Dom narrando
Flashback - 1 ano atrás
Acordei com a p***a do celular tocando. m*l o sol tinha saído e já tinha merda acontecendo. Olhei o visor e vi que era o meu velho, Germano. Quando o coroa liga, é porque o bagulho é sério. Ele não costuma encher o saco por qualquer merdinha. Respirei fundo, já sabendo que daqui para frente só pra trás
– Fala, pai bom dia – atendi, ainda de olhos fechados.
– Dom, preciso de você aqui no México, ainda hoje – a voz dele tava séria, sem enrolação. Coisa grande. Se não fosse importante, ele não mandava esse papo.
– México? Que p***a tá pegando? – perguntei, sentando na cama, esfregando os olhos, já com a sensação de que ia me f***r bonito.
– exatamente, Dom, estou te aguardando ainda hoje aqui, não tente me enrolar, o assunto é sério e impossível de ser falado por ligação– assim que ele termina de falar ele desliga sem nem me dar a chance de responder.
A p***a da ligação ficou martelando na minha cabeça. "México?" Ele nunca pedia pra eu ir lá. Essa merda era nova. Será que tava acontecendo algo com minha mãe? O que será que ta acontecendo mano? E o pior, ele trata o México como se fosse uma cidade na serra, que não fosse tão longe, e a sua pressa é o que me deixa ainda mais aflito
Me levantei, me arrumei rápido e mandei uma mensagem pro meu irmão: "Fala ai. Cuida da p***a toda aí, tô saindo e volto em alguns dias. Qualquer coisa, me avisa." O meu irmão é o frente do meu morro, e ele tem que cuidar de tudo ate eu voltar. E eu espero que ele faça tudo direitinho, por que eu não tenho paciência pra palhaçadinha de ninguém nessa p***a.
Sendo meu irmão ou não ele sabe que se eu tiver que cobrar eu cobro, eu sou muito chato com as minhas favelas, e meu irmão sabe disso
Ele é o único que eu confio, ele é meu braço direito, esquerdo, minha extensão, nós somos parceiros em tudo, ele é o único que tem um pouco mais de acesso a minha pessoa
Cheguei no México no mesmo dia, fui direto pro casarão dos meus pais. Aquela mansão era de outro nível, coisa de máfia mesmo. Quando eu entrei, vi os dois sorrindo, e eu sorri aliviado abraçando a minha mãe vendo que não era nada com ela, pelo menos isso
Na sala, além deles, tinha um homem que eu não conhecia. Mas só pela postura, pelo terno, pelo charuto nos dedos, a pistola dourada que mostrava na barra da sua calça, e pela maneira como meu pai tratava o sujeito, dava pra ver que o peixe era grande. O velho não dava espaço pra qualquer zé b****a, Ainda mais para entrar na nossa casa. Quando me aproximei, meu pai abriu o jogo.
– Dom, esse é o Raul. - ele me apresenta ao homem que permanece na mesma postura inicial assim como eu- Ele comanda um cartel aqui no México. E ele tá aqui por uma razão importante. – Ele me olhou de um jeito que eu já sabia que vinha merda. Eu cumprimentei o homem com um aperto de mão encarando friamente os seus olhos.
– E? – perguntei, ainda tentando entender o que estava rolando.
– Você tá noivo, Dom. – meu pai disse e aí o chão sumiu debaixo de mim.
Eu ri, um riso debochado e sem graça, olhei pra minha mãe e depois pro meu pai.
– Eu? Noivo? O senhor está falando sério ?- eu falo rindo ainda sem acreditar em algo assim
– Isso, Dom. É sério. Raul está aqui porque você vai casar com a filha dele, a Maithê – disse meu pai soltando aquela maldita fumaça do charuto, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo.
Eu sentei no sofá, sem acreditar na merda que tava ouvindo. Não era possível. Casamento? Com uma mulher que eu nunca vi na vida? Que p***a é essa? Eu sou surtar aqui p***a, não é possivel. Eu virei um copo de Whisky tão rapido que o meu estomago chegou a doer.
O Raul começou a falar da filha dele, todo orgulhoso, como se eu estivesse interessado naquela merda. Eu não conseguia prestar atenção em nada do que ele dizia. Eu tava só segurando a bronca pra não mandar todo mundo tomar no cu na frente daquele peixe grande. Fiz a pose, mantive a postura, e enquanto o Raul estava ali falando da sua filha, eu me mantive em silêncio, mas meu pai sabia que eu não estava nada satisfeito com essa reunião, ele conhece bem o filho que tem, e quando o Raul saiu, eu já me levantei alterado.
