DIA m*l

2885 Words
Era uma linda noite, uma quarta-feira perfeita, eu passei a manhã arrumando a casa e cantarolando, eu amo cantar, isso me ajuda e me mantém perto dos meus pais quando eles não estão. À tarde eu fui até o jardim e colhi os girassóis mais lindos, essa é a minha flor preferida, eu estava tão feliz que parecia até impossível que algo fosse capaz de destruir aquele dia. No início da noite eu comecei a fazer a janta, preparei a mesa e contava as horas para ter meus pais comigo, do meu lado, porém eles não chegam, eu me vesti, me sentei a mesa e olhei no relógio que marcavam 20 horas e nada, ninguém aparecia, o meu coração estava tão apertado e algo me dizia que uma grande tempestade se aproxima, eu tenho certeza disso, talvez eu não consiga ficar de pé, mas quero ter fé. Não quero pensar no pior, não posso pensar no pior. Me levanto da mesa e me deito no sofá e acabo vencida pelo sono. Acordo assustada ao ouvir o som do telefone, abro os olhos e vejo que o relógio marca 01:40 da manhã e nem sinal dos meus pais ali. Eles não apareceram, o telefone toca e novamente sinto uma dor no peito, respiro fundo e pego o telefone Ligação ON - Alô Telefonista: Residência dos Thompson?  - Sim, em que posso te ajudar? Telefonista: Senhora, eu lamento, mas aconteceu um grave acidente, parece que o  cara do senhor e senhora Thompson colidiu com uma carreta e eles não sobreviveram. A senhora precisa comparecer aqui no hospital da cidade para resolver as burocracias… Ela diz e meu coração aperta, a dor é tanta, as lágrimas rolam e eu desligo o telefone Ligação OFF _ NÃO, EU NÃO POSSO ACREDITAR, ISSO É UM PESADELO, EU VOU ACORDAR… Grito desesperada… - Meu Deus, por que isso? Os meus pais não, como eu vou viver assim, sem eles… As lágrimas caem novamente molhando meu rosto, e eu perco o controle das minhas pernas. Logo escuto uma voz vindo da porta, parece ser a Dona Virgínia e o seu esposo Senhor Demetrio  Virginia: Minha filha? O que está acontecendo? Abre a porta Demétrio: Menina, cadê seus pais? _ Não tenho forças para levantar, não posso, não consigo dona Virginia  Virginia: Menina, só faça abrir a porta para mim, deixa eu te ajudar… Ela me disse e eu levantei e abri a porta da casa e quando olhei para dona Virgínia e ela me abraçou eu me desabei em lágrimas. _ Eles se foram, não tenho mais os meus pais perto de mim, o que vai ser de mim agora dona Virginia? Como vou fazer agora? O que vai ser de mim, eu não aprendi, eu não desenhei um mundo sem eles, eu não posso, eu não consigo. Tá doendo tanto senhor Demétrio, como eu vou me sentar nessa mesa para comer? eles não estarão aqui, como vou sentar no sofá e esperar o meu pai para juntos assistirmos ao filme? Ele não virá, como vou pedir à minha mãe para pentear meu cabelo quando estiver com preguiça? Ela também não estará. Digo e as lágrimas molham o meu rosto  Demétrio: Calma menina, você precisa se acalmar, eu preciso que me diga o que está acontecendo _ Meus pais estão mortos, eles me ligaram e disseram que aconteceu um acidente de trânsito e eles não sobreviveram, eles querem que eu vá até o hospital da cidade, só que eu não tenho forças para ir lá, não consigo senhor. Demetrio: Me diz onde está os documentos do seu pai que eu vou até lá, vou reconhecer os corpos deles e resolver tudo para você, por enquanto fica ai com a Virginia  _ Muito obrigado Senhor, não sei como agradecer por isso, não tenho forças para ir lá. Demetrio: Só me diz, onde ficam os documentos deles? _ Lá em cima, na segunda porta a direita é o quarto dos meus pais, o senhor pode pegar na última gaveta da cômoda… Eu disse e ele saiu dali indo até o quarto e eu fiquei com a dona Virginia  Virginia: Menina eu sei que você é bem novinha, também sei que está sendo uma barra para você, mas acredite que Deus sabe de tudo e conhece as pessoas, ele