Episódio 4

1462 Words
Ajusto a minha saia, o meu corpo ainda tremendo um pouco depois do que acabou de acontecer. Jackson ajeita a gravata em frente ao espelho, como se o que acabamos de fazer fosse apenas mais uma rotina do seu dia. Como se eu fosse simplesmente parte do caos, que é a vida dele. — Vá ajustar a sua agenda para a viagem a Paris neste fim de semana. Ele me diz, enquanto termina de dar o nó da gravata, sem sequer olhar para mim. — Sim, tratarei disso esta tarde. Respondo, tentando parecer profissional enquanto pego os meus sapatos e ajusto a minha blusa. A mistura de emoções me sufoca. Fingir que estava tudo bem estava ficando cada vez mais difícil, não quando ele estava com tanto frio depois do se*xo. ‍​‌‌​ Só então, as portas do escritório se abriram. Um homem na casa dos setenta, com cabelos pretos escuros, iguais aos de Jackson, entra no local sem avisar. A sua presença preenche tudo e, por um instante, o ar parece ficar pesado. — Vovô? O que você está fazendo aqui? Ele o repreende com aborrecimento, virando-se rapidamente. O seu aborrecimento é palpável, mas o que me faz sentir pior é o olhar do homem mais velho. Ele olha para mim atentamente e posso ler claramente nos seus olhos que ele sabe exatamente o que aconteceu entre nós. — Vim ver o meu neto e herdeiro. Não posso? Questiona o homem, com um tom tão frio quanto o do neto, como se estivessem tendo uma conversa cheia de subtextos e ressentimentos. — Você deveria me avisar. Jackson rosna, enquanto fecha o zíper das calças, tentando recuperar a compostura, embora a sua irritação seja evidente. — E você deveria ser mais discreto sobre as suas aventuras. afirma o homem mais velho, olhando para nós dois com desdém m*al disfarçado. Aventura? Essa palavra me atinge com mais força do que deveria. Sinto-me pequena, envergonhada e, antes que as coisas piorem, tento sair da situação. — Eu... se você me der licença, vou voltar para minha mesa. Digo rapidamente, a minha voz embargada pela vergonha que me consome. Só quero desaparecer, que a terra me engula. Saio do escritório o mais rápido que posso com passos apressados. O meu coração está batendo forte e a vergonha faz as minhas bochechas queimarem. Mas quando estou prestes a fechar a porta, ouço a conversa entre o meu chefe e o avô dele. — Quem é aquela linda jovem? Pergunta o velho, com a voz tingida de leve suspeita. — Você a está assediando? ElA parece muito mais jovem que você. A resposta de Jackson, no entanto, é o que finalmente me quebra. — Ela é apenas a minha assistente. — Sério? — Sim, ela não é ninguém e pare de me incomodar. Ela não é ninguém... Essas palavras cravam-se no meu peito como punhais. Sinto que o mundo está desmoronando ao meu redor. A minha garganta se fecha e lágrimas começam a brotar nos meus olhos, mas me recuso a deixá-las cair aqui, não na frente de todos. ‌‌​​‌​‌‌​‌​ ​‌ ‌‌‌​‌‌​​​‌‌​​‌‌​‌​‌​​​‌ Como eu poderia ser apenas uma assistente depois de tudo que compartilhamos? Depois de como ele me fez sentir, depois de todos aqueles olhares, daqueles momentos. Saio do escritório o mais rápido possível, buscando refúgio no banheiro mais próximo. Quando finalmente estou sozinha, olho no espelho, o meu reflexo mostrando o quão frágil me sinto agora. Respiro fundo, tentando me acalmar, mas as palavras de Jackson ecoam na minha cabeça uma e outra vez. Eu não sou ninguém. Eu me entreguei a ele, confiando que o que sentia era mais do que um jogo. Mas agora vejo isso claramente. Para ele, sou apenas mais uma pessoa, alguém que ele pode controlar e manipular como quiser. E eu, ingênua, acreditei em tudo. — O que estou fazendo aqui? Eu me pergunto, enquanto uma lágrima traiçoeira desliza pela minha bochecha. Jackson Russell ──❀•❀── Ajustei as minhas roupas depois de estar com Isabella. Toda vez que ela estava por perto, eu me sentia no controle, como se o mundo fosse exatamente do jeito que deveria ser. Mas esse controle desapareceu assim que o meu avô entrou no escritório. Bennedic