Prólogo
23 de Janeiro de 2018
Trent University
Ontário – Canadá
P.O.V Katherine Jones
A ideia de estar em uma universidade já era assustadora. Um lugar completamente novo, com pessoas que eu nunca vi, nada que me remete ao lar. Mas resolvi piorar a minha experiência quando genialmente aceitei o convite da minha colega de quarto, que detalhe – eu m*l sei o nome – resultado? Acabo de entrar em uma casa enorme de fraternidade sozinha com vários jovens bêbados aproveitando a sua excelente noite antes que as aulas comecem no dia seguinte. Eu falei, a minha ideia foi realmente muito boa, tão boa que estou pensando seriamente em me virar e sair daqui antes que alguém note. Não preciso observar muito tempo as pessoas ao meu redor para saber que todos aqui se conhecem e que não tem absolutamente nenhum calouro presente. Obviamente que eles optaram por sei lá, conhecer o enorme campus ao invés de estar em uma festa de fraternidade, onde não tem nenhum rosto conhecido.
Eu não tenho problemas com socializações, nem nada parecido. Mas estar em uma situação dessa é realmente complicado e eu sempre detestei ser a garota nova, por isso quis tanto vir hoje. Pensei que se eu socializasse com os desconhecidos minha experiência como caloura não seria tão r**m. Pois bem, talvez eu estivesse enganada.
Dou alguns passos para dentro da casa e sinto diversos corpos esbarrarem no meu, as garotas dançavam loucamente ao som de uma música eletrônica que eu desconheço, nunca curti muito esse estilo de música. Enquanto alguns caras se esfregam nelas e outros passam pelo tumulto com seus copos de bebidas em mãos. Tudo bem, uma festa normal. Continuo andando e logo avisto uma enorme porta de vidro que dá acesso a piscina da casa, algumas pessoas estão dentro da piscina o que de fato é assustador, a noite fria de Ontário realmente não era propícia para um banho de piscina. Mas quem sou eu para julgar? Só sinto que eles poderão acordar com um tremendo resfriado amanhã. Vejo algumas meninas pularem na água apenas de calcinha e sutiã e os caras estão só de cueca.
A sala da casa é enorme e tem pelo menos uns três sofás de três lugares cada um, todos os lugares devidamente ocupados por alguns casais se pegando e alguns grupos de amigos falando, bebendo e dando risadas altas. Tento achar a cozinha do lugar e não demoro a encontrar, já que boa parte do fluxo de pessoas seguem para a direção da bendita, devem estar procurando o mesmo que eu, bebida. Não que eu seja uma grande consumidora de álcool, mas na situação em que me encontro, preciso beber algo antes de surtar. O balcão da cozinha está repleto de garrafas de bebidas, de vários tipos imagináveis. Chega a ser surpreendente a variedade. Pego um copo azul e me sirvo com um pouco de cerveja, encostando em um dos armários enquanto observo o movimento. O que raios eu ainda estou fazendo aqui?
Um grupo de meninas entra na cozinha e uma delas me chama a atenção, é a minha colega de quarto.
- Ei, eu conheço você! – ela diz animada e completamente embriagada, enquanto vem em minha direção quase tropeçando nos próprios pés. O que essa garota tomou?
- Claro que conhece! Eu sou a sua nova colega de quarto. – ergo o copo para ela e dou um sorriso mínimo.
Ela me olha confusa e franze levemente o cenho. Não se lembra de mim, é óbvio!
- Não. – ela dá um t**a leve em meu braço e sorri. – Você está tentando me enganar. – aponta um dedo em minha direção. – Eu me lembraria se você fosse.
Abro a minha boca para responder, mas não tenho tempo já que suas amigas surgem em minha frente e a puxam apressadamente para fora da cozinha, estão tão bêbadas quanto ela.
Continuo bebendo a cerveja e dou passos lentos para fora da cozinha, já ficou bem claro que vir até aqui foi uma ideia estúpida! Acho que está na hora de voltar para o campus.
