Que dia!

1126 Words
Quando fomos visitar as enfermeiras, não conseguia parar de pensar: pais e mãe! Até alguns meses atrás, eu era órfã, e agora tinha uma família biológica e uma adotiva. Ainda não sabia quem eram meus pais biológicos nem por que fui deixada no manicômio, mas era emocionante. O carro ficou silencioso no caminho de volta para casa. Christian, bisbilhotando a estrada pela janela, pediu: — Pode, por favor, parar aqui, senhor? — Claro, mas por que, Christian? — perguntou o senador Lowtner, freando. — Porque esta aqui é a minha casa. A casa de Christian era grande, não no estilo de uma mansão imponente, mas sim como um lar acolhedor e adornado por flores. Ao estacionarmos, o senador solicitou que permanecesse no carro, decidindo aguardar ali. Christian, concordando com a ideia, segurou minha mão e começou a me conduzir em direção à casa. — Vai com calma, Christian! Deixe-me arrumar o vestido. — disse, sem ao menos saber o que isso significava. — Você está linda, Isabel! Sempre está. E isso me convenceu. Christian bateu na porta algumas vezes até que ela se abriu. Uau. Meu olhar foi diretamente para os olhos verdes de uma morena parada na entrada, seus cabelos levemente ondulados e um sorriso esbelto. Ela parecia surpresa, enquanto Christian demonstrava uma v*****e quase palpável de escapar dali. — Natalie? — disse, ainda ofegante. — Chris! — A mulher subiu um pouco seus shorts jeans, que já eram curtos demais, nem percebendo minha presença até Christian me apresentar. — Esta aqui é Isabel. — falou revirando-se para mim, e Natalie fez o mesmo. — E está aqui Isabel, é a Natalie. — Sou a namorada dele — comentou a morena. — Ex. — Nem chegamos a terminar — Ela retrucou. Notei quando Chris revirou os olhos. Eu dei um sorriso, daqueles por educação. — O que faz aqui? — perguntou Christian. — Seu pai está abrindo um novo negócio de limonada, e advinha quem se candidatou a ser sua secretária? Eu! — respondeu sorridente. — Venha, Chris, entre. Seu pai ficará tão feliz em te ver. Eu dei os ombros, ainda processando a revelação. — Vá, eu ficarei bem. — pedi. — De jeito nenhum, Isabel. Quero te apresentar ao meu pai. — E foi aí que me lembrei de quando Christian tinha mencionado que sua mãe tinha morrido. — Mas e aquela garota... A Natalie? — O que tem ela? — Venham, logo! — chamou da cozinha a linda e ex-namorada do Chris e eu fui obrigada a entrar também. O pai de Christian era uma figura acolhedora. Seus olhos transbordavam de alegria, refletindo a satisfação genuína de reencontrar o filho. O abraço que ele deu em Christian era robusto e caloroso, carregado de emoções acumuladas pela saudade. — E quem é essa linda garota? Foi a qual você falou? Christian tinha falado sobre mim? Para seu pai? — Sim, é ela. — admitiu Christian, ficando vermelho, enquanto a morena revirava os olhos. — Ela é bem mais bonita do que me disse. Ele também disse que eu era bonita? Tivemos uma conversa de trinta segundos e esquecemos completamente que o senador estava lá fora. — Christian, espere aí. Vou ver se o senador está bem. Fui até a porta e notei que senador continuava lá, pensativo em seu carro. — Oi. Desculpe a demora. — Está tudo bem, o que acha de vim buscá-los depois que tiverem terminado? Acho que Christian estava com muitas saudades deles. — Sério? Seria maravilhoso. — disse e me retirei. A porta rangeu suavemente quando entrei na casa de Christian, e minha respiração ficou presa por um momento. A cena diante de mim era como um soco no estômago, um golpe inesperado que me deixou atordoada. Natalie e Christian estavam ali, perdidos em um beijo apaixonado, como se o mundo ao redor deles tivesse desaparecido. Eu deveria ter previsto isso, talvez. Afinal, eles tinham um passado, uma história que eu desconhecia por completo. A sensação de ter sido pega de surpresa era esmagadora, e lágrimas começaram a embaçar minha visão. Virei-me involuntariamente, incapaz de encarar aquela cena mais tempo. Cada batida forte do meu coração ecoava como um lembrete doloroso da situação. A porta, fechando-se com um estrondo, foi um reflexo físico da tempestade emocional que se desenrolava dentro de mim. Os pensamentos, antes tão claros, agora eram uma mistura confusa de incredulidade e mágoa. Por que isso estava me afetando tanto? Christian não era meu namorado, e eu não tinha o direito de cobrar explicações sobre sua vida pessoal. No entanto, a dor persistia, teimando em ocupar um espaço indesejado em meu peito. Gritei pelo senador que não estava tão longe, que deu a volta de imediato para me buscar. Entrei freneticamente no carro e desabei. — O que foi, querida? — Não foi nada. Só vamos logo, o Christian ficará bem. Após chegarmos, corri em direção ao meu quarto, onde as emoções entrelaçavam-se num nó apertado dentro de mim. A traição de Christian ainda reverberava em minha mente, e as lágrimas insistiam em escapar, teimosas, como se quisessem aliviar a dor que se instalara em meu peito. Philip, inesperadamente, seguiu-me até o quarto. Seu rosto refletia uma preocupação genuína. — Você está bem? — perguntou, enquanto eu tentava secar as lágrimas que insistiam em rolar. — Estou bem, sim. — respondi, esboçando um sorriso frágil. Seus olhos azuis fixaram-se nos meus, como se procurassem respostas que eu mesma não conseguia dar. A pergunta inevitável pairava no ar, e eu sabia que precisava compartilhar o peso que carregava. — O Christian... — respirei fundo, tentando encontrar as palavras certas. — Ele... ele beijou a Natalie. Um silêncio tenso se instalou no quarto, e eu pude ver a expressão de surpresa e preocupação no rosto de Philip. Ele estava ali para mim, disposto a ouvir e a oferecer apoio. — Quem é Natalie, e por que você se importa? — questionou, e a sinceridade em seus olhos era reconfortante. Aquela pergunta, simples e direta, era como um convite para entender meus próprios sentimentos. Eu não tinha uma resposta clara, apenas a certeza de que algo dentro de mim estava profundamente abalado. — Natalie é a ex-namorada dele. — afirmei. — Tá, mas e a outra pergunta? — insistiu. Minha mente mergulhou em um misto de confusão. — Juro que não sei. — admiti, antes de me render a um gesto inesperado. Beijei Philip, e o breve encontro de lábios trouxe consigo uma mistura de alívio e incerteza. Quando me afastei, percebi, ao revirar meu rosto, que Christian estava paralisado na porta, testemunhando o desenrolar daquela cena inusitada. Uma sensação de desconforto e inevitabilidade enquanto eu tentava decifrar as reações que se desenhavam nos rostos ao meu redor.
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