Amélia serve sua última mesa da noite e se sente aliviada por isso. Ela sorri para o casal que nunca tivera visto em HILLS VALLEY. Por conta das reformas e das descobertas recentes das cachoeiras, a cidade de quase 2.500 habitantes tem recebido bastante visitas. Os negócios estão indo bem e até agora os moradores não tiveram problemas com nenhum turista. Isso é bom.
Orgulhosa de si mesma por causa de suas vendas ela vai até a cozinha do bar do Tom onde trabalha. Amélia é garçonete do bar. Trabalha pelas manhãs e troca de turno no final da tarde, mas hoje tivera que ficar até mais tarde por conta de seu colega da noite que faltou mais uma vez.
O bar do Tom é bem interessante. De dia calmo, aconchegante e bem família. A noite se torna um caos. Um verdadeiro bar. Os mais briguentos da cidade se reúnem para jogar sinuca e beber como "machos" de verdade fazem. Garçonetes e garçons do turno da noite são mais ousados desde suas atitudes até suas vestimentas.
Amélia não fazia nada disso. Claro. Mesmo quando precisava ficar até tarde. Ela sempre fora recatada. Não era muito ousada e estava sempre bem tímida. Seu celular toca pela milésima vez e ela começa a ficar preocupada. Seu marido, Jason, está ligando.
Jason é bem possessivo. Principalmente com Amélia. Ele controla cada passo que a mulher dá e quer saber onde ela está a qualquer momento. Ele tem muito ciúme dela e não deixa que ninguém chegue perto. Todos na cidade conhecem bem o quão abusivo Jason pode ser e muitos concordam com suas atitudes.
Com as mãos trêmulas, Amélia pega o celular e atende. O medo se instala em seu corpo, mas isso é algo habitual para ela. Viver com medo e pavor de seu marido já é rotina para a Amélia. Dar satisfações e fazer o que é correto para agrada-lo também. É para isso que serve uma boa esposa, ela e todos pensavam.
– Oi, Jason. Eu já estou acabando aqui. Prometo que já estou indo para a casa.
– Vem agora, Amélia. Não quero você aí até tarde. Chega. Se tiver que ficar novamente diga não ao Tom.
– Jason. Você sabe que não posso. É meu trabalho.
– Você me escutou. Dá próxima vez, você fala não e vem para a casa. Tem muitos afazeres aqui e você tem que ficar com as crianças. É seu papel. Ou então você pede demissão.
– Eu sei, eu já estou indo para a casa.
– Já estou indo, não. Vem agora!
Jason desliga o telefone e ela respira fundo. Estava prendendo a respiração por conta da tensão. Ela tira o avental e move seu pequeno e delicado corpo até o bar. Passa pela porta vai e vem e encontra Tom debruçado na bancada conversando com uma linda mulher. Há uma caneca de Chopp em sua frente e ela esboça um lindo sorriso. Esteve ali quase a noite toda e parece estar visitando a cidade. A mulher de olhos vibrantes castanhos e cabelos da mesma cor prende os fios e saboreia sua bebida encarando o dono do bar
Tom é um homem alto e bem magro. Ele é do tipo roqueiro, possui uma barba grande e bigode. Usa calças jeans rasgadas, camisa de banda, all star e blusa de couro todos os dias. Tem várias peças assim. É um homem bonito e atraente.
Amélia limpa a garganta atrás dele interrompendo a conversa e Tom já percebe em seu rosto que Amélia quer lê fazer um pedido e sorri ameno. Ele já diz sim com seus olhos antes mesmo de ela dirigir toda sua doçura a ele. Tom não entendia como uma mulher tão doce poderia ser casada com um homem tão rude como Jason.
– Tom, eu sei que ainda tem um casal ali, a moça e que ainda não fechamos, mas se importa se eu for embora? O Jason... Ele precisa de mim em casa. E a minha Clarinha também. Ela está agitada... – Pede gaguejando e não consegue nem terminar de dizer.
– Você já me ajudou muito hoje, Amélia. Não precisa pedir permissão. Pode ir. Eu sei que seus filhos precisam de você. – Amélia se sente aliviada pela resposta e sorri para ele bem agradecida – Eu queria que ficasse até o final. Eu pretendia te deixar em casa. Está tarde, Amélia.
– Oh, seria ótimo, mas eu não posso. – Diz com medo de Jason implicar com ela por causa de mais demora.
