CAPÍTULO 2

2872 Words
Maria Eduarda — Por que você não respondeu quando eu chamei no bipe? E porque está correndo desse jeito como se tivesse visto um fantasma? — Cristina pergunta irritada. — Responde garota? Esta com essa cara pálida por quê? — sua voz se altera mostrando que não está nem um pouco preocupada com o meu estado. Suspiro e abro a boca para responder, mas alguém fala antes de mim. — Porque essa sua funcionária estava no quarto onde eu estava tendo um momento romântico com meu namorado, ela estava nos olhando às escondidas e ainda por cima me agrediu sem nenhuma explicação. — Tamara exclama irritada. Viro e encontro com os seus olhos furiosos. — Ela o quê? — minha encarregada quase dá um grito. Eu aceno com a cabeça negativamente. — Não foi minha intenção, mas teve uma explicação sim porque ela estava com o meu noivo! — falo me defendendo das acusações. — Seu noivo? — Tamara diz rindo. — Meu namorado jamais sairia com uma garota do seu nível! — ela me olha de cima a baixo com desprezo. — Para de se fazer de desentendida Tamara, você sabe muito bem que Dennis e eu estamos juntos há mais de um ano e você estava sendo a amante dele todo esse tempo. Ela me olha com incredulidade. — Você está louca! — ela berra. — Ele esta comigo há um ano garota, ele nem deve conhecer você e outra, você nem devia estar dentro daquele quarto, se bem que acho que gostou do que viu já que ficou lá para ver todo o nosso show, mas nada justificava você agredir nós dois e quer saber eu vou processar esse lugar. — Tamara diz e eu olho para ela desacreditada. — Eu que deveria processar vocês dois! — digo braba. — Não foi você a agredida e sim, eu. — ela mostra o rosto onde está visível a marca avermelhada da minha mão, nem eu havia percebido que tinha batido tão forte. — Vou chamar a polícia agora mesmo. Sinto o meu sangue sair do corpo com as suas palavras. — Senhorita, não precisa fazer tanto. — minha encarregada intervém imediatamente. — Não preciso? — Tamara dá risada. — Você tem noção de que a sua funcionária me agrediu? De que estou com o rosto marcado e esse hotel é responsável por isso, justamente por contratar funcionários despreparados como ela? — Tamara pergunta furiosa. — Você ainda quer chamar a polícia depois de me trair daquele jeito Tamara? Que tipo de amiga você era? Eu achei que vocês se odiavam! Ele era o meu noivo. — berro deixando toda raiva sair. Ela abre um sorriso cínico e diz: — Desculpe, mas você realmente esta equivocada e me confundindo com outra pessoa garota, o meu namorado jamais iria ter uma noiva como você, uma simples faxineira. — ela dá risada descaradamente de mim. — Ser faxineira é um trabalho digno como qualquer outro, já você é somente uma cobra traiçoeira que com certeza só esta em busca de um marido rico para dar o bote, por isso que esta com Dennis nesse hotel, mas quer saber dois mau caráter como vocês se merecem, porque não valem nada. — digo braba. Ela me olha com ódio. — Quer saber Eduarda, — ela me olha com ira deixando a pose de quem não me conhece de lado. — Você que não soube segurar o seu noivo e foi bom que escutou tudo aquilo, assim você percebe que jamais será mulher para o Dennis e nem para nenhum outro homem porque não sabe satisfazê-lo, nem corpo cheios de curvas tem, olha para você, filha de um pobretão, acha mesmo que um homem como Dennis ia se interessar por você? — ela gargalhou alto. — Nuncaaa... garota, jamais! Agora vou chamar a polícia e colocar você na atrás das grades por agressão física, já que não sabe nem se comportar no seu local de trabalho. — Tamara exclama revoltada. — Senhorita, por favor! Nós vamos resolver isso internamente, peço que, por favor, não chame a polícia. — minha encarregada diz entrando em minha frente para tentar acalmar a Tamara. — Vocês contratam péssimos funcionários, agora vão arcar com as consequências. — Senhorita, a partir desse momento ela não será mais funcionária deste hotel. — minha encarregada diz e eu