Todas as pessoas começam a gritar em uníssono, percebo que elas fazem isso para alguém e sigo os olhares de todos, que me levam até a porta de entrada da casa, onde um grupo de garotos acaba de chegar. Todos eles usam uma camisa de manga cumprida na cor preta e branca, é uma camisa da equipe de hóquei. E por cima eles usam uma jaqueta enorme, com a logo da faculdade. Eles devem praticar o esporte, ótimo! O típico grupinho de jogadores babacas que sempre chamam a atenção por onde passam, por motivo nenhum, a maneira como eles estão se comportando mostra bem o quão confortável com isso eles estão. O que embrulha o meu estômago, toda essa atenção é tão desnecessária!
O garoto que está na frente de todos tem uma beleza bem cativante, isso não dá para negar. Seus cabelos em um tom castanho claro, quase loiros se destacam e não vejo um fio sair do lugar na medida em que ele anda. Ele sorri e cumprimenta boa parte das pessoas que estão em seu caminho, mas não para de andar para conversar com ninguém. É simpático, mas nem tanto. Seus amigos continuam o acompanhando, como se estivessem fazendo o papel de seguranças, de uma grande estrela. Ele é a estrela do time, é nele que todo o foco está.
Logo a festa volta ao normal e as pessoas parecem estar mais indiferentes a presença do garoto do hóquei e seus amigos. Volto para a cozinha e pego mais um pouco de cerveja, mas acabo colocando líquido demais no copo, aproximo ele da minha boca e estou prestes a dar um gole na bebida, mas um corpo me atinge antes que eu consiga, no reflexo eu acabo apertando o copo de plástico na minha mão, que por sua vez jorra todo o líquido para fora, o fazendo voar diretamente no meu rosto e no meu b***o, molhando a minha camisa. Ótimo! Minha primeira noite na faculdade não poderia ser mais perfeita.
- Eu atingi você, me desculpe. – ouço a voz rouca dizer atrás de mim e não me viro para encarar de quem vem, me sinto constrangida demais para isso. Encontro alguns guardanapos em cima do balcão, pego alguns e tento limpar o meu rosto e minha camisa da melhor forma que posso. E nem preciso dizer que o meu trabalho não foi lá grande coisa, estou fedendo a álcool e sinto um frio absurdo, por conta da minha camisa encharcada.
A pessoa para ao meu lado e olha fixamente para o meu rosto, desviando os olhos para a minha camisa, que nesse instante tem uma mancha enorme causada pela cerveja. O dito cujo que ficou me encarando por alguns segundos era justamente o garoto do hóquei e ele parecia bem preocupado comigo e com o meu estado. d***a! Tanta pessoa para esbarrar em mim e logo quem esbarra? Isso mesmo, aparentemente o cara mais popular dessa festa.
- Você está bem? – ele pergunta com os seus olhos ainda presos em mim.
Viro o meu rosto encarando o seu rosto tão próximo a mim pela primeira vez. Ele é realmente um cara atraente, mas nada de muito surpreendente.
- Tirando o fato que tomei um banho de bebida, estou ótima! – fiz um joinha com uma das mãos. Tento não soar tão grossa quando digo isso, mesmo que a minha frustração seja muito clara para quem quiser ver. Eu não estou contente com esse incidente, isso é claro.
- Eu não te vi, me desculpa. – ele parece realmente sincero no que diz, já que está se desculpando novamente. Mas isso não me conforta. – Você ficou ótima assim! – ele diz tentando deixar o clima mais leve e abre um sorriso. – Mas posso te emprestar alguma camisa se quiser. – ele oferece.
- Ah, obrigada mas não precisa se preocupar! Eu já estava de saída. – aponto para a porta e me afasto um pouco dele, pronta para voltar ao dormitório. Eu não deveria nem ter saído hoje, deveria ter ficado bem quieta em meu quarto. Coisas ruins acontecem quando você força situações que não deveriam acontecer, eu não deveria ter vindo.
- Mas já? A festa m*l começou, novata. – ele para ao meu lado novamente e passa o braço por cima do meu ombro, me puxando para perto. Me pergunto por alguns segundos a onde o senso do garoto foi parar, para ele achar que temos i********e o suficiente para poder me abraçar de alguma maneira. Está tão acostumado a ter toda a atenção para si o tempo todo, que pensa que qualquer pessoa ficaria feliz com a sua atenção. Com um pouco do seu tempo. Argh! É por isso que eu sempre evitei os jogadores. Eles são tão... inconvenientes.