Tom olha para a escuridão lá fora e para alguns homens briguentos que acabaram de sair do bar. Eles ainda rodeiam a área e não estão nada sóbrios. São todos conhecidos, mas Tom não confia em nenhum homem sob efeito de álcool, ainda mais quando se trata da Amélia.
– Fique, eu falo com Jason. Comigo ele não vai implicar. – Tom olha para o casal já se ajeitando para ir embora e aponta – Eles já estão de saída, mais 15 minutos e já saímos. – Diz notando que a mulher a sua frente também está de saída, pois pega um dinheiro na bolsa e sorri para ele.
Amélia assente que sim, mas fica preocupada. Ela estava preparada. Queria ir para casa o mais cedo para que Jason não brigasse com ela, mas também sair andando no meio de uma estrada e floresta para ir até sua casa também não parece uma boa ideia, ainda mais com alguns homens bêbados por aí.
Amélia mora em uma cabana bem bonita. Toda feita em madeira e bem espaçosa. Era da sua mãe. Angela, havia ganhando de um velho rico que conheceu antes de seu pai, mas nem a própria Angela sabe sobre disso. Estava bêbada no dia e sempre conta que ganhou a cabana no sorteio de um bingo. Depois que a mãe se mudou para a cidade grande deixou para a filha como presente de casamento.
Amélia estava ótima por casar-se com Jason. Estava ansiosa e achou que viveria um sonho. Jason era apenas um turista quando chegou a cidade. Vinha visitar e pescar com seu pai até que pôs os olhos em Amélia. A doce e delicada Amélia. Cabelos loiros claros, lisos com leves ondas, olhos grandes, bem redondos, chamativos e encantadores. Não tem outra palavra. São encantadores. São castanho-claros. No tom perfeito. Nariz fino e de gente fresca, mas de fresca ela não tem nada. As maçãs do rosto são delicadas e avantajadas. Um tom de pêssegos natural. Sorriso pequeno, mas lindo. Lábios finos e graciosos. Rosto harmonioso e afetuoso. Tudo combinado. Pescoço fino e sexy. Ah, coitada. Ela nem sabe disso.
Seu corpo? De uma verdadeira Deusa. Uma Barbie. Nunca entrara numa academia, mas tem coxas bonitas e ancas redondas como dois planetas. Tem cintura fina e s***s pequenos. Na medida certa. Redondos e na época bem empinados por conta juventude. Continuam lindos, mas por conta da gravidez, perderam um pouco da rigidez que tinham. Ombros pequenos, mãos bonitas... ah... Jason se apaixonou por tudo isso no momento em que pôs os olhos em toda essa bagagem.
Amélia também correspondera a paixão. Até conhecer o verdadeiro eu de seu marido. m*l sabia o quão abusivo ele poderia ser. Ela acabou se acostumando com seu jeito e assim sua realidade foi sendo montada.
Depois de receber mais mensagens de seu marido ordenando que fosse para a casa, ela decide ir sozinha. Amelia se dirige até Tom novamente no intuito de se despedir.
– Tom, eu tenho mesmo que ir. Não se preocupe comigo. Vou rapidinho – Diz apesar de querer a carona e morrer de medo de andar sozinha após anoitecer.
– Nada disso, Amélia. Eu falo com Jason. Ele está te importunando? É sério? – Tom diz entortando a boca em sinal de desaprovação antes de ir fechar a conta do casal.
Tom se despede com educação e companheirismo dos turistas e recolhe os pratos da mesa. Coloca-os no bar e pega as chaves do carro. Olha para Amélia que está distraída demais recebendo mensagens do marido. Tom franze os lábios olhando para Amélia com pena.
Como pode uma mulher tão doce ser casada com um trasgo daquele? Ele é gente boa, na maioria das vezes, mas bruto. – Pensa.
Amélia lê suas mensagens e fica angustiada.
“Amélia, se não vir para casa agora eu vou aí te puxo pelo cabelo.”
“que tipo de mãe é você que larga os filhos e o marido em casa?”
“trabalhando coisa nenhuma, se estiver me traindo eu te mato sua vagabunda”
Com os dedos trêmulos ela digita errando quase todas as letras. Amélia sabe que vai ter que dar satisfações quando chegar em casa. Fora que tem medo de Jason bater nos filhos. Clarinha tem só três anos é muito frágil e do jeito que Jason é violento ele pode machucá-la. Owen, seu filho de 11 é mais velho, porém é um menino magrelo e Jason também o machucaria.
