Nicole observou Dilan se movimentar pela cozinha para preparar comida para os três. Ele estava tendo muitos privilégios por não ir trabalhar e faltar ao trabalho não era algo que você via todos os dias em alguém como ele, muito menos estar afastado do trabalho. A única pessoa que podia acreditar que ele estava tendo todo esse trabalho era seu amigo Frederico, que não lhe telefonava desde que saiu do hospital.
— Você não tem que ir trabalhar hoje? Ela perguntou diretamente. — Me incomoda que você esteja em cima de mim o tempo todo.
— Fred está cuidando de tudo e, porque eu não vou trabalhar um dia o mundo não vai cair...
— Eu quero que ele vá também, mamãe. Disse Jonas, bebendo um suco que Nicole havia preparado para ele. — Estou com medo dele.
— Eu não vou embora, porque infelizmente para você vamos morar juntos. Ele colocou algumas frutas picadas na frente dos dois. — O médico disse que você poderia comer frutas por alguns dias e coisas macias.
— Aveia, eu quero mingau de aveia. Disse Jonas, e Dilan sentiu um tremor nos olhos. — Aquele que a minha mãe faz.
— A sua mãe passou muitas noites rui*ns com você, pequeno demô*nio. Dilan aproximou o prato dele. — Coma.
— Mamãe, diga a ele que não quero, por favor...
Jonas ficou no meio do caminho enquanto Nicole estava sentada do outro lado do balcão, observando-os discutir de uma forma muito divertida.
— Pode continuar. Ele começou a cortar a fruta em pedaços menores. — Posso passar o dia todo vendo vocês discutirem sobre coisas que não fazem sentido. Ela continuou comendo como se nada tivesse acontecido. — Coma a fruta, mais tarde você poderá comer a aveia. Ela dirigiu o seu olhar para Dilan. — E você coma, porque eu quero que você vá trabalhar, não aguento mais te ver.
— Sim, deixa ele ir, porque eu quero comer aveia.
— Vou ligar para o Fred para cuidar da empresa, porque mais tarde iremos conhecer a casa. Ele tirou a gravata e arregaçou as mangas da camisa até os cotovelos. — Este é o dia que vou reservar para nós e lembro que mais tarde a equipe médica virá cuidar de Jonas.
— Você quer me afastar da minha mãe, Sata*nás. A criança já estava comendo as frutas. — Quero que a minha mãe fique comigo, você pode ficar com essa casa.
— Vou mandar os médicos te darem um sedativo para que você durma dias, você é uma criança muito faladeira e isso me estressa. Dilan sentou na frente dele, com um prato de frutas. — Você pode ser meu filho, mas é um ser que me dá muitos cabelos grisalhos.
— Agora você diz que sou seu filho?
— Também não cabe a você acreditar que isso é grande coisa, seu pirralho e infer*nal. Não gosto de você, você é uma criança esperta que não sabe se comportar com as pessoas, isso me incomoda, espero que isso tenha sido claro para você.
— Lamento dizer que você é meu pai e se estou chateando você, você também está me chateando. Jonas imitou a ação dele, e Nicole pretendia rir. — Eu não gosto de você, eu te odeio.
— O ódio é mútuo, pirralho. Ele encolheu os ombros. — Mais alguma coisa que você precisa me dizer?
— Você vai dormir no chão…
Nicole levantou-se lentamente da cadeira em que estava, caminhou até a porta que dava para o jardim e a mesma que dava para a praia. Ele tirou os sapatos, e as vozes de Dilan e Jonas discutindo permaneceram apenas isso, nada mais do que uma discussão.
Ela torceu o nariz ao ver que restavam poucas frutas no seu prato e que talvez em algumas horas ele iria sentir fome. Dilan estava levando muito a sério o papel de pai responsável pela alimentação, já que todos tinham que comer a mesma coisa.
— Por que você nos abandonou, mãe? Você quer me ver morrer? Jonas perguntou, dos braços de Dilan. — Deixe-me ir.
— Não seja dramático. Disse Dilan, deixando os pratos numa mesinha e sentando-se com ele no colo ao lado de Nicole.
— Não quero vê-los discutir. Disse ela, apontando para eles. — Uma pergunta, Dilan. O mencionado permaneceu em silêncio. — Ainda estamos na sua lista ne*gra?
Não, vocês não estão na minha lista neg*ra. Ela murmurou, movendo o pescoço de um lado para o outro. — Foi um erro da minha parte colocá-los nessa situação.
— Um erro que quase te deixou sem o seu filho, porque você já sabe que Jonas é seu filho. Ele não respondeu, mas continuou alimentando Jonas. — Quando eu ia te contar, ouvi você conversando com Fred sobre como você já sabia a verdade e depois você disse que não poderia ter filhos por causa de um acidente que sofreu antes de conhecê-la. A Natacha no caso. Isso chamou a atenção de Dilan. — Fiquei um tempo escondida porque vendi o anel que você me deu e que a Natacha escolheu, só...
— É meu erro, eu sei. Ele a interrompeu. — Durante a maior parte da minha vida tive cuidado ao ter relações se*xuais com uma mulher, nunca ultrapassei os limites e muito menos fiz algo que pudesse incomodá-las. Com você foi diferente, não me protegi, pois não vi necessidade, quando você chegou na minha casa depois da viagem, vi uma grande mudança em você.
—Mudança?