jamais daria um fardo que você não suportasse. Confie que no fim dessa escuridão haverá uma luz. _ Dona Virgínia, eu não vou conseguir, eu não tenho forças, eu não imaginei esse mundo sem meus pais comigo. Virginia: Ninguém está preparado para esse evento chamado morte, não queremos perder a quem amamos, mas infelizmente as coisas não são como queremos e o importante é ter força, você precisa ter força pelos seus pais, eles não iriam querer te ver assim, seja forte menina, Deus vai te ajudar. _ Obrigada pelas palavras, eu prometo que vou tentar ser forte… Digo me levantando e saiu dali e vou até o quarto dos meus pais, me deito na cama e fecho os olhos, na minha mente passa um filme, eu me lembro de tanta coisa, de como a gente era feliz, eu acho que não vou conseguir, como vou viver aqui? Essa casa não tem sentido sem meus pais aqui, eu não consigo ficar aqui, tudo aqui lembra a eles, essa cidade lembra a eles e eu não posso ficar assim, se não vou morrer de tanta tristeza, me afundando nesse sofrimento. Penso enquanto olho para o céu e as lágrimas permanecem caindo, os pensamentos permanecem neles. Eu passo a noite toda em claro, vir o sol nascer e clarear o quarto, mas ele não conseguiu iluminar a escuridão que havia em mim, eu estava a beira do precipício, a minha mente parecia uma máquina, a noite toda tentando me enganar e achando que meus pais voltariam, porém isso não vai acontecer, eu estou sozinha, nessa casa não tem espaço para mim, a vida tem surpresas preparadas para mim, eu não estou preparada, eu não conheço nada da vida, porém vou precisar sobreviver e a única forma de eu conseguir e saindo daqui, recomeçando a minha vida do zero. Levanto da cama e vou direto para meu quarto, lá eu tiro a minha roupa e parto para o banheiro, ligo o chuveiro e me sento no chão de cabeça baixa, a água quente cair sobre os meus ombros e eu tento relaxar de olhos fechados, fico ali por uns 30 minutos, até que desligo o chuveiro, pego a toalha e me enrolo, saiu dali e vou até meu armário, visto uma calça jeans preta, uma camisa marrom, um capote com capuz e um tênis, prendo os cabelos para trás e me olho no espelho, tentando conversar comigo mesma. _ Elizabeth, você precisa ser forte, eu sei que você só tem 22 dois anos e que talvez não tenha se planejado para esse momento, para essa dor, você nem sabe como vai viver nesse mundo tão c***l e cheio de monstro acho que não vou durar muito, mas tudo bem, eu posso tentar, espero que os meus pais não me abandonem, preciso enfrentar esse momento, mesmo sabendo que será difícil. Saio dali fechando a porta do quarto e desço as escadas, na sala o Sr e a Sra pattinson, eles estavam me esperando Virginia: Menina Beth, você precisa tomar café _ Não consigo, vamos logo, eu preciso acabar com isso, preciso colocar um ponto final nesse episódio trágico… Digo e a senhora Virgínia se aproxima me abraçando   Virginia: Tudo bem, então vamos menina… Ela diz me abraçando e em silêncio caminhamos para fora da casa, eu conseguir perceber que todos ali me olhavam com dor e isso me deixa ainda pior, não gostava que as pessoas tivessem pena de mim ou me visse como pobre coitada, eu não sou uma pobre coitada… Penso enquanto entro no carro do senhor Pattinson, ele dirige em alta velocidade até o cemitério da cidade e no meu pensamento só vem o medo, a angústia de saber que esse momento se aproxima, mas dele eu não posso correr.  