sinto meu coração parar dentro do peito. — Senhora Cristina... — tento falar com ela, mas sou abruptamente interrompida. — Você causou o maior transtorno Maria Eduarda, o hotel não deve pagar pela sua falta de profissionalismo, pegue suas coisas agora mesmo e saia daqui. — ela fala de forma rude deixando claro a sua decisão. — Por favor, eu preciso desse emprego. — digo com meus olhos cheios de lágrimas. Porque eu não me lembrei disso antes de discutir. — penso me sentindo péssima. — Ha ha ha... agora você precisa do emprego, Madu? — Tamara pergunta frisando meu apelido com ironia. — Devia ter pensado nisso antes, agora que esse problema foi resolvido, eu vou voltar para o meu quarto, até porque meu namorado me espera. Espero que quando arrumar o próximo emprego, tenha mais sabedoria para manter ele e não seja tão descontrolada. — ela diz rindo de mim. Fecho minhas mãos em punhos tentando controlar a minha vontade de voar nos cabelos dela, mas não posso já que a minha encarregada me olha cheia de ira. — Senhorita, sugestão: enviaremos para seu quarto um jantar especial como pedido de desculpas pelo transtorno ocorrido em nosso hotel. — Cristina diz. — Assim espero que pelo menos nisso esse hotel seja bom. — Tamara dá de ombros e sai. — Agora você, Maria Eduarda vá buscar as suas coisas e saia daqui o mais rápido possível, não quero mais olhar para você. — Cristina diz agora voltando a me olhar. — Senhora Cristina, por favor, eu preciso muito desse trabalho, a minha mãe tem muitas contas para pagar e... — ela me interrompe abruptamente novamente. — Deveria ter pensado nisso antes, depois do que você fez, não tem nem como sua amiguinha Hilary te segurar, agora vai embora. Percebo nos olhos da minha encarregada que não tem mais jeito, ainda penso em falar algo, mas quando abro a boca, ela diz: — Não me interessa os seus lamentos, saia agora, até porque esse hotel recebe pessoas muito bem requisitadas e desde o primeiro momento em que você chegou aqui, eu já sabia que você não estava à altura nem para limpar o chão que esses clientes pisam, agora vá para o vestiário se trocar e pode deixar o uniforme lá mesmo. — ela exclama. Sinto-me ainda mais humilhada, percebo que nada adianta me explicar, ela nunca gostou de mim mesmo. Sem falar mais nada, viro-me para ir ao vestiário, faço o que ela mandou. Quando o gerente do hotel veio falar comigo, ele nem quis me escutar, somente disse que a minha atitude foi inadmissível para a empresa, e o jantar que será servido a Senhorita Tamara e Dennis será descontado do meu salário, me deixando ainda mais arrasada. No momento em que coloquei os pés para fora do hotel, o tempo foi tomado por uma forte chuva que descia com intensidade, mas a chuva não era tão forte quanto à dor que eu sentia por ter sido tão humilhada. Caminhei pelas ruas da Filadélfia em baixo de toda aquela tempestade, eu moro aqui desde que era apenas uma menina, quando meus pais saíram do Brasil eu tinha oito anos, lembro-me do meu pai dizendo que aqui nós iríamos viver bem, que seríamos felizes, coisa que nós nem éramos no Brasil, já que desde que eu me entendo por gente, eu via várias brigas dos meus pais, aqui as coisas só pioraram, uma vez escutei minha mãe dizendo a uma vizinha que meu pai só nos trouxe para cá porque havia droga nas bolsas, e ele com nós duas seria mais fácil despistar os policiais e foi mesmo e até hoje estamos aqui, mas meu pai continua o mesmo homem, trabalhando com coisas ilegais e nunca me deu uma palavra de carinho, bom exceto quando eu falei que iria me casar com o Dennis, os olhos dele brilharam, até porque a família do Dennis tem dinheiro, ou seja, é bom para ele, porém eu pouco me importei para o dinheiro do Dennis, muito pelo contrário eu o amava, bom ainda amo, porque não acredito que nós podemos acabar com o amor por uma pessoa do dia para noite, mas aqui estou eu caminhando, sozinha, enquanto ele está lá transando e comendo o jantar que eu paguei. Hoje eu