Ozan

1057 Words
Ela se vira e a vejo tropeçar em seus próprios pés. Eu chego a me erguer da cadeira para ver se ela precisa de ajuda, mas como uma criança que se levanta sem chorar, ela se ergue sozinha e sai apressadamente do meu escritório. Eu seguro o riso por um momento, mas não aguento por muito tempo e começo a rir alto. "Allah! Espero que eu tenha feito a coisa certa contratando essa garota." Imagino então a cena do café e rio mais. Passo a mão nos olhos enxugando as lágrimas de tanto rir, por fim me controlo. E começo a pensar nos reais motivos que me levaram a contratá-la: Sofia parece inofensiva. Do tipo que irá trabalhar ao meu lado sem ficar lançando seu charme sobre mim. Eu seria um hipócrita se dissesse que a atitude das mulheres em querer me conquistar não afaga o meu ego, mas o problema é quando elas extrapolam com decotes, roupas apertadas e insinuações, e eu não tenho paciência para lidar com isso. E mesmo porque, não gosto de misturar trabalho com lazer. Até pensei em contratar um homem. Mas não sei, parece meio gay, um cara aqui, o tempo todo comigo, me servindo.... Olho novamente o currículo de Sofia e leio seu sobrenome: Rodrigues Katsaros. —Katsaros —repito. Esse sobrenome me parece familiar. Ele não me é estranho... Solto o ar e lanço um olhar para o meu relógio de ouro. Seis da tarde. Quando penso em ir para casa logo me vem a imagem do meu velho no meu pé para eu me casar. Sinto falta dele. Sua morte não foi algo repentino. Já esperávamos por isso. Ele estava lutando muito tempo com um câncer, e já estava em fase terminal. Penso em nossas conversas e em suas cobranças em que ele queria que eu me casasse. Eu me casar? Em seus últimos dias o assunto mais falado era esse. Ele me cobrava muito essa atitude de conhecer alguém e me firmar em um relacionamento. Allah! Mas só de pensar nisso me dá urticária. Depois do que eu passei com Ayla? Casamento é uma loteria e eu não estou disposto a me arriscar novamente. Ayla me deixou um sentimento de frustração muito grande. Ela impregnou minha alma de n***o, de um jeito que até hoje eu não me recuperei. Só de me lembrar em tudo que passei, eu me sinto m*l. Fui muito massacrado, desgastado pelas lutas que enfrentamos no nosso casamento. Não! Estou bem. Por que me casar? Já tenho um filho e posso ter a mulher que quero. Solto o ar com angústia quando me vem a imagem da doce Ayla, mas que não era tão doce assim.... Sensata, carinhosa, inteligente, linda e vibrante. Era os predicados que ela carregava e eu me apaixonei por ela. Aqueles olhos grandes acinzentados, aquela boca carnuda na minha, me deixava fora de mim. Três meses de namoro, um mês de noivado e eu vivi os dias mais felizes da minha vida. Então nos casamos. Lembro-me bem desse dia e como fiquei feliz em pegar sua mão esquerda e deslizar a grossa aliança de ouro no seu dedo anelar, fiz questão de comprar a melhor. Ela era toda cravada de diamantes. Escolhi essa pedra porque o diamante é um símbolo universal do amor: resistente, belo, iluminado. Solto o ar com angústia. Nossa lua-de-mel foi escolhida por ela. Passamos quinze dias maravilhosos na Baía Maya, na ilha Phi Phi Leh, no sul da Tailândia. Seus atributos naturais são tão magníficos que nos sentimos como se estivéssemos no paraíso. Mas então chegou o dia que tivemos de voltar para casa e a rotina se fez presente, foi aí que eu comecei a conhecer com quem me casei. Não demorou muito para sua máscara tranquila cair e eu descobri um predicado em Ayla até então desconhecido por mim: ela tinha uma ânsia de viver tão grande que chegava a ser exaustiva. Logo começaram as cobranças. Por ela sairíamos todos os dias: jantares, festas, teatros, óperas, recitais... Ela não se sentia nada tocada em me ver exausto pelo meu dia puxado de trabalho. Se levantava contra meu desejo de apenas tomar um banho relaxante na minha enorme banheira, beber meu scotch puro e ficar em casa de pijama com a minha, "não tão", adorável esposa. Com minhas negativas Ayla começou a se sentir infeliz ao meu lado. Mesmo cercada de luxo e empregados ela se sentia numa gaiola dourada. Os meses se passaram e eu administrando tudo isso sem saber muito bem o que fazer. Para não viver sempre em pé de guerra, eu acabava fazendo algumas de suas vontades. Mas isso não foi o suficiente. Ela então começou a inventar viagens nos finais de semana. Os temas eram sempre mirabolantes como descer o rio Juquiá em botes infláveis liderados por um condutor que ela dizia ser muito experiente. Nos enfiar no mato e fazermos trilhas na selva. Um dia ela inventou de descermos de Tirolesa Superman em Brotas. Eu ri muito nesse dia e dei-lhe minha resposta sarcástica: —Tirolesa" Superman? Sinto sevgili(querida), mas não tenho nervos de aço. Allah! Aquela mulher adorava sempre viver no fio da navalha. Ayla não tolerava monotonia, vivia tendo reações estouradas com as minhas frequentes negativas e isso só piorava nosso casamento. Vivíamos brigando! E o pior que a maldita era articulada nas palavras. Ela fazia um teatro tão grande que conseguia fazer com que eu me sentisse culpado, uma alma velha por não acompanhar seu ritmo: eu o carrasco e ela a donzela injustiçada e amargurada. Uma coisa era boa. Depois das brigas acabávamos resolvendo tudo na cama, mas isso até ela inventar outra coisa. As coisas só melhoraram quando ela ficou grávida e descobriu através de um exame de ultrassom que sua gravidez era de risco. Então minha linda esposa teve que se aquietar. Seu conformismo pela situação melhorou muito o nosso casamento e eu voltei a ter paz e me senti mais pleno. Pensei até que as coisas melhorariam entre nós, mas então minha alegria durou pouco quando Ayla sofreu um acidente com um dos nossos carros esportes por estar dirigindo em alta velocidade. Nosso filho de um ano, por pouco, não morreu. Ficou internado com seu braço direito quebrado. Ayla, não teve a mesma sorte, sofreu traumatismo craniano e perdeu sua vida.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD