Descoberta

848 Words
A mãe dormia profundamente. Esperaria ela acordar. Juno voltou para o seu pequeno quarto. Puxou uma mala do guarda roupa, tinha adiado por dias essa etapa, mas precisava começar a organizar sua mudança, ou Saiko a levaria só com a roupa do corpo. Ele era bem capaz disso, era capaz de tudo, aquele homem. Se lembrou do rosto dele, percebeu que ainda não sabia se o achava bonito. Estava perdida, isso sim. Como se estivesse em uma ilha deserta, e não soubesse como encontrar a saída. Além de tudo, não sabia como se comportar depois do casamento. Se olhou no espelho. Juno nem se achava bonita, não usava maquiagem, porque o primeiro namorado não permitia, e devido às proibições, perdeu a vontade. Jackson, a quebrou de todas as formas para o amor. Focou no espelho. Odiava os cabelos, porque Jackson puxava com força para lhe causar dor, esse foi um dos motivos pelo qual cortou em chanel, mas cortou também para provocar Saiko. Na cultura japonesa o cabelo de uma mulher era importante. E dentro da organização de Saiko, somente as viúvas usavam cortes curtos, simbolizando a liberdade ou a solidão. Mas no fundo Juno desejava que Saiko morresse, assim podia viver em paz com a mãe. Abandonou a mala de roupas. Não conseguiu terminar. Foi se sentar na varanda olhando o sol nascer. A mãe alisou o cabelo dela. Tinha acordado. – O que houve com Jackson, Juno? Estava morto, mas a mãe não sabia. Juno nem mesmo contou para mãe sobre as agressões que sofria. Ela conheceu Jackson aos quatorze anos, era um namoro de adolescentes. Ele foi o melhor namorado por algum tempo, mas no momento em que se entregou para ele, o inferno de Juno começou. Esconder da mãe não foi fácil. Juno inventava desculpas, se escondia na casa das amigas, como a mãe trabalhava muito, Hagabi não percebeu a violência que a filha sofreu. Quando Jackson quebrou o seu braço, Juno inventou uma viagem da faculdade e ficou na casa de uma amiga. Quando estava com o olho roxo, inventava um serviço de babá. Odiava mentir para a mãe, mas não teve escolha. Foi para salvar a pouca dignidade que ainda tinha. Será se ainda tinha dignidade? E agora no seu caminho tinha Saiko. — Só acabou mamãe, mas foi melhor assim. Agora tenho que enfrentar o Saiko. A mãe suspirou. — E não podemos fugir, Juno. __ Não, mamãe,seria pi.or. — O que Saiko quis dizer? —Juno.. — Esconde alguma coisa e preciso saber o que é. __ Preciso olhar as panelas. A mãe fugiu depois dessas palavras. Mas Juno foi para a cozinha também. __ Mamãe. Por favor! Saiko está com raiva e não sei porquê. Me conte a verdade. Pelo amor de Deus, o que vai ser de mim? Isso convenceu Hagabi. — Já morei na ilha, Juno. __ Na ilha que Saiko comanda? — Eu deveria ser uma rosa da Yakuza, minha filha. Juno deixou o copo de água cair. — Mamãe. __ A minha mãe era mulher de um m£mbro da Yakuza, mas o meu pai era terrível. Ela fugiu quando eu tinha doze anos, vivemos em um situação precária, sempre fugindo, correndo para que ele não a encontrasse. Foi assim, até que ela adoeceu, um ano depois que fugimos. Lutou contra a doença, mas a sua avó acabou morrend0. A cabeça de Juno rodou, precisou se sentar. — Com quem você ficou? depois que a sua mãe morrreu. A mãe balançou a cabeça. __ Sozinha, Juno. Tínhamos mudado de nome, e minha mãe, quando morreu, trabalhava em uma casa como empregada, não era uma família rica, mas sim mesquinha. Fiquei por lá até engravidar do filho do patrão e ser expulsa daquela casa. Juno passou a mão no rosto. A mãe não era uma viúva solitária, e Juno descobriu que nem sabia de verdade quem era seu pai. Juno se levantou.. Sem saber o que pensar. — O seu avô, o homem que foi casado com a minha mãe, tinha um acordo com a família de Saiko. O avô de Juno, que era o pai de Hagabi, mas Hagabi não gostava de pensar nele assim, como pai e avô. __ Que acordo ? — Os primeiros netos se casariam. — Eu e Saiko, mamãe? __ Isso, Juno. Juno escorregou para o chão. __ Por que não me contou? Me deixou namorar com Jackson, agora Saiko tem raiva. — Oh, minha filha, eu, não sabia, não fazia ideia que ele conseguiria nos encontrar. Eu não sabia. Com nomes diferentes, você nem tem características tão marcantes assim, porque o seu pai não é japonês. Juno suspirou. __ Vou ficar longe de tudo, só com ele. Só com o Saiko. O chamavam de demônio japonês e não era atoa. — Eu vou junto. Eu me caso com quem for, se eu não puder proteger você, sofremos juntas, minha filha. Saiko respeitava a tradição, e tinham quebrado uma. Uma rosa da Yakuza maculada pode ser remendada? Juno não acreditava que ainda servia para ser uma esposa. Muito menos uma rosa.
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