No outro lado do prédio, os mais novos também estavam no intervalo. Os três estavam juntos conversando. O mesmo garoto que antes falou com a Laura na sorveteria, se aproximou do grupo.
— Com licença... — Os três olharam para ele. — Estamos sendo chamados na secretaria, Laura.
— Por quê?
— Não sei, mas tem a ver com o clube de fotografia.
— Ah sim. Eu já volto pessoal. — Saiu dali acompanhada do garoto.
— Hum... Ele gosta dela — David falou bem próximo a Lucas para provocá-lo.
— Por que acha isso?
— Viu seus olhos brilhando na direção dela? — falou piscando os olhos rapidamente.
— Eles se conhecem há um dia, isso não é possível — disse Lucas.
— Por que não? Acha que ninguém pode se apaixonar pela Laura assim? Ela é linda e qualquer um pode se interessar — provocou ao ver que ele caiu no joguinho.
Lucas ficou em silêncio olhando na direção dos dois até que eles sumiram do pátio.
****
Matt estava sentado em um banco da escola. Estava pensativo, lembrava das coisas que Nick lhe disse e o que estava querendo agora. Se sentia muito enfurecido com a situação. Que droga! Ele nunca quis saber da Ana dessa maneira e agora se interessou de uma hora para outra? Só pode estar querendo o irritar! E o pior de tudo e o que o deixava com mais raiva, era que ele estava conseguindo.
— Com licença...
O loiro tirou os olhos do chão para ver quem falou. Era a menina que trocou papel com a Ana na sala.
— Desculpa te atrapalhar, mas eu queria saber que dia sua banda vai tocar de novo aqui na escola.
— Provavelmente na próxima festa.
— Que bom. Acho vocês ótimos.
— Obrigado.
— Você está bem?
— Sim.
— Parece chateado...
— Não é nada.
— Se quiser conversar, pode falar.
Matt ficou a olhando um tempo.
— Você é bem amiga da Ana, não é?
— Não tanto, mas sim.
— Hum...
— Ela não está falando direito com você, não é?
— Por que acha isso?
— Sei lá. Ela é meio louca... Parece que se afastou de você.
— Ela está normal.
— Ok. Pode me avisar quando for fazer algum show fora da escola? Gosto mesmo das suas músicas.
— Tudo bem.
A menina sorriu.
— Até mais. — Foi embora e Matt suspirou.
Em pouco tempo viu Nick se aproximando e respirou fundo.
— Por que está aí sozinho?
— Porque estou a fim.
— Nossa senhora! Acordou com a macaca hoje?
— O que você quer?
— Te chamar para ver a partida de futebol depois da aula. Não tem ensaio com a banda mesmo, não é?
— Não.
— O que acha de ir?
— Vou pensar.
— A Ana vai jogar com a gente.
Matt ficou pensativo quando ele disse isso.
— Talvez eu vá.
— Ok — Nick respondeu sorrindo.
****
Na hora do jogo todos estavam na quadra. Nick também avisou os mais novos. Bianca fez questão de sentar ao lado de Matt. Estava ele, Bianca e Bruno sentados mais a cima e os mais novos abaixo na arquibancada.
— A Ana vai jogar contra vários meninos? — Bruno perguntou.
— Acho que sim.
— Bom, ela joga bem, mas acho meio pesado.
— Bobagem! E o tema aqui é outro mesmo.
— Como assim? — os dois falaram juntos.
— Não interessa pra vocês! Meus planos têm que funcionar e sei que vão.
Matt e Bruno trocaram olhares confusos.
Na parte de baixo, Lucas volta e meia olhava para a entrada do ginásio. Laura ainda não tinha voltado desde que o menino a chamou. O loiro suspirou e olhou a quadra.
— Está preocupado com alguma coisa? — David perguntou irônico.
— Não.
— Não fica assim. O máximo que pode estar acontecendo é eles estarem se beijando por aí.
— Cala a boca David!
O menino caiu na gargalhada.
Na quadra, Nick e Ana conversavam sobre algumas táticas do jogo. Um dos garotos do outro time se aproximou deles.
— Esse jogo vai ser moleza — falou olhando a Ana.
— Se eu fosse você, não a subestimaria...
O menino riu.
— Ela é uma garota! Elas não entendem de futebol.
— Se não entendesse, não estava aqui — respondeu Ana.
— Aposto que está aqui para conseguir ele. — Apontou para o Nick. Ana riu.