– Amélia, vamos querida, vamos – Tom a chama.
Amélia toma um susto e logo se apressa para a saída do bar. Tom pede para um dos baristas trancar o bar desta vez e corre até o carro afim de deixar Amélia em casa. Ele viu seu desespero e necessidade de estar no lar, então, não quis atrapalhar. A cada caminho de terra passado e a cada minuto mais próximo da cabana Amélia fica mais assombrada. Suas mãos suavam e ela podia ouvir cada batida de seu coração. Parecia que tinha corrido a maratona todinha.
Tom percebe sua angústia e toca em sua mão. Ela toma um leve susto saindo de seus pensamentos e preocupações. Ela só quer ver se os filhos estão bem, apesar de Jason nunca ter levantado um dedo para os dois. Já para ela...
– Eu sei que ele pode pensar besteira, mas eu falo com ele. – Amélia sorri bem fraco e assente com a cabeça. – Não se preocupa.
Tom estaciona o carro em frente a cabana e já é possível ver Jason na janela olhando para fora segurando a cortina. Ele solta o tecido com força e segundos depois a porta é aberta. As luzes estão apagadas, apenas a TV ilumina o espaço. Ele acende as luzes de fora iluminando a floresta tão bonita numa noite mais bonita ainda. Uma pena Amélia não poder aproveitar.
Jason desce os degraus ainda com o controle da TV na mão e cruza os braços.
Ele não solta essa merda por nada – Pensa Amélia.
A figura de olhos claros, cabelo raspado, corpo alto e grande fica parada no último degrau. No topo da escada bem no batente, aparece uma florzinha de camisola grande com um ursinho na mão e descalça. Clarinha coça os olhinhos, tenta descer as escadas afim de se encontrar com a mãe, mas Jason a manda entrar apontando o dedo e ordenando do modo ríspido que só ele tem. Sem pensar duas vezes ela obedece.
Amélia sai do carro às pressas depois de olhar a cena. O dedo apontado para sua filha a deixa furiosa. Clarinha é uma menina incrível, não dá trabalho e nem prejuízo para ninguém.
Tom também sai do carro logo em seguida. Amélia se despede dele brevemente agradecendo pela carona, passa direto subindo os degraus apesar de Jason tentar segurar seu pulso e não conseguir. Na verdade, não insistir. Apenas pela presença de Tom. Ele sabe bem se controlar na frente dos outros. Tom se aproxima devagar, aperta a mão dele e sorri.
– Oi, Tom. Como está? – Pergunta um pouco sério, mas força uma certa simpatia.
– Oi, Jason. Estou ótimo. E as crianças? Soube que o Owen tem sido o primeiro da turma, ganhou um prêmio em artes – Tom diz orgulhoso. Quando Amélia contara para ele semana passada tinha um sorriso no rosto e uma felicidade que não cabia no peito. Um orgulho do filho que não cabia no coração. – Tem um bom menino.
– Sim, eles estão bem. Estão crescendo rápido. Fiquei feliz pelo meu Owen – Jason diz com um sorriso forçado e olha para aporta aberta atrás de si. Está louco para ir tirar satisfações com Amélia e não está nada orgulhoso do filho.
Artes? O que esse menino pensa que vai conseguir com Artes? Nada. Tem que estudar. Estudar muito para ser alguém na vida. Essa matéria é para meninas e viadinhos. Meu filho não é um viadinho.
– Bom, eu só vim trazer a Amélia em segurança. – Põe as mãos no bolso – Ela me ajudou muito hoje no bar. Um dos meus funcionários furou comigo e eu não sei o que aconteceu. Ela foi muito bondosa por ter ficado lá. – Tom dá um sorriso olhando ao redor e aperta a mão de Jason mais uma vez – Foi bom te ver, Jason.
– Foi bom ver você também, Tom. – Jason dá seu sorriso mais falso e acena para Tom que vai em direção ao seu carro.
Assim que ele parte bem tranquilo por saber que Amélia está em casa segura, Jason desfaz a feição falsa e começa a subir lentamente os degraus.
Com sorriso no rosto, ela deixa sua bolsa no aparador e vai em direção a sua pequena menina. Clarinha estava no batente da porta de seu quarto apenas com a cabeça de fora esperando pela mãe. Com sua camisola enorme, que na verdade é uma camiseta de Amélia, ela abraça a mãe com toda a força que seus bracinhos tem. Ajoelhada no chão, Amélia morre de amores.
