O COMEÇO DO FIM

610 Words
Os lacaios acendem os candelabros e a lareira do luxuoso quarto, enquanto a camareira se aproxima com mais uma coberta, de modo a aquecer o corpo trêmulo que a ocupa. Apesar de ser a última noite de inverno, uma nevasca estender-se por Duthaich, demonstrando que não se renderá tão fácil a chegada da nova estação. A porta do quarto se abre, atraindo atenção da acamada. Um fio de esperança aquece seu peito, ao mesmo tempo, em que vira sua cabeça, dizendo: — Sebastian? — Não, Majestade. Sou eu, Georgeta — se identifica a mulher que acabara de entrar. Georgeta Câmaro, a Baronesa de Câmaro, secretária pessoal, braço direito e fiel amiga. No auge dos seus sessenta anos, sente orgulho de manter sua cabeleira castanha, agora muito bem arrumada em uma elegante trança embutida, sem qualquer fio branco. Ela se aproxima da cama, ajeita seu vestido amarelo de gala com dificuldade, deixando bem claro que o estado da monarca é preocupante, ou então não teria deixado o casamento de seu filho para vir aqui. Georgeta observa o rosto da amiga, surpresa. Qualquer um dentro daquele recinto entende perfeitamente aquela expressão que tomou o rosto da baronesa que está diante da mulher que um dia foi conhecida por sua beleza. Os seus belos e invejados cabelos que outrora eram tão loiros a ponto de serem facilmente ser confundidos com fios de ouro, agora é uma cabeleira completamente branca e desgrenhada. Os lábios macios, agora estão ressecados com o líquido vermelho nos cantos, também conhecido como sangue, ao qual a Baronesa limpa com a toalha molhada oferecida pela camareira. As únicas coisas que recordava os gloriosos tempos da moribunda são o anel real que permanece em seu dedo e os olhos azuis acinzentados que encaram agora a baronesa de Câmaro. Posiciona a mão em cima do pulso de Georgeta, chamando sua atenção: — Diga-me, você conseguiu avisá-los? — Sim, Majestade — responde Georgeta balançando a cabeça rapidamente. Ela sorri, enquanto minimiza a situação — Porém, tenho certeza de que não será necessário. Daqui a alguns dias a madame estará radiante comemorando seu Jubileu de Ouro. — Até mesmo o Sebastian? — questiona encarando os olhos castanhos da baronesa. — Avisei a todos eles. — Reforça Georgeta que aponta agora em direção a porta — Inclusive, alguns já chegaram. Posso convidá-los a entrar… — Não, ainda não. Quero falar com eles, apenas quando todos estiverem aqui… — responde fechando os olhos por um momento enquanto puxa o ar para os pulmões com toda força, algo que está cada vez mais difícil… Em breve não conseguirá fazer isso também. Finalmente solta o ar e então prossegue — O Bispo já chegou? — Sim. Também está na sala íntima. — Mande-o entrar. Preciso fazer minha confissão. — ordena — Assim daremos tempo para aqueles que ainda não chegaram. — Como quiser, Majestade — concorda Georgeta que agora se levanta e caminha em direção a porta. **** As portas do quarto se abrem mais uma vez para dar passagem ao Bispo Malfoy, mas dessa vez a monarca não tem forças para mexer sua cabeça. O sacerdote se aproxima do leito real, dizendo: — Ave Maria Puríssima… — Sem pecado concebida — completa abrindo seus olhos devagar. Encara o Bispo, o mesmo que acompanhou quase a vida toda, tal fato denunciado pelos seus cabelos, corpo curvado e sua velha bíblia. Fazem o sinal da Cruz ao mesmo tempo, em que ela diz — Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. — O Senhor esteja no seu coração para que confesses os teus pecados com o espírito arrependido. — prossegue o Bispo. — Abençoe-me, pois pequei…
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