— Eu não seria retardada de fazer algo que não sei por causa de um cara, por favor, né!
— Bem, não importa seus motivos, hoje vamos ganhar facilmente.
— Escuta aqui seu babaca, esse seu egozinho vai ser esmagado hoje!
— Ana...
— p**o para ver!
— Então melhor preparar o bolso, querido!
O garoto riu.
— Veremos, mocinha — falou com ironia e virou as costas. Ana ameaçou ir para cima dele, mas Nick a segurou.
— Não liga pra isso, ele implica com todo mundo.
— Pois hoje ele vai comer a sujeira desse chão!
Os jogadores se prepararam para começar o jogo. Um dos colegas de Nick não poderia jogar hoje e a Ana ficou no lugar dele. Era a única menina no time.
— Vai ser o de sempre? Sem camisa contra com camisa? — o mesmo menino que implicou com Ana perguntou rindo.
— Não seja i****a, Pablo — Nick o repreendeu.
— Por mim sem problemas — disse Ana.
Nick a olhou com os olhos arregalados.
— Ficou louca?
— Eles tiram a camisa né Nick!
— Só que nosso time não quer tirar.
— Problema de vocês!
— Ei! O que está acontecendo aqui? — O professor se aproximou ao ver a confusão.
— Ele quer que seja um time sem camisa e outro com, mas não quer que o time deles seja os sem camisa.
— Pablo não precisa ser sem camisa. Tenho umas camisetas de cor amarela e azul, cada time usa uma cor.
O garoto encarou Ana, que fez cara de deboche.
— Ele é um grande i****a. Não sei como não o tiraram do time ainda — disse Yuri.
— Era um favor que faziam!
O garoto riu com o comentário.
Em pouco tempo o jogo começou. Até mesmo os meninos do time de Nick tinham certo receio com Ana, mas quando o moreno jogou a bola para a ruiva e ela driblou quatro garotos, eles começaram a gostar dela.
— Retiro o que disse quanto a ser desvantajoso para a Ana — disse Bruno.
— Se tem um motivo que faz a Ana conseguir qualquer coisa, é falarem que ela não sabe e aquele menino implicou com ela.
— Bem feito pra ele. Agora está com a cara no chão! — Os dois riram.
Matt não desgrudava os olhos de Ana, nem prestava atenção na conversa dos dois.
Será que está ficando louco?
O loiro despertou quando viu os meninos abraçando-a. Tinha acabado de fazer um gol. Bianca olhou o loiro e franziu a testa. A cara era de dar medo...
— Está tudo bem?
— Por que não estaria? — perguntou sem tirar os olhos dela. Nesse momento estava sendo abraçada por Nick. O moreno a ergueu do chão.
— Parece irritado.
— Esse jogo não vai acabar nunca?
— Você não precisa ficar até o final, Matt — disse Bruno.
O loiro não respondeu e continuou olhando na mesma direção.
Os mais novos estavam em silêncio e prestavam bastante atenção no jogo. David que gritava feito louco quando o time de Nick fazia gol.
Laura sentou ao lado de Lucas, que era o último da "fila".
— Perdi muita coisa?
— Só quase o primeiro tempo todo.
— A Ana está jogando bem?
— Está dando um couro nesses meninos — David respondeu rindo.
A menina ficou olhando a quadra para tentar acompanhar o que restava da partida. Lucas estava muito curioso do porquê ela demorou tanto, mas estava se segurando para não perguntar.
O primeiro tempo acabou e os jogadores foram beber água e relaxar uns minutos.
— Por que você demorou tanto, Laura? — David que perguntou e fez Lucas olhá-la.
— Estávamos resolvendo as coisas do clube.
— Tipo o que?
— A diretora disse que tem um grupo de pessoas que vão fazer tipo um jornal da escola e pediu pra gente ficar encarregado das fotos.
— Hum... E seu amiguinho?
— O que tem?
— Acha ele bonito?
Laura deu de ombros.
— Ele é um garoto legal.
— Viu Luquinhas, eu sabia que ele ia fisgar ela... — David cochichou com Lucas e ele revirou os olhos.
No canto da quadra os meninos elogiavam Ana pelo gol e por jogar tão bem.
— Puxa tinha tanto tempo que não jogava. Achei que poderia dar algo errado.
— O que te deu gás foi o Pablo, não é?
— Ele contribuiu bastante no meu desempenho.