Russell, proprietário e fundador do conglomerado que leva o nosso nome, olhou para mim com aqueles olhos penetrantes que pareciam ver através de mim. Embora eu tentasse manter a compostura, eu sabia que a sua aparição não era uma simples visita familiar. Ele veio com uma missão: me dar um sermão, de novo. — O que você quer agora, vovô? Disse bruscamente enquanto estava sentado à mesa, tentando soar casual, mas a irritação era evidente na minha voz. Com a sua postura ereta e aquela presença imponente que sempre o caracterizou, ele caminhou lentamente até a cadeira à minha frente e sentou-se. Não havia sinal do magnata feroz que comandava o conglomerado, mas sim de um homem mais velho que olhou para mim com algo que infelizmente reconheci muito bem: decepção. Ele me observou em silêncio, como se estivesse avaliando o quanto eu poderia afundar antes de falar. — Você continua desperdiçando a sua vida, Jack. Mulheres, álcool... O seu tom era firme, com um toque de tristeza nas suas palavras. — Eu também criei tudo isso. Interrompi ele abruptamente, apontando para o luxo ao nosso redor. — Você só vê os meus erros, mas não vê o que eu conquistei. Este lugar, esta empresa, também é minha. A raiva queimava no meu peito. Era sempre a mesma coisa. Não importa o quanto eu trabalhasse duro, o quanto eu realizasse, para ele eu era apenas mais um Russell, destinado a seguir o mesmo caminho que o meu pai. E o pior é que eu sabia o que ele estava pensando. Ele balançou a cabeça, como se esperasse a minha reação. — Eu também vejo as suas virtudes, filho. Você é brilhante, assim como o seu pai. Mas não me importo com dinheiro ou empresas. Eu me importo com o caráter de um homem, e você... a cada dia você afunda mais e mais no mesmo barco em que o seu pai afundou. Essa última frase me atingiu como um martelo. Meu pai. Sempre meu pai. Aquele homem que estragou tudo. Eu sabia que a conversa chegaria inevitavelmente a esse ponto, mas, apesar dos anos, não estava preparado para ouvir o seu nome. — Meu pai afundou porque uma vagabu*nda destruiu a vida dele. Respondi friamente, cerrando os punhos. A lembrança dele e da sua queda era como veneno nas minhas veias. A minha mãe foi a causa de tudo, e eu sempre soube disso. Vovô olhou para mim e não disse nada por um momento. Eu podia ver que ele estava tentando encontrar as palavras certas, mas sabia que ele via isso de um ângulo diferente. Um ângulo que eu nunca entenderia. — A vida apresentou desafios ao seu pai, mas o que o destruiu não foi uma mulher, Jack. Era sua incapacidade de lidar com o que estava acontecendo dentro dele. Ele respondeu naquele tom calmo que sempre me deixava louco. — E agora eu olho para você e vejo os mesmos fantasmas te assombrando. A raiva cresceu no meu peito. Era como se tudo o que eu havia prometido a mim mesma que nunca repetiria na vida estivesse vindo à tona naquela m*aldita conversa. Levantei-me e andei ao redor da mesa, tentando me acalmar, mas as palavras do meu avô só me deixaram mais irritado. — Não me compare a ele. Eu não sou como o meu pai! — Não estou dizendo que você é, obviamente não é agora, mas... — Mas nada! Eu lhe viro as costas, enojada com tudo isso. De certa forma, eu era o mesmo reflexo do meu pai, mas não era como ele. — E você ainda faz terapia? Ele perguntou, com um toque de preocupação atrás de mim. Revirei os olhos, exasperado. — Deixei isso para trás anos atrás. Estou bem agora. Não preciso de terapia, vovô. Não sou uma criança quebrada, respondi asperamente, mesmo sabendo que aquelas sessões tinham sido minha única fuga na época. O silêncio tornou-se pesado. Eu me viro para ele, Bennedic estreita os olhos, sabendo que eu não estava sendo totalmente sincero. O que se seguiu foi pior, muito pior. — Pelo menos me diga que você está tratando bem aquela garota, Jack. Ele perguntou, claramente se referindo a Isabella, embora não tenha dito o nome dela. Essa pergunta trouxe um sorriso irônico ao meu rosto.
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