabeça fazendo que sim. _Gil me disse que você era cubano. - confessou - Estou me sentindo muito m*l pela confusão toda que eu criei...- suspira – O povo bebe e eu passo vergonha. Aliás, passei vergonha no débito, no crédito e no parcelado... – brincou enquanto ele, parecendo satisfeito, finalmente pegou um dos biscoitos e provou. Ele fechou os olhos saboreando o doce e ela teve uma sensação estúpida de alegria por ele parecer ter gostado. _ Não pira Marina! Você está aqui em missão de paz e só! – pensou enquanto ele piscava para ela ainda saboreando o doce, botava mais um na boca e seguia na direção da cozinha americana. Anunciou que iria preparar um café para eles e ela mais uma vez só respondeu com a cabeça. Ainda estava meio sem saber o que fazer, pensar ou sentir. Olhou em volta: a decoração era colorida, vibrante e o lugar cheio de luz, ela adorou. Admirou as portas enormes de vidro que davam para a varanda e pareciam despejar o azul do céu e o mar do Rio Vermelho dentro de casa. Àquela hora os sons dos trabalhadores dos bares e restaurantes da região chegavam até onde ela estava e ela ficava imaginando como era morar assim tão pertinho do mar...Que sonho...Quase todos os móveis eram de vime, tinha muitas fotos dele, Manolo, Filomena, outras pessoas e livros, muitos livros. _Parece que temos algo em comum finalmente. – ele comentou vendo-a passar os dedos pelos livros admirando os títulos e ela voltou sua atenção para ele. _Na verdade, mais uma coisa em comum – frisou ela e ele olhou pra ela com ar de quem questiona – Temos o Gilson. – ele entendeu _ Parece que ele gosta muito de você e ficou muito chateado em você parar de falar com ele. _ Eu não parei de falar com ele. – corrigiu - Só pedi um tempo. Você me deixou muito puto da vida aquela noite - falou cruzando os braços e afastando um pouco mais as pernas – Além do mais também não gostei nada, nada de saber que ele tem mania de "arrumar macho" pra você, não foi disso que você o acusou? Sou muito ciumento. _Olha! Vamos por uma pedra nesse assunto, tá? – suspirou ignorando o efeito que a última frase fez em seus sentidos – Eu estou muuuito ferrada com o Gilson por causa daquela confusão toda, ele está muito magoado comigo e eu não dou conta de ficar afastada dele...- fez uma pausa fugindo do olhar intenso dele - Vamos fazer de conta que não aconteceu aquela noite. – sugeriu estendendo a mão – Vamos começar do zero: prazer, Marina Morena, capricorniana, contadora, maratonista de série e louca por livros e chocolates. Ah! E "estagiária de confeitaria" – indicou a caixa de biscoitos na mesa. _Marina Morena?? – ele repetiu seu nome e se aproximou ainda mais dela; a fala mansa e rouca fez todos os pelinhos do pescoço dela se arrepiarem. Ele olhava para ela como se estivesse desembrulhando algo doce e saboroso e ela estava começando a achar que vir parar "na toca do lobo" não tinha sido uma boa ideia... _Pode tirar sarro. Minha mãe era louca pelo Gilberto Gil. Ainda bem que não nasci menino, ela podia muito bem me batizar de Drão*... – ela tentou brincar para aliviar a tensão – Então? Estamos de bem? – ela perguntou e ele chegou ainda mais perto, o cheiro do sabonete envolvendo-a como uma névoa. De repente, quando ela achou que ia ser beijada, ele se afastou e seguiu na direção da mesa e ela notou que tinha prendido a respiração sem perceber. _Hummm você acordou hoje e pensou: vou lá fazer uma boa ação, ser fofa, levar uns biscoitinhos e enrolar o... do que foi mesmo que você me chamou...Ah!..."Menudo GLS" – falou pegando o café e servindo duas xícaras – Você acha que vai ser tão fácil assim? ❤Espero que tenham gostado! ❤Não esqueça do meu coraçãozinho (rs).❤
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