Amélia fica preocupada em deixar os filhos tanto tempo sozinhos. Ainda mais quando precisa fazer assim de repente. Amélia beija sua bochechinha rosada e sorri para a filha.
– Que saudade, mamãe. – Confessa com as mãozinhas passeando nos cabelos dela.
– Saudade estava eu de você e do seu irmão. Ah, a mamãe morreu de saudade de apertar vocês dois, de beijar e fazer carinho. – Amélia faz cosquinhas na filha que abre um sorriso lindo. – Cadê seu irmão? Ele cuidou de você? – Pergunta arrumando o cabelo idêntico ao seu, mas mais enrolado e mais loiro.
– Cuidou, mas ele ficou dodói. A cabeça dele está doendo e o nariz dele não entra ar. – Diz com sua voz mais fofa e Amélia fica aflita.
Olha para trás e vê que Jason ainda conversa com Tom, assim, pega Clara no colo e entra no quarto dos filhos. Owen sorri quando vê a mãe e a abraça assim que pode. Amélia se arrepende por ter deixado seus filhos sem ela e pragueja a respeito.
– Ô meu filho, o que aconteceu? – Põe a mão em sua testa e vê que ele está bem quente. – Minha nossa, Owen. O que está sentindo?
– Eu estou bem mãe – Ele funga o nariz e ela faz carinho em seu cabelo – Depois que cheguei da escola eu fui sentindo meu corpo doer e fiquei com frio. Aí deitei na cama e meu nariz entupiu. Olha. – Ele levanta o rosto mostrando as entradas de seu nariz esticando bem a pele – Está conseguindo ver, mãe? – Amélia sorri e beija a testa quente do filho.
– Estou, meu amor, estou.
Os três ouvem a porta da frente se fechar e os passos de Jason ecoam pela casa. A madeira range quando ele anda, até que chega no quarto.
– Lembrou que tem casa? – Jason pergunta. Usando uma regata e bermuda, como sempre, ele cruza os braços e encara a esposa. Amélia se levanta da cama e pega Clarinha no colo.
– Vou pegar remédio para você, meu filho. Mamãe já volta.
Amélia passa pelo marido com a filha no colo e vai até a cozinha pegar a caixa de remédio. Ela não precisava nem perguntar. Já sabia que Jason não havia dado nenhuma medicação ao filho. Jason não sabe cuidar dos filhos. Quem cuida é ela. Quem sempre cuidou foi ela e será assim. É a obrigação dela de mãe. É isso o que tem em mente.
Jason segue Amélia até a cozinha e barra a passagem quando ela tenta passar com o remédio.
– Jason, eu preciso dar o remédio para o Owen. – Diz com a voz trêmula e a cabeça baixa.
– Dá o remédio, faz suas obrigações porque essa cozinha está uma bagunça e vai para o quarto que eu quero conversar com você. – Jason sai de frente indo para a sala desligar a TV e Amélia aperta a filha no colo.
Fica parada por alguns segundos e quando ouve os passos de seu marido ela se apressa a pegar o copo com água.
– Rápido, Amélia, eu quero descansar – Grita e fecha a porta do quarto com certa força o que a faz tomar um susto.
Clarinha põe as mãos no ouvido rapidamente e se encolhe no colo da mãe. Amélia leva a filha para o quarto beijando sua pele infinitas vezes. Ela sabe que Clarinha tem medo do pai quando ele está bravo. Todos nessa casa têm medo de Jason quando ele zanga. E isso acontece praticamente todos os dias.
Colocando copo na mesinha junto com o comprimido ela suspira de cansaço. O trabalho hoje foi cansativo, ela ficou em pé o dia todo e seus pés estão inchados. Suas pernas doem e ela está cheirando levemente a gordura. Tudo o que Amélia quer é um banho e dormir, pois amanhã ela acorda cedo para enfrentar mais um dia corrido como os dela são.
Amélia dá o remédio para seu filho, pinga a medicação em seu nariz e dá um beijão de boa noite com todo o amor que ela tem em sua testa.
– Pronto. Remédio para dor e febre. Para desentupir o nariz e um beijo mágico de amor que vai te fazer melhorar. Se não melhorar, mamãe te leva no doutor. Mas vai ficar tudo bem. – Pelo menos ela esperada. Odiava ver um de seus filhos doentes. – Agora vocês dois durmam que amanhã vocês têm escola. – Olha para os filhos com carinho e torna a encarar os olhos claros de Owen. A única coisa que puxou do pai – Bom, durmam. Boa noite, meus anjos. – Beija a testa de seu filho.
