Capítulo 1
* Rebeca Narrando
Acordo para mais um dia de trabalho, eu pego às cinco da manhã, sou praticamente escrava desse lugar, eu tenho que limpar a cafeteria inteira, deixar as louças preparadas, preparar as massas, colocar os croissant e pães de queijo no forno, os outros funcionários só chegam as sete na a******a da cafeteria, a única que é explorada aqui sou eu, pois sou a única que mais precisa desse trabalho eu não tenho para onde ir, moro no quarto dos fundos da cafeteria e só por isso sou escravizada, como seu eu morasse aqui de favor, mas eu pago para morar naquele quartinho miúdo, mais da metade do meu salário fica aqui.
Minha vida nunca foi fácil, eu era apenas uma criança de apenas três anos de idade quando perdi minha mãe para o câncer e meu pai para a depressão, sei que eu tinha apenas três anos, mas eu me lembro de ver meu pai morto pendurado com uma corda em seu pescoço na sala de nossa casa, tem coisas na vida que não conseguimos esquecer, já tive muita raiva do meu pai, pois ele nem sequer pensou em mim quando se suicidou, mas hoje eu sei o que uma depressão pode fazer e hoje já não tenho raiva, que ambos descansem em paz. Vivi no orfanato até completar meus dezoito anos, não era meu lar, mas a madre e as freiras foram minha família por anos, fui bem acolhida e muito bem cuidada por elas e agora moro em um pequeno quarto velho, minúsculo nos fundos da cafeteria, não posso pagar nem um apartamento pequeno para eu morar com a porcaria de salário que recebo, eu só estou trabalhando na cafeteria ainda pois não tenho experiência com nada, minha única experiencia é na cozinha, eu amo fazer as massas é como uma terapia para mim.
...
Mais um dia de trabalho, acabamos de abrir e eu estou muito cansada, já tem mais de um mês que não tiro folga.
- Rebeca, aqui está o pedido da mesa cinco.
- Já vou servir. – Respondo pegando a travessa do balcão e levando até a mesa.
- Rebeca, você anotou? – Clara me questiona.
Clara é uma amiga que conheci aqui mesmo na cafeteria, ela sempre vem tomar seu café da manhã aqui, ela é doidinha, já fui até o apartamento dela almoçar com ela.
- Anotei o quê? – Pergunto.
- A placa do caminhão que passou por cima de você, você está destruída. – Diz.
- Nossa, bom dia para você também e obrigada pela sinceridade. – Digo.
- Amigas são para isso, falar a verdade, mas agora é sério, você está péssima. – Disse.
- Estou muito cansada Clara, eu começo a trabalhar às cinco da manhã e só para as sete da noite e não tiro um dia de folga já tem mais de um mês. – Falo.
- Mas isso não pode, são muitas cargas horárias e você precisa de folga, precisa descansar, cadê sua gerente? – Pergunta.
- Não, se você for falar está capaz de eu ser demitida sem receber meu salário que era para eu ter recebido ontem e não recebi. – Digo e ela n**a com a cabeça.
- Rebeca, você precisa se impor ou sempre vão sempre pisar em você. – Fala.
- Eu preciso desse trabalho Clara, eu não sei fazer nada além de limpar e sovar as massas e bom eu moro aqui, se eu sair não tenho para onde ir. – Digo e ela concorda com a cabeça.
- Rebeca, mesa dez está esperando. – Me chamam.
- Bom apetite para você, hoje este lugar está muito movimentado. – Digo.
- Bom trabalho e se cuida, sabe que se precisar de mim estou aqui para o que precisar. – Diz e eu sorrio.
Clara é advogada, trabalha em um grupo de advocacia no prédio ao lado da cafeteria.
Vou até o balcão pegar o pedido da mesa e saio para servir, mas quando eu chego perto da mesa acabo tropeçando em algo e derramando todo o pedido na cliente.
- Olha o que você fez sua desmiolada. – A mulher grita.
- Me perdoe senhora, eu tropecei. – Peço desculpas.
- Presta atenção sua incompetente, estou completamente molhada de chá sua imprestável. - Continua gritando.
- Calma senhora, eu vou lhe ajudar. – Falo.
- Eu não quero sua ajuda, quero falar com sua gerente. – Diz.
- Pois não senhora, eu sou a dona, me desculpe pelo transtorno. – Rita pede com educação. – Rebeca some daqui. – Grita.
- Foi sem querer dona Rita, eu não sei o que aconteceu, parece que algo entrou nas minhas pernas e me derrubou. – Falo.
- Cala a boca, agora peça desculpas ao cliente e saiba que isso vai ser descontado do seu salário. – Diz.
- Eu já recebo pouco dona Rita. – Digo.
- Se fosse competente receberia mais, agora some daqui. – Responde.
- Você está abusando da sua autoridade e como responsável pelo estabelecimento deveria entender o que aconteceu antes mesmo de gritar com sua funcionária. – Clara diz.
- Clara não. – Peço.
- Deixa comigo. – Diz.
- Quero ela demitida. – A mulher grita.
- Rebeca, some da minha frente e não aparece mais aqui, pega suas coisas e vá embora, está demitida e nem adianta que não vai receber nada.
- Mas eu não fiz nada dona Rita e eu preciso muito desse trabalho. – Falo.
- Você quer que demitam ela por uma coisa que aconteceu por culpa do seu filho? – Clara pergunta.
- Não foi meu filho quem derrubou nada em cima de mim e sim essa garçonete imprestável. – Rebate.
