O dia estava começando a clarear quando Anne acordou, como sempre, antes do sol. Ela foi até o canto onde seu pai ainda dormia, o homem havia dormido melhor com o remédio para as dores, ela parou por um instante para ter certeza que ele estava respirando, e como uma benção ele estava, algo que a fazia se sentir aliviada por mais um dia de vida ao seu lado. Ela sabia que ele não iria durar muito, mas ainda assim, ela o amava e lutava com todas as suas forças para manter tudo em ordem.
Preparou a comida que ele comeria durante o dia e pediu à vizinha que a colocasse à mesa enquanto ela saía para tentar vender suas flores.
A cidade ainda estava silenciosa, acordando lentamente com o som dos carros e passos apressados pelas ruas. Anne foi até a praça perto da Catedral de Santa Maria del Fiore, onde todos os dias ela tentava vender suas flores.
Anne vendeu todas as flores e deixou sua cesta com o padeiro e foi atrás de um emprego de verdade.
Ela andou por todo dia e não conseguiu nada, nem emprego de desentupir chaminé, nada.
E Anne estava cansada, exausta e a frustração só aumentava.
Quando se preparava para voltar, algo chamou sua atenção. Em frente a uma boate nova, havia uma fila de mulheres. Elas estavam todas bem maquiadas, com vestidos curtos e saltos altos, parecendo ser parte de algo grande, algo glamouroso.
Parecia um desfile de modelos que ela só viu uma vez em um concurso de miss.
Curiosa e desesperada por uma oportunidade, Anne se aproximou e, com timidez, perguntou à última mulher da fila:
— Com licença, o que é essa fila? O que estão fazendo aqui?
A mulher, com um olhar cansado e impaciente, respondeu sem muita animação:
— Estamos aguardando a entrevista para trabalhar aqui.
Anne ficou sem saber o que fazer. A ideia de trabalho parecia atraente, mas ela não sabia exatamente o que isso envolvia. No entanto, não tinha nada a perder, então se colocou na fila. Ficou lá por duas longas horas, com o estômago roncando e a cabeça cheia de preocupações, mas determinada a tentar qualquer coisa.
Finalmente, chegou a sua vez. Quando entrou na sala de entrevista, para sua surpresa, o homem à sua frente era o mesmo que lhe comprara todas as flores no dia anterior. Arman, o homem de postura imponente, olhou-a de cima a baixo, observando a mulher magra e visivelmente castigada pela vida diante dele. Ele não demonstrou qualquer emoção, mas, ao vê-la, perguntou, com um tom cínico:
— Você não e a pedinte que estava ontem nos degraus da igreja? O que dia.bos você está fazendo aqui?
Anne, juntou toda a sua confiança, respondeu com a voz firme:
— Eu estou aqui para a entrevista de emprego.
Arman soltou uma risada alta, naquele momento o homem não sabia se ria ou chorava.
— Querida, você sabe de que e a vaga?
— Não senhor, mas eu faço qualquer coisa.
— Você faz programa? — perguntou ele, rindo, pois não sabia se a menina era ingênua, louca ou o que?
Anne ficou confusa, sem entender. Ela nunca tinha ouvido falar de algo assim e, sem saber o que ele queria dizer, respondeu:
— Não, eu não sou atriz.
Arman riu novamente, como se estivesse se divertindo à custa dela.
— Você definitivamente não tem perfil para o trabalho. Esse não é o lugar para você, garota — Não que você não seja bonita, se engordar uns dez quilos e ganhar um bom banho, manicure e hidratação no cabelo você pode vir a ser um sucesso. Mas dentro do meu peito algo me diz que você está aqui mais cega, acolha em tiroteio de maneta. E eu não vou carregar esse pecado comigo.
As palavras de Arman atingiram Anne como uma faca. Ela sentiu a dor apertar seu peito e os olhos se encheram de lágrimas. Mas, ao invés de se encolher, ela se esforçou para manter a calma e, entre soluços, começou a contar a Arman sua história.
— Eu só... estou tentando arrumar um trabalho para cuidar do meu pai. Ele está muito doente, e eu não consigo o suficiente nem para a comida. Se eu não arrumar algo logo, ele vai morrer de frio, vai morrer de hipotermia. Eu... eu não sei mais o que fazer — disse Anne, com a voz quebrada.— Eu posso limpar, varrer, cozinhar, posso costurar, faço qualquer coisa sem reclamar... Juro.
Arman a observou por um momento, a expressão ainda séria. Ele parecia refletir sobre o que acabara de ouvir. Depois de um longo suspiro, ele respirou fundo e falou com mais calma, como se estivesse tomando uma decisão importante.
— Está bem, você vai limpar as mesas e os banheiros da boate — disse Arman. — Vai ser um trabalho duro e cansativo. Você vai fazer seu setor sozinha, sem ajuda. Vai carregar peso, limpar o chão e garantir que tudo esteja impecável. Mas, se você aguentar, o trabalho é seu.
Anne, surpresa e grata por ainda ter uma chance, não conseguiu conter o alívio que tomou conta dela. Ela estava disposta a qualquer coisa para ajudar seu pai e agora sabia que pelo menos teria algo para trabalhar.
Arman chamou uma mulher mais velha, que estava esperando perto da porta, e disse a ela:
— Glória, essa moça vai te ajudar a limpar as mesas, o chão e o banheiro. Ensine a ela o que precisa ser feito. Ela começa esta noite. Se ela lhe der trabalho qualquer um, não pense duas vezes pode despedi-la.
Glória, com um olhar carinhoso, se aproximou de Anne e indicou que a seguisse. Anne foi levada até o setor dos empregados, onde Glória lhe entregou um uniforme de limpeza simples.
— Coloque esse uniforme e volte aqui em duas horas, arrumada. O trabalho começa à noite — disse Glória — Vou lhe ensinar tudo. Nós primeiros dias vou te colocar aqui embaixo para aprender com o grande publico, e mais pesado, mas você não pode desanimar, o dinheiro e bom, se você fizer tudo certinho você vai ver como e bom.
Depois no andar de cima e aonde fica os poderosos, ali você tem boca e não fala tem olhos e não vê.
E nunca, nunca olhei nos olhos do senhor Pietro. Nunca! Entendeu?
Anne balançou a cabeça que sim e
com o uniforme nas mãos e uma sensação de esperança no peito, foi até o local onde se trocou. Quando terminou, olhou-se no espelho. Era apenas um uniforme simples, mas para ela, significava uma chance, uma oportunidade de mudar a sua vida.
Ela saiu do prédio com o coração leve, quase como se estivesse voando. Estava cansada, sim, mas a felicidade de ter finalmente conseguido algo a fazia se sentir mais viva do que nunca. Ela sabia que o caminho à frente seria difícil, mas agora ela tinha um propósito, uma razão para continuar. Ela ia trabalhar. Ia conseguir dinheiro. E, acima de tudo, ela sabia que estava mais perto de garantir a sobrevivência de seu pai e a sua própria.
Anne sorriu para si mesma enquanto caminhava pelas ruas de Florença para contar ao pai que iria trabalhar a moite.
O frio da noite ainda a atingia, mas ela agora tinha algo mais forte dentro de si: a certeza de que, com esforço e determinação, ela poderia mudar seu destino. E, finalmente, ela sentia que estava pronta para isso.