capítulo 01
KEVIN.
As vezes não há nenhum problema na vida que um socão bem dado não resolva; mas no meu caso, isso só faria eu me sentir um pouquinho melhor, e não me tiraria desse... Desse grande e fodido lugar de merda em que estou.
Olho por cima dos ombros mais uma vez, assegurando-me de que não estou sendo seguido por um certo alguém enquanto caminho pelos corredores esquisitos e m*l iluminados desse lugar, porque pelo visto essa será minha vida daqui para frente: esgueirar-me sorrateiramente por aí para evitar aquele alienígena esquisito; nada de pizza, cerveja ou um refrigerante bem geladinho; nada de jogos de futebol; nada de festas no Campus; nada de garotas dando em cima de mim; nada de garotos também; nada de cinema, fliperamas, piscinas, praias... Nada do sol maravilhoso de San Francisco.
Eu perdi tudo! Nem sequer roupas eu tenho mais. Tudo que me resta são esses pedaços estranhos de um tecido felpudo que foram emprestadas por William; o magrelo que tem um sotaque do interior e que pelo visto já arranjou um namoradinho Alienígena.
Quer Dizer... Eu não tenho absolutamente nada contra ele. O cara me ajudou; me tirou daquele tubo esquisito; nos explicou toda a situação e nos trouxe até aqui. Eu só... Não sei o que pensar. Não tenho certeza sobre se tudo isso aqui é muito melhor do que se tivesse morrido lá naquele cilindro bizarro.
Tudo aconteceu mais ou menos assim: eu estava voltando meio bêbado para o dormitório do campus depois de ter ganhado uma luta e ter participado de uma pequena festinha em comemoração. Lembro de cambalear pelas ruas bastante conhecidas e... Não lembro de chegar em casa. Na verdade não lembro de absolutamente mais nada depois disso, até que de uma forma surreal eu acordei todo molhado, quase congelando de tanto frio, com um cara e um... (Não fácil idéia do que ele seja) me encarando intensamente.
Parece que fiquei desacordado dentro daquele negócio por mais de um ano. CÉUS! UM ANO!! pois Will disse que havia sido sequestrado no meio de 2021; e eu lembro que sumi em novembro do ano anterior...
Pra falar a verdade, acho que estou levando até numa boa, sem surtos e gritos de terror como o outro garoto que estava comigo (Daniel), mas as vezes fico me perguntando como estão meus amigos, os meus pais, o meu treinador e companheiros de sala...
Será que seguiram normalmente suas vidas? Tentaram me procurar? Ou acharam que eu resolvi ir embora para começar a vida em outro lugar??
Balanço a cabeça para os lados e tento me livrar desses pensamentos, sentindo um tanto de frio, mesmo com a capa esquisita que também foi emprestada para mim. Pelo menos o frio não alcança minhas partes íntimas devido à tanga estranha, mas ainda é bem estranho andar sem uma cueca, com as bolas balançando para lá e para cá.
Faz pouco mais de uma semana que estou aqui; Will assegurou que todos eles são de boa e conseguiu um quarto para mim e outro para Daniel. Pedi para que o meu fosse mais afastado, pois as vezes gosto de ficar sozinho (e o mais longe possível das pessoas. E pelo visto: agora dos aliens azuis também).
O quarto é tão aconchegante quando um buraco m*l iluminado escavado na rocha Poderia ser, mas pelo menos tenho uma cama quentinha e os cobertores fazem um bom trabalho em barrar o frio.
Assim que me aproximo do quarto, consigo ouvir sons vindos de lá. Não preciso ser um gênio para saber quem é, mas isso não me intimida e faz com que eu dê meia-volta. Vou até lá em passos pesados, fazendo questão de que o som ecoe pelo corredor e indique que estou chegando.
Assim que ponho os pés dentro do quarto, avisto as costas largas com três cicatrizes cruzando-as desde a omoplata direita até quase onde há um r**o longo e agitado com um tufo de pêlos escuros na ponta.