Depois de minutos o sr Demétrio estacionou o carro e eu respirei fundo, ele abriu a porta e me disse Demétrio: Pronta Elizabeth? _ Pronta eu nunca estarei, não há como se preparar para isso. Demétrio: Realmente, não tem como se preparar, mas tem que passar menina e você vai passar por isso, vai ficar bem no final _ Tenho fé que tudo vai ficar bem… Digo saindo dali e vou caminhando sozinha até o local onde estava os caixões dos meus pais, só ali a minha ficha caiu, eu fui caminhando enquanto até perto e as lágrimas começaram a molhar meu rosto e quando estava bem próximo, eu me joguei por cima do corpo da minha mãezinha… _ Por que isso tá acontecendo com a gente? Por que a senhora está me abandonando? Eu não vou saber, não consigo sem você, não posso, não tenho forças, me ajuda mãe, eu sou só uma menina, não consigo ver meu mundo sem vocês, eu to completamente perdida e o pior é saber que você não vai voltar, eu não vou ter de novo, não por agora, minha doce e linda mãezinha, sem seu sorriso, sem seus beijos, os seus conselhos, abraços eu estou perdida, eu prometo que vou tentar ser feliz, mas acho que não há essa possibilidade na minha  vida… Digo e me levanto, viro para meu pai e lhe dou um beijo no rosto… _ Se eu soube que seria a última vez, que não tínhamos mais tempo, eu tinha feito tudo diferente, eu tinha dito eu te amo, tinha lhe abraçado forte, não tinha deixado você ir, mas eu não poderia prever isso, não tinha como prever que é o fim, que agora eu seguirei sozinha nesse mundo, sem você para me proteger e me guardar, eu não tenho força pai, eu to fraca e vulnerável, não sei por onde começar, não consigo me conformar com isso, nem sei se serei feliz novamente, talvez eu não seja nunca mais, pois dentro de mim a um vazio tão grande, não tenho mais nada, mais ninguém, eu estou sozinha nesse mundo cheio de monstro… Eu digo e viro para minha mãe… _ Como a senhora me disse minha mãe, o mundo é cheio de monstros, eu não sei lutar contra eles, não fui preparada, não deu tempo… Digo e as lágrimas caem com mais forças e ali me jogo no chão em completo desespero. A dona Virgínia se aproxima e tenta me tirar dali. Virginia: vem menina, você precisa se acalmar, _ Não dar, eu não suporto, essa dor é muito forte, eu quero ir com eles, me deixem ir com eles, não vou suportar viver aqui… Me levanto e começo a falar bem alto para todos ouvirem… _ Vocês que estão aqui hoje, que vinheram prestar as ultimas homenagens aos meus pais, escutem o que digo, não deixem para o amanhã, diga agora que ama, que sente saudade, abrace, seja feliz e aproveita enquanto tem tempo, pois quem tá do seu lado hoje, pode não tá amanhã, e quando chega nesse momento de dor e sofrimento passa um filme na cabeça da gente, um sentimento de culpa, por não ter dito tudo ali enquanto tive tempo, por favor me escutem, ama grande, vivi com intensidade e procurem ser feliz…. Todos me olham ali,  do meu rosto cai  lágrimas e a dona Virgínia me abraça novamente. Virginia: calma minha menina, você é forte, os seus pais estão muito orgulhosos de ti, tenho certeza que eles vão cuidar de você lá de cima. _ Obrigada Dona Virgínia, eu não sei o que seria de mim sem a senhora  Virginia: Eu poderia te deixar sozinha nesse momento… Ela diz e tenta enxugar minhas lágrimas com o dedo…. Nesse momentos os homens se aproximavam do caixão fechando-os  para colocar  nas covas. _ O que vocês estão fazendo? Esperem mais um pouco, eu não quero ficar sem eles, dona Virgínia pede para eles levantarem, isso é uma brincadeira, não pode ser verdade. Virginia: Menina, infelizmente é verdade, não podemos mudar isso _ Por que? O que eu fiz? Do que estou sendo castigada? Qual foi o meu delito? Os dois de uma vez só, eu não vou suportar… Digo enquanto ele fecha o caixão e leva até a cova… Ali eu já não estava mais em mim, estava presa em um mundo vazio e escuro, escutava tudo, mas não via nada, eram apenas borrões, eu comecei a me tremer, o coração acelerou, as pálpebras ficaram pesadas, não conseguir me manter acordada. Desperto com uma grande claridade e quando olho ao meu redor, estou em uma cama de hospital, tento me levantar, mas não consigo e nesse momento a dona Virgínia se aproxima Virginia: Graças a Deus, você acordou menina _ Dona Virgínia, onde