Recostando-se no banco de trás, Willian deixou-se levar pela agonia do momento. Não conseguia parar de pensar no que tinha acontecido. A imagem estava bem gravada na sua mente, e ele ainda não havia terminado de processar o que ela havia confessado na frente de todos no salão de festas. Não foi algo isolado, não foi um deslize ou um momento de bebedeira, o que também não era justificativa, mas talvez fosse mais fácil de aceitar. Mas não, ela os procurava, abria as portas da sua casa e as suas pernas para eles toda vez que ele não estava lá.
A sua alma gêmea, o amor da sua vida, a mulher com quem ele havia planejado seu futuro, assumiu a responsabilidade de destruir a sua realidade e o seu coração. Para onde iria um homem de quarenta e poucos anos, traído pela mulher com quem acabara de se casar? Ele sentia que não poderia ficar na cidade, nem no estado, nem no país. Ele até sentiu vergonha de si mesmo e, por isso, a Grécia parecia a melhor ideia.
Perdendo-se nas ilhas gregas. Ele havia solicitado uma autorização de vinte dias para sua lua de mel e planejava visitar algumas das principais das 227 ilhas habitadas. Naquele momento, nada, além do seu trabalho, o impediu de ficar mais tempo, meses ou até anos, curando o seu coração, a sua mente e colocando a sua vida em ordem no paraíso grego.
No final, Adam não o levou para um bar, mas para seu apartamento. Ele sabia que não sobraria nada na sua coleção de bebidas, mas preferia isso a ver o seu amigo fazendo outra cena num lugar público. Ele havia recebido algumas ligações do seu chefe e não tinha ideia se Willian também havia sido contactado por seus superiores, mas tinha certeza de que haveria consequências por seu ato impulsivo. Ainda assim, ele entendia. Ele não conseguia parar de pensar na terrível decisão que Grace havia tomado, com quem teve um relacionamento cordial, mas nunca uma amizade próxima, e pior ainda. Ela fez isso no dia do seu casamento.
Willian apenas suspirou ao reconhecer o lugar, mas não fez comentários. Ele desceu com o amigo e caminhou com ele, quase no piloto automático, até o elevador e depois até o apartamento de Adam. Quando o adorável cão do seu amigo os cumprimentou com o ra*bo abanando, Willian apenas deu um leve sorriso, mas logo procurou o sofá com o cão ao seu lado, a quem abraçou enquanto Adam procurava cervejas geladas, esperando que Willian não bebesse até perder a consciência.
Ele colocou uma lata na frente dele e sentou-se em frente a ele.
— Acho que deixei a minha arma no salão. Disse Willian em voz profunda.
— Não, um dos seus primos pegou, e a sua mãe está com ela. Ele engoliu em seco e assentiu. — Pedi para eles tirarem as suas coisas dos dois quartos. Willian assentiu novamente, olhando para o amigo. — Não sei se você enfrentará alguma consequência por isso, mas...
— Vou pedir demissão do FBI.
— Que?
Eles se entreolharam.
— Willian, você acabou de ser promovido. Ele deu de ombros. — Você não pode jogar toda a sua vida fora...
— A minha vida já foi pelo ralo, Adam! Respondeu ele com firmeza, acalmando-se apenas diante dos grandes olhos do cão ao seu lado. — Não estou deixando uma namorada de alguns meses. Estou deixando a pessoa que ainda é minha esposa e que foi minha a minha namorada por anos. Eu a conheci há dez anos, construí a minha vida em torno do nosso futuro, do que queríamos, e agora o que resta para mim? Um cargo no FBI e o fardo mental de que todo o meu trabalho duro foi em vão.
Sem tocar na cerveja, ele levantou-se e começou a andar na frente do seu melhor amigo, o único em quem ele realmente podia confiar o que sentia, sentindo-se vulnerável, completamente humano naquele momento em que estava ferido.
— Trabalhei a vida toda. O meu primeiro emprego foi quando eu tinha doze anos, entregando jornais na minha bicicleta nas casas da minha rua. Trabalhei como jardineiro, carteiro, na construção civil, como motorista, até entrar na academia. Ele contou parte da sua vida. — Estudei com bolsas de estudo, aproveitei as oportunidades que o FBI me deu desde o começo, mas agora, agora mesmo… não tenho ideia de quem eu sou! Tudo o que sei sobre mim é que sou bom com uma arma na mão e que já fui traído.