— Natacha não tem curvas pronunciadas, o seu cabelo preto é natural, o azul dos seus olhos é mais intenso. Nicole começou a sentir as bochechas vermelhas. — A sua atitude quando fomos em lua de mel na Grécia deixou-me pensativo…
— E quando estive com você pela primeira vez. Ele desviou o olhar em direção à praia. — Eu era virgem e a primeira coisa que me ocorreu foi dizer para você que fiz uma himenoplastia.
— Algo em que acreditei por muito tempo.
— Eu não sabia o que dizer.
— Do que vocês estão falando? Eu quero saber. Disse Jonas, mudando de lugar. — Não quero mais frutas, quero aveia.
— Eu te disse não...
— Alguém acabou de chegar. Nicole se levantou. —Você está esperando alguma coisa ou alguém?
— Sim, eu te falei quando chegamos que alguém ia vir cuidar do Jonas para você não ter tanto trabalho. Dilan levantou-se da cadeira, sem largar o filho. — É melhor entrarmos, lembrar que o tempo vai começar a mudar.
— Ok, será assim.
Ele pegou os pratos e os seguiu em direção à casa. Ela não se importou em aceitar que Dilan pagasse pelas despesas do seu filho, demorou três anos pagando tratamentos caros, tratamentos que, para seu pesar, deixavam o seu filho cada dia mais fraco. Por causa dele, ela teve que passar as piores noites da sua vida, até Frederico usou o seu dinheiro para ajudá-la nas despesas, pois o que ele pagava antes para cuidar ou limpar a sua casa não era o suficiente.
Ela viu a equipe médica arrumando algumas coisas, franziu a testa para eles, o seu filho não podia ficar com qualquer um.
— Eles são os melhores. Disse Dilan, como se lesse os seus pensamentos. — Tenha certeza de que nada acontecerá com ele.
— Não quero que ninguém me toque. Disse Jonas, abraçando o corpo do pai e esquecendo a discussão que tiveram momentos antes.
— Escute o seu pai, eles vão te tratar bem, não se preocupe meu amor. O seu pai já tem tudo resolvido e não vou sair do seu lado por nada no mundo. Você confia em mim?
— Ok, mamãe.
Nicole deu um pequeno sorriso ao filho, antes de tomá-lo cuidadosamente nos braços, deixando Dilan cuidar do resto. Ela se afastou o suficiente dele para andar pela casa, observando tudo ao seu redor. Um sorriso triste apareceu nos seus lábios ao ver algumas pinturas que viram na sua lua de mel em uma das galerias de arte. Foram bons meses, até que ela se apaixonou por ele e nem tudo foi bom.
Depois de alguns minutos explicando os horários, Dilan voltou.
— Venha, vou te mostrar a casa para você não se perder. Ele se afastou para eles passarem. — Você não quer que eu carregue ele?
—Não, eu posso cuidar do meu filho. Ele sorriu sem entusiasmo e caminhou ao lado dela. — Você não precisava mandar construir esta casa. Você pode ver que é muito grande e…
— Fiz isso porque quis. Dilan respondeu pela tangente. — Podemos mudar para outro…
— Esqueça, vamos ficar aqui. Ela respondeu, olhando para ele. — Por que existem tantas portas?
— Há portas que são apenas uma sala de descanso, as outras são uma sala de jogos, a biblioteca do segundo andar, um ginásio e a uma área livre onde você pode fazer os seus desenhos...
— Meus o quê? Você…
— Tenho os seus cadernos de design guardados, Nicole. Dilan abriu uma porta, e a deixou passar primeiro. — Essa é a área do jogo, percebi que o Jonas é viciado em puzzles…
— Frederico te disse isso, não seja mentiroso. Ela sabia que Jonas não pedia para ela comprar mais jogos, porque o dinheiro que ela tinha só servia para despesas médicas, roupas e coisas para ele. Ela viu todos os jogos naquela sala. — Você gostou, meu príncipe?
— Sim, mamãe. Ele disse encantado. — Posso jogar agora, por favor?
— Claro, meu amor. Ela deixou ele numa das almofadas no chão. — Não quebre nada.
— Não, não vou.
— Tudo bem. Ela levantou-se e virou-se para Dilan, que não havia tirado os olhos deles. — Por que você está fazendo isso?
— Porque é algo que eu quero fazer e...
— Você se sente m*al, é isso. Ele permaneceu em silêncio. — Você faz isso porque não consegue se sentir bem consigo mesmo agora.
— Não sei do que você está falando...
— Lamento dizer que não te perdoei por nada que você fez comigo durante esses três anos. Ela apontou o dedo para o peito dele. — Você não tem ideia do que passei para manter o meu filho vivo, só porque o pai narcisista dele tem muito dinheiro e colocou a mãe na lista ne*gra desta cidade. Isto não pode ser resolvido com um simples perdão ou alguns milhares de dólares.
— Escute, Nicole…
— Não, Dilan. Ela deu alguns passos para trás. — Você queria uma esposa, você tem uma, você quer a sua vingança, você também tem, mas eu te digo de agora em diante que você não me terá como mulher apaixonada, porque para sua informação você já me perdeu. Agora cuide para conquistar o filho que você quase matou por causa do seu egoísmo.
Dilan não respondeu, ela pensou que ele fosse bater nela quando cerrou os punhos, porém, ele apenas se virou e saiu do quarto batendo a porta.