Júlia
Malas arrumadas e prontas para iniciar mais uma viagem, só falta enfrentar a fera, senhor Matheus Camargo Ferraz, meu pai que até hoje não entende que não sou mais criança e que já sei me virar sozinha.
Me formei em medicina para ajudar a todos que não tem como arcar com os atendimentos assim como a mamãe sempre me ensinou e me incentivou, esse era o sonho dela, mas o papai nunca a deixou fazer nada então eu decidi que eu faria tudo o que um dia foi o sonho dela e que ela tantas vezes se emocionou me contando, então entrei num programa da faculdade que busca levar o atendimento às pessoas mais carentes das cidades do interior, por isso estou sempre viajando para o desespero do meu pai, pra ele eu tinha que fazer algo relacionado a sua empresa, administração, direito, engenharia qualquer coisa que me fizesse ficar em baixo de suas asas e do meu irmão ciumento e chato que tenta me controlar em tudo, até os namorados ele quem quer escolher, por isso faço questão de viver bem longe e poder ser livre para o total desespero dos dois.
Até completar os dezoito anos eu sempre fiz tudo que eles queriam, mas assim que completei a maioridade, aí tudo mudou e eu passei a conquistar a minha liberdade e depois que me formei então, eles até tentam mas não consegue me controlar mais.
__ Você não vai viajar Júlia, já disse que tem que parar com essas loucuras.
__ Pai, não adianta que eu não vou mudar de ideia, não tenho mais quinze anos que tinha que lhe obedecer, sou maior de idade, vacinada e dona do meu nariz por tanto não adianta nada tentar me impedir.
__ Até quando você vai me desafiar com essas suas ideias de madre Teresa que sai pelo mundo ajudando os necessitados.
__ Até o senhor cansar de me encher e me deixar viver, que droga o senhor e o Liam vivem pegando no meu pé, me deixa ser livre, o senhor não vai me prender como fez com a mamãe, não vai mesmo.
__ Você é igualzinha a ela, teimosa e cheia de marra, eu vou bloquear a sua conta aí eu quero ver se não desiste dessas suas loucuras.
__ Nem tente pai, eu uso o dinheiro da minha mãe, a herança que ela me deixou, e o senhor sabe muito bem disso e nem tente tentar fazer nada para me impedir, o senhor sabe que isso é uma guerra perdida o vovô nunca iria permitir, agora me deixa ir que tenho que pegar a estrada e não invente de mandar seus guarda-costas atrás de mim, quando eu saio daqui dessa casa sou apenas a Júlia Pontes, não associo a minha vida lá fora com o seu nome, para poder ter paz e não ser importunada com os seus malditos negócios.
__ Malditos negócios que sustenta seus desmandos.
__ Não, eu me sustento com o dinheiro que minha minha mãe me deixou, que é a metade das ações da empresa que o senhor trabalha, o dinheiro nunca foi seu e acho bom o senhor parar de ameaçar cortar meu cartão o vovô já conversou com o senhor sobre isso, então nem tente querer me impedir de viver como fez com a mamãe, por isso ela acabou fazendo o que fez, tudo culpa sua...sua somente sua.
Pego minha mochila e saio, quanto mais tempo longe dessa casa eu passar melhor para minha saúde mental e física, desde que a mamãe morreu que perdi toda a vontade de ficar aqui, só venho mesmo por que eu amo a Lily e não gosto de ficar muito tempo longe dela. Desço e passo na cozinha.
__ Oi minha menina, já vai viajar de novo.
__ Vou sim Gail, mas sempre que precisar falar comigo sabe meu número, se a Lily precisar de alguma coisa não pense duas vezes em me avisar.
__ Está bem minha menina, se cuide, me de notícias.
__ Eu vou me cuidar, pode ficar tranquila. Agora deixa eu ir, entrega isso aqui a minha princesa, diga que quando eu voltar trago um lindo presente para ela.