– Cês tão de s*******m com a p***a da minha cara? Cês tão malucos? Como assim arrumaram uma p***a de noiva pra mim? Desde quando eu sou obrigado a casar com alguém? p***a! – gritei, já andando de um lado pro outro.
Minha mãe tentou manter a calma. – Querido, essa família é importante pra gente aqui no México. É pro bem dos negócios.
Negócios? Eu juro que eu ia mandar um f**a-se bem grande pra isso, mas ela ia da um tapa na p***a da minha cara, então eu engoli a p***a do palavrão bem colocado que eu ia mandar.
– Eu sou dono de um morro, não moro nessa p***a do México! Não quero saber dessa merda de cartel! A vida é minha, c*****o- eu me altero olhando para o meu pai que ainda se mantinha sereno vendo o meu descontrole - nós temos um acordo pai, eu fico no morro, controlo as favelas da mamãe de lá, tomo novos territórios, e quando o senhor morrer eu assumo aqui, mas eu não vou viver aqui, e muito menos casar com uma mulher que eu não conheço, que eu não tenho interesse - eu falo firme com ele - o senhor está me tirando pra otario, isso nunca existiu no nosso acordo, e eu não vou aceitar isso- eu falo muito irritado e acendo um cigarro para tentar me acalmar porque parecia que eu ia ter um infarto
Meu pai, do jeito frio dele, largou o charuto, se levantou e me olhou nos olhos.
– Você vai fazer isso pela família. Raul é um aliado forte, e essa foi a condição pra fecharmos o negócio. Se você não fizer, todo o nosso império aqui desmorona.
Eu não aguentei..
– f**a-se o império! Eu não sou obrigado a casar com uma mulher que eu nunca vi! E se a mulher for feia? E se não souber nem f***r do jeito que eu gosto? Tá maluco, p***a? Não sou brinquedinho de ninguém, esse não era o nosso combinado pai, e você sempre me disse que homem tem que ter palavra, cadê a sua ?- eu falo e ele se levanta de sua poltrona e para bem perto de mim me encarando com ódio
Minha mãe tentou disfarçar uma risada quando ouviu a última parte. – Ela é virgem, Dom, e é uma linda mulher, nós já a conhecemos– falou com uma calma que só fez piorar meu humor.
– Virgem? Cês tão de s*******m, né? Isso aqui é uma piada, papo reto. Eu lá quero mulher virgem? Pra quê? Pra eu ainda ter que ensinar a f***r? Não, tô fora dessa p***a. Amanhã mesmo eu tô voltando pro meu morro. Acabou essa palhaçada.- eu ri com deboche e nervosismo passando a mão no meu rosto aflito
Meu pai balançou a cabeça, como se não acreditasse na minha reação. Olhou pra minha mãe com uma cara e soltou um
– Esse é mesmo o nosso filho? - meu pai fala dividido entre a fúria e a ironia
– Ele é brasileiro e carioca, esqueceu?- ela fala rindo suave e passa o seu braço pelo meu encostando a sua cabeça no meu ombro com um gesto de carinho
Olhei pros dois, sentindo que o sangue ia explodir de raiva enquanto os dois ficaram rindo da p***a da minha cara
– Eu não vou casar com essa mulher. Vocês não vão me obrigar, c*****o!- eu falo irritado e me afasto da minha mãe - não é esse mundo o que eu vivo, eu não ajo com as normas daqui, eu faço o que é preciso pela família sim, mas me casar é demais porque eu sei mundo bem as regras da máfia sobre casamento, e nós somos milionários, vocês não precisam que eu me case com uma qualquer, que eu nunca vou poder me separar, por capricho de vocês, eu sempre deixei isso claro- eu falo irritado - querem casar alguém ? Chama o matteo e casa ele p***a, agora, eu não vou me casar - eu falo com o meu pai mostrando toda a minha irritação
– Vai sim – disse meu pai, com a calma de sempre, como se ele já tivesse decidido por mim. – Esse casamento vai acontecer, quer você queira, quer não. É pela família, Dom. Você sempre soube que sua vida é diferente, e você é o primogênito, então quem tem que casar é você - ele fala decidido
Eu respirei fundo pois queria falar um monte pra ele, e eu nunca fui desrespeitoso com eles, mas dessa vez eles passaram dos limites pra mim, sinceramente, nós tínhamos um acordo e o meu pai cagou a p***a toda
– f**a-se – murmurei, engolindo o palavrão mais alto que ia soltar. – Vou voltar pro meu morro, e vou viver do meu jeito. Não preciso de cartel nenhum, não preciso dessa merda toda aqui. Vocês querem vender minha vida por poder? Eu não sou bonequinho de vocês, eu dou o meu sangue todos os dias por aquela favela, por todas elas, mando milhões para cá, vocês, ou melhor, nos, cada um de nós quatro, somos milionários, e juntando nossa família eu cogito falar até em bilhões, e vocês ainda cogitam me obrigar a casar, eu entro numa guerra mas eu não me caso - eu falo firme e tão decidido quanto o meu pai
Me virei pra sair e andei pro meu quarto que tinha ali, eu ate me perdia em tantas milhares de porta. Eu entrei e bati a porta tão alto, que eu não sei como ela não partiu no meio com o estrondo que fez. Eu joguei a mala no canto do quarto com força e respirei fundo.
