Sempre os Olhos.

1798 Words
“Eu devo estar ficando louca!” ela murmurava deitada na sua cama enquanto olhava inquieta para o teto. Suas mãos pequenas batiam nas pernas em um ritmo quase perfeito. Ansiedade saindo de seus poros, enquanto lá fora a tempestade caía pesadamente. Parecia o fim do mundo! Era sabe-se lá quantas noites depois daquele maldito quase beijo, e sempre antes de dormir ela instantaneamente remoía detalhe por detalhe daquela noite insana. Era sempre a mesma linha de pensamentos. Era só fechar os olhos e lá estavam elas. Orbes azuis-acinzentadas frias mirando minimamente em seus castanhos, como se estivesse descobrindo algum segredo, só deles.. A respiração quente naquele cenário gelado, a alternância dos olhares de ambos, a incapacidade de mexer sequer um músculo. Merlin! O que teria sido dela se ele não tivesse parado o que pretendia? Talvez fosse mil vezes mais difícil fechar os olhos e dormir se ele não se lembrasse de quem ele era, ou de quem “ela” era e tivesse a beijado. Merda! A possibilidade disso ter acontecido era o que a deixava totalmente inquieta. Como aquele infeliz havia cogitado tamanha estupidez? Porque era estupidez levando em conta o tipo de convivência que tinham. Ele por um mero acaso achou que ela tomaria a iniciativa? Que não iria resistir aos encantos do Sonserino? Pelo amor de Deus, ele não deve ter percebido os motivos que a levaram até lá. Porque diabos ela teve que ir até lá mesmo? Porque raios não ficou na sua torre acalmando seus amigos? As respostas que ela queria nunca vinham, o que acontecia era apenas brotar mais perguntas que ela não tinha ideia de como ia responder e isso era absolutamente frustrante. A ideia de não saber de algo a deixava apavorada! Principalmente quando esse “algo” se relacionava diretamente com suas ações e sentimentos. Virou-se de lado na cama, olhando para a janela onde podia ver as grossas gotas de chuva batendo contra o vidro transparente. Descendo, encontrando a parede de pedras poucos segundos depois. Podia sentir o frio trincar seus ossos, a pele castanha estava gélida, um arrepio percorria sua espinha.. Inverno. Frio. Já era dezembro! Em mais uma tentativa de dormir Hermione fechou os olhos, torcendo para que aquele maldito dia fosse logo esquecido para que ela pudesse se preocupar com o que realmente era importante. Infelizmente seus pedidos foram negados! Abriu os olhos com força e respirou profundamente. “Estou louca!” concluiu. Aquela seria uma longa noite! *** — Talvez você devesse sair um pouco dessa biblioteca, Mione! - Gina dizia para a amiga que estava atrás de uma imensa pilha de livros - A hora do almoço já está quase no fim! - a ruiva informou preocupada - — Eu só vou terminar de anotar essas informações aqui e já estou indo.. - ela respondeu ligeiramente distante - Pode ir na frente! - comunicou recebendo de volta um suspiro - — Eu já almocei, Hermione! - Gina contou - — Ah, que bom então! - disse a morena sem nem sequer encarar a ruiva - — Sei que você leva os estudos muito a sério, mas você precisa se alimentar! - alterou-se Gina - Passa mais tempo nessa biblioteca do que em qualquer outro lugar.. - comentou - Não quero ver minha amiga virar um esqueleto ambulante! - disse gesticulando com as mãos - — Deixa eu terminar de traduzir esse texto de Runas que vou, okay? - ela tentou um acordo - — Ah, desisto! - suspirou a ruiva - Depois que você desmaiar por aí de fome não diga que não te avisei! - dizendo isso Gina virou as costas e saiu da biblioteca - Runas Antigas era sem dúvida alguma a matéria mais fascinante do mundo bruxo! Todos aqueles símbolos, aquela riqueza de histórias esperando apenas uma “tradução”, deixavam a castanha em uma euforia fora de série. Ela ficaria horas ali facilmente, apenas para no fim ter um texto todo traduzido por ela mesma. A fome entretanto pareceu ter escutado o alerta de Gina e interferiu no momento de estudo da morena. Colocando um pedaço de pergaminho na página que estava ela fechou o livro. Arrumou tudo, os colocou de volta em seus lugares, exceto o que estava usando, este ela levou consigo. No Salão Principal se dirigiu à mesa de sua casa, sentou-se apreciando a calma daquele espaço, e comeu, sozinha. ~*~ Se Hermione estava se achando louca por não conseguir esquecer aquele quase beijo, com Draco não acontecia algo muito diferente. Talvez com ele fosse um pouco pior pois ele foi quem provocou o quase ocorrido. “Quase”, era a palavra que vez ou outra Draco tirava da situação, chegou até a imaginar uma sequência de cenas se aquele beijo tivesse acontecido. Nunca na vida quis que as coisas fossem tão diferentes da sua realidade. Sabe todos aqueles discursos sobre sangues-ruins, aquela preparação toda durante as férias para que ele pudesse encarar Granger sem sentir algo de diferente? Ela pareceu se dissipar inteira quando se viu tão perto daquela garota. A personificação do pecado tinha nome, sobrenome, tamanho e forma. Ele a evitou durante todos os dias que seguiram, talvez fosse melhor não vê-la durante esse tempo de “redenção”, de busca de valores que, infelizmente, ele não podia deixar para trás, fazia parte da sua família, fazia parte de quem ele era. Era uma noite de sábado, ele estava no seu dormitório, terminando uma redação que, segundo ele, era estúpida demais. Quem queria saber sobre revolta dos duendes? Ele particularmente não queria! Largou o pergaminho e o livro de lado, e jogou todos para o chão. Um dos seus livros caiu e ele distraidamente olhou para o mesmo. Era o livro de História da Magia. Foi como mergulhar nas suas próprias lembranças. Viu-se de repente na biblioteca enquanto recebia instruções de uma certa castanha. Bufou saindo da cama, fechado o livro com força. Era frustrante pensar em alguém que você sabe que não deve. É tenso não conseguir esquecer algo que aos seus olhos parece errado. Maldito seja quem inventou sentimentos e sensações! Maldito seja ele mesmo. Foi tudo culpa sua.. Tudo começou naquele maldito baile. Maldito seja o Torneio Tribruxo. Se não houvesse torneio, não haveria baile e sem baile não tinha porque de Hermione Granger aparecer tão bonita causando coisas conflitantes nele. Merda! Dirigiu-se até o malão, abrindo o mesmo com rapidez e procurando por algo. Aquilo que lhe faria esquecer aquela garota. Sorriu ao achá-la. Uma garrafa de whisky de fogo. Caro, bom, forte. Era isso que precisava. Mas ele sabia que não poderia bebê-la ali, era arriscado demais. Vestiu sua capa, colocou a garrafa por dentro e saiu masmorras a fora decidido a se divertir um pouquinho. Minutos depois ele estava no topo da torre de astronomia, havia descoberto que ali era o lugar perfeito para estar sozinho e que não ia quase ninguém. Começou a beber, o whisky era forte, queimava a garganta mas ele gostava, gostava mais ainda por saber que com mais algumas doses tudo pareceria melhor. *** A garrafa jazia no chão vazia e Draco já sentia-se tonto. Seu estômago estava embrulhado e ele m*l conseguia se equilibrar nos próprios pés. Queria mais do que tudo ir para o seu dormitório. Com todo o cuidado do mundo e apoiando-se nas paredes ele desceu todos aqueles degraus da torre, sentindo o estômago revirar mil vezes mais. Parou assim que seus pés tocaram o chão. Ainda andou mais alguns metros antes de perder o equilíbrio totalmente e sentir o corpo bater no chão extremamente gélido do castelo. O baque foi barulhento e logo ele pôde ouvir passos em sua direção. “Estou ferrado!” pensou. Não demorou muito para que houvesse luz em cima dele. — Céus, o que está fazendo fora da cama esse horário, Malfoy? - era uma voz distante, mas ele não a confundiria nem se quisesse - — Ah, é você Granger?! - ele falou, o deboche palpável - Outra vez em encontros secretos com o Krum? - perguntou - — Mas que raios você está dizendo? - ela questionou, agachando-se para ficar na altura dele. Logo sentiu o cheiro do álcool - Por Merlin, você está bêbado?! — Olha, ponto para a Grifinória! - ele zombou sorrindo abobado - Draco observou a castanha bufar. Lembrou-se que era noite da ronda dela e do cabeça de cenoura mas pelo que percebeu a morena estava sozinha. — Anda, levanta antes que o Filch te pegue - ela disse se levantando - — Estou tonto, não consigo! - ele disse tentando se apoiar nas pernas que não aguentavam - — Que merda, Malfoy! - ela soltou, virando-se para ele - Porque você tinha que beber tanto assim hein? - questionou irritada agachando-se mais uma vez - — Só queria me divertir um pouco! - ele se pegou explicando - — Você é patético! Tantas outras formas de se divertir! - ralhou ela - Anda, põe o braço em volta do meu pescoço, vou te ajudar! Ela estava mais uma vez perto dele, perto demais, os olhos de Hermione pareciam brilhar, Draco preferiu achar que fosse de raiva. Ela indiscutivelmente ficava tão linda brava. Fez o que ela pediu, e logo os dois estavam de pé. — Olha só, m*l se aguenta em pé. Por isso que bebidas não são para adolescentes! - ela dizia enquanto os dois caminhavam para as masmorras - — Você já bebeu? - ele perguntou curioso, aquela garota era um enigma ás vezes - Algum dia já ficou assim? — Olhe para mim - ele fez o que ela disse, sentindo-se atraído por aquele abismo quente e brilhante que eram os olhos dela - Eu tenho cara de adolescente problemática? - ela perguntou de volta, por sorte não estavam tão longe das masmorras - — Gosto dos seus olhos! - ele confessou olhando para ela, eles estavam bem perto do salão da Sonserina agora - — Quê? - ela disse virando para ele percebendo como ele a encarava - — São sempre tão brilhantes e quentes.. - continuava a olhá-la - São sinceros! - completou e já estavam em seu destino - Ele se desfez dela que ainda o olhava confusa, certamente por todas as coisas que ele disse. A viu virar-se e ir caminhando lentamente para terminar sua ronda. Então ele disse: — Boa noite, Hermione! Ela parou no lugar mas não se virou para olhá-lo, apenas suspirou e respondeu: — Boa noite, Draco! Hermione seguiu seu caminho e ele ficou ali, vendo-a desaparecer e ele, Draco, percebeu que no final das contas, beber não ajudou muito a esquecê-la, muito pelo contrário, havia dado um motivo a mais para lembrar-se dela.
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