Valéria narrando O cheiro de gordura impregnava no cabelo, na roupa, na pele. Todo dia era isso: eu ali, na cozinha da pensão, lavando prato, servindo café pra esses favelados s*******o, aguentando desaforo de gente que acha que eu sou empregadinha. E tudo isso porque o Mário resolveu que eu tinha que “pagar minha estadia”. Como se eu fosse uma qualquer. Como se ele fosse o dono da p***a toda e eu devesse alguma coisa pra ele. Mas eu engolia. Não porque queria, mas porque precisava. Ficar sem lugar pra dormir era luxo que eu não tinha. Desde que larguei a Manuela lá atrás, a vida virou essa bagunça. Tinha dias que eu me arrependia. Outros, nem tanto. Criar filha não era pra mim. Nunca foi. E agora? Ela lá, mandando no morro com aquele Matteo, e eu aqui, passando pano no chão da pensão.