Episódio 5

1398 Words
Sofia aplicou cuidadosamente a pomada na pele de Rafael, sem ter ideia do que ele estava pensando naquele momento. — Pronto, vamos descer para jantar, não vamos deixar o vovô esperando. Rafael assentiu. Os dois saíram do escritório e desceram as escadas até a sala de jantar, onde o avô já os esperava à mesa. Ao vê-los descer juntos, ele rapidamente chamou Sofia com um sorriso para participar do jantar, foi uma mudança completa de atitude comparado a como ele havia repreendido Rafael antes. — Sofia, venha jantar rápido, deixe Alba servir um pouco de sopa primeiro para que você possa comer bem. — Claro, vovô. Sofia respondeu obedientemente, sentando-se ao lado de Rafael e ao lado do avô. O avô Isaac adorava Sofia, não só pela missão de um velho companheiro de armas, mas porque conhecia bem o neto: era um homem sem sentimentos, que facilmente enganava e magoava. Sofia não só tinha um caráter puro e gentil, embora parecesse frágil, ela tinha uma tenacidade e determinação nela, ela era a mulher ideal com quem compartilhar as alegrias e as tristezas. Ele esperava que Rafa, aquele homem teimoso, logo percebesse o quão valiosa Sofia era, talvez até lhe dessem um bisneto, assim ele poderia morrer sem arrependimentos. — E se vocês voltassem para cá? Sofia, você fica sozinha em casa o dia todo, seria bom se você viesse me fazer companhia. — Não ofereço nenhuma oposição. Rafael falou, as palavras do avô faziam sentido, voltar para a casa da família para morarem juntos poderia ser menos chato para Sofia. Rafael nem tinha percebido que já estava pensando no que era melhor para Sofia sem perceber isso. Ao ouvir o convite do vovô, Sofia, que realmente não queria ficar sozinha em casa, mas estava grávida e mudar para a casa grande significaria que o vovô descobriria, decidiu rejeitar a proposta. — Vovô, está tudo bem, estou acostumada. Se Rafael chegar tarde, poderá atrapalhar o seu descanso. Morar sozinha também facilita cuidar dele. Rafael não esperava que Sofia rejeitasse a oferta, afinal morar na casa grande significava ter o avô ao seu lado, e ele era um grande apoiador dela. Não entendendo totalmente a sua recusa, mas ele decidiu deixar para lá. O vovô Isaac também estava preocupado com o relacionamento do jovem casal, temendo que essa tal Pilar causasse problemas. Se morassem com ele, ele poderia ficar de olho na situação, sabendo que Sofia, com seu temperamento, certamente estaria em desvantagem. Mas como Sofia rejeitou a oferta, ele não insistiu mais. — Bem, respeito a sua decisão, mas se o Rafael fizer algo com você que te deixe com raiva, me diga, e eu te defenderei. Ele disse, lançando um olhar severo para o seu neto. Rafael continuou comendo impassível, como se não tivesse ouvido o avô. — Não se preocupe vovó, o Rafael é muito bom comigo. Rafael pegou um pedaço de pão e olhou para cima, não entendia direito porque a sua esposa, com quem ele era casado há quase três anos, se preocupou em defendê-lo na frente do vovô, ela poderia até ter reclamado, e o vovô certamente teria apoiado ela. Ao ver Rafael erguendo a sobrancelha, Sofia, sentindo-se culpada, abaixou a cabeça para continuar comendo. — Já que você não planeja se mudar e já é tarde demais, passe a noite e vá para casa amanhã. Vendo que Rafael não protestou, Sofia aceitou a oferta. — Está bem, vovô. Depois do jantar, que transcorreu em rara harmonia, Rafael não se preocupou com o trabalho, ficou na sala com Sofia e o avô assistindo televisão. O avô Isaac, sendo mais velho, logo retirou-se para descansar com a ajuda do mordomo, deixando Rafael e Sofia sozinhos. Sofia achava que sem o vovô Rafael não teria que continuar fingindo que gostava de ficar na presença dela. — Você pode ir fazer o que quer, vou assistir TV um pouco mais e depois vou para o quarto. — Não estou ocupado hoje. Sofia pensou que talvez ele quisesse relaxar um pouco, já que ele estava brincando no celular e não parecia estar prestando atenção na TV. Ela deixou ele fazer as coisas dele, e com o vovô já descansando, ela se acomodou com um travesseiro e sentou