Minha cabeça fervia. Aquilo tudo era um absurdo. Desde moleque, eu sabia que a vida não seria fácil com a família que eu tinha, mas essa agora era demais. Casar com uma mina que eu nunca vi? Pra satisfazer o ego de mafioso?
"Que se f**a", pensei. Amanhã mesmo eu volto pro meu morro. Deixem eles brincarem de cartel, eu vou cuidar da minha própria vida
Fim do flashback
Hoje faz exatamente um ano que eu estou aqui, e agora acabou a minha paciência, foi um ano na guerra com a minha família, e digo guerra mesmo, porque o que eu fiz gerou uma grande confusão, e tem três meses que o meu pai não fala comigo mesmo morando na mesma casa, mas eu avisei que iria me vingar e não iria me casar com aquela mulher
- vamos pro rio amanhã, já está tudo certo - eu falo com o Matteo no apartamento dele
- vamos mesmo ? Você não vai tentar falar com o papai ?- ele pergunta e eu n**o
- eu fiz o que tinha que ser feito, e não me arrependo, só sinto muito por ele não estar falando com você também, mas sobre mim ? Eu arco com as consequências- eu falo e ele aperta a minha mão
- estamos juntos nessa até o final - ele fala sério e acende um cigarro
Eu pego um dos meus celulares que eu olho tudo do morro e vejo o status do picolé, que foi quem ficou de frente pro meu irmão vir pra cá
Um dos meus celulares eu uso como se fosse o meu irmão, eu não gosto de deixar o povo pensar que tem contato comigo, o meu irmão é mais aberto, então eu coloco ele na linha de frente sempre, então o picolé nem sonha que quem tá falando com ele na realidade sou eu e não o meu irmão como ele pensa
Que menina linda, que sorriso doce, seu olhar inocente, mas de menina sapeca, olhos verdes eram tão expressivos, e tinham um brilho diferente, eu não precisei nem ver o seu corpo pra me sentir hipnotizado por ela, o meu corpo arrepiou todo na mesma hora, mas eu brochei assim que li a legenda
Fui tomado por uma raiva, um ódio, que eu nem bem entendi, mandei mensagem pro picolé e ele não me respondeu, eu não sei o que deu em mim, mas eu comecei a ligar pra ele, eu queria cobrar ele de alguma forma, e a única coisa que eu poderia falar era sobre ele estar fora do morro, então eu insisti na ligação pra ele que estava demorando a me atender e eu só conseguia pensar naquela menina tomado de ódio no pensamento, sem nem bem entender o motivo pra esse ódio todo, e hoje ele iria relembrar o porque das pessoas me julgarem como psicopata
- o que tá pegando irmão ?- o Matteo me pergunta e eu n**o insistindo na ligação que o picolé não me atendia me deixando cada vez mais furioso
- eu quero saber o por que do picolé não estar no morro e estar na praia - eu falo quando a chamada cai e eu insisto novamente
- hoje é folga dele, tá louco Dom ?- não Matteo fala me olhando confuso
Louco é o c*****o, eu quero ele de volta no morro, sem essa de folga, e eu quero a ficha dessa mulher que está com ele, impossível ser sua fiel, ele não tem capacidade pra isso nunca…