- Vai. Embora.- digo friamente na língua estranha que a partir do momento em que ouvi os alienígenas falando vem se entranhando no meu cérebro de uma forma nada normal. Abrindo e fechando os punhos de forma calma, imaginando qual seria a sensação de dar um belo soco naquele queixo.
Assim que ouve minha voz, ele para de remexer nos meus lençóis e olha para mim. Um dos chifres é quebrado bem onde seria a metade; o seu peitoral e boa parte do rosto são um mosaico de cicatrizes, algumas longas e profundas, enquanto outras são finas e quase imperceptíveis.
Ele me encara de cima a baixo, analisando cada centímetro do meu corpo, antes de simplesmente dá de ombros e sentar na MINHA cama.
- Não. Você é meu; então esse quarto também é meu. - diz ele, de uma forma nada gentil.
Solto um suspiro longo, sentindo a raiva borbulhar dentro de mim enquanto flexiono os punhos, desejando mais do que nunca saber se minhas habilidades ainda são as mesmas mesmo depois de tanto tempo.
Ter 1,88 de altura não ajuda em nada quando seu oponente tem mais de 2,20. Eu posso ser alto e bombado para um humano, mas isso não significa nada se comparado a essa parede de músculos ali, então tenho que confiar nas minhas habilidades para fazer isso.
- eu. Mandei. Sair. Daqui. c*****o. - digo de forma compassada enquanto me aproximo, torcendo para que isso o intimide, mas pelo olhar debochado que ele lança para mim, não funcionou nem um pouco.
- não, não e não. Você é me...- a frase morre assim que meu punho acerta em cheio a bochecha azul, usando os nós dos dedos para fazer um belo estrago... Mas ao invés de encontrar uma pele macia, tudo que meus dedos encontraram é algo firme como rocha.
Xingando baixinho na minha própria língua, tiro a mão de lá rapidamente. Foi como se estivesse socado num bloco de mármore!!
O desgraçado ri baixinho, abrindo um sorriso de escárnio que faz três covinhas profundas aparecerem, uma em cada bochecha e outra no queixo. Meu soco pelo visto não deixou nem um maldito arranhão!!
- olha aqui, você pode só... Dá o fora?- peço da melhor maneira possível, já que pelo visto é impossível ganhar de alguém que tem a pele de pedra.
- eu já disse que não. Você é meu parceiro. - uma mão grande tenta tocar no meu braço, mas dou um pulo felino para trás rapidamente.
- olha aqui, Wahlk. Esse é seu nome, não é?- pergunto, e quando ele confirma com o queixo, continuo: - não sei o que você está pensando; acha que eu vou simplesmente me jogar nos seus braços? Isso não vai rolar, cara. Eu nunca. Nunca. Vou ficar com você. Entendido?
- ah.- ele sussurra. Vejo algo passar pelos olhos azuis. Ele abre a boca para falar alguma coisa, deixando a mostra as presas longas, antes de fecha-la novamente e abaixar o rosto, fazendo o cabelo escuro cair em mechas volumosas.
Sem dizer nada, ele levanta em movimentos bruscos e sai do quarto sem ao menos olhar para trás.
Será que eu... peguei pesado?
NÃO!! esse cara vem me perseguindo desde que cheguei aqui. E todo esse papo de eu ser seu parceiro!! Ele quer que eu simplesmente concorde com isso sem mais nem menos?! Eu ein.
Vou até minha cama e me jogo sobre ela, percebendo pela primeira vez o prato com carne e frutas fatiadas cuidadosamente colocado ali no canto. Ignoro a comida e me enrolo nos cobertores, antes de fechar os olhos e tentar dormir.
O rosto repleto de cicatrizes de Wahlk é a primeira coisa que vem à mente, talvez devido a toda a raiva que tenho sentido dele recentemente. Estremeço ao constatar algo: se a pele dele é tão dura daquele jeito, algo bem monstruoso deve ter o atacado para formar aquelas cicatrizes...
Tento desligar todos os meus pensamentos e me entrego ao silêncio e sossego, ambos bastante difíceis de conseguir nesse lugar.