Nick e Yuri riram.
— Vou ao banheiro antes que comece — disse Nick. O moreno se afastou dos dois.
— Você é uma garota incrível, além de jogar muito bem, tem uma personalidade diferente.
— Isso é bom?
— É.
— Pena que alguns não acham — falou baixo.
— Disse alguma coisa?
— Não. Obrigada pelo elogio. Agora vamos fazer aquele babaca lamber esse chão!
Yuri riu, nunca tinha conhecido uma garota assim.
Bianca viu de longe os dois conversando e rindo.
— Bruno você não acha que a Ana e o Yuri formam um lindo casal?
— Eles estão namorando? — perguntou confuso.
— Não. Ainda não. — Olhou Matt.
O loiro olhava na direção dos dois e quando percebeu que a Bianca olhava ele, desviou o olhar deles.
— Mas sei que isso vai acontecer. E eu dou todo apoio, ele é um garoto muito fofo, além de lindo, né? Convenhamos! — falou só para implicar com Matt.
O loiro levantou e saiu dali.
— O que deu nele?
— Deve ser dor de cotovelo.
Bruno fez cara de confusão, mas resolveu não perguntar. Sabia que a Bianca era louca. A menina ficou olhando o Matt, até que ele saiu da quadra. Por que ficou irritado se não a quis?
O jogo começou de novo. Dessa vez Pablo estava marcando muito a Ana, quase não deixava ela se mexer. A ruiva já estava ficando nervosa e doida para acertar a cara dele, mas se fizesse poderia ser expulsa.
Quando viu a oportunidade de pegar a bola, deu um cano nele e correu, o garoto a encarou com fúria quando fez gol. Já era o quinto do time deles enquanto o dele estava com dois. Isso não podia ficar assim!
Matt voltou para a quadra, mas sentou perto dos mais novos, não queria ouvir Bianca falando aquelas coisas.
— Você está bem? — Lucas perguntou.
— Sim.
O loiro sabia que não, mas Matt nunca assumiria mesmo.
Pablo continuou marcando a Ana e deixando ela cada vez mais irritada.
— Isso não vai acabar bem...
Assim que Laura disse isso, Pablo derrubou Ana no chão. Esperou o momento certo para fazer isso. A menina logo colocou a mão no tornozelo, onde o garoto deu um chute.
— Ficou louco? — Nick falou alto.
— Eu fui na bola.
— Seu...
— Nick... — Ana segurou a calça dele quando ameaçou ir para cima do garoto.
Yuri abaixou no chão.
— Está tudo bem?
— Meu tornozelo está doendo.
— Melhor te levar a enfermaria. Consegue levantar?
— Acho que sim...
O garoto a ajudou. A ruiva tentou apoiar o pé no chão, mas não conseguiu.
— Se tiver algo aqui que me impeça de jogar tênis, você está ferrado! — ameaçou o garoto, que riu.
Yuri ajudou Ana a sair da quadra.
— Que covarde! — disse David.
— Muito — Lucas falou olhando o irmão.
O loiro olhava na direção dos dois. Ana estava com um dos braços em volta do pescoço do garoto e andava pulando, mas estava com dificuldade para fazer isso, pois ele era bem mais alto do que ela. O menino a pegou no colo e saiu carregando dali. Nick estava atrás deles.
— Vamos lá ver se ela está bem — disse Laura.
Todos seguiram para a enfermaria. Tiveram que esperar do lado de fora, pois eram muitos e a enfermaria pequena. Lá dentro só estavam Nick, Ana e Yuri.
— Foi uma entorse.
— Vou poder jogar tênis?
— Por enquanto não, querida.
Ana xingou baixinho.
— Não fica assim, Ana. Quando melhorar você vai poder jogar de novo — Nick consolou.
— Mas antes eu o mato por isso.
— Fica calma, ele não merece nem sua raiva — disse Yuri.
— Verdade, mas eu preciso machucar ele.
Os dois riram. A enfermeira enfaixou o tornozelo de Ana e disse para ficar com o pé para cima o máximo que conseguisse.
Os três saíram da enfermaria. Nick ajudava Ana a andar. Ela estava muito irritada com o que aconteceu.
— Você está bem? — Bianca se aproximou.
— Estou.
— O que aconteceu? — Laura perguntou.
— Ele me deu um chute e eu consegui torcer o tornozelo — falou com raiva.
— Que babaca! — disse Bianca.