__ Pode deixar que eu entrego.
Depois de me despedir da Gail, sigo até a garagem e pego meu carro, como sei que o senhor Robert adora me vigiar, eu vou ate a garagem do John e troco de carro, assim minha viagem é tranquila, sem rastreador no carro e nem no celular.
__ Bom dia meu gato.
__ Bom dia minha rainha do Nilo, já vai viajar de novo.
__ Vou sim, não aguento ficar aqui muito tempo John, fico doente de lidar com aquele dois ogros.
__ Bem que eu queria a pegada do ogro do Liam, ele é um pedaço de m*l caminho minha rainha, aí chega dar um calor só de pensar nele.
__ John o Liam pode ser lindo, mas é um chato, preconceituoso e arrogante que já conheci, desencana dessa ideia de sonhar com ele.
__ Eu sei linda, mas não custa sonhar só um pouquinho né.
__ Valoriza o Jean, ele é simples mas te ama viu.
__ Eu amo meu baixinho, mas as vezes não custa sonhar com aquele Deus Grego.
__ Aquele Deus grego nunca vai te ver e você sabe disso. Agora cadê meu carro.
__ Está aqui, só não consegui mandar para a revisão, então você vai ter que parar na primeira cidade e ir a oficina.
__ Ele estava bom na última viagem, acho que não vou ter problema.
__ Mas tem que passar na oficina e fazer a revisão gata, não pode esquecer.
__ Está bem eu vou passar. Bom agora deixa eu ir, quero chegar cedo ao meu primeiro destino.
Me despeço do John e logo depois de pegar meu carro favorito sigo o meu destino, a cidade de San Francisco e de lá para a pequena Napa Valey, quero poder levar meu atendimento gratuito a população de mulheres daquela cidade.
Vou ter uma longa estrada pela frente, mas será divertida como sempre, procuro passar por todas as cidades e sempre que posso ajudo a quem precisa, não tenho pressa para chegar ao meu destino gosto de aproveitar cada lugar que passo.
Coloco uma música no som e sigo minha estrada, já fazendo planos de tudo que vou fazer nesses dias que estou fora, pretendo ficar mais dias nas cidades que parar, assim eu consigo atender mais mulheres.
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Quase quatro horas depois, eu estava louca pra parar em Greenfield, acabei passando pelas outras cidades direto o carro estava bom e deixei para passar na oficina aqui que é uma cidade maior, faltando uns dez quilômetros para chegar o carro vai morrendo, morrendo até parar de vez.
Que droga, isso não pode acontecer comigo, porque você me deixou na mão meu amiguinho e no meio da estrada, não é justo viu, poderia ter aguentado mais um pouquinho.
Desço e vou ver se vem algum carro, o sol está quente e nem água eu tenho no carro, estou ferrada se não passar ninguém aqui.
Não entendo nada de carro, já devia ter pedido ao John para me dá algumas aulas, fico na frente do carro e olho para os dois lados da estrada e nem uma alma viva.
Perco até a noção do tempo que fico ali, minha garganta esta seca, o calor está de matar, me levanto e ando em volta do carro e não sei se é um delírio, mas eu vejo um carro vindo, e um medo e uma esperança toma conta de mim, e mesmo que seja um risco eu preciso pedir ajuda. Aceno e logo o carro para ao fundo do meu é vejo que é um reboque, dele desce um rapaz de uns alto, moreno, cabelos negros e os olhos cor de caramelo, está com um macacão sujo de graxa, mas está tão sexy que me deixa parecendo uma nova olhando para ele, se o John acha que o Liam é um Deus grego, ele não conhece beleza, esse cara é lindo.
Dissipo meus pensamentos quando ele se aproxima.
__ Boa tarde moça, está com problemas no carro.
__ Boa tarde, sim ele simplesmente morreu e me deixou na mão, será que você pode me ajudar.
__ Claro, só que não aqui, vou colocar ele no reboque e seguimos a minha oficina, assim eu posso ver melhor o que aconteceu.
