Capítulo 6

1478 Words
Alteza – chama Margaret entrando nos aposentos. — Hora de levantar. O quarto da princesa estava imerso a escuridão que agora se sucumbiu com a a******a das cortinas feita pela baronesa que se vira em direção a luxuosa cama de Catarina: a criança que nasceu na madrugada mais fria do inverno no Palácio. A menininha loira , foi forte e rechonchuda o suficiente, para dissipar qualquer receio imediato sobre uma morte prematura. Catarina foi um belo bebê, deitada em seu magnífico berço, desde o início de seus dias, muito bem assistida por inúmeros serviçais. Ela dispôs de uma lavadeira para lidar com toda a lavagem de roupas necessária que um bebê requisitava e damas que velavam por outros cuidados. Nos dois primeiros anos de sua vida, foi cuidada por uma ama de leite, esposa de um dos arrumadores-cavalheiros do rei. O lar da princesa, se tornou uma unidade que passou a funcionar dentro de poucos dias após seu nascimento. Assim como uma equipe de enfermagem, serviçais, lavadeira, ela também possuiu um tesoureiro para gerenciar suas finanças, um capelão e uma fidalga. Nos outros aspectos, a primeira dama e governanta de Catarina, Margaret Câmaro, era a responsável. Foi a principal influência direta sobre a princesa nos anos de formação de sua vida e tinham uma relação próxima e afetuosa, a ponto de ser a única que tinha autoridade de chamar a pequena pelo seu nome. Sua missão era supervisionar e nomear professores que dessem uma boa e digna educação a princesa. O rei fazia questão de enviar os melhores professores escolares e pensadores da época para o local, deixando bem claro que a filha teria a educação de acordo com seu porte, que era ser a próxima rainha. Além disso, a governanta também tinha por obrigação deixar a princesa mais apresentável o possível quando seu pai o rei, fosse vê-la. Algo que tentava cumprir nesse exato momento enquanto tirava as pesadas cobertas de cima do que seria o corpo adormecido de Catarina, mas acabou revelando ser apenas um amontoado de travesseiros de penas de ganso. — Onde está a princesa? – questiona a governanta em direção a dama de quarto que acabara de entrar com a roupa de Catarina. —Na cama – responde a jovem tranquilamente. — A menos que a princesa tenha sido amaldiçoada e virou um amontoado de travesseiros da noite para o dia... Ela não está aqui – informa Margaret, irritada apontando para a cama. — Vá , acione a todos os funcionários e avise que a princesa sumiu, mais uma vez. — Mais um esconde – esconde real? – sugere a dama sorrindo. — Mais um – confirma a governanta jogando a coberta de volta na cama. **** Catarina é uma criança singularmente precoce. Além do latim, era capaz de falar espanhol, francês e inglês fluentemente. Adorava tocar piano, espineta e alaúde. Desde os seus quatro anos de idade, ela entretinha alguns visitantes da corte, com um belíssimo desempenho no piano. E quando estes não marcavam presença, seus serviçais rodeavam o instrumento escutando a menina tocar, admirados. Catarina cresceu rodeada do afeto de seus funcionários, que podiam muito bem ter tido algum grau de interesse próprio em manter seu emprego, mas que parecia ser, em suma, genuíno. Tal capacidade em inspirar logo cedo lealdade e amor naqueles que a serviam, demonstrava quão querida ela seria quando se tornasse a monarca. Embora fosse uma menina em um mundo adulto, sua vida não foi necessariamente desprovida de diversões. Naquele momento ela conseguiu promover mais uma de suas atividades que envolvia a todos os empregados: esconde- esconde. Todos precisavam parar seus afazeres e procurar pistas de onde a jovem princesa poderia estar. Apesar do imenso Palácio, Margaret conhecia Catarina muito bem para conseguir filtrar os possíveis lugares. Entre eles, estão o estúdio de artes, onde a menina passava suas horas de lazer pintando quadros como uma válvula de escape emocional. Porém, daquela vez tudo o que a governanta encontrou foi o estúdio vazio e o cavalete intacto sem qualquer mostra que possa ter sido utilizado recentemente. A baronesa continua a caminhar pelo palácio até chegar ao segundo lugar favorito de Catarina: a biblioteca. Ali entre as monumentais estantes de madeira maciça, a menina se perdia entre as histórias... Daquela vez, somente a luz solar marcava sua presença no recinto.  