Cansaço

1133 Words
Andando de um lado para outro, Sophia pensava na conversa que teve com Nikolai. Ela era uma mulher que não caia nos charmes de um homem, nem agia como uma boba, mas confessava que ao lado dele, suas estruturas eram abaladas. Mas ela sabia que, mesmo que Nikolai não confessasse, ele tinha alguém que amava, e esse alguém não era. Nunca seria. O que significava que eles nunca teriam um relacionamento no qual seriam felizes. Ela até se questionava se não seria viável encontrar uma saída. Alguma desculpa para cancelar esse casamento. — A senhorita está bem? — Sua companhia a assistia, confusa. A moça era o mais perto de uma amiga, já que nunca pode sair e realmente conhecer pessoas. — Desde que chegou não para quieta. — Estou pensando. — Respondeu. — Vim parar em uma tempestade. Não faço ideia de como sair ou resolver. Nem sei se há uma possibilidade de sair dessa situação. — Achei que não pudesse fugir. – Franziu o cenho. — Por isso estou pensando. – Perdida em seus pensamentos, a princesa acreditava que estava desesperada. Conhecia bem a sua tia. Ela jamais aceitaria que Sophia voltasse sem estar casada com o rei de Galles. Na verdade, Soph já até sabia qual seria a punição. A acompanhante levantou da cadeira onde estava, e foi ao closet, buscar uma roupa de dormir, para a princesa. Soph imaginou que ninguém entenderia a sua dor, ou sabia como Margareth a tratava. Bem, todos imaginavam que ela tinha uma vida, verdadeiramente, de uma princesa. Tinha tudo o que desejava, na palma da mão, e na realidade, não era assim. Desde os dez, ela foi, praticamente, vendida, teve que ser criada para ser perfeita. Uma rainha. Era punida, quando saia da rigorosa educação. Nunca teve amigos, vivia presa em seu quarto, e sofria punições físicas. Aos dezoito, foi obrigada a passar uma bateria de exames, para que a rainha soubesse se ela poderia dar filhos ao rei. A rainha tinha uma punição diferente para cada travessura. Sophia imaginava qual seria, se ela tentasse mudar o acordo. Arrancaria as mãos? Dedo por dedo? Bem, ela não queria arriscar a descobrir. Contudo, a princesa poderia arrastar Nikolai até o altar, caso ele não queira? Quando a mulher voltou com a roupa de dormir, ela observou Sophia por um momento antes de se aproximar. — Posso lhe dar um conselho, senhorita? Sophia parou de andar e olhou para a mulher, curiosa. — Claro, qualquer conselho seria bem-vindo. A mulher sorriu gentilmente para Sophia antes de falar. — Não se preocupe com isso. O rei terá que decidir entre sua palavra e seu desejo. Não será a senhorita que deverá tomar essa decisão. A princesa rir com a inocência da mulher. — Mas isso me envolve. — explicou. Ela não podia dizer o porquê de tanto receio. — Fui criada para isso e não devo, nem posso fugir do meu destino, mesmo que ela agora esteja nas mãos de um homem que nem conheço. — Não faço ideia de como deve ser a vida de um nobre como vocês, mas sei que... Muitas vezes, abrem mão do que realmente deseja, dos sentimentos, para fazer o que é melhor para o povo. — Isso é o que mais dói e me preocupa. — Há é? — a loira se confundiu. — O rei fará o que for melhor para o país. Isso significa que ficará ao meu lado, mas.... Abdicar do seu amor, para casar comigo, o fará me odiar. A pior coisa que pode acontecer é está casada com um homem que vai me tolerar por obrigação e odiar por ter sido a barreira entre ele e seu amor. Sua amiga teve que concordar. Realmente seria difícil. Contudo, ela sabia que não tinha como voltar atrás. O acordo foi feito quando os dois ainda eram jovens e os dois não eram simples pessoas que poderiam, a qualquer momento, mudar de ideia e desfazer tudo. — Sei que vai parecer errado, mas... Talvez... A senhorita poderia... Não sei, fazê-lo se aproximar por você. Sophia riu com a inocência dela. Apesar de ter sido criada para ser apenas do rei, isso não estava nos estudos. — Desculpe, não sou o tipo de mulher que corre atrás de seduzir um homem. Sem falar que sou teimosa e pouco romântica. Tenho certeza de que não vou convencê-lo. — Perdoe-me por cogitar isso. Se sentiu m*l. — Não se preocupe. Sei que está tentando me animar. *** Niko estava em seus apontamentos, também pensativo. Aquele dia tinha sido cheio e muito confuso. De tudo o que ele fez, conversa e estar com a princesa foi o mais confuso. O homem sabia que fica com ela era o mais correto, contudo, não tirava da cabeça a sua amada Alice. O destino estava brincando com ele, ao mostrar na tela do seu celular particular, a chamada da mulher. Ele o pegou tão rápido, que pareceu desesperado. Antes de atender, ele pensou. Lembrou que nutrir esse desejo era um erro, já que sua noiva estava sob o mesmo teto que ele. Porém, ele não recusaria e atendeu, sentindo seu coração se aquecer com a voz da amada. — Está ocupado? — ela perguntou, preocupada. Seu peito também ardia de preocupação. — Teve um dia cheio, ao lado da sua noiva. Niko notou o desgosto. Ele sabia que era difícil para ela, entender. Essa era a sua responsabilidade e um rei não podia ignorar seus deveres. — Sim, o dia foi cheio. — Ele tentou manter a conversa o mais simples possível, sem dar muitos detalhes sobre sua situação atual. Ele não queria preocupar Alice ou fazer com que ela se sentisse pior do que já estava. — Não quero falar sobre a princesa agora. Ele a ouviu suspirar. — Tudo bem. — Ela não queria parecer ciumenta, mesmo sentindo isso por dentro. — Sinto sua falta. Quando podemos nos ver? Niko suspirou, sabendo que essa era uma questão difícil de responder. Ele não tinha ideia de quanto tempo levaria para escapar do palácio e não queria prometer nada que não pudesse cumprir. — Ainda não sei. As coisas estão complicadas aqui. Mas, assim que puder, marcaremos um encontro. Eu prometo. Ele tentou ser reconfortante, mas sentiu um aperto no peito por estar mentindo para Alice. Ele não sabia quando ou se poderia simplesmente sair para encontrá-la. Ainda mais com sua noiva. Todos estavam de olho neles e Nikolai sabia que sua mãe seria o maior desafio agora. Alice parecia sentir algo de errado. Ela suspirou do outro lado da linha. — Tudo bem. — ela disse. Tinha que aceitar a responsabilidade. Foi sua escolha ser a amante secreta do rei. — Amo você. Essa palavra cortou o coração de Nikolai. — Eu também.

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