— Nem me fale! Ele vai ver só uma coisa!
— Antes de pensar nisso, você tem que pensar em como vai pra casa, alguém pode te buscar? — disse Nick e Ana ficou pensativa.
— Não. — Fechou os olhos respirando pesadamente.
— Você pode levar ela, Yuri?
— Eu tenho que acompanhar minha avó ao hospital daqui a pouco, mas se quiser eu levo.
— Não precisa se preocupar, eu dou um jeito.
— Qual? — Bianca perguntou.
— Pego um táxi.
— E tem dinheiro?
— p***a!
— Eu tenho.
Um pequeno silêncio se fez quando o Matt disse isso.
— Então você pode acompanhar ela até em casa? — Nick perguntou.
— Posso.
Ana engoliu em seco.
— Eu vou junto — disse Bianca e Nick puxou para longe de todos.
— Não vai não.
— Por que não?
— Eles precisam conversar, Bia.
— Ok.
Os dois voltaram para perto dos amigos.
— Você vai, Bia? — Ana perguntou.
— Não posso, lembrei que prometi ajudar o Nick.
— Tudo bem.
— Posso te ligar para saber como está? — Yuri perguntou.
— Claro.
— Preciso do seu número primeiro...
— É mesmo. — Os dois riram.
Ana falava o número dela para o garoto enquanto o Matt esperava com cara amarrada.
— Se cuida. — Beijou a testa dela.
— Pode deixar! Vou bolar um grande plano para machucar aquele i****a.
O menino riu.
Matt se aproximou de Ana e ela desviou o olhar. Merda! Tem que ser forte! O loiro a segurou pela cintura com um dos braços e ela colocou o seu em volta do pescoço dele.
— Melhoras, Ana — disse Laura.
— Obrigada.
Os dois saíram dali.
— Foi uma boa ideia deixar os dois sozinhos? — Bianca perguntou.
— Descobriremos depois — respondeu Nick.
Todos trocaram olhares confusos, apenas Lucas entendeu o que aquilo significava.
Matt chamou um táxi e ajudou Ana a entrar no carro. Foram em silêncio o caminho todo. Ana não o olhava de jeito nenhum, mas não porque tinha raiva dele e sim porque tinha vergonha. Assim que chegou, o loiro pagou o homem e ajudou Ana a entrar no prédio. Os dois pararam em frente ao elevador e tinha um bilhete:
Em manutenção.
— É brincadeira, né? — falou nervosa. — E agora? — perguntou para si mesma.
— Eu te ajudo a subir.
— São três andares, Matt.
— E daí? Você tem que ir pra casa, não é?
— Não precisa, eu me viro.
Matt revirou os olhos.
— Você podia ser só um pouquinho agradecida.
— Obrigada por me trazer, amanhã te dou o dinheiro do táxi.
— Eu não quero dinheiro!
— Ok. Então obrigada pela ajuda.
Ela seguiu pulando até a escada e olhou para cima. Isso ia ser muito cansativo! A ruiva olhou para trás e viu Matt parado olhando-a de braços cruzados. Por que ela tem que ser tão teimosa?
Ana segurou no corrimão e pulou um degrau, depois fez isso em mais três e olhou para trás de novo. Matt continuava na mesma posição, só que com uma cara de "você precisa de ajuda e sabe disso". A ruiva respirou fundo.
— Pode me ajudar?
— Achei que não ia pedir — disse cínico e se aproximou.
Antes que ela pudesse responder, já estava fora do chão. Como não esperava que ele fosse pegá-la no colo, agarrou o pescoço dele com força.
— O que está fazendo?
— Achou que ia te ajudar a ir pulando até o terceiro andar? — perguntou subindo os degraus.
— Tudo bem, Johnny bravo. Daqui a 15 degraus estará implorando pra que eu suba pulando — disse cínica.
— Se você pesasse alguma coisa eu até imploraria — provocou.
— Até parece que você está achando leve, já está até ofegante.
Matt não respondeu. Ele não estava cansado, mas também não sabia porque sua respiração estava acelerada.
— Pois não está pesado.
— Ok.
O loiro continuou subindo.
— Espero que minha mãe tenha deixado a chave, senão, vou ter que ir para casa da vovó lá no sétimo andar...
Matt arregalou os olhos e Ana caiu na gargalhada.
— Brincadeira.
O loiro sorriu um pouco. Que bom que o clima entre eles estava mais leve agora.