perdi minha amiga, meu noivo, e meu emprego. Pergunto-me o quê mais eu poderia perder? — penso chorando enquanto caminho em baixo desse temporal. — Madu! — escuto meu nome ser chamando. Nem olho para trás e continuo andando. — Madu! — escuto a voz mais próxima. Viro-me e encontro minha amiga Hilary vindo correndo em minha direção segurando um guarda-chuva, arregalo os meus olhos sem acreditar que ela está aqui. — Menina, o que você esta fazendo? — ela pergunta colocando o guarda chuva sobre nós. — Eles tinham um caso, Lary. — a chamo pelo apelido. Minha amiga me olha com compaixão e me abraça apertado, desabo em seus braços. — Fica tranquila amiga, vamos para a minha casa, nós podemos conversar melhor lá. Aceno com a cabeça positivamente. Entro no carro dela sem falar nada, após alguns minutos chegamos em sua residência. Minha amiga pega uma das suas roupas para que eu possa tomar um banho já que tomei toda essa chuva, após sair do banheiro, vou em direção à sala onde encontro minha amiga me esperando com um pedaço de bolo de chocolate e um chá para nós. — Bom, agora podemos conversar, Madu. Suspiro e aceno com a cabeça. — Tudo bem. — sento-me. — Eu fiquei sabendo pelo gerente o que aconteceu e os nomes dos infelizes que estão naquele quarto. — ela fala com pesar. — Eu tentei conversar com o gerente para você continuar lá, mas... — Ele não vai aceitar porque eu agredi um hóspede. — digo e ela acena com a cabeça positivamente enquanto contorce os lábios. — Eu escutei tudo amiga, tudo... Começo a contar a ela tudo que aconteceu, nos mínimos detalhes tudo de uma vez e Hilary me olhava desacreditada conforme eu contava o ocorrido, quando terminei eu já não tinha mais lágrimas para chorar. — Madu, não fica desse jeito por causa desses dois filhos da p**a, você merece muito mais amiga. — Você não escutou tudo que... eu escutei Lary, eles acabaram comigo. — digo gaguejando enquanto choro. Ela inspira profundamente e solta uma lufada de ar. — Não acabou nada, você ainda está aqui, amiga, não importa o quê eles disseram, olha para você, uma morena linda de cabelos cacheados, olhar intenso e sorriso encantador, não liga para o quê aqueles dois imprestáveis disseram, pense que isso acabou de ser um grande livramento para a sua vida. Aceno com a cabeça concordando com ela. — Eu sei que é livramento amiga, mas dói tanto. — digo levando a mão ao meu peito enquanto tento controlar o meu choro. — Sabe o que você precisa? — ela pergunta. — O que? — pergunto. Ela abre um sorriso enorme. — Lembra de uma boate que tem próxima ao hotel? Parece que o dono vendeu e está sob nova direção, ouvir falar que é bastante requintada e de alto padrão, um cliente vip do hotel me deu dois ingressos para ir lá hoje, eu queria te chamar mas já imaginava que não iria querer ir por causa do i****a do Dennis, mas agora você vai. Nós vamos curtir a noite inteira em uma boate de ricos em plena Filadélfia. Aceno com minha cabeça negativamente. — Amiga, eu não preciso de uma boate, ainda mais de pessoas que eu nem vou saber me comportar no meio. Ela revira os olhos. — Madu, você não só precisa, como merece. Você se dedicou um ano e meio para uma relação totalmente sem futuro. Agora está aqui, sozinha, chorando por alguém que nem te merece. Nós vamos para essa balada, não estou falando para você ir arrumar um homem, amiga, mas para você sair, curtir, se permitir a viver um novo recomeço, você merece, Madu! Você se dedica pra caramba, trabalhando mais de doze horas naquele hotel para ajudar sua mãe com as contas da casa, mesmo tendo apenas vinte anos, amiga. — ela fala com pesar o final da frase. — Não sei, sem contar que estou desempregada, você sabe que as bebidas nesses locais são caras, como vou pagar? — pergunto. Ela inspira profundamente. — Amiga, eu tenho algumas economias e... — Jamais aceitaria gastar suas economias. — Madu, pare com isso, você sabe que eu posso pagar por nós duas. — ela diz com cara feia. Aceno com a cabeça