Procura em outros dois esconderijos fora do palácio: o coreto e o jardim com seu labirinto e a fonte de mármore dos cupidos que a menina gostava de admirar e ela também não se encontrava em nenhum desses lugares. Lady Margaret franze a testa, acha estranho não encontrar a menina tão rapidamente quanto das outras vezes. — Lady Margaret! - chama uma das cozinheiras em alto bom som. A jovem se aproxima afobada fazendo sua reverência a baronesa, dizendo — Encontramos. **** Os lacaios abrem a porta com certa dificuldade enquanto a Baronesa aguarda ansiosa para encontrar a princesa havia conseguido entrar naqueles aposentos que outrora pertenciam a ninguém menos que Briana, sua mãe. A luz solar que agora predomina no ambiente, revela a pequena silhueta deitada de costas em cima da imponente cama real. A menina não parecia estar de fato brincando com seus funcionários, muito menos disposta a se virar e descobrir quem invadiu sua privacidade. Lady Margaret se vira em direção aos demais empregados inclinando a cabeça em direção a eles que rapidamente se afastam do quarto. Ela se aproxima da cama calmamente até que ficar de frente com Catarina que se mantém deitada, abraçada a um dos travesseiros. — Alteza – chama a baronesa se inclinando em direção a criança nove anos — Está na hora de levantar. Catarina esconde o rosto por entre o travesseiro, demonstrando claramente ser contrária ao pedido de Margaret que observa a cena, séria. Ela respira fundo e continua: — Alteza, sabes que hoje é um dia muito importante... E que seu pai, o Rei, também estará presente e não gostará nada de chegar aqui e descobrir que não está pronta. A menina permanece imóvel, então a governanta decide ficar mais perto da menina, sentando na beira da cama. Ergue a mão em direção aos cabelos loiros da princesa, acariciando-os: — Eu sei que sente falta dela – continua a baronesa de Câmaro — Ainda mais em um dia como hoje. Porém, pelo tempo de convívio que tive com ela, sei que não gostaria de ver a madame assim. A menina então vira a cabeça em direção a governanta, a encarando. Então senta na cama , passando a mão pelo lençol, pensativa: — Diga – pede Margaret. — Eu só queria que ela estivesse aqui – confessa a menina. — Todos nós gostaríamos disso – afirma a baronesa com um leve sorriso nos lábios — Saiba que ela está aqui e a madame tem plena ciência de onde encontrá-la. – finaliza a governanta apontando em direção ao coração da princesa. — Eu sei...– responde a menina, tristonha. — E aqui – cutuca Margaret a testa da menina que fica surpresa com o gesto — E aqui – continua agora embaixo das axilas de Catarina — E não podemos nos esquecer daqui – finaliza com cócegas na barriga da princesa que gargalha com os gestos frenéticos da baronesa. As gargalhadas cessam depois de um longo tempo e então a menina volta a encarar a governanta, ao mesmo tempo em que se levanta dizendo: — Eu não consigo entender o motivo pelo qual tenho de fazer o que o Rei ordenou hoje. Eu fico pensando... Será que fiz algum m*l à sua Majestade para que ele faça isso comigo? — Não, alteza. Muito pelo contrário, justamente por estar fazendo tudo certo é que ele lhe deu essa missão. – responde a Baronesa sorrindo. — De onde tirou essa ideia infame? — Escutei as damas conversando ontem enquanto me banhava sobre meu infortúnio, como se fosse um. Algumas sussurravam com pena de mim. Coisas como: Tadinha, tão nova e já forçada a isso. — Oh, minha querida... Essas jovens tolas, não dê ouvidos ao que dizem. Elas jamais serão capazes de compreender o que está prestes a fazer, muito menos quão grandioso e importante. — Mas algumas delas já passaram por isso. Justamente essas são as que mais demonstram sofrer por mim – alega a menina cabisbaixa. — Catarina – chama Margaret segurando o queixo da menina até que a mesma volte a encará-la — Elas podem ter passado por isso, mas não são você. Nem conseguirão chegar perto da grandiosidade a qual você está destinada. — Eu não consigo entender, Lady Margaret... – comenta Catarina, confusa. —Venha comigo – ordena a baronesa se levantando da cama. Ela caminha rapidamente em direção a porta que se abre. — Para onde ? – questiona a princesa, curiosa, ainda sentada na cama. — Ao seu futuro, Alteza – responde a governanta enigmática.
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