1- Machucados abertos
... Beatriz narrando ...
Eu acordei no susto com o meu despertador gritando ao meu lado , desliguei ele no mesmo instante e fechei os olhos novamente por mais alguns segundos , eu nao queria acordar daquele sonho bom que eu estava tendo , um sonho que eu era livre para viver a minha própria vida . Abrir os olhos , significava voltar para a realidade , a mesma que batia na minha cara todos os dias .
Eu me levantei da cama , tomei um banho rápido , coloquei uma legging preta colada ao corpo , uma blusinha preta , amarrei meu cabelo num r**o de cavalo alto e coloquei meu tênis de sempre . Eu tava pronta para ir trabalhar , eu trabalhava numa cafeteria na Zona Sul , era o unico momento em que os olhos de Falcão não estavam em cima de mim . Mesmo assim , quando eu recebia o meu salário , eu tinha que dar todo para ele , ele tinha medo que eu tivesse dinheiro e fugisse dele . Como se o meu salário fosse um valor absurdo , o suficiente para fugir desse infern0 .
Eu não conseguia sair desse relacionamento , quando eu conheci o Falcão , ele simplesmente ficou obcecado por mim , do tanto ele insistir , acabei ficando com ele e essa foi a pior escolha da minha vida . A partir desse dia ele nao me deixou mais em paz , e quando eu vi , eu tava dentro da casa dele , presa sob ameaças , surras , xingos , etc .
Ele me ameaçava , dizia que se eu fosse embora , ele mataria o meu pai e eu junto . Para mim seria o favor que ele me faria , me m***r . Mas para o meu pai , eu nao podia deixar isso acontecer com ele , meu pai era um senhor já , ele morava na minha antiga casa com a Filomena , a Filó , ela era mulher dele , uma segunda mãe para mim , mas para eles eu tinha que fingir que eu estava bem , que eu estava feliz . Eles não tinham escolha , a nao ser acreditar nessa imagem que eu passava .
Desde então , a minha vida é essa , trabalho , casa , casa , trabalho . E talvez ela nunca mude , a nao ser que o destino resolva ser bom comigo .
Eu saí do quarto e fui até a cozinha tomar café da manhã , entrei lá e Falcão tava sentado fumando , franzi a testa com o cheiro , sentei na sua frente e ele me encarou .
- Achei que nao ia acordar nunca . - ele disse grosso , eu suspirei .
- bom dia para voce tambem . - eu disse cínica , a minha boca nao conseguia ficar fechada e era por causa dela que eu apanhava tanto .
- não debocha da minha cara Beatriz . Anda logo , que além de te levar eu tenho uns bagulho para resolver na Zona Sul . - o olhei sem entender .
- na Zona Sul ? - perguntei estranhando , o que ele tinha para resolver justo lá .
- é , e voce nao tem nada a ver com isso . - eu respirei fundo e fiquei em silencio .
Comi umas bolachas , tomei um café preto e fui escovar os dentes e ele me levou trabalhar . Eu o olhei antes de descer do carro .
- tchau . - eu disse e ele puxou meu rosto com força e me beijou . Eu odiava o beijo dele , o toque dele , tudo era bruto demais e sempre me machucava ... Ele parou o beijo .
- juízo . - ele disse e eu engoli em seco e desci do carro .
Eu cheguei na cafeteria e fui direto lá para trás , colocar o uniforme , eu era garçonete , quando eu me arrumei , voltei lá para frente e Letícia , minha amiga e responsável pelo caixa , já tinha chegado também .
- bom dia Bia . - ela disse sorrindo e eu devolvi o sorriso .
- bom dia Lê ...
- hoje vai ter que colocar o salto , a cobra da Jussara vem aí hoje . - ela disse e eu respirei fundo , o salto fazia parte do uniforme , mas eu odiava , machucava demais ficar o dia todo de salto atendendo as mesas .
- tudo bem , fazer o quê né ? - ela riu baixo , eu fui colocar o salto e quando eu voltei já tinha uma mesa para atender .
- bom dia , seja bem vindo . - eu disse para um homem que estava sentado ali , ele me olhou e ficou me encarando por um longo tempo , sem dizer nada , eu sorri torto sem graça . - eu posso ajudá - lo ? - perguntei entregando o cardápio .
- claro ... me veja um expresso de avelã por favor e uma quiche de frango . - ele disse me entregando de volta o cardápio sem nem olhar , eu assenti .
- tudo bem , com licença . - eu fui pegar o cardápio e as nossas mãos se encontraram , eu tirei a minha mão rapidamente da dele , peguei o cardápio e saí dali .
Quando o pedido dele ficou pronto , eu voltei a mesa , eu nao tava entendendo porque eu fiquei tão nervosa de atender ele , isso nunca tinha acontecido antes . Talvez porque ele fosse lindo , para Beatriz , quem sabe o Falcão não lê até os seus pensamentos .
Eu respirei fundo e coloquei o pedido dele na sua frente .
- o senhor deseja mais alguma coisa ? - perguntei e ele riu baixo , era um risinho misterioso e rouco .
- o senhor está no céu . Meu nome é Pedro .
- claro , como quiser .
- e o seu nome ?
- é Beatriz .
- muito prazer . Está de bom tamanho a sua ajuda .
- tudo bem , se precisar de qualquer coisa é só chamar , bom apetite . - eu disse um pouco nervosa , ele me olhou de uma maneira penetrante , eu saí dali suando frio .