- Já acabou para mim! – digo carrancuda, enquanto tiro o braço dele de mim e me afasto. Pra quem acabou de me conhecer ele já está muito íntimo, e eu detesto isso!
- Para de ser chata, aposto que veio aqui para se divertir. Nada mais justo que fazer jus a isso. – ele diz com um sorriso divertido e abre os braços, como se fosse o próprio deus da diversão. Não sei se isso sequer existe, mas ele se encaixaria bem no papel. É assustador a maneira como ele se acha.
- Tchau. – viro as costas para ele e dou passos rápidos para fora dali, ouvindo os passos rápidos dele atrás de mim. – Você está vindo atrás de mim, pare com isso! – digo alto, sem me virar para vê-lo. Por que a insistência afinal?
- Desculpe, eu não posso.
Ele segura o meu braço e com um puxão leve, me vira para ele e agarra a minha cintura, quero socar ele por isso. Quem esse garoto pensa que é? E por que está tocando em mim dessa maneira?
- Olha, eu não sei quem você acha que é. Mas não pode fazer esse tipo de coisa com alguém que m*l te conhece. – empurro o seu peito com força tentando afastar seu corpo do meu, mas ele não permite que isso aconteça.
- Eu sei disso. Por isso vou dançar com você. – ele parece ignorar completamente o que eu disse e o meu ato de tentar afastá-lo de mim. Que garoto insuportável!
- O quê? Você é louco! – quase berro. Ele começa a movimentar o corpo e me força a fazer o mesmo, segurando firmemente em minha cintura.
- Não, não sou. Só quero que você se sinta confortável aqui, estou te ajudando.
- Não quero sua ajuda. – consigo afastá-lo e ele finalmente me solta.
- Ei, Joshua. – um cara chega dando um t**a em suas costas. Então esse é o nome do garoto do hóquei, Joshua. – Estão te esperando, está na hora do jogo. – o moreno alto diz animado, mas logo seus olhos vem de encontro a mim. – Você é a nova garota? Já te adianto que o meu amigo aqui tem uma lista extensa de garotas para pegar.
- Nova garota? – franzo o cenho. Será que ele está se referindo ao fato de eu ser nova na faculdade? Ou ser uma nova conquista desse jogador b****a? Espero que não seja a segunda opção.
- Eu estava tentando conquistar ela cara, mas você cortou o meu momento. – Joshua diz e dá uma risada. Ele só pode estar de brincadeira!
- Desiste. Isso não vai acontecer! Eu jamais ficaria com você. – tento dar ênfase nisso para que fique bem claro.
Ele até que é um cara bonito, mas jogadores sempre se envolvem com pessoas demais, não precisa ser um gênio para saber disso. Sem contar que, eles tem um ego do tamanho do universo, prefiro evitar a fadiga.
- Já gostei de você! – o moreno disse animado e esticou a mão para mim. – Sou o Adam. – pego em sua mão.
- Katherine. - me vejo obrigada a dizer o meu nome.
- Belo nome. – ele abre um sorriso galanteador.
- Eu também não ficaria com você! – sou direta e abro um sorriso forçado. O que arranca uma risada do Joshua.
- Tudo bem, tudo bem. Achei justo! - o tal do Adam ergue as mãos em sinal de rendição, enquanto mantém um sorriso divertido nos lábios. O que significa que ele não levou para o pessoal.
- Adam, vai lá. Já encontro com você. – Joshua diz para ele.
- Foi um prazer, Katherine! – ele diz antes de se virar e sumir entre as pessoas. Não sei se posso dizer o mesmo, mas ele parece ser legal.
- Você realmente não ficaria comigo? – Joshua pergunta e quase quero rir, mas me contenho. O ego dele é tão frágil assim? Não é possível!
- Não. Sem disposição para fazer parte de sua lista extensa, sabe como é! – dou de ombros e viro as costas para ele, caminhando em direção a saída. Mas seu corpo é rápido quando passa pelo o meu e para em minha frente, impedindo a minha passagem.
- Qual é! Eu não te atraio nem um pouco? – ele arqueia a sobrancelha. Percebo que tem um tom brincalhão em sua voz, não é como se ele estivesse ofendido com a ideia de eu não querer nada com ele.
