Belomy Sebastian Henry de Wilkinson, também conhecido como Sua Majestade, Rei Belomy I, governante de Duthaich um pequeno país montanhoso e com uma economia que dependia basicamente da agricultura e pesca em seus golfos. Mesmo assim, Belomy ao lado de sua Rainha consorte, a princesa de Domhnall, Briana Mary Domhnall-Wilkinson eram amados e admirados por seus súditos e pelo Conselho.
Belomy I ,com o passar dos anos de seu casamento ,começou a desesperar-se com a ideia de talvez nunca ter um herdeiro varão. Ele já podia sentir o peso de sua idade aproximando-se, e tudo o que possuía em sua longa união com Briana eram seus inúmeros fantasmas de natimortos. Não que todos morressem após os nascimentos. Dentro das quatro gravidezes em que já tivera, dois chegaram a se manter vivospor alguns poucos meses. Porém, há muito tempo que não sente seu ventre preenchido...
Era isso que tomava os pensamentos da Rainha que se admirava no espelho ao mesmo tempo em que era vestida por suas damas do Quarto de dormir. Uma delas se aproxima da cabeça de Briana, ajeitando seus cabelos negros com a escova, então a monarca segura o pulso da jovem, intervindo. A rainha alisa sua cabeleira até puxar três fios brancos que surgiram. A frequência deles assustava Briana, pois era um indicativo de que suas chances para gerar uma criança estão cada vez menores.
Todos já estavam cientes de que em breve a Rainha que já não mais sangraria, e com isso, nunca colocaria o tão sonhado herdeiro no mundo.
— Que dia é hoje? – pergunta a Rainha para suas damas.
— Majestade está há duas semanas... – responde uma delas, tímida.
— Eu sei – interrompe Briana ríspida.— Lady Margaret!
As portas do quarto se abrem prontamente , dando passagem para a mulher de cabelos castanhos já com alguns fios brancos, mostrando estar na mesma faixa de idade da rainha. Margaret Câmaro, também conhecida como Baronesa de Câmaro é a governanta da Rainha Briana que agora inclina a cabeça em direção a monarca, ao mesmo tempo em que diz:
—Sim, Majestade.
—Peça para o médico vir até os meus aposentados – ordena Briana encarando sua governanta. — Avise também ao Rei.
As duas se entreolham, Margaret estremece levemente os lábios enquanto a preocupação toma seu rosto, enquanto a tristeza se mantém nos olhos da Rainha que tem plena certeza que o temido momento havia chegado e que nada mais poderia ser feito.
—Como quiser, Majestade – responde Margaret inclinando levemente a cabeça antes de sair.
Aquela notícia colocava o futuro da Rainha, do Rei e de Duthaich em uma névoa de incertezas.
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Os passos fortes e firmes do Rei Belomy denunciam sua chegada aos aposentos da Rainha.
—Pela Graça de Deus, Rei Belomy I, de Duthaich! – anuncia o serviçal.
As damas de Briana o reverenciam, enquanto suas faces são tomadas por um tom róseo. E não é para menos, Belomy não era apenas o rei como também era belo. Mesmo com seus pesados trajes, seus músculos davam um jeito de transparecer em sua roupa. Seus cabelos loiros somado aos olhos verdes lhe davam a imagem perfeita de um anjo enviado por Deus.
Apesar de todos os seus atributos lhe favorecerem para tomar qualquer mulher de sua corte como amante, Belomy Seu coração e corpo pertencem a sua amada esposa, que agora também lhe tem toda atenção.
A porta dos aposentos da Rainha se abre, deixando então que o velho médico venha até o Rei que se encontra andando de um lado para o outro. Ele inclina a cabeça para Belomy e então diz:
— Majestade – ergue a cabeça a então continua — Conforme os exames realizados, constatei que a rainha não está sangrando.
As mandíbulas do rei se contraem ao mesmo tempo em que seus punhos se fecham diante da notícia.
Sem herdeiros, o trono passará para as mãos dos Winterlys, uma das famílias mais antigas e poderosas de Duthaich , ficando apenas atrás da família real. Os duques inclusive tiveram recentemente um varão a quem chamaram de Pedro, garantindo assim a continuação do legado, algo que sem dúvida agrada aos súditos.
— Isso significa que não terei meu herdeiro – conclui Belomy desapontado consigo mesmo.
— Majestade – continua o médico atraindo a atenção do Rei — A Rainha não está sangrando porque está gerando um filho. O seu filho.
Belomy encara o médico surpreso com a notícia. Ele sorri para o velho e então corre em direção ao quarto de Briana que se encontra deitada em sua cama. Ele senta ao lado de sua esposa que está chorando de felicidade.
— Então é verdade, minha senhora? – pergunta o rei segurando na mão de sua esposa e a levando até seus lábios
— Sim , meu senhor – responde Briana sorrindo. Ela conduz a mão de seu marido até seu ventre e então continua — Finalmente fomos presenteados por Deus com o nosso varão.