negativamente. — Lary, você batalha muito sendo recepcionista daquele hotel para ajudar sua mãe e pelo o que você está dizendo essa balada deve custar no mínimo um rim para tomar algo, então nós duas seria um custo muito grande. — Maria Eduarda Santos! Você vai comigo e não aceito recusa — ela diz braba. Inspiro profundamente sabendo que não vai adiantar discutir com ela. — Tudo bem Lary, nós vamos. Mas nem sei se tenho roupa para ir a um ambiente desse. O sorriso dela se amplia. — Não se preocupe, eu tenho algumas roupas no meu guarda roupa. Ela sai me puxando para o quarto e quando começa a tirar as roupas do guarda roupa, eu me surpreendo. — Lary, onde você arrumou esses vestidos lindos? — pergunto passando a mão pelo belo tecido de cetim. Ela sorri. — Bazar da Dona Sara, eles me custaram trinta dólares os dois. Fico com a boca aberta. — Nossa, eles foram muito baratos mesmo, mas eu não sabia que ela vendia esse tipo de roupa. Ela acena com a cabeça positivamente. — Sorte nossa né, agora vamos amiga nos arrumarmos para curtir essa bela noite. Abro um sorriso sem mostrar os dentes porque não estou nem um pouco animada para ir a esse local, antes de começar a me arrumar mando uma mensagem para minha mãe, digo que vou dormir na casa da Hilary hoje, ela diz que vai pedir para que a nossa senhora venha cuidar de mim, e eu sinto-me culpada por perder meu emprego e não poder mais ajudar a minha mãezinha, mas logo expulso os pensamentos e tento focar somente nessa noite. Lary tem todo o trabalho me arrumando, minha amiga não me deixou olhar no espelho após eu colocar o vestido, ela disse que iria me mostrar o quanto eu sou uma morena linda, após uma hora sem poder me olhar no espelho, minha amiga diz: — Agora você pode olhar no espelho e já aviso que você está maravilhosa. Reviro os meus olhos. — Você sempre fala isso, Lary. — Porque é a verdade amiga. Dou um sorriso amarelo e vou até o espelho que tem grudado na parede, quando o meu reflexo reflete nele, eu abro a boca no mesmo momento sem acreditar no que a minha amiga fez. Os meus cachos castanhos estão caídos como em cascata modulando todo o meu rosto, meus olhos castanhos ficaram mais profundos e marcantes com a maquiagem que ela fez e o vestido é um slim fit preto com brilho, bem elegante, seu modelo contorna e valoriza as minhas curvas nos lugares certo, curvas essas que eu nem sabia que tinha. Inclusive quando me movo a peça se move graciosamente valorizando o modesto decote que acrescenta um charme sem revelar muito. A produção é clássica e contemporânea, é uma verdadeira mistura de sofisticação e fascínio para um belo ambiente noturno e requintado aonde vamos. Ela arrasou em cada detalhe, os acessórios que estou usando são minimalistas, mas marcantes, como um belo par de brincos pendentes que captam toda a luz ao redor quando me movimento e uma pulseira fina e prateada adornando o meu pulso. Estou paralisada quando minha amiga aparece atrás de mim. — Como você conseguiu fazer isso, Lary? — pergunto com meus olhos cheios de lágrimas virando-me para ela. Ela abre um sorriso enorme e diz: — Eu só tirei para fora a mulher linda, encantadora e empoderada que há dentro de você, Madu! Uma mulher forte e bonita que só estava escondida em meio a tanta tristeza. Uma lágrima cai, mas ela corre para limpar. — Não, não Madu! Você não se arrumou toda para chorar, vamos menina porque nós duas iremos requebrar os esqueletos hoje. — ela sacode a b***a dentro do seu belo vestido também. Rio tentando controlar o choro que está querendo escapar pela minha garganta. — Tudo bem amiga, tenho certeza que essa noite será um recomeço para mim. — digo mesmo sem demonstrar firmeza. Ela acena positivamente. — Com certeza, uma nova Maria Eduarda vai nascer hoje, e essa mulher ninguém vai segurar na Filadélfia! Naquele momento eu realmente senti que seria outra pessoa, mas não imaginei que seria tanto. continua...
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