__ Tudo bem, desde que consiga fazer ele funcionar de novo.
__ Pode deixar que eu vou fazer. A proposito, sou Thomas.
__ Prazer Júlia.
__ Eu vou colocar o reboque na frente do seu carro e guincha-lo.
__ Tudo bem, se precisar fazer alguma coisa para te ajudar pode falar.
__ Só quando eu colocar ele para subir que quero que o deixe desengatado.
__ Tudo bem.
Ele já vai ate o reboque e da partida, coloca a frente do meu carro e numa rapidez muito grande ele já faz tudo, eu desengato o carro e logo ele já está em cima do reboque.
Vou ao seu encontro e entro no seu carro, sei que a maior loucura que estou fazendo, entrar no carro de um estranho, num meio do nada, mas ele não me parece uma pessoa r**m, então eu vou ter que contar com a sorte e rezar para minhas impressões estarem certas.
Iniciamos a viagem e ele vai os primeiros metros do trajeto calado.
__ Você tem água, estou com muita sede.
__ Tem uma garrafinha aí do lado da porta.
__ Obrigado.
Pego a garrafa e tomo toda, estava morrendo de sede, quando termino ele olha para mim.
__ Você estava com sede hein.
__ Sim, eu fiquei um tempão na estrada e não trouxe água.
__ Está indo para onde?
__ São Francisco.
__ Ainda tem muito que rodar.
__ Tenho, mas vou arrumar o carro primeiro depois sigo viagem. Eu sou médica e faço trabalho voluntário pelas pequenas cidades, então já que vou ter que esperar o concerto do carro, aproveito e faço meu trabalho em Greenfield.
__ Que gesto bonito, o mundo precisa de mais pessoas como você.
__ Temos que pensar no nosso próximo. E você faz o que?
__ Sou mecânico em Greenfield.
__ Então encontrei a pessoa certa.
__ Se vai fazer viagens longas assim procure sempre fazer uma revisão antes, não é muito bom ficar no meio da estrada sozinha.
__ Eu sei, meu amigo me disse que eu tinha que passar numa oficina na primeira cidade, mas eu acabei não parando. Foi uma estupidez mesmo.
__ Nem todas as pessoas tem boas intenções Júlia.
__ Eu sei. Obrigado por me ajudar.
Seguimos o restante do caminho em silêncio, logo já estávamos entrando na cidade, ele segue por algumas ruas e chega a uma oficina, ele já coloca o reboque de re e já desce, eu desço em seguida. Um rapaz já vai ao seu encontro e os dois conversam e ele vem ao meu encontro.
__ Julia hoje não vai ter como eu olhar o seu carro, só amanhã que vou ver qual o motivo que ele parou de funcionar, você tem onde ficar aqui.
__ Tudo bem, você pode me indicar um hotel que eu possa ficar ate o carro ficar pronto.
__ Tem sim. Se quiser eu te levo lá.
__ Não precisa Thomas, só chama um táxi, você já me ajudou demais.
__ Eu faço questão.
__ Thomas, vamos mexer nele hoje.
__ Não Bruno, só amanhã.
__ Oi moça.
__ Olá.
__ Esse é meu irmão Bruno, ele me ajuda aqui na oficina.
__ Prazer Bruno, eu sou a Júlia.
__ Prazer.
Ele fala e já sai, ele se parece muito com o Thomas, mas numa versão bem jovem. Um garoto de uns quinze anos. Vou até o carro e pego minhas coisas e minha bolsa e já deixo um valor a ele para arrumar o carro e mesmo eu insistindo para ele que não precisava me acompanhar até o hotel, ele não me escutou e pegou seu carro e foi me levar e nosso caminho agora fomos num papo mais animado, entre nos está nascendo uma linda amizade, isso é que me faz esta sempre viajando, encontrando pessoas simples e que tem o mesmo propósito que eu, ajudar o próximo sem querer nada em troca.