Levanta cansada e sentindo dores nos pés. Cobre sua florzinha e beija sua testa também. Põe seu ursinho ao seu lado e dá um cheirinho em seu pescoço.
– Linda da mamãe.
Amélia vai até a porta devagar e apaga a luz. Encosta a porta e vai até a cozinha para mais uma jornada de trabalho. Tem louça na pia, panelas fora da geladeira. Pano de prato jogado para todos os lados. Tapete bagunçado. Molhos fora da geladeira. Tudo está um caos.
Ela passa a mão no rosto e respira bem fundo.
Estou tão cansada, mas tenho que arrumar essa cozinha hoje.
Amélia vê que já são meia noite, mas mesmo assim, põe o avental e começa a organizar as coisas. Após arrumar tudo, com os pés inchados, pernas doendo e com muito sono, Amélia respira fundo e toma coragem para lavar a louça. Ela ouve o barulho da porta e nota que Jason vai até a cozinha. Ele não tem uma cara nada boa e para o batente. Amélia olha para ele enquanto ensaboa um copo e se sente culpada. Ela sempre se sente culpada.
– Você ainda não acabou? – Questiona irritado.
– Eu estava cuidando do Owen, Jason. Ele está doente. Precisava colocar as crianças para dormir. Também tive que arrumar a cozinha. Vamos conversar amanhã. Estou cansada – Diz calma sem grosseria em sua voz.
Lava o copo fechando a pia em seguida e antes que pudesse pegar a bucha para continuar, Jason vai até ela num elã e segura em seus braços, virando seu corpo fazendo-a olhar para ele. Amélia arregala os olhos e geme de dor, mas não luta, está tão exausta. Não tem energia para nada. Ele aperta com força sua carne e começa a tortura.
– Está cansada? Eu estou cansado. Trabalho que um corno e a única coisa que quero é chegar em casa e ter comida pronta e ver minha mulher fazendo o que tem que fazer. Eu só não te arrebento, Amélia, porque Tom confirmou que você estava no bar. Por que se eu sonhar que você está me traindo eu acabo com você – Amélia começa chorar e fecha os olhos por não aguentar – Ficou cuidando daquele menino? É frescura dele para não ir à escola, sua sonsa. Só você não enxerga isso. – Jason solta seu corpo pequeno e ela se escora na pia, limpa as lágrimas e engole o choro – Termina de lavar e louça e toma um banho antes de deitar, você está cheirando a gordura. – Sua voz é fria como o gelo e áspera como cimento. Ela corta como arame farpado e machuca Amélia toda vez que se dirige a ela.
Jason joga o copo de vidro no chão quando vai em direção a porta da cozinha e Amélia senta com cuidado no tapete em frente a pia. Ela chora baixinho e em silencio para não acordar os filhos já que o quarto fica tão perto, embora achasse que os filhos já tivessem acordado por causa do barulho. Os pés dela começam a doer mais ainda, então ela fica uma boa parte de sua noite sentada ali.
Amélia vive seus dias com medo. Suas felicidades e momentos de alegria são quando está com os filhos e quando está trabalhando. É quando faz o que mais gosta, confeitar e ficar longe de Jason. Ela se tranquiliza quando seus filhos estão na escola, pois sabe que estão aprendendo e se divertindo, também pensa que eles possam ter o mesmo sentimento de bem estar que ela sente quando está fora de casa.
Amélia gosta da cabana, mas infelizmente, por conta de tudo o que passa ali ela a odeia. Era para ser um local de paz e felicidade. Quando se casou com Jason não foi esse o futuro que imaginou para ela. Ela não queria viver com medo dentro de sua própria casa. Queria um casamento feliz. Queria ter prazer de fazer as coisas para o marido. Achou que tudo seria diferente. Ela se decepcionou. Ela já quisera se divorciar, mas Jason não quis e a convenceu. Agora ela acha tarde mais para isso. É melhor deixar para lá, fazer as obrigações de esposa e cuidar dos filhos. Era esse o seu futuro. Pelo menos ela achava enquanto estava alí, jogada no chão de sua cozinha, com os pés doendo, sozinha, vazia, machucada, indefesa, com medo e a cima de tudo, exausta.