— Eu te amo, Briana– declara Belomy beijando o topo da cabeleira n***a de sua Rainha — Bem como amo o nosso filho, o nosso herdeiro.
— Eu prometo que carrego em meu ventre o próximo soberano de Duthaich – profetiza Briana alisando sua barriga.
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Tanto Belomy quanto Briana, acreditam de todo o coração que o filho que ela esperava era um menino, e tinham todos os motivos para tal, afinal videntes, filósofos e astrônomos asseguraram ao jubiloso rei, que desta vez, ele seria o pai de um varão.
Duthaich estava em festa esperando o herdeiro varão; festas foram organizadas por todo o país, e cartas anunciando a chegada do ”Pequeno Príncipe” ao mundo.
O Rei, planejou tudo, torneio de justas, ricos banquetes, bailes de máscaras, nada passaria despercebido. A única dúvida a assombrar Belomy, seria o nome de seu filho.
Dentro da realeza, o nome de um príncipe herdeiro, reflete a posição que ele deve seguir ou espelha-se em monarcas anteriores, no qual o atual, deseja que seu filho siga o exemplo:
— Sebastian – fala Belomy enquanto alisa o ventre de sua esposa. — O nome do meu avô materno.
— É um belo nome, meu senhor – responde Briana se ajeitando no peito de seu marido.
—Ou então Henry – continua Belomy, pensativo — O nome do meu bisavô, fundador da Dinastia Wilkinson.
— Os dois são nomes fortes – responde a rainha que agora senta na cama do Rei.
— O que foi, minha senhora? – questiona o Rei, curioso.
— Estava pensando... – começa Briana admirando os raios de sol que tocam o lençol.
— Sim?
— E se for uma menina? – pergunta nervosa colocando seus braços envolta de sua barriga — Não que deseje isso, mas...
— Não se preocupe – pede Belomy se aproximando da esposa —Será um varão, o nosso príncipe.
— Não há como prever, meu senhor. –alega Briana encarando o marido — E se for?
— Bom, caso seja uma menina, pensarei em um nome tão glorioso quanto se for de um varão – promete Belomy beijando sua esposa.
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Como tradição, semanas antes do nascimento do bebê, a Rainha Briana entrou em um período de reclusão da Corte, para trazer o príncipe ao mundo. Devido ao grande número de natimortos, a quantidade de tempo de reclusão da Rainha dependeria da sua saúde ou do perigo que um aborto ou um herdeiro frágil representaria.
Primeiramente, os Reis, seguiram em procissão rumo à Capela Real para à missa. Após a missa, dirigiram-se para seus aposentos, onde receberam um cálice de vinho com especiarias, frente à toda a Corte. O lord Westford, rogou que todos os presentes, rezassem a Deus, para que a Rainha tivesse um parto calmo e sem contratempos. Outra procissão ocorreu, levando Briana até a porta de seus aposentos. Belomy então segura na mão trêmula de sua esposa, eles já haviam passado por aquilo tantas vezes e falhado que o medo tomou conta de Briana que encara o marido, tristemente.
— Eu sei que devo ter esperança, mas..
— Minha senhora – chama Belomy segurando no queixo de sua esposa — Eu confio que a Rainha, minha esposa, ficará com a criança.
—Se algo acontecer...– começa Briana, nervosa.
— Nada acontecerá – garante o rei — Vocês dois ficarão bem. Eu sou o rei e ordeno que assim seja. Espero vocês dois em breve. Você... e o nosso amado Sebastian. – finaliza revelando o nome que escolheu para seu herdeiro enquanto alisa a barriga de sua esposa pela última vez.
— Que assim seja – concorda Briana oferecendo um sorriso fraco para seu marido.
Ele se aproxima e toma os lábios de sua esposa apaixonadamente. Eles se afastam e então a Rainha entra em seus aposentos acompanhada por suas damas. Por algum motivo, tem a amarga sensação de que aquela será a última vez que esteve fora de seu quarto.
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Então em uma noite fria de inverno, Briana é acordada por um líquido que escorre pelas suas pernas, molhando seu blusão e a cama. Ela ergue suas cobertas e então percebe que sua bolsa estourou. Levanta-se e então caminha em direção a sua porta, com dificuldade:
—Margaret! – grita a Rainha ao abrir a porta, sentindo sua primeira contração.
A governanta escuta o chamado de sua Majestade e então, ainda com suas roupas de dormir, corre em direção aos seus aposentos junto com as damas de companhia, encontrando Briana ajoelhada segurando sua barriga.
— Majestade – fala Lady Margaret se aproximando da Rainha.
—Começou – fala Briana com dor.
— Vocês, vão chamar os médicos – ordena Margaret a duas damas companhias . Ela olha para outra — Você, vá avisar ao rei e Conselho que o príncipe está a caminho.
