— Eu a trato muito bem na cama, se é essa a sua pergunta. Respondi arrogantemente, tentando desviar a conversa para algo que me fizesse sentir no controle.
O meu avô balançou a cabeça lentamente, a sua expressão ficando amarga.
— Um dia, a vida vai te bater tão forte que você vai chorar lágrimas de sangue, Jack. Ele disse com uma voz profunda. — Não se pode passar a vida acreditando ser dono de tudo. Eventualmente, você perceberá que não tem tanto poder quanto pensa.
As suas palavras me machucaram mais do que eu queria admitir, mas eu não ia demonstrar. Eu não poderia dar a ele a satisfação de saber que ele havia me afetado. Sentei-me irritado, incapaz de ouvir mais nenhum dos seus m*alditos sermões.
— A vida me atingiu duramente quando eu era criança, vovô. Não acho que algo pior vá acontecer comigo do que a infância miserável que tive. Respondi bruscamente, incapaz de controlar a raiva que fervia dentro de mim.
— Meu filho, eu só quero o melhor para você.
— Pare de vir aqui com os seus discursos morais. Quando precisei de você, você não estava lá. Você se importava mais com os milhões na sua conta do que com o seu neto.
Ele permaneceu em silêncio, abaixando a cabeça, porque sabia que eu estava certo. Ele não estava lá, nem a minha avó, quando me bateram, nem quando os gritos dos meus pais me deixaram noites sem dormir, ele não estava lá quando a encontrei...
— Não me peça nada. Ninguém estava lá para me ajudar quando eu mais precisei. Já é tarde agora. Vou viver a minha vida como eu quiser.
O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. O meu avô não disse nada imediatamente. Os seus olhos, por um momento, refletiram algo que não consegui decifrar. Talvez decepção. Talvez tristeza. Ou talvez, o que mais me aterrorizou, foi a aceitação de que eu já era um caso perdido.
— Eu não vou te salvar, Jack. Ele disse finalmente, com a voz baixa. — Ninguém pode salvá-lo se você não quiser ser salvo.
Ele levantou-se lentamente, apoiando-se na bengala, e olhou para mim uma última vez antes de sair do escritório.
— Cuidado, filho. A vida tem maneiras cru*éis de nos ensinar lições que não queremos aprender. Disse ele antes de partir.
Observei-o sair e, por um longo momento, fiquei ali, imóvel, com os nós dos dedos brancos de tanto agarrar a borda da mesa. O eco da suas palavras reverberou na minha cabeça e, embora eu quisesse ignorá-las, não pude deixar de sentir uma crescente sensação de desconforto.
A vida já tinha me atingido com força suficiente.
Mas e se ela ainda não tivesse terminado comigo?
(...)
Isabella Davis
──❀•❀──
Eu me tranquei no banheiro, as minhas mãos tremiam enquanto as lágrimas escorriam incontrolavelmente pelo meu rosto. A frase que Jackson disse na frente do avô ressoou repetidamente na minha cabeça, como um eco cr*uel que não me dava trégua.
Você não é ninguém.
Aquela frase penetrou o meu coração, afundando profundamente dentro de mim. A decepção foi tão grande que senti um nó no estômago, um nó que me sufocava e me enchia de náuseas. A tontura era muita e, antes que eu pudesse me conter, ajoelhei-me em frente ao vaso sanitário e vomitei.
Tudo estava misturado: raiva, tristeza, vergonha. Era como se o mundo estivesse desmoronando ao meu redor, e eu não tinha como impedir. Quando tudo acabou, fiquei ali, respirando pesadamente e com lágrimas ainda caindo.
Depois de alguns minutos, forcei-me a levantar. Fui até a pia e enxaguei a boca, tentando tirar aquele gosto amargo, não só da boca, mas também da garganta. Lavei o rosto com água fria, tentando me acalmar, e procurei na bolsa um pouco de maquiagem para retocar o meu rosto inchado.
Eu não podia ficar ali, me escondendo como uma covarde. Eu não ia deixar que ele me enganassem.
Não mais.
Olhei-me no espelho uma última vez, ajeitei a minha camisa e respirei fundo.
Eu ia encarar isso de pé.
Eu não deixaria que Jackson, ou qualquer outra pessoa, me fizesse sentir inferior. Eu me recompus e saí do banheiro com a cabeça erguida.