- Nadinha. – n**o com a cabeça e entorto a boca. – Desculpa. – dou um t**a leve em seu ombro.
- Mas poxa, eu estava planejando tantas coisas para nós. Já sabia até como seriam os nossos filhos, como pode destruir o meu coração assim? – ele coloca a mão sobre o peito e finge uma tristeza, quero rir, mas decido entrar na brincadeira.
- Eu lamento, mas eu nunca quis um futuro ao seu lado, você era só um passatempo. – digo séria.
- Um passatempo? Eu te amei de verdade. – sua voz sai esganiçada e isso basta para que eu dispare a rir, sendo acompanhada por ele.
- Você é ridículo! – digo assim que as risadas cessam.
- Você parece ser uma garota legal.
- É por isso que você está colado em mim? Agora faz sentido. - digo convencida.
Ele ri e cruza os braços.
- Que garota convencida. – ele n**a com a cabeça. – Eu sei que é caloura, e pelo pouco que eu vi é a única aqui. Não queria que se sentisse isolada ou algo do tipo, sei como pode ser difícil estar em um novo ambiente com pessoas desconhecidas.
- Claro que sabe. – solto uma risada. – O cara que fez uma festa inteira parar só com a sua presença. - não consigo conter o sarcasmo no tom da minha voz.
- Você viu aquilo? É demais, não é? – ele se gaba e puxa a gola da camisa para cima. No mundo fantasioso que ele vive, isso realmente significa muito. E isso me preocupa! Alguém devia se sentir tão feliz e orgulhoso de si mesmo, apenas por ter toda a atenção de um ambiente? Acho que não...
- É coisa de gente popular. - faço pouco caso. Nada disso soa como algo interessante para mim, nunca fui popular. Nunca tive tanta atenção para mim e nem pretendo ter. - Inclusive, acho que você deveria estar com os seus amigos agora, jogando seja lá o que for, não tentando fazer a caloura se sentir confortável. – digo de forma sincera. Não que eu não admirasse o que ele estava tentando fazer, mas claramente estamos em posições diferentes aqui. Ele é a estrela da festa, eu sou só mais uma convidada. Sinto como se ele só estivesse me fazendo companhia por se sentir culpado por ter esbarrado em mim.
Ele me olha de uma forma séria, posso ver pela sua expressão que ele não gosta muito do que ouve.
- Quero te apresentar algumas pessoas. – é o que ele diz, ignorando completamente o que eu havia acabado de dizer.
Me mantenho o encarando por alguns segundos, esperando por algo que eu nem sei ao certo o que era. Mas não veio. Eu não iria com ele, não faço questão de conhecer os seus amigos e nem entrar em seu mundinho. Isso é um pouco demais para mim e não consigo me ver andando com esse tipo de pessoa. Com os populares.
- Muito obrigada por tentar me enturmar, mas preciso realmente ir agora, pode me deixar passar? – digo com cautela e vejo ele concordar e sair da minha frente lentamente. Assim que passo por ele, ele me para quando diz.
- Acha que podemos ser amigos?
Olho para ele e pondero por um momento a sua pergunta, não seria de todo r**m. Apesar da minha aversão a qualquer jogador, de qualquer esporte, ele não me parece uma pessoa r**m, na verdade, parece ser bem legal e vamos combinar, no dia seguinte ele nem vai se lembrar do meu rosto. Nem vai saber quem eu sou e que teve essa conversa comigo. É só ele beber um pouco mais e se agarrar em alguma garota e a lembrança da minha existência vai desaparecer. Nada me tira da cabeça que ele só está sendo legal dessa maneira por se sentir culpado, por ter me dado um banho de cerveja. Quando essa culpa passar, eu deixarei de ser interessante. Afinal, o que eu teria para agregar na vida de um jogador popular? A estrela da universidade? Com certeza nada!
- Acho que sim, um dia. – dou de ombros.
- Adam estava certo, seu nome é realmente bonito, Kath. – reviro os olhos pela forma como ele me chama. Joshua realmente acha que somos íntimos.
- Obrigada! Boa noite, Joshua. – dou um sorriso gentil e viro as costas.
- Boa noite, Kath.
Abro um sorriso quando ouço ele dizer e saio dali em passos rápidos.