30 de agosto de 2000.
Um dia não tão normal quanto todos os outros, talvez pelo fato de ser o primeiro dia de aula no ensino médio, ou até mesmo por algum motivo desconhecido.
Douglas estava sentado em um banco em frente ao colégio rodeado por seus amigos e por alguns outros caras que não conhecia. Ele esperava conseguir entrar para o time de futebol americano e continuar tirando notas boas. Ele nunca foi um rapaz bagunceiro, talvez um pouco namorador, ou galinha se assim preferir, mas sempre manteve as notas altas.
Ele se mantinha tranquilo, mesmo faltando apenas alguns minutos para poder entrar de vez no ensino médio. Os caras com quem estudava estavam envolvidos em uma conversa animada sobre algum assunto fútil, mas ele não conseguia se concentrar. Do nada uma onda de nervosismo envolveu Douglas, ele olhou para todos os lados procurando por algo, só não sabia exatamente o quê.
E foi nesse exato momento que seus olhos cruzaram com os dela, uma moça de longos cabelos loiros e os olhos verdes mais lindos que ele já tinha visto. Você acredita em amor à primeira vista? Ele não acreditava, m*l acreditava no amor. Cresceu em uma casa onde conflitos eram mais comuns que afetos.
Não sabia o que estava sentindo naquele momento, mas a moça que parecia tímida estava parada olhando-o assim como ele a olhava.
— Para de encarar, cara. — Um dos amigos de Douglas falou dando um tapa nas costas dele. Ele sorriu timidamente, abaixou o olhar e voltou a olhar novamente. Mas a menina já não estava olhando em sua direção, ela olhava em outra direção.
Ele seguiu o olhar dela e encontrou um rapaz loiro, que parecia um pouco mais velho indo na direção dela com um grande sorriso. Esse rapaz a abraçou e falou alguma coisa em seu ouvido. Douglas sentiu um enorme desconforto com aquilo, mesmo sem ter motivos para isso. Quando o sinal tocou, todos os rapazes se levantaram e seguiram fazendo brincadeiras até as suas salas, estavam eufóricos.
Nos dias seguintes, a garota loira não apareceu na escola, nem nas semanas seguintes. Passou-se um mês até que ela finalmente voltou a aparecer. Douglas passou mais alguns meses apenas a observando de longe. Logo ele que era um cara que tinha facilidade com as mulheres, não conseguia reunir coragem suficiente para falar com ela. Até que a vida resolveu dar uma ajudinha a ele, literalmente.
Um dia, ele estava atrasado e corria pelos corredores para chegar a tempo na aula de biologia. Alguém chamou pelo seu nome e ele olhou para o lado, em seguida foi atingido por algo pesado. Caiu no chão de olhos fechados, abriu os olhos devagar e sorriu ao ver quem estava ali com ele: A moça dos olhos claros.
— O que aconteceu? — Ele perguntou confuso enquanto se recompunha.
— Um carrinho de limpeza desgovernado te atingiu. — A menina falou, parecia preocupada.
— Qual o seu nome? — Ele perguntou, enquanto se levantava
— Sarah Smith. — Ela respondeu com aquela voz doce, sorrindo e o ajudando. Ela não perguntou o nome dele, mas parecia querer saber, então ele se apresentou.
— Eu sou Douglas Fitiz. — Sarah fez questão de levá-lo até a enfermaria e ficou ao lado dele enquanto a enfermeira do colégio fazia curativos em sua cabeça.
Depois disso, a aproximação entre Douglas e Sarah se tornou uma bela amizade, mas ele não sentia que deveria ser apenas aquilo. E então um dia arriscou-se e a pediu em namoro, para a sua surpresa, ela aceitou muito bem. Passaram os três anos seguintes juntos, e ele a amando cada vez mais, já estava no final do ensino médio quando ele decidiu pedi-la em casamento.
Organizou um jantar lindo à luz de velas e fez o pedido, ele achou que ela não fosse aceitar, mas ela aceitou. Os dois combinaram de ir juntos para a faculdade, eles queriam fazer música na Juilliard. Entrariam no ano seguinte e se casariam após se formarem.
Para todos, eles eram o casal mais lindo já visto. Combinavam e se entendiam em todos os aspectos, e para eles, a felicidade nunca esteve tão evidente.
Faltando apenas dois meses para poderem ir para Juliart, em uma noite de neblina, Douglas sentiu um aperto no peito, sabia que precisava ver Sarah. Pegou o carro e foi até a casa dela, chegando lá todas as luzes estavam apagadas. Ele bateu na porta, gritou várias vezes e realmente não havia ninguém lá. Tentou ligar nos telefones de todos da casa, mas ninguém atendia, decidiu então ir para casa.
Semanas se passaram e ele tentava ligar todos os dias e agora os telefonemas nem chamavam mais, iam direto para a caixa postal. Aquele aperto no peito continuou crescendo, a casa continuava vazia e ele temia pelo que poderia ter acontecido.
Quando se passaram exatas quatro semanas, ele recebeu um telefonema do pai da Sarah, e com esse telefonema a vida de Douglas acabou. Sarah estava internada há um mês por causa de dois tipos de câncer, e no dia anterior havia feito uma cirurgia a qual infelizmente não resistiu.
Douglas culpou-se por não perceber antes, por não passar mais tempo com ela, por não ajudá-la. Culpou-se por achar que ela estava bem quando na realidade estava morrendo. Chorou trancado em seu quarto durante o dia inteiro, e seu irmão mais novo, Brad, tentou consolá-lo, mas de nada adiantou.