- Mas foi seu pequeno delinquente que colocou o pé na frente dela.
- Clara por favor eu preciso do emprego. – Peço.
- Não tem mais emprego Rebeca, pega suas coisas e vá embora. – Rita grita.
- Você vai demitir sua funcionária por um erro que não foi culpa dela e que a vítima aqui é a sua funcionária? – Clara pergunta.
- Sim, e quem é você para se meter onde não foi chamada? – Rita questiona.
- Me chamo Clara Mendes, sou advogada e estou aqui representando minha cliente. – Responde.
- Se eu fosse você não perderia tempo com ela não, Rebeca não tem onde cair morta, não vai ter dinheiro para pagar seus honorários.
- Como ela vai me pagar não é da sua conta, desista de demitir ela ou nos vemos no tribunal. – Disse.
- Não desisto, ela não tem nada contra mim e nem ao meu estabelecimento, está sendo demitida por um erro dela. – Diz.
- Rebeca, pega suas coisas e me encontra no escritório, temos muito o que conversar. – Ela fala e volta a sua mesa pedindo a conta.
Meu Deus, o que eu faço agora.
. . .
Peguei minhas roupas, pois nada daquele lugar era meu, além da minha mochila com minhas roupas e celular. Me sento na praça no centro da cidade para pensar no que eu vou fazer sem dinheiro e sem lugar para morar, nem meu salário eu recebi, eu não tenho para onde ir, eu não tenho o que comer. Minha vida sempre foi muito complicada, acho que nasci para sofrer ou eu fui muito r**m nas vidas passadas e estou pagando por tudo nessa, mas como eu não acredito nessas coisas de vidas passadas só sou azarenta mesmo. Ouço meu celular tocar no bolso da minha calça, olho e era Clara me ligando.
*Ligação on
- Oi. – Atendo
- Cadê você Rebeca? – Ela perguntou.
- Estou na praça pensando no que eu vou fazer. – Digo.
- Eu falei para você vir até meu escritório. – Diz.
- A Rita tem razão Clara, eu não tenho como te pagar. – Digo.
- Cala a boca e vem, te dou dez minutos para chegar aqui. – Fala e encerra a ligação.
*Ligação off
Como não tenho muita opção, eu vou até ela, mas não posso pagar pelos seus serviços, vou agradecer a tentativa de ajudar e seguir meu caminho, só não sei para onde.
Chego em seu escritório e ela já estava me esperando.
- Que demora. – Reclama.
- Clara, eu te agradeço muito por ter tentado me ajudar a não ser demitida, também te agradeço por querer me ajudar a ter meus direitos, mas eu não tenho como te pagar.
- Rebeca, eu tenho você como uma irmã, mesmo te conhecendo a pouco tempo, te considero minha irmã mais do que minha própria irmã, eu tenho família, mas é como se eu não tivesse, minha mãe só é mãe para me pedir dinheiro, fora isso é Deus no céu e minha irmã na terra, aquela pira.nha não vale nada, sempre ficou com meus namorados e para piorar minha mãe a defendia falando o que ela podia fazer se minha irmã é mais bonita e atraente que eu, meu pai é um p.au mandado da minha mãe, nunca me defendeu e nunca se impôs como chefe da casa. Quando eu comecei a namorar Ruan levei ele para conhecer meus pais, e como sempre, minha irmã tentou dar em cima dele, ela entrou no meu quarto e começou a tirar a roupa na frente dele, Ruan saiu do quarto correndo e me chamou, eu discuti com ela e sabe o que aconteceu? Minha mãe me expulsou de casa e meu pai não fez nada, eu estava fazendo estágio, ganhava pouco e tive que me virar, fiquei morando uma semana na casa dos meus sogros até eu conseguir um apartamento que eu conseguisse pagar, por eles eu morava com eles até hoje, mas eu não achei certo sabe, hoje graças a Deus eu posso pagar por um lugar melhor para mim. Mas me deixa resumir, eu passei por muita coisa também Rebeca, tudo o que eu tenho são graças a mim mesma, porque meus pais nunca me quiseram de verdade, só queriam uma filha eu vim de intrusa no mundo, só que nada se compara com o que você passou e ainda passa e eu vou te ajudar de coração, como uma irmã ajuda a outra eu vou te ajudar, não se preocupe que eu não quero nada, somente te ajudar. – Ela fala e eu não me seguro e choro.
- Eu nem sei como te agradecer, você foi a única coisa boa que aconteceu na minha vida, na verdade você é a única coisa boa que eu tenho na minha vida, eu tento ser uma pessoa positiva, mas minha vida não me ajuda sabe, eu vivo minha vida por viver mesmo, pois não quero ser fraca igual meu pai foi, mas obrigada mesmo pela ajuda. – Agradeço sem conter meu choro.
- Me agradeça quando ganharmos no tribunal contra aquela abusada da sua ex-chefe, eu vou acabar com aquela mulher no tribunal, pode ter a certeza, mas agora você precisa descansar. – Fala, estica sua mão e me entrega uma chave.
- Que isso? – Pergunto enxugando minhas lágrimas.
- Chave do meu apartamento. – Disse.
- Clara não precisa. – Digo.
- Você acha mesmo que eu vou deixar minha irmã sem ter para onde ir, nem adianta reclamar, pega a chave e vai, sem reclamar.
- Eu nem sei como te agradecer por tudo que está fazendo por mim. – Digo.
- Mulher me agradeça indo dormir, porque é sério, você está acabada. – Ela fala e começa a rir.