Na porta do dormitório o senhor Gerônimo falou:
—Meninas, deixem a Bianca pegar as suas coisas sozinha. Depois vocês terão tempo para se despedir.
Mais uma vez ela sentiu o coração apertar, Bianca não queria abandonar o único lar que ela conheceu e muito menos as pessoas que ama. Enfim as lágrimas começaram a rolar em seu rosto, vendo isso Anna a abraça forte e fala próximo ao ouvido da amiga.
Após ouvir cada palavra com atenção, Bianca se afasta o suficiente para olhá-la e concorda com a cabeça. Isso faz um leve sorriso nascer nos lábios de Anna que volta a abraçá-la em seguida se sentindo um pouco mais aliviada por saber que a amiga sempre cumpre o que promete.
Depois Bianca pegou a única mochila que tinha e começou a colocar as suas coisas enquanto chorava, Anna a ajudava em silêncio e o senhor Gerônimo observava em pé no batente da porta com o coração na mão.
Enquanto pegava as suas coisas Bianca viu o seu lenço que a amiga adora, então decidiu presenteá-la falando:
—Anna, fica com esse. Sei que gosta, é uma forma de sempre me ter por perto!
A amiga sorriu, segurou a peça com carinho e amarrou em seu pescoço. Em seguida a abraçou agradecendo, quando se separaram Anna seguiu até as suas coisas e fez o mesmo pegando o seu próprio lenço e voltando, amarra no pulso da amiga falando:
—Aqui, leva o meu, assim você não fica sem lenço e também lembra de mim!
Elas sorriram sentindo que mesmo a distância não seria capaz de acabar com a amizade que possuem.
E voltaram a arrumação, em poucos minutos tudo estava pronto porque Bianca não tem muitos pertences, ela colocou a mochila nas costas, ficou de frente para a amiga e pediu:
—Ora por mim que eu orarei por você!
—Com certeza!
Saíram do quarto mais uma vez sendo seguidas pelo senhor que pegou a mochila dela pela última vez para carregar como sempre fazia até a parte externa onde a diretora Cassandra já estava com os dois homens a esperando.
Francesco sentiu o seu nervosismo aumentar ao vê-la tão perto pela primeira vez e Andrea se perguntava qual das duas ragazze era a sua irmã já que as duas choravam igualmente, embora sentisse seu coração bater acelerado ao ver a maior beleza inocente que já tinha visto à sua frente. Internamente ele se perguntava como uma ragazza pode ser tão linda e torcia para que a bela italiana não fosse a sua irmã pois se sentiu profundamente fascinado por uma delas.
O rosto da senhora demonstrava tristeza, logo ela se aproximou de Bianca, a abraçou com carinho e falou suavemente:
—Desculpa querida, fiz o possível para impedir a sua ida mas falhei.
Bianca retribuiu o abraço mesmo se sentindo cada vez mais sozinha no mundo e deixou as suas lágrimas rolarem por um tempo considerável, mas antes de se afastar falou a senhora se sentindo grata por todo o cuidado que recebeu ao longo dos anos:
—Grazie per esserti preso cura di me! (Obrigada por cuidar de mim!).
Quando se afastaram ambas ficaram de frente para os dois e enfim eles foram apresentados.
—Bambina, esses são os senhores Rossi. Eles vieram buscá-la, não precisa ter medo. Eles são a sua famiglia!
Bianca olhou os dois homens a sua frente e sentiu um conflito de emoções enquanto se perguntava:
‘Como assim a minha famiglia, eles me adotaram, porque fizeram isso?’
Após alguns segundos a senhora continuou falando mas agora para os homens:
—Essa é a Bianca, ela é uma excelente ragazza e está na responsabilidade de vocês de agora em diante.
Francesco sentiu o peso das palavras e se sentiu péssimo por está tirando a menina daqui para entregá-la ao Izidoro mas mais uma vez não permitiu que isso fosse notado, ele olhava para ela fixamente ainda em choque até que acordou e falou:
—Agora que já fomos apresentados, podemos ir.
Se virou e começou a caminhar rumo o portão de saída, Andrea por sua vez se aproximou da irmã, sorriu do seu jeito alegre pela primeira vez para ela e falou:
—Seja bem vinda a família Rossi, irmãzinha! Não liga para ele, ele é durão mas não vai te machucar porque o seu irmãozão aqui irá te proteger. Agora se despeça das suas amigas, o nosso retorno não pode demorar!
Sem entender o porquê ele age assim Bianca faz o que lhe é instruído e começa a caminhar para perto das meninas que observam atentamente a uma distância considerável. Ela abraça todas com carinhos, assim como cada funcionário do orfanato que também veio se despedir. Todos falam o quanto foi bom conhecê-la e desejam felicidades, ela se sente amada e querida enquanto desejava permanecer em seu único e conhecido lar.
Quando termina, volta a diretora e a abraça novamente, em seguida ao senhor Gerônimo e por último a amiga Anna que fala enquanto a abraça apertado:
—Não esquece o que eu falei.
—Pode deixar!
—Eu te desejo toda a felicidade do mundo!
—Obrigada!
Andrea pega a mochila dela da mão do senhor, passa o braço pelo o ombro de Bianca, olha sorrindo para a Anna e fala:
—Não fiquem tristes, quem sabe vocês se encontrem novamente? Agora a gente precisa ir!
Andrea pisca para Anna em despedida e encaminha Bianca para fora do orfanato sentindo a tristeza que ela está, ele pensa no que falar para ela mas como não a conhece prefere deixá-la em silêncio para lidar com os próprios sentimentos nesse momento.
O caminho até o carro foi doloroso para Bianca, suas pernas pareciam fraquejar e a impressão que teve é que cairia a qualquer momento, ela se sentia perdida e com medo pelo o que encontraria ao final do seu destino.
Quando chegou em frente ao carro elegante, olhou a última vez para a entrada do orfanato, sentiu a melancolia invadir o seu coração e pensou:
‘Será que algum dia eu volto aqui novamente?’