estou? O que aconteceu? Eu tive um pesadelo horrível, nele os meus pais estavam mortos… Ela me olha triste e eu caiu na real que não foi um sonho… _ Não foi um sonho? Eles realmente estão mortos? Virginia: Sim, eles estão… Ela diz e eu fico em silêncio ali, só analisando o que iria ser de mim, eu não sei como vou fazer, não vou conseguir manter a casa, as despesas, eu sei que também não vou conseguir um emprego aqui, também não dá para ficar naquela casa sem meus pais. Eu vou me tortura lembrando deles, lembrando que as pessoas vão querer me ajudar por pena. _ Dona Virgínia, eu agradeço muito por tudo que a senhora e o seu Demétrio fez por mim, mas agora eu preciso ficar só, preciso analisar que rumo darei na minha vida, a senhora entende? Virginia: Sim, eu entendo e espero que fique tudo bem… Ela diz saindo e me deixa ali… eu fico analisando o que vou fazer da minha vida, até que o médico aparece para me ver Doutor: Como está minha paciente? _ Estou bem doutor Doutor: Pronto, eu vou te dar alta… Ele diz e o seu telefone toca… _ Um segundo, preciso atender é a minha esposa… Ele diz e se levanta se afastando, mas eu consigo ouvir a conversa e pelo visto a esposa dele diz algo relacionado a uma seleção de emprego que vai acontecer em New York…. Tento escutar mais, só que não consigo e ele logo volta… _ Pronto mocinha, onde estávamos? _ Na minha alta Doutor: Sim, vou assinar e você está livre. _ Doutor, espera? Me desculpas, mas eu acabei ouvindo a sua conversa e o senhor estava falando de uma seleção de emprego, eu fiquei interessa  Doutor: Sim, a grande multinacional Company's John, parece que o jovem bilionário Oliver Johnson está precisando de uma nova secretária particular, já que demitiu a última - Quando vai acontecer essa seleção? Como Participar?  Doutor: Vai acontecer na cidade de Nova York menina, para participar você precisa ir para a entrevista que irá acontecer amanhã, pelo que minha esposa disse já tem gente dormindo na fila. _ Tudo bem, eu vou participar. Doutor: Como vai fazer isso menina, você não tem experiência ou tem? _ Não tenho, mas vou tentar, eu não tenho nada a perder… Digo saindo dali… Eu precisava me organizar, não posso ficar aqui nessa cidade, preciso refazer a minha vida…. Penso enquanto caminho pela rua. Depois de alguns minutos eu volto para casa e logo entro, vou até meu quarto e pego as minhas roupas, coloco todas na minha mala, abro o computador e começo a pesquisar sobre a empresa, vejo que ela é do ramo das construções e que é responsável pelas principais obras no país e no mundo, anoto o endereço e desligo o computador… Eu preciso sair daqui agora, para arranjar um lugar para dormir e guarda as minhas coisas, pelo menos guardar antes de ir para entrevista. Vou até o quarto dos meus pais e pego algumas roupas da minha mãe, uns sapatos altos, as maquiagens, pego os cartões do banco e a quantia que eles tinham guardado na gaveta… Depois de calcular percebo que tenho dinheiro para ficar os primeiros 3 meses lá.  Saiu daquele quarto e caminho pela casa toda tentando gravar na minha memória cada canto dela, de como fui feliz aqui… Puxo a minha mala e saiu fechando a porta… Olho para o céu e seguro as lágrimas… Caminho pela rua até achar um táxi, entro e peço para ele me deixar no aeroporto.  Taxista: Pronto moça, chegamos ao seu destino _ Obrigada, quanto custou a viagem Taxista: 20 dólares… Eu abrir a bolsa e lhe dei 20 dólares… Peguei minha mala e fui arrastando para dentro da rodoviária, parei na bilheteria e comprei a minha passagem  O ônibus estava previsto para 10 minutos, eu sentei e abaixei a cabeça, estava esperando e como previsto às 15:10 o ônibus chegou e eu entrei sem olhar para trás, eu estava cheia de esperança de que ia conseguir me refazer, eu queria me refazer.
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