Três dias depois aconteceu o enterro de Sarah, Douglas não aguentou ficar até o final, foi embora antes de enterrarem o seu caixão. Os dias que se seguiram foram de estrema tristeza, ele havia perdido a vontade de viver, havia perdido o motivo pelo qual viver.
Antes de conhecê-la, a vida dele era vazia, e quando a conheceu parecia que tudo finalmente fazia sentido, ele tinha algo pelo que lutar. Algo que fazia a vida realmente valer a pena, mas isso havia acabado.
Pensou várias vezes em matar-se, não conseguia sair de casa porque cada lugar de FellsFord lembravam ela. E as lembranças traziam muita dor para ele, era como se tivesse um peso de muitas toneladas em cima de seu coração. Ela era a sua vida e havia morrido, decidiu então que a partir daquele momento não iria viver, iria apenas existir.
Ele queria fazer algo por ela, queria que a morte dela não fosse em vão. Decidiu então largar a música e fazer Medicina, salvaria vidas. Sentia que isso era o mínimo que poderia ter feito por não conseguir salvar a vida dela.
*
19 de maio de 2014.
Madson havia acabado de sair do seu trabalho, caminhava feliz pelas ruas e despreocupada, finalmente havia saído mais cedo. Faria uma surpresa para Caleb. Apesar de todas as brigas que eles tinham, Caleb era um namorado carinhoso que sempre atendia aos pedidos dela.
Eles namoravam sério há dois anos, haviam se conhecido no colegial e logo se apaixonaram. Ela havia desistido do seu sonho de cursar uma faculdade grande para ficar no Arizona junto com ele. Cursaria uma faculdade local mesmo e depois faria especialização.
Era um dia especial, exatamente neste dia eles completavam dois anos de namoro. Resolveu ir andando porque o apartamento onde Caleb morava era próximo ao trabalho dela. Não demorou mais de quinze minutos para chegar até o apartamento de seu amado, como de costume o porteiro a deixou entrar, ela ia lá quase todos os dias e já tinha a chave da casa.
Entrou no elevador e apertou o andar do apartamento de Caleb, uma mulher atrasada correu pedindo para que ela segurasse o elevador, quando as portas iam fechando ela segurou e a mulher pôde entrar. O elevador fez seu caminho silencioso e lento até o andar onde Madson desceu, ela achou estranho a porta do apartamento estar trancada, mas tinha a chave. Procurou na bolsa e abriu a porta. Passou pela sala e pelo chão haviam roupas do Caleb jogadas, enquanto fazia seu caminho até o quarto dele seu sorriso foi morrendo.
Haviam peças femininas espalhadas pelo corredor e quanto mais se aproximava do quarto dele, mais gemidos e risos ouvia. Temeu continuar, mas tinha que ter certeza do que estava acontecendo ali. Ela não queria acreditar que ele seria capaz disso.
Empurrou a porta já entreaberta devagar e não acreditou no que estava vendo. Caleb estava com duas mulheres na cama. Logo na cama em que eles faziam amor. Se perguntou por quanto tempo aquilo já vinha acontecendo.
Quando ele a viu, tratou de se cobrir, levantar da cama e começar a ir em direção a ela. Em vez de gritar e xingá-lo, ela estava paralisada, algumas lágrimas escorriam pelo seu rosto, não conseguia forçar as pernas a se moverem. Queria correr dali e esquecer que um dia havia amado aquele traste.
— Amor, eu posso explicar. — Ele falou e encostou a mão no ombro dela.
— Não encosta em mim. — Ela gritou dando um passo para trás, sentia nojo dele, nojo de si por ter se deitado com ele enquanto ele deitava com outras. Queria arrancar a própria pele por ter sido tocada por ele. — Eu tenho nojo de você.
— Não é o que parece.
— Não? — Ela falou sorrindo de um modo irônico, várias lágrimas escorriam pelo seu rosto.
— Não, eu posso explicar. — Ele se aproximou dela encostando a mão na cintura dela.
— Eu te avisei para não encostar em mim. — Ela falou e deu um tapa na cara dele.
— Sua v***a! — Ele falou enquanto colocava a mão no local atingido.
Ele gritou mais algumas grosserias, mas ela não conseguiu ouvir, saiu correndo com o rosto banhado em lágrimas. Não conseguia pensar em nada, só pensava que o Caleb dela a havia traído. Entrou no elevador e apertou o botão do térreo, encostou a cabeça na parede do elevador e desabou ainda mais no choro.
Como não havia percebido? Era culpa dela a traição? Quando as portas do elevador se abriram, ela correu passando por todos sem levantar a cabeça, correu pela rua, quase foi atropelada. E continuou correndo até chegar ao lugar que a acalmava, era um lago. Sentou em um dos bancos e chorou, lembrou-se de todos os momentos que eles haviam vivido.
Procurou por evidências que poderiam tê-la avisado, encontrou várias e sentiu-se i****a por não perceber antes. Não voltou para casa naquela noite, ficou no lago, não poderia encontrar a mãe naquele estado.
Ela decidiu que iria mudar a própria vida, precisava ir embora daquele lugar. Mudaria a escolha da faculdade, a mãe teria que entender. A sua vida ali havia acabado, mas não deixaria que acabasse para sempre, se renovaria e seria independente.