de pernas cruzadas no sofá, focada na TV. Era o último episódio da série que ela acompanhava e planejava assistir o final. Era uma série comovente e o final não foi feliz. Os protagonistas acabaram separados, e Sofia, imersa na história, não pôde deixar de chorar. Rafael que estava deitado no sofá, folheando as notícias no celular, ele mesmo não entendia porque ainda estava ali, perdendo tempo no celular quando tinha muito trabalho pendente. Antes ele nunca teria perdido tempo com dramas tão triviais, mas ver Sofia, sentada tão calmamente no sofá, fez com que ele sentisse o aconchego do lar, aquela sensação de estar em família. Enquanto Rafael mexia no telefone, ele começou a ouvir soluços intermitentes. Ao levantar os olhos, viu Sofia chorando incontrolavelmente, as lágrimas escorrendo como pérolas sem fio, e os olhos dela vermelhos de tristeza. Rafael, desnorteado com a situação, aproximou-se rapidamente e ofereceu-lhe um lenço, perguntando: o que está acontecendo? — Eu… estou bem, é a série… é muito triste, o protagonista morreu. Sofia tentou conter as lágrimas, falando com a voz entrecortada e um pouco agitada. Ela se sentiu um pouco envergonhada ao ver Rafael se aproximando, pois chorar daquele jeito por um programa de televisão lhe parecia ridículo, mas a trama era tão trágica que ela não conseguiu evitar. Desde que engravidou, a suas emoções eram uma montanha-russa, ela poderia facilmente ser afetada pela tristeza ou pela alegria. Rafael, por sua vez, sentiu um alívio inexplicável ao perceber que era apenas por causa do drama televisivo. — Agora se acalme, não chore mais. Se o meu avô nos ouvir, vai pensar que fiz algo ru*im com você. Rafael tentou consolar Sofia com uma suavidade na voz que nem ele mesmo notou. Sofia continua soluçando. Rafael acariciou as suas costas gentilmente, tentando acalmá-la. Aos poucos, Sofia se acalmou. Ao vê-los juntos naquela posição, ele sentiu um leve rubor de vergonha. — Vamos, não chore mais. A série acabou. Vamos subir para o quarto descansar, não veja mais nada por hoje. Naquele momento, Sofia sentiu que a ternura de Rafael a empurrava ainda mais para o abismo. Ele a tratava como se ela fosse seu tesouro mais precioso, mas no fundo Sofia sabia que Pilar era seu verdadeiro amor. Ela se consolou pensando que talvez Rafael só quisesse evitar a bronca do avô. Subiram juntos para o quarto e nesse momento o telefone de Rafael tocou. Ao ver o número desconhecido na tela, Sofia sabia que devia ser uma ligação importante. — Você vai tomar banho, eu tenho que atender essa ligação. — Tudo bem. Sofia foi até o armário pegar o pijama e entrou no banheiro, fechando a porta atrás de si. Encostada na porta, ela pensou na breve demonstração de afeto que havia sentido. Esse pequeno gesto a fez abrigar esperanças que ela sabia que não deveria ter. Se ela contasse a Rafael sobre o bebê, ele a faria ficar? Porque eu sabia que ele seria um excelente pai. O avô havia lhe dito: Sofia, o Rafa tem sido muito forte desde que perdeu os pais, ele nunca derramou uma lágrima. Ele valoriza muito os laços afetivos, por isso está esperando por Pilar todo esse tempo, mesmo que ela não seja a pessoa certa para ele. Nestes anos, Rafa ansiava pelo aconchego de um lar. Se formarem família própria e tiverem filhos, nunca se separarão. Foi o conselho do avô. Que ela tentasse engravidar para manter Rafael ao seu lado. Mas ela sabia que mesmo que pudesse ficar com Rafael, ele nunca possuiria o seu coração. Ela queria que Rafael fosse feliz e estava disposta a fazer qualquer coisa para garantir isso. Intuitivamente, Sofia sabia que a ligação era de Pilar. Ela não sabia o que diziam um ao outro. E se Rafael saísse para procurá-la e não voltasse? Mesmo que ele a encontrasse, Sofia não tinha o direito de reclamar de nada. Afinal, o casamento deles era de conveniência e o contrato de três anos estava prestes a terminar. Se não fosse a sua chegada inesperada e a insistência do avô para que se casassem, Rafael estaria atualmente com Pilar, não estaria?
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