Margaret Câmaro então auxilia a Rainha a se levantar e a conduz em direção a cadeira de parto , onde Briana se posiciona de cócoras. A governanta começa a se afastar, então a monarca segura em seu braço.
—Fique, por favor. – pede Briana.
— Com muita honra – responde Margaret se aproximando da Rainha.
As contrações começam e o trabalho de parto tem seu início.
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Ainda não nasceu? – questiona o Rei, irritado, ao ser informado por uma das parteiras.
Sua irritação era totalmente justificada. Já se passaram dois dias e a rainha ainda encontrava-se em trabalho de parto, exausta e sofrendo bastante.
—Desculpe-me, majestade, mas a criança está virada – responde a parteira, amedrontada.
— Então a desvire! – esbraveja o Rei.
A parteira corre em direção aos aposentados da Rainha Briana enquanto o Rei caminha em direção a capela Real. Ele se ajoelha no altar enquanto reza:
—Oh Deus, Todo Poderoso, em sua infinita Graça e Misericórdia, Enviou-nos neste momento, o trabalho de parto de um príncipe. Conceda boa saúde, prosperidade e preservação contínua do príncipe e de minha amada Rainha. Que à sua Vontade se prevaleça.
O Rei permaneceu na capela, junto com o conselho, a fim de rezar para a rainha, pela segurança e entrega do bebê.
Enquanto oravam, Briana gritava e sofria em seu esplêndido leito no Palácio.
— Oh Meu Deuuusss! – grita Briana enquanto segura na borda da cama com toda sua força.
Lady Margaret observa a tudo, estarrecida. Apesar de todo o sofrimento os médicos e parteiras reais presentes no recinto ainda sugeriram outro procedimento para auxiliar o nascimento. Ela se aproxima de uma das responsáveis, dizendo:
—Por que não fazem uma intervenção e acabam logo com isto?
— Lady Margaret, a Rainha nos proibiu de realizar qualquer outro procedimento – responde a parteira, séria. Ela se aproxima da governanta e continua sussurrando — A Rainha acredita que se intervimos, será amaldiçoada com uma menina, ou até mesmo um natimorto. Ela prefere passar pelo calvário, cumprir o seu dever e assim trazer ao mundo o filho do Rei com toda sua glória.
— Mas se ela continuar assim – começa Margaret observando a Rainha se contorcer — Nenhum dos dois sobreviverá.
—Então reze , Lady Margaret. Reze para que Deus olhe pela Rainha e faça sua parte.
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Madrugada do terceiro dia, os médicos reais saem do quarto da Rainha e caminham até a Capela onde encontraram o Rei ajoelhado diante do altar rodeado por seus ministros.
— Majestade – Chama o mais velho deles — A criança nasceu.
Belomy faz o sinal da cruz e então se levanta , aliviado: Suas preces foram atendidas.
—A Rainha Briana deu à luz a uma saudável menina –revela o médico.
Naturalmente Belomy fica um tanto decepcionado perante o ocorrido. Mesmo que não houvesse a lei de primogenitura em Duthaich que impedisse a adesão de uma mulher ao trono , a ideia em si era algo indesejável por Belomy I, que uma mulher não conseguiria ser uma boa governante. Porém, naquele momento nada disso importava.
No palácio, dentro de seus aposentos, a rainha Briana recuperava-se do esforço deitada em sua cama, rodeada por suas damas de companhia.O nascimento de uma filha, não foi menos amargo para ela que, prometeu outrora, carregar em seu ventre o futuro Rei de Duthaich.
—Pela Graça de Deus, Rei Belomy I, de Duthaich.
As portas de seu quarto se abrem e o Rei Belomy entra , fazendo com que todos os empregados se ajoelhem diante de sua presença.
— Meu senhor – fala Briana fazendo sua reverência ao marido.
Ele caminha em direção ao berço real, segurando a rechonchuda menina,que nasceu com os cabelos loiros do pai, mas com os olhos azuis acinzentados da mãe.
— Eu sinto muito – pede Briana chorando enquanto se aproxima do marido — Deus sabe o quanto pedi para que viesse um varão.
— Meu amor – fala Belomy olhando para sua esposa e então para sua filha — Ela é linda.
— Então , me perdoa, meu senhor? – questiona Briana.
— Minha senhora, não há o que se perdoar. Você trouxe ao mundo a próxima soberana de Duthaich.
Ele caminha para fora do quarto com sua filha nos braços em direção a sacada do palácio. Seus súditos aguardavam ansiosos para as boas novas e começam a gritar ao verem o monarca com a criança nos braços. Rei Belomy ergue sua filha no mais alto que consegue para que todos possam vê-la e então anuncia:
—Aqui está a continuação de minha linhagem: Deus salve, Catarina Regina Wilkinson, minha filha!