Quando saí para o corredor da área presidencial, vi o Sr. Russell caminhando com os seus homens em direção à saída. O meu primeiro impulso foi passar direto, certo de que ele me ignoraria, assim como havia feito antes no escritório. Eu não esperava nada mais de um homem da posição dele, principalmente depois do que testemunhei.
Mas, para minha surpresa, o veterano empresário aproximou-se de mim, com o rosto sério, mas com uma suavidade nos olhos que eu nunca tinha visto antes.
— Oi, você deve ser Isabella Davis, certo? Ele me cumprimentou com um sorriso, um sorriso que transbordava tristeza e pedido de desculpas.
Senti o meu coração disparar. Assenti timidamente, sem saber o que dizer.
— Sim, sou eu. Não consegui esconder o meu nervosismo.
Ele assentiu lentamente, como se estivesse avaliando alguma coisa.
— Desculpe não ter dito "oi" para você antes. O momento foi… muito estranho. Ele disse num tom gentil e sincero, muito diferente do homem autoritário que ela havia imaginado.
— Eu entendo você, Sr. Russell. Me desculpe.
— Não, garota, você não precisa se desculpar. Ele insistiu.
Um dos guardas aproximou-se e sussurrou algo no seu ouvido. Ele assentiu, mas antes de sair, olhou para mim novamente.
— Preciso ir agora, menina. Espero que você tenha uma boa tarde.
— Boa tarde, Sr. Russell.
Pensei que a conversa tivesse acabado, mas quando estava prestes a me virar, ouvi a sua voz novamente.
— Senhorita Davis. Ele disse antes de pegar o elevador. — Se em algum momento o meu neto... o meu neto machucar você, não hesite em me procurar.
Um dos seguranças aproximou-se e me entregou um cartão contendo as informações de contato do poderoso empresário. Eu aceitei sem saber o que fazer, a minha mente ainda processando o que tinha acabado de acontecer.
— Não precisa, Sr. Russell, eu…
— Sim, precisa. Insistiu ele, com uma expressão solene. — Sinta-se à vontade para me procurar. Você tem apoio em mim, me veja como um avô preocupado.
Assenti, sem saber o que dizer, enquanto guardava o cartão de volta na bolsa. O elevador fechou e Bennedic Russell desapareceu da minha vista, deixando-me confusa.
Voltei para minha mesa e passei o resto do dia ignorando o meu chefe, mergulhado em tarefas de escritório. Toda vez que a minha mente voltava para o que havia acontecido antes, eu me forçava a me concentrar no trabalho. Eu não podia me dar ao luxo de perder o controle novamente.
Quando eram seis horas, recebi uma mensagem de Jackson.
Você gostaria de jantar hoje à noite?
Eu li e ignorei. Rapidamente juntei as minhas coisas e fui em direção à saída sem olhar para trás.
Enquanto esperava o elevador, senti o meu telefone vibrar novamente.
Por que você foi embora sem avisar?
Eu o ignorei novamente.
Assim que as portas do elevador se abriram, vi Dan, o colega com quem eu tinha almoçado mais cedo. O seu sorriso amigável me fez sentir um pouco mais leve.
— Olá, Isabella!
— Olá, Dan. Como foi o seu dia?
— O meu dia foi ótimo, e o seu? Ele perguntou animadamente.
Sorri, embora o meu coração ainda estivesse pesado.
— Bem, também foi um bom dia. Menti, porque não tinha energia para contar a ele o que realmente tinha acontecido.
Ele não pareceu notar o meu desconforto e continuou com a sua energia habitual.
— Alguns de nós da equipe de contabilidade estamos indo conhecer uma nova lanchonete, você quer ir?
Normalmente, eu teria recusado o convite sem hesitar. Eu não costumava fazer esses passeios, com medo de ter problemas com Jackson. Mas hoje… hoje foi diferente. Hoje ouvi da sua própria boca que eu não era ninguém para ele.
— Sim, adoraria ir. Respondi surpreendido pela minha própria resposta.
Dan sorriu e acenou a cabeça quando saímos do prédio juntos. Pela primeira vez em muito tempo, decidi que não iria viver sob as regras de Jackson Russel.
Não mais.