Prólogo
15 de abril de 2007, essa data é a que marca o dia do meu inferno particular. O que aconteceu nesse dia? Digamos que a minha mãe conheceu um homem e decidiu nos abandonar. Eu, um menino de 9 anos, tive que amadurecer, pois a minha irmã precisava de apoio familiar e o meu pai estava muito ocupado, perdido na sua própria escuridão.
Acreditava que a Juliana amava a vida que tínhamos, ela vivia com meu pai e aparentava ser feliz, mas, eu me enganei, pois ela nem considerou os filhos e nos abandonou quando mais precisávamos dela.
Gradualmente, eu entendi que não poderia chorar, nem sofrer. Assistir à queda do meu pai e, isso me mostrou o quanto era difícil o amor. Meu velho foi ficando violento e se perdendo nas drogas, não conseguia resolver os assuntos do morro e passando um tempo se matou.
O Terror foi fraco, o amor o deixou cego. Não pensou em mim, não pensou na Milena, nem no Gregório. Ele não viu que eu era a p***a de um pivete de 13 anos.
Jurei a mim mesmo que não serei fraco como o meu pai foi. Terror se matou, minha mãe fugiu e acabou morrendo. Os meus irmãos precisavam de um apoio e achou isso em mim e no tio Fernando. Meu tio governou o morro do Alemão com punhos de ferro. Ele cuidou para que tudo fosse perfeito.
Para mim, nada nesse mundo faz sentido. O amor não existe, nenhuma mulher vai me deixar louco, assim como a Juliana deixou o Terror. Ele foi fraco e se matou. A única mulher que tem espaço no meu coração, a única que merece o meu amor é a minha irmã Milena.
Eu me esforcei para criar a minha bonequinha. Dei todo amor e carinho a ela. Minha irmã é a coisa mais importante da minha vida. Ela teve tudo que uma criança precisava e eu nunca deixei nada faltar a ela.
Ainda lembro dos choros da madrugada. Ela era muito pequenina quando fomos abandonados. Eu sou o pai e a mãe da minha garotinha e, por causa dela, sou capaz de fazer qualquer coisa. Mato qualquer um para que ela se sinta segura.
Grego e o meu tio Fernando, eles também têm um espaço no meu coração, mas nada comparado ao amor fraternal que sinto pela Milena. A minha doce irmã.
Hoje, eu tenho 25 anos. O filho mais velho assume o morro do pai. Tem responsabilidades na favela. Todos temem a minha presença. Sou conhecido pela minha frieza. Não tenho muitos amigos e não ando de sorriso por aí.
O mundo sombrio me conhece pelo vulgo de “Falcão”. A minha visão é cirúrgica. Sou capaz de detectar presas mesmo que a quilômetros de distância; tenho velocidade e agilidade na hora do combate e consigo capturar os meus adversários e surpreendê-los; as minhas garras sempre estão bem afiadas quando estou de frente para uma possível ameaça; todos os meus passos são milimetricamente planejados; os meus instintos de caça são bem apurados, isso me permite construir estratégias na hora de identificar os meus alvos; a minha comunicação é imponente e todos ao meu redor fazem o que quero, não sou contrariado por ninguém.
Sou o Falcão, o dono do morro, um homem arrogante e metido. Não me importo com opiniões e não sinto piedade de nada, nem de ninguém. Nada toca o coração de um homem endurecido.
A Milena costuma dizer que tenho 25 anos, mas a minha mente é de um idoso de 70 anos que reclama de tudo e que nunca sorrir. Amo exercer controle sobre tudo o que faço e não me dobro a nada, nem a ninguém.
Sobre a minha vida amorosa? Digamos, que eu nunca terei filhos, nunca me casarei. A minha vida amorosa se resume a uma f**a casual na qual esqueço o seu nome no dia seguinte. Não sou o homem que um pai aceitaria para a sua filha. Sou especialista em parti corações e molhar calcinha.
Não existe nesse mundo, nenhuma mulher capaz de entrar no meu coração. Nunca serei fraco como foi o Terror. Meu pai foi um bom líder, mas o amor o tirou do foco. O amor o tirou de mim e dos meus irmãos. Sinto dentro de mim uma raiva pelo egoísmo dos meus pais.
Terror se matou e não colocou na balança que eu e meus irmãos precisávamos dele. Juliana nos abandonou por um homem e esse foi mais importante do que eu e meus irmãos. Não deixarei os meus irmãos em segundo plano, não vou me apaixonar por ninguém para que eles não padeçam. Meus irmãos são minhas prioridades e por eles sou capaz de tudo.
Não me arrependo do que me tornei. Sou aquele tipo de pessoa que sempre acredita que sabe tudo melhor do que os outros. Minha arrogância é algo que me define, e raramente deixo alguém esquecer disso. Não tenho paciência para ouvir opiniões divergentes, pois minha visão é sempre a correta, e as ideias dos outros são, na maioria das vezes, inferiores.
Sou um controlador nato. Gosto de estar no comando, de dirigir todos os aspectos da minha vida e, se possível, também da vida dos outros. Não consigo lidar com situações em que não tenho controle, e isso me deixa ainda mais irritado e ranzinza. Afinal, como alguém ousa desafiar a minha autoridade?
Minha natureza ranzinza me faz reclamar constantemente. Encontro defeitos em quase tudo e todos ao meu redor. Nada é bom o suficiente para mim, e as pessoas costumam evitar minha presença, temendo minhas críticas ácidas e meu temperamento explosivo.
No fundo, talvez eu seja assim por uma profunda insegurança que tento encobrir com um manto de superioridade. Mas admitir isso é algo que minha arrogância simplesmente não permitiria. Então, eu continuo sendo o homem arrogante, controlador e ranzinza que sou, acreditando que sou o melhor, mesmo que isso signifique estar sozinho em meu pedestal de amargura.
O Falcão nunca amará, não acredito em destino, não acredito em amor. Não confio em sentimentos que possam me fazer parecer um i****a disposto a perder o controle e se submeter a alguém. Sempre serei assim e mesmo sendo vazio, eu me sinto bem por ser desse jeito.