— Você é um dos homens mais importantes de Los Angeles, liderou a missão que levou à prisão de onze pessoas por crimes de tráfico de drogas e terrorismo. Você acabou de ser promovido e, além disso, foi premiado como um agente especial de destaque…
— E isso é tudo o que eu sempre fui! Um homem que trabalha, trabalha, trabalha e trabalha. Ele respondeu. — Primeiro, para não seguir os padrões do meu pai violento e alcoólatra. Então, para dar uma vida melhor à minha mãe, viúva e doente. E então, dar a vida de uma rainha à mulher por quem eu havia me apaixonado. Ele indicou. — Não estive envolvido em nenhuma dessas razões. Até agora.
Adam soltou uma espécie de risada incompreensível e foi o primeiro a pegar a lata à sua frente e abri-la para tomar um grande gole. Ela não conseguia acreditar que Willian estava disposto a jogar a sua vida, que para ele já estava definida e em grande estilo, ao mar e por causa de uma mulher.
— Acho que você não pode dar à Grace o poder de arruinar a sua vida.
— Grace já arruinou a minha vida, Adam. Ele foi firme. — Pelo menos essa vida, e não posso nem fingir que vou continuar normalmente nela. Vou pegar o meu dinheiro, vender as minhas coisas e ir embora...
— Para onde, Willian?
— Para a Grécia. Já disse.
— Pelo amor de Deus, cara, você não tem mais vinte anos!
— Exatamente, tenho quarenta anos e finalmente chegou a hora de assumir o controle real da minha vida, por mim e para mim. Por que, se não, quando? Tenho dinheiro para sobreviver alguns meses, posso montar um restaurante em qualquer uma dessas ilhas ou um serviço de excursão. Acabei de comprar um veleiro por duzentos e oitenta mil euros! Ele gritou. Adam apenas tomou outro gole da lata, porque não sabia mais o que dizer.
— E depois? Quando esse impulso rebelde acabar, para onde você irá? Você se vê navegando por aí aos cinquenta anos ou atendendo turistas indisciplinados do outro lado do mundo aos sessenta? Ele perguntou. — Você é um dos melhores agentes do FBI, pode ser diretor antes dos cinquenta anos, Willian. Eu entendo que você esteja magoado, eu realmente entendo isso, mas jogar a sua vida fora por uma mulher e a sua infidelidade é apenas deixá-la vencer. Qualquer um que abre mão do que tem por alguém infiel permite que o infiel tome muito mais do que merece.
Willian ouviu atentamente o seu amigo. Ele entendeu bem o conselho e não deixou de concordar com ele.
— Tire tudo dela, anule o casamento. É claro que há mais de uma testemunha da infidelidade, então o acordo pré-nupcial que o seu sogro os fez assinar é invalidado e você não perderá nada. Você administrou bem o seu dinheiro, foi cuidadoso com a sua renda e, se quiser viajar por um tempo, faça isso. Os mesmos vinte dias que você pediu para sua lua de mel. Ele aconselhou. — Vá em lua de mel com você mesmo. Willian m*al esboçou um sorriso. — Mas não deixe que a sua vida e quem você realmente é vão por água abaixo.
Por fim, Adam aproximou-se do amigo e o pegou pelo ombro.
— Você é Willian Voss, vice-diretor assistente do FBI em Los Angeles, três vezes premiado, um monstro com tecnologia, pontaria precisa, temido por terroristas e traficantes de drogas. Você tem quarenta e três anos, mas poderia dizer que tem cinco anos a menos e ninguém notaria. Willian sorriu quando a mão de Adam pousou na sua bochecha. — Foi Grace quem foi para o infe*rno, não você.
Willian finalmente, pareceu liberar aquele suspiro pesado do seu peito.
— Um mês. Vou para Grécia durante um mês. Ele apontou para o seu amigo, que concordou. — E nesse mês, vou vender tudo que tenho aqui e vou pedir transferência para alguma sede nos Estados Unidos.
Adam acenou mais calmo.
— Agora me deixe beber as minhas tristezas até ela se afogar.
Adam lhe deu um tapa levemente, apertou o seu ombro e trouxe uma lata de cerveja para brindar com ele.
Uma parte importante da sua vida acabou, e ele sabia bem que, mesmo que perdesse a consciência bebendo, nada apagaria essa realidade.
Talvez ele tivesse que aprender a enfrentar as suas ações e decisões, mas a partir de agora ele só queria pensar numa coisa.
O seu novo veleiro e as ilhas gregas, onde ele esperava encontrar a verdadeira direção e quem sabe o verdadeiro significado da sua vida.